'Sou psicopata e quero que a sociedade entenda e acolha meu transtorno':barcelona atletico madrid

A advogada americana Jamie, que usa o pseudônimo M. E. Thomas, uma mulher branca jovembarcelona atletico madridóculos escuros espelhados, numa selfie sorrindobarcelona atletico madriduma paisagem montanhosa

Crédito, M. E. Thomas/Arquivo pessoal

Legenda da foto, M. E. Thomas formou-sebarcelona atletico madridDireito e lançou um livro sobre psicopatia

"Eu não sabia o que essa palavra significava. Ao entender o que era empatia, percebi que talvez não tivesse mesmo esse sentimento", relata ela.

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"Quando vi a propaganda, não experimentei nenhuma emoção, só vi humor naquela situação."

"Como assim, uma criança não consegue afastar uma moscabarcelona atletico madridseu olho? Nem passou pela minha cabeça que a vida dela poderia ser tão diferente da minha a pontobarcelona atletico madridela não ter energia suficiente para uma ação simples."

Thomas compartilhou essa história durante uma rodabarcelona atletico madridconversa promovida no dia 12barcelona atletico madridagosto pela Psycopathy Is ("Psicopatia É",barcelona atletico madridtradução livre), uma associação criada por pesquisadores nos Estados Unidos para fomentar estudos sobre esse transtorno psiquiátrico.

O grupo — o primeiro e único no mundo focado neste tema — também oferece suporte a famílias com casosbarcelona atletico madridpsicopatia e realiza campanhasbarcelona atletico madridconscientização sobre o transtorno.

Dias depois da palestra, Thomas aceitou o convite para conversar com a BBC News Brasil, onde compartilhou alguns outros episódios que vivenciou nas últimas décadas ebarcelona atletico madridtrajetória antes e depois do diagnóstico.

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Antesbarcelona atletico madridentrar nos detalhes da entrevista, vale fazer uma breve explicação técnica.

Atualmente, os manuaisbarcelona atletico madridpsiquiatria não usam mais os termos sociopatia ou psicopatia — algo que gera muita controvérsia e intermináveis debates entre especialistas da área.

Essas duas condições, psicopatia e sociopatia, estãobarcelona atletico madridalguma maneira englobadas no chamado "transtornobarcelona atletico madridpersonalidade antissocial" — embora existam testes que avaliem especificamente traçosbarcelona atletico madridpsicopatia.

A Associação Americanabarcelona atletico madridPsiquiatria classifica a condição como "uma das doenças mentais mais incompreendidas, com pouco diagnóstico e tratamento".

Ela faz partebarcelona atletico madridum grupo maiorbarcelona atletico madridenfermidades que afetam a personalidade, que também inclui condições como o borderline, o narcisismo, o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), a paranoia, entre outros.

Como é possível notarbarcelona atletico madridvários trechos da entrevista, Thomas mesmo utiliza todos os termos — sociopatia, psicopatia e transtornobarcelona atletico madridpersonalidade antissocial — para descreverbarcelona atletico madridcondição.

Ela começa contando sobre um episódio que viveu na transição entre a infância e a adolescência.

"Quando tinha uns 12 anos, o paibarcelona atletico madriduma amiga veio falar comigo. Ele me disse que a filha dele me adorava e prezava pela nossa amizade, mas gostaria que eu parassebarcelona atletico madridbater nela", relata Thomas.

"Eu fiquei muito surpresa, porque nunca havia percebido que fazia aquilo."

A advogada também lembrabarcelona atletico madridalguns episódios da infância e da adolescênciabarcelona atletico madridque ela invadiu a casabarcelona atletico madridpessoas próximas.

"A ideia era apenas fazer uma brincadeira, como mudar algumas coisasbarcelona atletico madridlugar para deixar os moradores confusos. Eu acreditava que isso seria engraçado, mas hoje percebo que se tratavabarcelona atletico madriduma enorme invasãobarcelona atletico madridprivacidade."

Nos temposbarcelona atletico madridescola, Thomas também passou por episódiosbarcelona atletico madridagitação — como quando arremessava livros ou dicionáriosbarcelona atletico madridcolegas durante uma aula particularmente tediosa.

"Também brincávamosbarcelona atletico madridum futebol americano sem nenhuma regra. Eu pegava alguns colegas e dava socos e mais socos neles."

Ainda na adolescência, Thomas diz ter feito apostas com uma amiga para ver quem conseguiria beijar um garoto que ambas gostavam. O problema é que ela já sabiabarcelona atletico madridantemão que o menino estava afim dela.

"Eu não leveibarcelona atletico madridconsideração os sentimentos da minha amiga, fui apenas oportunista. Na hora, só pensava nos vinte dólares que iria ganhar", diz.

"Mais uma vez, não experimentei nenhuma emoção nesse episódio. Acho que outra pessoa poderia ter coragembarcelona atletico madridfalar com a amiga e deixá-la saber que o garoto tinha realmente confessado que tinha uma 'queda' por mim? Eu nem considerei qual poderia ser a reação emocional dela quando descobrisse que eu tinha ganhado a aposta."

Por outro lado, Thomas diz que sempre foi muito bem nas aulas e tirava boas notas. Então os professores não sabiam muito bem como lidar com ela.

Thomas entende que sempre sentiu uma certa "insensibilidade, uma faltabarcelona atletico madridconsciência sobre o que acontecia" ao seu redor.

No entanto, isso não era algo que chamavabarcelona atletico madridatenção durante a infância e a adolescência.

"Eu não me considerava diferente dos demais. Talvez suspeitasse que apenas fosse mais esperta", afirma.

"Além disso, minha família é numerosa, somos mórmons e todos temos aptidões musicais. Então,barcelona atletico madridcerta maneira, já éramos uma família um tanto esquisita", observa ela.

Mas como essa faltabarcelona atletico madridempatia que Thomas relata se diferencia do comportamento muitas vezes cruel ou insensível que outras crianças e adolescentes sem transtorno podem ter?

"Acho que é muito difícil distinguir comportamento egocêntrico ou inapropriado do comportamento psicopático ou sociopáticobarcelona atletico madridcrianças", responde ela.

"Algumas das pessoas mais malvadas que conheço são meninasbarcelona atletico madrid13 anos. Mas não acredito que a maldade delas venha da faltabarcelona atletico madridempatia. No meu caso, a faltabarcelona atletico madridempatia colocava a mim mesmo e os outrosbarcelona atletico madridsituações fisicamente perigosas."

"Eu cheguei a levar pessoas que não sabiam nadar muito bem a águas profundas durate sessõesbarcelona atletico madridsurfe, amarrei uma corda na parte traseira do carro para 'rebocar' amigos num carrinhobarcelona atletico madridsupermercado, fui com amigos iniciantes a montanhas íngremes para esquiar...", exemplifica ela.

"São atitudes estúpidas e arriscadas."

M. E. Thomas quando criança, ela é uma meninabarcelona atletico madridcabelos claros e franja, vestindo um suéter vermelho com estampabarcelona atletico madridursinhos rosas

Crédito, M. E. Thomas/Arquivo pessoal

Legenda da foto, Thomas diz que os primeiros traçosbarcelona atletico madridseu comportamento antissocial apareceram ainda na infância

Será que você é sociopata?

Thomas confessa que sempre notou uma "dificuldadebarcelona atletico madridser colocadabarcelona atletico madriddeterminadas situações", quando precisava fazer uma espéciebarcelona atletico madridatuação para mascarar aquilo que realmente sentia.

"Também sempre foi muito difícil me engajarbarcelona atletico madridqualquer coisa, a menos que aquilo me trouxesse um benefício direto."

Uma das atividades que se encaixou nesse requisito da recompensa foi a faculdadebarcelona atletico madridDireito, onde Thomas formou-se advogada.

Foi nos temposbarcelona atletico madriduniversidade que ela ouviu a primeira sugestãobarcelona atletico madridque poderia sofrer com algum transtornobarcelona atletico madridpersonalidade.

No segundo anobarcelona atletico madridcurso,barcelona atletico madridmeadosbarcelona atletico madrid2004, ela fez um estágio num órgão governamental e dividiu o escritório com outra mulher.

"Não havia muito o que fazer, então conversávamos bastante. E comecei a notar que essa colega tinha várias vulnerabilidades, que eu poderia usar para manipulá-la", lembra.

"Ela falava abertamente comigo e contou que foi abandonada pelos pais e adotada por outra família, era homossexual e ao mesmo tempo super religiosa."

Com o passar do tempo, Thomas ficou muito interessada pela colega — e ela própria começou a se abrir mais e a contar detalhes pessoais.

"Senti que essa colegabarcelona atletico madridestágio não representava qualquer tipobarcelona atletico madridameaça para mim. Ela era praticamente um passarinho ferido", compara.

"Hoje, sei que na verdade ela não era assim, e essa avaliação vinhabarcelona atletico madridmeu preconceito psicopata", pondera a advogada.

Depoisbarcelona atletico madridalgumas semanasbarcelona atletico madridbate-papo, essa colegabarcelona atletico madridtrabalho fez uma pergunta decisiva para a vidabarcelona atletico madridThomas: "Ela me disse: 'Você já considerou a possibilidadebarcelona atletico madridser uma sociopata?'"

A palavra não despertou nenhuma emoção específica na estudantebarcelona atletico madridDireito.

"Como sou mórmon, não havia visto nenhum dos filmes mais famosos e violentos que abordam esses transtornos, como Psicopata Americano", relata ela.

Thomas resolveu então buscar na internet o significado do termo e encontrou algumas informações — entre elas, uma listabarcelona atletico madrid20 sintomas elaborada pelo psicólogo canadense Robert D. Hare, que até hoje é considerada uma das principais ferramentas para fazer o diagnóstico da psicopatia.

Entre os sinais listados pelo especialista, estão charme, senso grandiosobarcelona atletico madridautoestima, necessidadebarcelona atletico madridestímulos constantes, propensão ao tédio, mentiras frequentes, facilidadebarcelona atletico madridmanipular os demais, faltabarcelona atletico madridremorso, ausênciabarcelona atletico madridempatia, impulsividade...

"Cheguei à conclusão que essas características me descreviam muito bem", conta Thomas.

"Mas à época não dei muito valor a isso. Achei que essas informações eram apenas uma curiosidade qualquer, como descobrir que você tem algum graubarcelona atletico madridparentesco com uma antiga rainha da França", brinca ela.

Ao redorbarcelona atletico madrid2008, já formada e com a experiênciabarcelona atletico madridtrabalhar num escritóriobarcelona atletico madridadvocacia prestigiado, Thomas começou a ver quebarcelona atletico madridvida colapsava.

"A empresa passou a insinuar que não havia futuro para mim ali. Uma amiga muito próxima descobriu que o pai estava com câncer e eu decidi que precisava me afastar, porque ela estava com muitas demandas emocionais."

"Também enfrentei uma sériebarcelona atletico madridproblemasbarcelona atletico madridrelacionamentos amorosos e com a minha família."

Nessa época, Thomas notou que a vida dela era marcada por ciclosbarcelona atletico madridcercabarcelona atletico madridtrês anos. Depois desse tempo, tudo o que ela construía —barcelona atletico madridtermosbarcelona atletico madridrelacionamentos pessoais, amorosos e profissionais — virava ruína.

"Era como se eu apertasse um botão 'dane-se' e não conseguisse mais cumprir um papel", raciocina ela.

"Eu não me sentia bem com isso, mas sempre chegava nesse pontobarcelona atletico madridnão gostar mais do trabalho,barcelona atletico madridcansarbarcelona atletico madridfingir que era uma boa amiga... Eu precisava parar tudo, porque não me sentia mais interessada, como se aquelas coisas não valessem mais a pena."

"Os problemas que enfrentei com meus amigos e familiares decorriabarcelona atletico madriduma certa faltabarcelona atletico madridvontade minhabarcelona atletico madridaceitar as escolhas ou os apegos emocionais e psicológicos deles", reflete Thomas.

Nesses momentosbarcelona atletico madridbaixa, Thomas se sentia desgastada por precisar manter uma certa "máscarabarcelona atletico madridnormalidade" diante dos outros, quando sentia justamente o contrário.

"Foi aí que pensei: será que isso acontece comigo porque sou sociopata?"

M. E. Thomas com becabarcelona atletico madridformandabarcelona atletico madridfrente a um letreiro onde se lê Brigham Young University

Crédito, M. E. Thomas/Arquivo pessoal

Legenda da foto, Thomas formou-sebarcelona atletico madridDireito, trabalhoubarcelona atletico madridescritóriosbarcelona atletico madridadvocacia e virou professora universitária

Entre o blog e o livro, um diagnóstico

Nesse marbarcelona atletico madridincertezas, Thomas decidiu resgatar um hábito da infância e da adolescência: escreverbarcelona atletico madridum diário.

Só que dessa vez, ela resolveu fazer isso no mundo digital. Para isso, criou o blog Sociopath World ("Mundo Sociopata",barcelona atletico madridtradução livre).

"Como usava pseudônimo e nunca me identifiquei, muita gente sempre achou que eu fosse um homem. Ninguém pensava que uma mulher estava por trás do blog", observa.

Após compartilhar textos na internet por cercabarcelona atletico madridum ano e meio, a advogada recebeu uma mensagembarcelona atletico madriduma agente literária, que a convidou para escrever um livro sobre o tema.

A ideia foi materializadabarcelona atletico madrid2013, com a publicaçãobarcelona atletico madridConfessions of a Sociopath: A Life Spent Hiding in Plain Sight ("Confissõesbarcelona atletico madriduma sociopata: Uma vida escondida à vistabarcelona atletico madridtodos",barcelona atletico madridtradução livre).

No entanto, antesbarcelona atletico madridiniciar esse projeto, Thomas sentiu a necessidadebarcelona atletico madridconfirmar quebarcelona atletico madridfato era acometida por um transtorno — até então, ela tinha fortes suspeitas, mas nunca havia passado pela avaliaçãobarcelona atletico madridum profissionalbarcelona atletico madridsaúde.

"Nesse momento,barcelona atletico madrid2010, já havia me recuperado e trabalhava como professorabarcelona atletico madridDireito. Se há algo bombarcelona atletico madridser psicopata, é essa capacidadebarcelona atletico madridvoltar ao auge rapidamente."

A avaliação foi feita pelo psicólogo John Edens, que realizou uma entrevista clínicabarcelona atletico madrid3 horas e realizou quatro testes cognitivos — entre eles, aquela ferramenta diagnóstica desenvolvida por Hare citada anteriormente.

O laudo assinado pelo especialista, que foi compartilhado com a BBC News Brasil, destaca que "as característicasbarcelona atletico madridpersonalidade patológica [de Thomas] podem ser consideradas aquelasbarcelona atletico madridum psicopata típico".

"Até o momento, a paciente teve poucas consequências negativas objetivas e subjetivas, apesarbarcelona atletico madridter traços elevadosbarcelona atletico madridpsicopatia", continua o texto.

"Isso sugere que ela pode ser descrita como uma psicopata 'socializada' ou 'bem-sucedida'.", diz o laudo.

Ela avalia que receber o diagnóstico "oficial" não representou nenhum significado especial na vida dela.

"Sabe quando você já suspeitabarcelona atletico madridalgo? Para mim, o diagnóstico foi parecido ao caso das mulheres quebarcelona atletico madridcerta maneira sentem que estão grávidas e só fazem um teste para confirmar aquilo que já tinham conhecimento", compara ela.

"Mas, por outro lado, eu até tinha esperançasbarcelona atletico madridque poderia ser diagnosticada com qualquer outra doença, porque assim as coisas seriam muito mais fáceis para mim."

"Se os profissionaisbarcelona atletico madridsaúde tivessem detectado um câncer no meu cérebro, por exemplo, seria responsabilidade deles cortar o tumor dali."

"Agora, o transtornobarcelona atletico madridpersonalidade é um trabalho com o qual eu mesma precisarei lidar pelo resto da minha vida", complementa ela.

No entanto, mesmo com o diagnósticobarcelona atletico madridmãos, Thomas não iniciou o tratamento logobarcelona atletico madridcara.

"Aqui nos Estados Unidos, os segurosbarcelona atletico madridsaúde só aceitam pagar por terapias que são consideradas efetivas pelas associações da área. E, estranhamente, não existem tratamentos que se encaixam nesse critério para o transtornobarcelona atletico madridpersonalidade antissocial."

"Muitos especialistas também não se sentem à vontade para lidar com pacientes que tenham sociopatia ou psicopatia", acrescenta.

M. E. Thomas segurando instrumento musical e vestida com roupabarcelona atletico madridfanfarra

Crédito, M. E. Thomas/Arquivo pessoal

Legenda da foto, Thomas também possui uma extensa formação musical

Os preçosbarcelona atletico madridassumir abertamente a psicopatia

Após o lançamento do livrobarcelona atletico madrid2013, Thomas participoubarcelona atletico madridalgumas entrevistas na televisão — e algumas pessoas a reconheceram.

"Um dos alunos do cursobarcelona atletico madridDireito escreveu à administração da faculdade para dizer que se sentia ameaçado pelo fatobarcelona atletico madridter uma professora sociopata", diz.

"A equipebarcelona atletico madridsegurança da universidade me mandou um e-mail para informar que eu não poderia mais ir ao campus."

Na mensagem, a equipebarcelona atletico madridsegurança diz que "a universidade oferece um ambiente tranquilo para seus alunos, funcionários e docentes" e pede que Thomas "permaneça fora do campus e a maisbarcelona atletico madridmil kmbarcelona atletico madridqualquer instalação, evento, corpo docente, equipe ou aluno".

"Isso será imposto pela segurança da universidade e, se necessário, pela polícia local", informa o e-mail enviado pela administração do centrobarcelona atletico madridensino, que foi compartilhado por Thomas com a BBC News Brasil.

"Eu respondi que aquilo era um ato grosseirobarcelona atletico madriddiscriminação e que me solidarizava com o fatobarcelona atletico madrido aluno se sentir ameaçado, mas nunca fiz nada diretamente contra ele", afirma.

"Além disso, eu não tinha, e não tenho, nenhum histórico criminal oubarcelona atletico madridviolência depoisbarcelona atletico madridadulta. Achei absurdo alguém manifestar um incômodo pela minha simples existência."

Segundo Thomas, a direção dobrou a aposta. "Eles me informaram que, alémbarcelona atletico madridser demitida e banida, eu estava proibidabarcelona atletico madridtransitar num raiobarcelona atletico madridum quilômetro do campus oubarcelona atletico madridqualquer pessoa relacionada com a faculdade."

Ela diz que chegou a consultar um advogado, para ver se poderia entrar com algum processo sobre discriminação. No entanto, como o contrato dela como professora visitante da universidade se encerraria poucas semanas depois do ocorrido, não fazia muito sentido entrar com uma ação da justiça.

"Sofri muito preconceito e ninguém parecia ligar", lamenta ela.

"As pessoas me trataram muito mal e desenvolvi uma espéciebarcelona atletico madridtranstorno pós-traumático. Durante a noite, eu acordavabarcelona atletico madridsúbito, com crisesbarcelona atletico madridansiedade", conta.

Nessa mesma época, um irmão da advogada que sempre teve problemasbarcelona atletico madridsaúde mental começou a fazer sessões com um psicoterapeuta.

"Ele fez o tratamento por cercabarcelona atletico madriddez meses e parecia uma outra pessoa. Ele tinha uma sériebarcelona atletico madridproblemas e rapidamente se tornou um adulto funcional e competente."

A advogada resolveu seguir o exemplo do familiar e começou a fazer sessões com o mesmo terapeutabarcelona atletico madrid2013.

"Como a psicopatia e o transtornobarcelona atletico madridpersonalidade antissocial não têm uma terapia aprovada, ele sentiu que não poderia me tratar legalmente, e nem meu segurobarcelona atletico madridsaúde me compensaria por isso", detalha Thomas.

"Em vez disso, o psicólogo disse que faria um tratamento para 'transtornobarcelona atletico madridpersonalidade não especificado', transtorno obsessivo-compulsivo e Asperger, antes que essa condição fosse reincorporada ao transtorno do espectro autista", complementa ela.

Uma das primeiras metas traçadas nas consultas foi lidar com o "vício"barcelona atletico madridmanipular as pessoas.

"Eu não sabia como manter um relacionamento com alguém sem fazer isso", admite Thomas.

"O terapeuta me chamava a atenção para determinadas situações e me sugeria maneirasbarcelona atletico madridfazer pequenos ajustes na forma como interagia com os outros", detalha ela.

A advogada admite que passou a sentir-se bem melhor conforme o tratamento evoluiu, barcelona atletico madrid embora tenha deixadobarcelona atletico madridfazer um acompanhamento com um profissionalbarcelona atletico madridsaúde mentalbarcelona atletico madrid2019.

"Não foram apenas os relacionamentos que melhoraram, mas a minha própria experiência neles evoluiu. Esse contato com os outros se tornou mais relevante, mais real, e comecei a me importar mais com as pessoas", diz ela.

"Antes, eu via as interações sociais como algo semelhante a ir para academia. Era algo que eu precisava fazer, mas não necessariamente gostava. Hojebarcelona atletico madriddia, os relacionamentos são super recompensadores para mim."

Em 2017, Thomas iniciou um novo projeto: conhecer e conversar com outros indivíduos com suspeita ou diagnósticobarcelona atletico madridtranstornobarcelona atletico madridpersonalidade antissocial.

"A primeira pessoa que visitei foi na Tasmânia, na Austrália. A mais recente foibarcelona atletico madridAmsterdã, na Holanda,barcelona atletico madridabril deste ano", informa ela.

Segundo a advogada, geralmente esses contatos têm dois propósitos principais.

"Primeiro, há um grupobarcelona atletico madridpessoas que suspeitam ter sociopatia ou psicopatia. Elas me descobrem pelo blog ou pelo livro e se identificam com o que conto."

"A segunda categoria engloba os indivíduos que precisambarcelona atletico madridajuda. Eles estão num períodobarcelona atletico madriddificuldade e não sabem o que fazer para mudar."

M. E. Thomasbarcelona atletico madridóculos escuros sorrindobarcelona atletico madridfrente a um monumento

Crédito, M. E. Thomas/Arquivo pessoal

Legenda da foto, Thomas viaja pelo mundo para se encontrar com outros psicopatas

Um futuro sem estigmas e preconceitos

Apesarbarcelona atletico madridentender a importânciabarcelona atletico madridfalar abertamente sobre a psicopatia e o transtornobarcelona atletico madridpersonalidade antissocial, Thomas se ressente do preconceito que precisa enfrentar.

"Muitas pessoas me tratam malbarcelona atletico madridnomebarcelona atletico madriduma pretensa intençãobarcelona atletico madridse protegerbarcelona atletico madridmim", destaca ela.

Talvez o estigma mais forte seja aquele que relaciona psicopatia com violência e atos criminosos.

A associação Psycopathy Is admite que "a psicopatia aumenta o riscobarcelona atletico madridcomportamentos agressivos e antissociais".

"No entanto, muitas pessoas com psicopatia não são violentas. E muitas pessoas que são violentas não são psicopatas."

"Cada indivíduo com psicopatia possui diferentes atributos e desafios — e a forma como crianças ou adultos com psicopatia se saem na escola, no trabalho oubarcelona atletico madridambientes sociais varia bastante", pontua a entidade.

Para Thomas, que segue trabalhando com advocacia, esses estigmas relacionados à psicopatia vêmbarcelona atletico madridparte da própria ciência, "por meiobarcelona atletico madridpesquisas que fazem extrapolações e estão longebarcelona atletico madridrepresentar a diversidadebarcelona atletico madridpacientes com o transtorno".

"Existem muitos fatores que podem causar a violência, e a psicopatia é apenas uma delas. O mesmo vale para outros transtornos", defende a advogada.

Mas ela suspeita que muitos preconceitos e temores relacionados à psicopatia têm uma origem ainda mais profunda.

"De onde vem essa estranha necessidade das pessoas se preocuparem com a forma como os outros manifestam seus sentimentos?", questiona ela.

A advogada cita o exemplo hipotéticobarcelona atletico madridum funeral. Geralmente, é esperado que todos demonstrem tristeza, chorem ou ao menos se compadeçam dos familiares e amigos que estão num momentobarcelona atletico madridsofrimento.

No entanto, pessoas com transtornobarcelona atletico madridpersonalidade antissocial podem não ter esses sentimentos num momento desses — e muitas vezes precisam fingir e atuar para não serem julgados e criticados.

"Me parece que a sociedade está sempre policiando os sentimentos — e todos aqueles que possuem um universo emotivo diferente, que experimentam a empatiabarcelona atletico madridformas diversas, são discriminados."

Thomas cita o movimentobarcelona atletico madridhumanização do autismo: até pouco tempo atrás, indivíduos com esse transtorno eram excluídos e não existiam estruturas para acolhê-los na sociedade.

Felizmente, esse cenário está mudando — nos últimos anos, campanhasbarcelona atletico madridconscientização e políticas públicas criaram espaços adaptados, para que pessoas com autismo fossem incluídas e pudessem participarbarcelona atletico madriddiversas atividades.

"Espero que isso seja ampliado para públicos com outras condições além do autismo. Como psicopata, quero que a sociedade entenda e acolha o meu transtorno", diz ela.

"Sonho com um futurobarcelona atletico madridque a psicopatia não seja apenas acolhida, mas que pessoas com diferentes diagnósticos psiquiátricos possam expressar suas reações emocionais sem serem julgadas."

Thomas pondera que "psicopatas que cometeram crimes precisam ser punidos por suas ações".

"Se eles fizeram algo errado, devem ir à prisão como qualquer um", reforça ela.

"Mas não me parece correto que pessoas com o transtorno que nunca se envolverambarcelona atletico madridqualquer problema legal sejam constantemente julgadas, perseguidas e obrigadas a mascarar seus sentimentos."

"Isso requer muita energia nossa. Seria muito melhor para os psicopatas e para a própria sociedade se pudéssemos ser nós mesmos."

"Se não tivéssemos que usar tanta forçabarcelona atletico madridvontade para mascarar quem somos, talvez sobrasse mais energia para fazer coisas boas pela sociedade, como nutrir relacionamentos ou propor soluções", defende.

Questionada se há uma única coisa que o públicobarcelona atletico madridgeral poderia aprender sobre a psicopatia, Thomas responde que é preciso acabar com generalizações que transformam todo um grupobarcelona atletico madridalgo negativo.

"Certamente existem muitas coisas consideradas ruins entre psicopatas. Mas talvez a primeira delas seja o fatobarcelona atletico madridsermos diferentes", conclui ela.