Pesquisador se descobre psicopata ao analisar o próprio cérebro:sonic jogo
"Os profissionais estão atribuindo importância excessiva para a carga genéticasonic jogouma pessoa, como se isso, por si só, fosse capazsonic jogodeterminar o futurosonic jogoum ser humano", disse Eduardo Mutarelli, professor do Departamentosonic jogoNeurologia da Faculdadesonic jogoMedicina da Universidadesonic jogoSão Paulo (USP).
Para ele, a experiênciasonic jogoFallon ajuda a reequilibrar o debate que contrapõe a influência da herança genética à do meio (nesse casosonic jogoparticular, a influência civilizadora da família e da sociedade sobre o indivíduo).
Revelação Perturbadora
A descobertasonic jogoFallon aconteceusonic jogo2005, quando ele analisava tomografiassonic jogocérebrossonic jogoassassinossonic jogosérie na universidade. Ele queria ver se encontrava alguma relação entre os padrões anatômicos dos cérebros desses pacientes e seu comportamento.
Fallon explicou que, para ter uma basesonic jogocomparação, tinha colocado na pilha tomografiassonic jogomembrossonic jogosua própria família – a ideia era usá-los como modelossonic jogocérebros "normais".
Ao chegar ao fim da pilha, onde estavam os examessonic jogosua família, o cientista viu uma tomografia que mostrava um padrão clarosonic jogopatologia. "O exame mostrava baixa atividadesonic jogocertas áreas dos lobos frontal e temporal que estão associadas à empatia, moralidade e ao auto-controle".
Fallon contou que, no começo, pensou que fosse um engano. Mas feitas as checagens, o neurocientista, que estudava psicopatas há maissonic jogoduas décadas, viu-se às voltas com uma realidade um tanto quanto incômoda: o cérebro representado naquele exame era seu.
"As mesmas áreas do cérebro estavam completamente apagadas, como nos piores casos que eu tinha visto", disse Fallon.
Para se certificar, Fallon fez mais algunas investigações.
Exames do seu DNA confirmaram que ele tinha genes alelos associados à ausênciasonic jogoempatia e comportamento agressivo e violento.
Fallon também se submeteu a um teste usado por muitos pesquisadores e psicólogos para avaliar tendências antisociais e psicopáticas, a Robert Hare Checklist.
"Psicopatas alcançam acimasonic jogo30 pontos no testesonic jogoRobert Hare", disse Fallon. "A pontuação máxima é 40. Eu alcanço 18, 20 ou 22. Tenho vários traçossonic jogocomum com psicopatas, só não sou criminoso. Nunca matei nem estuprei ninguém e prefiro vencer uma discussão com argumentos do que com força física", diz.
Charme Perigoso
Fallon contou que quando compartilhou suas descobertas com a família e com amigos, eles não se surpreenderam. Gradualmente, o neurologista começou a se ver do pontosonic jogovista das pessoas que o conheciam bem.
"Tive várias conversas reveladoras com minha mãe. Ela me disse que sempre percebeu um lado sombriosonic jogomim e tomava cuidado especial para neutralizar essas tendências e incentivar outras, mais positivas", conta.
Nessas conversas, a mãe também contou ao filho que vários antepassados dele pelo lado paterno tinham sido criminosos temidos. Entre eles, Lizzie Borden, acusadasonic jogomatar o pai e a madrastasonic jogo1892.
Para a esposa, era como se existissem dois James Fallon convivendo num único homem.
"Sou casada com duas pessoas, uma é inteligente, engraçada e afetuosa. A outra é um sujeito perverso,sonic jogoquem eu não gosto", disse a mulher do neurologistasonic jogouma entrevista para a TV.
"Tenho muito jeito para lidar com estranhos, faço muita caridade. Mas sou uma decepção como marido. Posso ver um bebê que não conheço e ficar com os olhos cheiossonic jogolágrimas, mas não sinto uma conexão emocional profunda com minha própria família", diz.
Fallon descreveu alguns dos traços típicossonic jogoum psicopata: "Psicopatas possuem um narcisismo agressivo, charme, desenvoltura aliada a superficialidade, sensosonic jogosuperioridade, tendência a manipular, são emocionalmente rasos, não sentem culpa, remorso ou vergonha".
"Podem ser magnânimos e generosos, mas são emocionalmente frios", afirma.
Teria Hitler, por exemplo, sido um psicopata?
"Não. Hitler era capazsonic jogosentir empatia pelas pessoas e tinha relacionamentos próximos, então eu diria que ele não era um psicopata. Já Stalin, por exemplo, tenho quase certezasonic jogoque sim. Ele não era próximo nem dos próprios filhos", observa.
"A capacidade – ou não -sonic jogosentir empatia é essencial para se establecer se uma pessoa é um psicopata", diz o neurologista.
Amorsonic jogoMãe
James Fallon diz não ter dúvidassonic jogoque foi o amor da família que impediu que ele realizasse seu "potencial" e se tornasse um criminoso violento.
"Sou uma pessoa agressiva e vingativa, gostosonic jogomanipular as pessoas, sinto prazer no poder. Mas todos foram tão amorosos comigo, tenho uma mãe afetuosa e uma esposa maravilhosa", afirma.
"Além disso, não tive experiênciassonic jogoabandono, abuso ou traumas violentos na infância. Tudo isso neutralizou minha biologia", relata.
O neurologista confessou que não teria feito essa afirmação cinco anos antes. "Eu costumava achar que a genética era tudo. Hoje, estou convencidosonic jogoque a biologia é importante, mas a genética pode ser modificada pelo meio ambiente", diz.
Gene X Meio
As revelaçõessonic jogoJames Fallon, descritas no seu livro esonic jogopalestras - algumas disponíveis na internet - revivem um debate que há muito intriga especialistas: somos produto da nossa herança genética ou do meiosonic jogoque vivemos?
Para o neurologista da USP e do Hospital Sírio Libanês Eduardo Mutarelli, o casosonic jogoFallon reforça o papel da sociedade (ou seja, do meio) na formação do indivíduo. E ajuda a combater uma certa tendência "determinista" na forma como nosso potencial genético vem sendo interpretado por médicos hoje.
"A genética hoje trabalha muito com probabilidades, com potencial genético e fatoressonic jogorisco", disse Mutarelli.
O médico citou como exemplo doenças como o Malsonic jogoAlzheimer ou o Mal Parkinson.
"Com o conhecimento atual, sabemos que existe uma certa carga genética associada a essas doenças. Mas você carrega um certo fatorsonic jogorisco e isso vai se transformarsonic jogodoença caso outras coisas contribuam para isso", explicou.
"Você não se cuida, não come direito, esses são fatoressonic jogorisco para que a pessoa venha a desenvolver a doença", observa.
Mas trazendo a discussãosonic jogovolta para o casosonic jogoJames Fallon, Mutarelli faz uma ressalva: "No caso dele, se ele tem um examesonic jogoimagemsonic jogocérebro que é igual aosonic jogoum psicopata, ele só não é psicopata porque foi bem educado".
"O lobo frontal está desregulado, a alteração existe na experiência dele e a ressonância mostra a alteração, ou seja o gene foi ativado. Ele só não é um serial killer por causa da família", reforçou o professor.
E concluindo: "O jeitosonic jogomudar o mundo é educando".