A angústiaviver com TOC: ‘Me gravo com o celular para me assegurarque não batininguém’:
É um transtornoansiedade caracterizado pela presençapensamentos intrusivos persistentes —pensamentos inconscientes que interrompem a atenção ou a atividade normal— que produzem angústia extrema a quem sofre disso.
Isso também gera condutas repetitivas e compulsões, destinadas a reduzir a ansiedade provocada por esses pensamentos.
"Quando tenho esses pensamentos, a anisedade me faz entrarpânico. Me dá dorcabeça, sinto enjoos. Cada vez que luto com um pensamento, volta com maior intensidade, e cresce e cresce até que não posso mais lidar com isso", conta.
Os pensamentos ou imagens começaram a lhe invadir quando ele tinha 4 anos, e foram piorando à medida que ele crescia.
Prime i ros si nais
Sua mãe, Alison, lembra-se que, quando pequeno, seu filho era "especial".
"Connor era diferente dos demais. Lembro que não queria fazer a crisma porque 'era uma má pessoa'."
"'Não sou bom o suficiente para fazer a crisma', me disse. "Talvez fosse pelos pensamentos intrusivos que estava tendo", diz a mãe.
Os pensamentos que atingem as pessoas que padecemTOC, explica à BBC o professor David Healy, especialistapsiquiatria do Hospital MaudsleyLondres, refletem seus valores, e, se não forem tratados, podem tornar-se crônicos.
"Se você é uma pessoa geralmente pacífica que quer ajudar as pessoas, você tenderá a ter pensamentos violentos", diz. "São pensamentos que envergonham muito a pessoa que tem TOC e representam a pior coisa que pode acontecer com elas."
Se não for tratado, o transtorno pode virar uma condição crônica, alerta.
Pensamento intrusivo
Cameron, irmãoConnor, lembraum episódio particularmente difícil na vidaseu irmão, quando a família foi passar as férias na Espanha há três ou quatro anos.
"À noite, saímos, e na volta ele estava convencidoque alguma coisa ruim tinha acontecido."
Para Connor, também é um episódio difícilesquecer.
"Estávamos todos sentados na partefora,uma balada, e um dos organizadores me disse que havia acontecido algo sexual entre nós no banheiro. Depois, disse que era uma brincadeira."
Embora Cameron, que tinha passado a noite toda junto com ele, lhe disse várias vezes que não tinha acontecido nada, Connor continuava acreditando que o incidente havia acontecido.
"Voltei à Espanha, mas o dono da balada me disse que não tinha câmeras lá dentro. Fui ao hotel onde o organizador da festa tinha se hospedados, e todos me repetiram que ele estava brincando", conta Connor.
"Depois fui dormirum banco na rua e logo peguei um voovolta para casa."
Filmar tudo, a outra facesua obsessão
"A outra face das obsessões são as compulsões", diz Healy. "Sensações, desejos extremamente estressantes".
"São as coisas que a pessoa precisa fazer maisuma vez. Ela sabe que não tem sentido e que é absurdo, mas como está cheiadúvidas, fazem para ter um sentidoresponsabilidade e não querer que isso sobre o que estão pensando aconteça."
No casoConnor,compulsão é filmar tudo o que faz com seu celular, para se assegurar que não fez nadaruim.
"Tenho uma câmera no carro que grava com uma amplitude180 graus. Quando estou com o celular na mão, me filmo com a outra mão. Assim, quando saiocasa, me asseguroque não batininguém com a minha outra mão", diz Connor, que diz que resolveu contarhistória para chamar a atenção para os efeitos da doença, especialmentehomens.
Registrar tudo, no entanto, não reduz seus níveisansiedade que não lhe permitem ter uma vida normal ou manter um trabalho.
"Ele se sente culpado porque não ganha dinheiro. Mas fisicamente ele não consegue. Teve vários trabalhos ao longo dos anos, mas não tem a capacidadeir e voltar do trabalho", comenta Alison.
É que, para Connor, só o trajeto ao trabalho pode se tornar um pesadelo.
"Se estou dirigindo e passo por uma colisão na rua, minha mente pensa que eu atropelei uma pessoa. E tenho que voltar para ver se foi isso mesmo, e faço isso durante duas ou três horas", diz Connor.
"O ano passado não pude saircasa. Não vivia, eu só existia dentro do meu quarto", conta à BBC.
Em buscaum tratamento
Connor vem tentado superarcondição com distintos tratamentos, mas nenhum até agora surtiu efeito.
Ele já tentou remédios antipsicóticos, terapia cognitivo-comportamental, terapia individual e familiar, desensibilização e EMDR (dessensibilização e reprocessamento por meio dos movimentos oculares).
Os remédios que ele toma deveriam reduzir os sintomas do TOC. "Mas já não noto a diferença", diz o jovem.
Um tratamento a que ele ainda não se submeteu eque deposita esperanças é a chamada estimulação magnética transcraniana (EMT). Trata-seum procedimento não invasivo que utiliza campos magnéticos para estimular as células nervosas no cérebro a fiminibir ou expor atividade neural.
"A máquinaEMT reduz esses pensamentos e sentimentos intrusivos e diminui a comunicação excessiva entre neurôniosuma determinada região do cérebro", explica à BBC Aisha Osman, encarregadaministrar o tratamento EMTum laboratórioLondres, no Reino Unido.
O tratamento está disponível no setor privado e no serviçosaúde pública do Reino Unido, mas só para casosdepressão.
Seu custo éUS$240 (cercaR$ 1.000) e estima-se que um paciente com TOC precisa,média,30 sessões.
O Instituto Nacional para ExcelênciaSaúde, um órgão público que avalia distintas práticas médicas, aponta que a evidência sobre a eficácia desse tratamento não é conclusiva.
Para Connor,qualquer forma, é uma perspectiva esperançosa.
"Isso não é maneiraviver. Assim não tem sentido existir, porque isso não é vida. Preferia estar dormindo", reconhece.
"Quero trabalhar, ter minha casa, uma namorada que eu não perderia por causa dos meus pensamentos negativos, viajar pelo mundo", diz. "Eu poderia viver uma vida normal. E, para mim, isso seria um milagre."
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