Tim Vickery: Na Copa e na vida, temos que dar mais valor ao esforço e menos à 'brasilidade':1xbet yukle

Tim Vickery

Crédito, Eduardo Martino

Em termos1xbet yukleorganização, a seleção brasileira foi um espetáculo. Como exemplo1xbet yuklecontraste, a seleção inglesa foi para a Copa1xbet yukleChile1xbet yukle1962 sem sequer levar um médico. Quatro anos antes, o Brasil já contava com uma enorme comitiva, com médicos, preparadores físicos, um dentista - até uma experiência, prematura, com um psicólogo.

Pôster do Brasil vencedor na Copa1xbet yukle1958

Crédito, Domínio público/Acervo Museu Paulista (USP)

Legenda da foto, Em 1958, Brasil já havia transformado o futebol1xbet yuklecoisa séria e levado inovações ao esporte

A mesma curiosidade e o espírito1xbet yuklemente aberta se aplicavam à parte tática. O futebol brasileiro se desenvolveu com uma grande participação1xbet yukletécnicos uruguaios e argentinos. Depois, chegou uma influência húngara. Filtrando vários conceitos, a seleção brasileira lançou uma novidade, muito à frente da concorrência - a linha1xbet yuklequatro defensores,1xbet yukleque um jogador fica recuado até o miolo da zaga. Até hoje, pessoas com mais idade falam do "quarto zagueiro". Com mais cobertura na retaguarda, o Brasil não levou nenhum gol na Copa1xbet yukle1958 até a semifinal - e,1xbet yukleum time sólido atrás, cada lance1xbet yuklegenialidade1xbet yukleseus atacantes é valorizado.

O Brasil, então, virou campeão sustentado por um processo fascinante. Mas, no discurso popular, esse processo tem sempre sido subvalorizado, até esquecido. A vitória foi vista menos como consequência1xbet yukleum processo e mais como resultado1xbet yukleuma essência da "brasilidade".

A voz - ou a caneta, ou a máquina - mais brilhante a falar disso foi a1xbet yukleNelson Rodrigues, que trouxe para o futebol o espírito épico1xbet yukleum dramaturgo. "Qualquer pelada", escreveu, "oferece uma margem imensa1xbet yuklemistério,1xbet yuklemagia,1xbet yuklesobrenatural." E oferece oportunidades enormes para a criação1xbet yuklemitos - que era o grande objetivo1xbet yukleRodrigues.

"O jornalista que tem o culto do fato é profissionalmente um fracassado", escreveu. "O fato1xbet yuklesi vale pouco ou nada. O que lhe dá autoridade é o acréscimo1xbet yukleimaginação." Como exemplo, ele narrava a história fictícia1xbet yukleum jornalista que, vendo um pequeno e insignificante incêndio, comoveu a cidade interia inventando um pássaro que, cantando, voou para a morte1xbet yukledireção às chamas. "Sem passarinho", conclui Rodrigues, "não há jornalismo possível."

Com uma combinação potente1xbet yuklefutebol e nação, os voos da imaginação1xbet yukleRodrigues deram vida a pássaros poderosos.

Para ele, somente um fator havia impedido um triunfo brasileiro na Copa antes1xbet yukle1958: a falta1xbet yukleautoestima. Estava obcecado com a ideia do Brasil como "um Narciso às avessas, que cospe na própria imagem." Superado isso, não há quem possa.

Djalma Santos, Pelé e Gilmar comemorando vitória1xbet yukle1958

Crédito, domínio público/ Pressens Bild

Legenda da foto, Djalma Santos, Pelé e Gilmar comemorando vitória1xbet yukle1958; time tinha 'curiosidade e espírito1xbet yuklemente aberta'

"A pura, a santa verdade é a seguinte - qualquer jogador brasileiro, quando se desmarra1xbet yuklesuas inibições e se põe1xbet yukleestado1xbet yuklegraça, é algo único,1xbet yuklematéria1xbet yuklefantasia,1xbet yukleimprovisação,1xbet yukleinvenção. Em suma - temos dons1xbet yukleexcesso. E só uma coisa nos atrapalha e, por vezes, invalida as nossas qualidades. Quero aludir ao que eu poderia chamar1xbet yukle'complexo1xbet yuklevira-latas'. (...) A inferioridade1xbet yukleque o brasileiro se coloca, voluntariamente, face ao resto do mundo."

A força e a influência dessas palavras são inegáveis. Mas é também inegável que se trata1xbet yukleuma visão bastante estranha.

O termo "vira-lata" não se refere a uma mistura1xbet yukleraças ("o brasileiro precisa se convencer que não é um vira-latas"). Tem muito mais a ver com o pensamento varguista do Brasil como "uma unidade racial". Rodrigues adora falar sobre "o brasileiro", como se fosse um país sem divisões sociais, sem história, um país não construído1xbet yukleimigrantes, a maioria recém-chegada da Europa.

O Flamengo estava endividado, e Rodrigues achava isso excelente. "Difícil encontrar um brasileiro sem dívidas", escreve. "Insisto - um brasileiro sem dívidas é o que há1xbet yuklemais utópico, inexequível e mesmo indesejável." Aí ele iguala a situção financeira1xbet yukleum campeão mundial1xbet yukledesigualdade econômica para pegar emprestado um conceito do historiador Eric Hobsbawm - o ex-escravo e o ex-dono1xbet yukleescravos unidos na1xbet yuklecondição1xbet yukledevedores. Todos cordialmente gastando mais do que ganhavam.

Óbvio que se trata1xbet yukleuma visão do Brasil que hoje1xbet yukledia não é sustentável. A unidade racial, a cordialidade, a democracia racial - um por um caíram os mitos.

Está na hora, acredito,1xbet yukleolhar para além da ideia dos brasileiros entrando1xbet yukleum estado1xbet yuklegraça - até porque nunca se explica por que outras nacionalidades não podem alcancar esse mesmo patamar.

As vitórias no futebol servem como inspiração, sim. Menos por serem produtos da "brasilidade" e mais porque foram frutos1xbet yukleum processo - uma aula para qualquer tarefa na vida.

*Tim Vickery é colunista da BBC News Brasil e formado1xbet yukleHistória e Política pela Universidade1xbet yukleWarwick.

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