Tim Vickery: As bancasnova betrevista que viraram mercados, a revoluçãonova betdados e o diagnóstico sombrio do Brasil:nova bet
Desde que cheguei ao Brasil,nova bet1994, sempre me nutri da ideianova betum país progredindo - lentamente, na verdade, mas buscando ser uma mãe mais gentil para tantos filhos e filhasnova betuma terra tão fértil.
Os últimos dois anos forçaram uma reflexão, com um diagnóstico bem mais sombrio.
Chego à conclusãonova betque a crise, especialmente na vida urbana, tem três aspectos.
Um é estrutural e histórico - o legado nocivo da escravidão, um passado e presentenova betdesigualdade perigoso, um Estado que funciona para poucos e a mentalidadenova bet"salve-se quem puder" que vem como consequência, junto a níveis altíssimosnova betviolência.
O segundo é a situação econômica global. Na verdade, o boom do Brasil sempre foi precário, dependente da vendanova betmatéria-prima (jánova betsi um modelo discutível) para a China no momentonova betque aquele país estava crescendo com uma rapidez claramente não sustentável. As expectativasnova betdez anos atrás eram muito exageradas. A realidade voltou para morder o Brasil bem naquela partenova betanatomia onde o sol não brilha.
O terceiro fator é uma onda gigante, um tsunami ainda misterioso - porque não sabemos ainda por onde ele vai nos conduzir. Trata-senova betuma tendência internacional - a destruiçãonova betmodelosnova betnegócios por meio da tecnologianova betinformação. Tirando valor por onde ela anda, a internet fecha jornais e revistas e transforma bancasnova betminimercados, a internet esvazia o varejo e até ameaça os advogados.
Quem lê tanta notícia, agora pode fazer isso online. A loja virou um lugar onde o cliente vai provar roupa e escolher o tamanho adequado, para depois pedir pela internet, pagando bem menos. E até tem robôs "doutores", prontos para exercer funçõesnova betadvocacia.
Faz parte da dinâmica constante do capitalismo, destruindo coisa velha para construir o novo. Mas agora com uma diferença: o novo modelo custumava pagar mais que o antigo, facilitando a transição. Historicamente, por exemplo, o trabalhador rural perdeu espaço, mas acabou encontrando empregonova betfábricas, ganhando mais. Agora não. O novo modelo muitas vezes paga menos. Ou nem paga. Porque a natureza do trabalho está passando por uma mudança histórica.
Vi duas frases muito interessantes sobre o escândalo recente envolvendo Facebook e o polêmico usonova betseus dados.
Primeiro: se o serviço énova betgraça, então o produto é você.
Segundo: dados são o novo petróleo.
Nesta nova fase, do capitalismonova betinformação, o conhecimento é tudo. Um grande supermercado vai construindo anova betestratégia baseada nas opções feitas por milhõesnova betconsumidores. Um gigantenova betvarejo online sabe o que você já pediu, conhece o seu gosto e usa algoritmos para sugerir mais produtos na mesma linha. Um titã das mídias sociais tem acesso a um leque extraordinárionova betinformações sobre você, postadasnova betlivre e esportânea vontade - mas que,nova betmassa, viram um banconova betdadosnova betgrande utilidade - numa campanhanova betvendas ou numa campanhanova beteleição.
O cidadão, então, está num atonova betconsumo ou até um momentonova betlazer - mas na verdade, está produzindo, fornecendo informações que têm grande potencial econômico para quem é capaznova betpegar, analisar, vender. Quem pega esses dados tem nas mãos o combustível do mundo atual.
É como se a sociedade inteira tivesse virado uma fábrica. O produto é você. Ao comprar ou postar, você estánova betfato e sem recompensa, trabalhando - servindo aos interessesnova betvários gigantes globais. São poucas as empresas com escala para se beneficiar. É um modelo altamente concentrado.
Isso é uma preocupaçãonova betqualquer praça. Mas, na realidade do Brasil, já marcada por uma concentraçãonova betrenda impressionante, a perspectiva é alarmante. E acredito que, se quisermos seguir vivendo (e por que não?), temos que achar uma maneiranova betque a tecnologia da informação funcionenova betprol da maioria. Talvez, o petróleo nunca na verdade tenha sido nosso. Tomara que a história com dados seja diferente.
*Tim Vickery é colunista da BBC Brasil e formadonova betHistória e Política pela Universidadenova betWarwick.
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