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Os idosos viciadosbetnacional e boaredes sociais: 'Desligamos o wi-fi da minha mãe':betnacional e boa
"A gente desligou o wi-fi e tirou o chip do celular dela porque não tinha outro jeito", diz Ester.
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O caso da família paulista ilustra um fenômeno que tem aparecidobetnacional e boapesquisas recentes sobre danos causados pelo víciobetnacional e boacelular — a chamada nomofobia, expressão que vem do inglês no mobile (sem celular).
Ela não é considerada uma doença ou um transtorno, mas um conjuntobetnacional e boasintomas exacerbados nessa relação não saudável com os aparelhos eletrônicos.
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Em alguns casos, o medobetnacional e boaficar sem celular pode deixar uma pessoa tão nervosa que ela pode suar demais ou ter taquicardia.
O uso excessivobetnacional e boatelas é relacionado a uma piora da saúde mental, com sintomasbetnacional e boaestresse, depressão e ansiedade, segundo pesquisas reunidasbetnacional e boaum estudo realizado pela terapeuta ocupacional Renata Maria Santosbetnacional e boaseu doutorado na Faculdadebetnacional e boaMedicina da Universidade Federalbetnacional e boaMinas Gerais (UFMG).
A principal surpresa para a pesquisadora, que acompanha pacientes no Hospital das Clínicas da UFMG,betnacional e boaBelo Horizonte, foi o impactobetnacional e boaidosos.
"A gente imaginava que os idosos teriam uma aversão à tecnologia, pela dificuldadebetnacional e boamexer ou por um leve declínio cognitivo natural, que seriam uma barreira para um relacionamento positivo com esses aparelhos", diz Santos, que analisou 142 artigos publicados sobre pesquisas que, reunidas, envolvem 2 milhõesbetnacional e boapessoas no mundo.
"Mas o que a gente encontrou é que as pessoas estão tão apegadas a pontobetnacional e boadesenvolver essa ansiedade generalizadabetnacional e boaficar desconectado [a nomofobia]."
Ou seja, a dificuldade que muitos idosos relatambetnacional e boalembrarbetnacional e boasenhas, baixar algum programa ou conhecer os caminhos para acessar um site não tem sido mais uma barreira.
Os especialistas com quem a BBC News Brasil conversou apontam que os celulares podem ser aliados importantes na melhoria da qualidadebetnacional e boavidabetnacional e boaidosos (no contato com a família, por exemplo).
Mas há alguns aspectos que deixam os idosos especialmente vulneráveis a uma possível dependência, como:
- Isolamento e solidão;
- Sentimentobetnacional e boa'exclusão' do mundo atual;
- Alto índicebetnacional e boatranstornosbetnacional e boahumor, como depressão.
Essas situações, somadas a algum declínio cognitivo e à faltabetnacional e boaletramento digital, ainda podem levar os idosos a uma maior propensão a cairbetnacional e boagolpes ou se viciarbetnacional e boajogos, explica a neuropsicóloga Cecília Galetti, especialistabetnacional e boagerontologia, a ciência que estuda o envelhecimento.
"É como uma bolabetnacional e boaneve. Um idoso isoladobetnacional e boacasa e deprimido é mais vulnerável a um comportamento aditivo", diz Galetti, que é colaboradora do Programa Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso da USP (Universidadebetnacional e boaSão Paulo).
Além disso, "um dos critérios diagnósticos para identificar um víciobetnacional e boajogos, por exemplo, é saber se a pessoa aposta para fugirbetnacional e boaum humor deprimido".
'Eu era viciada'
"Era como se o celular fosse partebetnacional e boamim, e eu tinha que ficar perto dele o tempo inteiro. Senão, sentia que faltava alguma coisa."
O relato da aposentada Maria Aparecida Silva,betnacional e boa70 anos,betnacional e boaSão Paulo, remete ao momento que ela percebeu que tinha uma dependência,betnacional e boa2021.
O Brasil vivia ainda a pandemiabetnacional e boacovid-19, e o celular passou a serbetnacional e boaúnica conexão com o mundo exterior.
Aparecida, que mora sozinha, lembra que "passou a levar o celular para a cama e não conseguia mais dormir", alémbetnacional e boa"deixarbetnacional e boarealizar tarefas domésticas para ficar conectada".
A aposentada passava maior parte do tempo no Facebook, um aplicativo que faz "um serviço muito bem feito para chamar nossa atenção", conta.
De fato, as redes sociais são habilidosasbetnacional e boacontemplar a busca por "recompensas" do nosso cérebro. Temos centros neurais que reagem ao prazer — ao sexo, às drogas, a ganhar dinheirobetnacional e boaapostas —, e esperam que isso se repita várias vezes.
Isso é conhecido como circuitobetnacional e boarecompensa do cérebro, e é o mesmo mecanismo pelo qual uma pessoa se torna dependentebetnacional e boauma substância como o álcool.
As redes sociais,betnacional e boaparticular, sempre têm algo novo prazeroso a oferecer: uma foto, um vídeo, uma mensagem. Por isso, têm potencial aditivo.
Especialmente nos idosos, a pesquisadora Renata Maria Santos explica que esse acesso exacerbado ao mundo digital tem causado um estado psíquico chamado hebefrenia, uma confusão mental que, nos grupos afetados, tem levado a um "comportamentobetnacional e boaadolescente".
"Tenho percebido um aumento da preocupação com a validação dos pares, das compras por impulso na internetbetnacional e boacoisas que não precisam e da busca por ideaisbetnacional e boabeleza", diz Santos.
"Em tese, são comportamentos que, pela idade, eles já teriam perdido, mas que agora tem voltado com as redes. E isso coloca os idososbetnacional e boauma susceptibilidade parecida ao dos adolescentes. Eles querem se sentir inseridos."
As psicólogas com quem a BBC News Brasil conversou indicam alguns sinais que os familiares podem perceber sobre o uso não saudável do celular, como:
- Um isolamento social, mesmo quando há pessoas por perto;
- Deixarbetnacional e boarealizar atividades cotidianas e domésticas.
Na avaliação da psicóloga Anna Lucia Spear King, fundadora do Instituto Delete, que promove uso conscientebetnacional e boatecnologias, a nomofobia ocorre,betnacional e boageral, para "dar vazão a um transtornobetnacional e boaorigem", como compulsão, ansiedade, depressão ou síndrome do pânico.
"Quando percebido o problema, o tratamento é no transtornobetnacional e boaorigem que leva a essa dependência", conta Spear King, que pesquisa dependência digital e é professora do Institutobetnacional e boaPsiquiatria da Universidade Federal do Riobetnacional e boaJaneiro (UFRJ).
Além disso, as especialistas aconselham as famílias a estarem por perto dos idosos e incentivá-los a realizar atividades forabetnacional e boacasa.
A aposentada Maria Aparecida Silva conta que conseguiu se sentir "livre" do celular ao fazer aulas como caratêbetnacional e boaespaçosbetnacional e boaconvivência para idosos, como o Associação Brasileirabetnacional e boaApoio a Terceira Idade (Abrati), que oferece cursosbetnacional e boaSão Paulo.
"Deixeibetnacional e boacarregar essa tralha o tempo todo", diz Aparecida.
"Hoje, ele não me faz falta, coloco ele para dormirbetnacional e boaoutro quarto e o deixo fora do meu alcance, desligado."
'Se tiro o celular, ela fica agressiva'
A relaçãobetnacional e boaalguns idosos com os celulares passa ainda por outro componente: a demência, que atinge cerca de 8,5% da população brasileira com 60 anos ou mais
Na casa da enfermeira Wany Passos,betnacional e boaPetrolina (PE), a família tem corrido atrásbetnacional e boamédicos para tentar entender o comportamento da mãe,betnacional e boa79 anos, que não larga mais o celular.
"Ela foi diagnosticada com princípiobetnacional e boaAlzheimer, mas eu acho que não é só isso. Tem um comportamentobetnacional e boavício mesmo", diz Wany.
Segundo ela, a mãe passou por fases após ganhar o celular com acesso à internet.
Primeiro, começou a se isolar das relações familiares para ficar navegando. Depois, passou a ver vídeos no aplicativo Kwai o dia inteiro e a acreditarbetnacional e boatudo que vê — o que a levou, segundo Wany, a um extremismo político.
Por último, passou a confundir a realidade com o virtual, criando namorados fictícios e interagindo com o conteúdo como se fosse uma chamada ao vivo.
"Já tentei tirar o celular, desligar a internet, mas ela fica imediatamente agressiva. Às vezes, acordobetnacional e boamadrugada e vejo que ela passa a noite inteira assistindo a vídeos no Kwai", relata Wany.
A mesma angústia tem passado a famíliabetnacional e boaEster,betnacional e boaSão Paulo. Diante do relato das filhas sobre o vício no celular, médicos têm apontado para um iníciobetnacional e boademência na mãe.
"Mas eu acho que essa perda cognitiva pode ter alguma relação com o vício no celular, porque ela está lúcida, fala normal", diz Ester.
"Mas basta ter o celular na mão dela que ela muda."
Sua mãe também tem fantasiado com supostos namorados virtuais.
"Quando dei o celular, pensei que ia ocupar e distrair a cabeça dela, mas foi o contrário. Ocupou tanto que ela só fica no celular", relata a cuidadora paulista.
A pesquisadora Renata Maria Santos diz que há risco na combinação entre doenças cognitivas e o celular, apesarbetnacional e boanão ter encontrado estudos que façam essa relação direta.
Santos diz que um dos primeiros sintomas dessas doenças é a agressividade e hiperssexualização — "com o celular na mão, podem dar vazão a isso".
Ela ressalta ainda que as pesquisas demonstram que, quando o celular está a até um metro do dono, a pessoa exibe um potencial cognitivo 10% menor do que sem celular por perto.
É como se a mente trabalhasse menos, já que tudo que você precisabetnacional e boainformação está a seu alcance.
Em idosos que estão perdendo habilidades cognitivas, atenção e memória, essa "muleta" do celular pode se tornar um problema, avalia a pesquisadora.
Os idosos que apresentam sintomasbetnacional e boademência acabam também sendo os mais vulneráveis, já que não vão compreender tudo que está acontecendo nas redes sociais, alerta a psicóloga Cecília Galetti.
Além disso, muitos desses pacientes apresentam "mais dificuldadebetnacional e boacontrolar impulsos".
"Perdem o freio inibitório que faz a gente pararbetnacional e boaapostar se perdemos dinheiro ou desligar uma ligação se algo soa estranho", diz Galetti.
Por isso, a psicóloga recomenda, antesbetnacional e boatudo, promover uma melhor familiaridade do idoso com a internet, como cursos que os ensinam a mexerbetnacional e boasmartphones.
Pode parecer contraditório, mas é dessa forma que esse público pode ter contato com as ferramentas "de forma segura e ética", conclui a psicóloga.
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