Por que alguns cristãos não comemoram o Natal?:roleta a
"Em geral, os que não celebram dizem que se trataroleta auma festa pagã. A origem,roleta afato, é pagã, mas o cristianismo incorporou muitas festas pagãsroleta aseu processoroleta aexpansão", explica ele. "Outros dizem que a data do nascimentoroleta aJesus é incerta e não veem motivo para a festa no dia 25roleta adezembro."
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Abumanssur acrescenta ainda que "há os que não veem sentidoroleta acelebrar o Natal porque o nascimentoroleta aJesus não é relevante na narrativa salvacionista". "O que importa é a morte e a ressurreiçãoroleta aJesus", observa.
De fato, a data ou mesmo o períodoroleta aque Jesus teria nascido não está, direta nem indiretamente,roleta anenhum dos dois evangelhos canônicos que narram o episódio, os textos atribuídos a Lucas e a Mateus.
As Testemunhasroleta aJeová tratam sobre issoroleta adocumento oficial da igreja. No texto, justificam a não observância do Natal com baseroleta apassagens bíblicas. "Jesus nos mandou comemorarroleta amorte, não seu nascimento", argumentam os religiosos, citando o trecho da chamada última ceia,roleta aque ele teria pedido aos seus seguidores que refizessem o ritual "em memóriaroleta amim".
Os seguidores dessa denominação também se baseiamroleta acartaroleta aPaulo aos Coríntios para argumentar que esse tiporoleta afestividade "se originaroleta acostumes e rituais pagãos" e, por isso "acreditamos que o Natal não é aprovado por Deus".
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Autorroleta aestudo acadêmico sobre as Testemunhasroleta aJeová, o filósofo Cleberson Dias, doutorroleta aciências da religião pela PUC-SP, esclarece à BBC News Brasil que esta origem não-cristã faz com que eles "considerem isso como algo errado", a despeito da ressignificação histórica que foi feita.
"Não existem provasroleta aque Jesus tenha nascidoroleta a25roleta adezembro; a dataroleta aseu nascimento não foi registrada na Bíblia", argumentam ainda os seguidores das Testemunhasroleta aJeová.
"Os apóstolos e os primeiros discípulosroleta aJesus não comemoravam o Natal. A Enciclopédia Barsa diz que 'a festa do Natal foi instituída oficialmente pelo bispo romano Libério no ano 354', maisroleta a200 anos depois que o último apóstolo morreu."
Em artigo publicadoroleta a2013, o pastor adventista Carlos Hein lembra que a religiosa Ellen G. White (1827-1915), cofundadora da Igreja Adventista do Sétimo Dia, deixouroleta aseus escritos 26 menções ao Natal — alguns deles são vistos como rejeição categórica à celebração da data, ponto que divide até hoje os membros da denominação.
White escreveu que Deus teria ocultado "o dia preciso do nascimentoroleta aCristo" para que o dia "não recebesse a honra que devia ser dada a Cristo como redentor do mundo".
Ela também fez uma crítica à camada capitalista que envolve a data. "Que não haja muitas pressões ambiciosas para adquirir presentes no Natal e Ano Novo. Pequenos presentes para as crianças não são importunos, mas o povo do Senhor não deve despender seu dinheiro na aquisiçãoroleta apresentes caros", pontuou.
No seu artigo, Hein avalia que "podemos perceber uma orientação clara quanto à possibilidade da celebração com certas condições". Ele traz trechosroleta aescritosroleta aWhite lembrando que como a data se tornou tradicional no mundo seria "difícil passar" por este período "sem lhe dar alguma atenção" e, portanto, a oportunidade "pode ser utilizada para um bom propósito".
Em outras palavras, ela sugere que a alegria e o desejoroleta adar presentes sejam direcionadosroleta aboas ações.
Algumas igrejas evangélicas mais fundamentalistas também recomendam que seus fiéis não celebrem o Natal, não enfeitem suas casas e não troquem presentes na data —roleta ageral, os argumentos sãoroleta aque a comemoração se tornou uma festa capitalista que deixa a religiosidaderoleta asegundo plano.
"Há denominações que vão dizer que o Natal foi uma coisa inventada posteriormente e que, por isso, rechaçam a data", diz à BBC News Brasil o teólogo e historiador Gerson Leiteroleta aMoraes, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie. "Em geral são grupos pequenos [dentro do cristianismo]. De uma maneira geral, os cristãos como um todo comemoram o Natal."
Essa é uma controvérsia que já apareceuroleta aoutros momentos da história. Em 1644, por exemplo, os puritanos ingleses decidiram abolir o Natal e o feriado ficou proibido na Inglaterra até 1660 — a lei só foi revertida quando Charles 2º (1630-1685) assumiu o trono.
Também há cristãos que consideram outras datas. Em seu livro The History of Christmas (A História do Natal,roleta atradução livre), o autor católico Wyatt North lembra que as datas divergem entre igrejasroleta atradição ocidental oriental.
"Embora o dia 25roleta adezembro tenha se tornado a data aceitaroleta aRoma para a natividaderoleta aJesus, a igrejaroleta aJerusalém, até o século 6º, e no Oriente (Antioquia e Constantinopla), e no Egito, estabeleceram o dia 6roleta ajaneiro […]", diz ele.
"Com o tempo, o dia 6roleta ajaneiro passou a ser associado à visita dos Reis Magos e acabou se tornando um diaroleta afesta junto com o Natal. Os cristãos armênios e os cristãos ortodoxos russos celebram atualmente o Natal nos dias 6 e 7roleta ajaneiro, respectivamente", completa.
Um caso peculiar é o da Igrejaroleta aJesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, mais conhecida como igreja dos mórmons. Em primeiro lugar porque possivelmente se trata da única religião que diz conhecer, "inequivocadamente", a dataroleta anascimentoroleta aJesus.
De acordo com o fundador denominação religiosa, Joseph Smith (1805-1844), este dia seria 6roleta aabril — na mesma data, a igreja foi inauguradaroleta a1830. Smith teria recebido essa informaçãoroleta auma revelação divina.
Por outro lado, os mórmons celebram o Natalroleta a25roleta adezembro por entenderem que essa data foi a escolhida pelos primeiros missionários cristãos para a celebração, ressignificando as festividades pagãs que já ocorriam no período.
North pontua que uma dificuldaderoleta ase chegar a uma data exata ou aproximada do nascimentoroleta aJesus passa também pelo fatoroleta aque, na época, coexistiam "calendários diferentes". "É difícil lançar âncoraroleta amares instáveis. Os primeiros cristãos tinham calendários judaico, romano e egípcio que se baseavam nos ciclos da lua e do sol, respectivamente", afirma.
Do festival pagão ao Papai Noel: camadasroleta asignificado
"Quando olhamosroleta aforma retrospectiva para a história do Natal, vemos que talvez seja a festa cristã mais carregadaroleta aressignificações ao longo do tempo", comenta o teólogo Moraes.
Nesse sentido, uma festa no auge do inverno no hemisfério norte remonta aos períodos mais remotos da civilização. "É uma verdade que muito antes do Natal se tornar Natal havia festivaisroleta ainvernoroleta atodo o hemisfério norteroleta atorno do que os calendários modernos agora chamamroleta a25roleta adezembro", diz o pesquisador e escritor Andy Thomas,roleta aseu livro Christmas - A Short History From Solstice to Santa (Natal - Uma breve história do Solstício até o Natal,roleta atradução livre).
O solstícioroleta ainverno era o momento da guinada rumo ao renascimento da primavera seguinte.
"Para os antigos, este era um momento importante, pois significava que podiam definitivamente esperar que a vida se tornasse um pouco mais fácilroleta asobreviver novamente", explica ele.
Os antigos romanos celebravam a divindade do Sol Invencível nesta época. Mas não era o único — e provavelmente a festança era gigante porque nela havia uma conjunçãoroleta acrenças.
Os historiadores Mary Beard e John North afirmam, no livro Religions of Rome (Religiõesroleta aRoma,roleta atradução livre), que a festa ao deus Mitra, nesta época do ano, durava uma semana e era cheiaroleta acelebrações familiares, boa comida e trocasroleta apresentes.
Deus da sabedoria, Mitra veio da mitologia persa e representava a vitória da luz sobre a escuridão, do bem contra o mal.
Saturno também foi ganhando espaço,roleta afesta chamadaroleta aSaturnália. Deus da agricultura, era natural que ele fosse lembrado nessa épocaroleta arenascimento. "A Saturnália envolvia muita bebida, festas e até inversãoroleta apapéis: chefesroleta afamília poderiam servir refeições aos seus escravos neste dia, e não o contrário", diz Thomas.
As celebrações romanas chegaram a ser oficializadasroleta alei — pelo imperador Lúcio Domício Aureliano (214-275), que decidiu institucionalizar o culto festivo ao Sol Invictus.
Quando o cristianismo foi incorporado por Roma, após os governosroleta aFlávio Valério Constantino (272-337) e Flávio Teodosio (346-395), o sol invencível acabou se transformandoroleta auma figura humana: Jesus.
Thomas aponta que, "embora possam ser encontradas referências anteriores ao fatoroleta ao 25roleta adezembro ter sido adotado como o aniversárioroleta aJesus [como uma celebração emroleta ahomenagem descrita como ocorrida no anoroleta a336]", o primeiro reconhecimentoroleta aque ele havia "se tornado festaroleta apleno direito"roleta aRoma dataroleta a354.
"Ele [o Natal] não nasceu por imposição da Igreja, mas sim por práticas que estavam ocorrendoroleta auma religiosidade que ganhava espaço. Foi-se consolidando um tiporoleta afesta com caráter missionário,roleta aevangelização dos pagãos", explica Moraes.
Nos séculos seguintes, a festa ganharia elementosroleta aoutras tradições, como conta Thomas. Da mitologia nórdica o vooroleta aOdin pelos céus foi redesenhado como o bom velhinho a bordoroleta aum trenó voador. Aliás, a figura cristãroleta aum bispo bondoso que dava presentes ås crianças, São Nicolau, se tornou o Papai Noel tão bem explorado pelo capitalismo contemporâneo — que conferiu a camada mais moderna da festa.
Do costume nórdicoroleta asacrificar animais, pode ter origem à mesa farta, conforme conjetura Thomas. E nobres europeus,roleta agestosroleta aostentação, consolidaram o costumeroleta adar presentes nessa época do ano.
E tudo isso acabou ganhando novas cores no continente americano — mais especificamente, na Nova York do século 19.
"Embora o Natal fosse desaprovado pelos colonos puritanos, a partirroleta a1800 as celebrações públicas nas ruas da América se tornaram tradição sazonal. Isso parecia divertido para os celebrantes mais pobres, que podiam desfrutar livrementeroleta aum períodoroleta adesgoverno. Mas como a população nova-iorquina saltou 10 vezes entre 1850 e 1900, os mais ricos passaram a temer que essas festasroleta arua pudessem se transformarroleta atumultos", conta Thomas.
"Assim, a elite passou a promover a ideiaroleta aum Natal doméstico, com trocaroleta apresentesroleta acasa. Famíliasroleta aclasse média, felizes por manterem seus filhos longe do que consideravam influências nocivas, adotaram imediatamente a ideia", prossegue.
"Em 1867, comprar brinquedos já era um negócio grande o suficiente para que a principal loja Macy'sroleta aNova York ficasse aberta até meia-noite na vésperaroleta aNatal. [No século 20,] Com a América do pós-guerra dando grande parte do tom natalino mundial, dar presentes tornou-se a ordem do dia na maioria dos países que celebram a festa."