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Por que câncer pode se tornar a doença que mais mata no Brasil - e que desafios isso traz:futebol facil
Segundo a pesquisa, a tendência é que esses números continuem a aumentar, até que o câncer ultrapasse as doenças cardíacasfutebol faciltodo o território nacional.
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Fim do Matérias recomendadas
Essa transição já foi observadafutebol facilpaíses mais ricos nos últimos anos, e agora passa a acontecer também nas naçõesfutebol facilrenda média, como é o caso do Brasil.
Os autores do estudo esperam que os dados e a análise ajudem a melhorar os serviçosfutebol facilsaúde no Brasil.
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil também chamam a atenção para a necessidadefutebol facilmelhorar e ampliar as campanhasfutebol facilprevenção e outras políticas públicas para lidar com esse novo cenário.
Como a pesquisa foi feita
Uma toneladafutebol facilcocaína, três brasileiros inocentes e a busca por um suspeito inglês
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Fim do Novo podcast investigativo: A Raposa
O trabalho envolveu investigadores da Universidade da Califórniafutebol facilLos Angeles (EUA), da Universidade Autônoma do Chile, do Institutofutebol facilEstudos para Políticasfutebol facilSaúde, da Fundação Getúlio Vargas, do A.C. Camargo Cancer Center e da Universidade Federalfutebol facilSão Paulo (Unifesp), entre outras instituições.
Eles compilaram dados dos 5,57 mil municípios brasileiros disponíveis no Sistemafutebol facilInformação sobre Mortalidade (SIM), vinculado ao Ministério da Saúde.
Esse enorme registro público traz detalhes anonimizados sobre quais foram as causasfutebol facilcada óbito notificado nos cartórios espalhados pelo país.
A partir disso, os autores do estudo calcularam as taxasfutebol facilmortalidade por doenças cardiovasculares (como infarto, acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca…) e por câncer para cada ano, no período que vaifutebol facil2000 a 2019.
Eles também criaram uma proporção da taxafutebol facilmortalidade (mortality rate ratio,futebol facilinglês), para determinar se,futebol facilcada município, o que mais matava ainda eram os problemas ligados ao coração e aos vasos sanguíneos ou se a tal transição epidemiológica já havia ocorrido — e os tumores tomaram a dianteira.
A partir desse sistema, os pesquisadores puderam observar que a taxafutebol facilmortalidade por doenças cardiovasculares caiufutebol facil25 das 27 unidades da federação (26 Estados mais o Distrito Federal). No mesmo período, a mortalidade por câncer subiufutebol facil15 deles.
"Enquanto que, no ano 2000, a mortalidade por câncer era menor que afutebol facilpor doenças cardiovascularesfutebol faciltodos os Estados e apenas era superiorfutebol facil7% das cidades, essa distância foi reduzida consideravelmentefutebol facil2019, com 13% dos municípios com maior mortalidade por câncer do que por causas cardiovasculares", descrevem os autores.
Em números absolutos, o câncer era a principal causafutebol facilmortefutebol facil366 cidades brasileiras no início do século. Esse número saltou para 727futebol facilmenosfutebol facilduas décadas.
Leandro Rezende, um dos autores do estudo recém-publicado, destaca que paísesfutebol facilrenda alta já completaram essa transição epidemiológica — e o mesmo processo começa a ganhar fôlego nos paísesfutebol facilrenda média, como é o caso do Brasil.
"Esperamos que os dados ajudem a entender as nuances e as particularidades do nosso país e possam ser úteis para os gestoresfutebol facilsaúde", pontua ele.
Políticas públicas que fazem a diferença
Mas o que explica essa mudança? Que fatores ajudam a entender essa transição nas causasfutebol facilmorte?
Para Rezende, que é professor do Departamentofutebol facilMedicina Preventiva da Escola Paulistafutebol facilMedicina da Universidade Federalfutebol facilSão Paulo (Unifesp), duas políticas públicas criadas nas últimas décadas foram essenciais para isso.
"Em primeiro lugar, a queda do tabagismo foi a grande contribuidora para a redução das mortes por doenças cardiovasculares no Brasil", resume ele.
Desde a décadafutebol facil1980, diversos governos criaram leis para proibir o fumofutebol facillocais fechados, aumentaram os impostos sobre os cigarros e criaram uma forte regulação sobre a rotulagem, a venda e a publicidade desses produtos.
"Tudo isso reduziu o tabagismo, e nós agora colhemos os frutos dessas medidas, com muitas mortes evitadas", complementa o pesquisador.
Para se ter uma ideia, praticamente um quarto dos brasileiros fumava nos anos 1980. Hojefutebol facildia, esse número fica na casa dos 10%.
Mas o cigarro também não está relacionado ao câncer? Por que essas políticas não resultaram numa diminuiçãofutebol faciltumoresfutebol facilpulmão, bexiga, garganta, entre outros?
A questão aqui está no tempo. "A redução do tabagismo deve, sim, levar a uma queda na morte por vários tiposfutebol facilcâncer, mas isso só será possívelfutebol facilobservar nos próximos anos", responde Rezende.
"A latência [o período para que certas doenças apareçam] varia muito. Ele costuma ser mais rápido para os problemas cardiovasculares e levar algumas décadas quando o assunto é câncer", explica o pesquisador.
Rezende lembra do segundo eixofutebol facilpolíticas públicas que, segundo as evidências, ajuda a entender o cenário captado na pesquisa.
"Também precisamos ressaltar a importância do Sistema Únicofutebol facilSaúde, o SUS, e o aumento da coberturafutebol facilprevenção primária por meiofutebol facilprogramas como a Estratégia Saúde da Família, que permitem um controle mais efetivofutebol facilfatoresfutebol facilrisco cardiovasculares, como diabetes e hipertensão", pontua ele.
O médico José Humberto Fregnani, superintendentefutebol facilEnsino, Pesquisa e Inovação no A.C. Camargo Cancer Center,futebol facilSão Paulo, que não esteve diretamente envolvido com o estudo, concorda com os pontos levantados por Rezende — e acrescenta um terceiro elemento ao debate.
"Também tivemos um grande desenvolvimentofutebol facilmedicações e tecnologias relacionadas às doenças cardiovasculares, que melhoram cada vez mais o tratamento", avalia ele.
Na visão do especialista, o problema é que o câncer apresenta uma complexidade muito maior, tanto do pontofutebol facilvista da prevenção quanto das terapias.
"Quando pensamos na hipertensão, o diagnóstico é simples, feito no próprio consultório, onde já é possível lançar mãofutebol faciluma sériefutebol facilmedidas para ter um controle melhor", compara ele.
"Agora, o câncer não é uma doença única. Há centenasfutebol faciltipos, subtipos, fases e graus, para os quais existem métodosfutebol facildetecção e tratamento absolutamente distintos", destaca Fregnani.
Portanto, diantefutebol facilum cenáriofutebol facilque o câncer se torna uma preocupação cada vez maior e logo deve assumir o topo do rankingfutebol facilmortalidade no país todo, os desafios para lidar com esse novo cenário se multiplicam — e ficam também mais complexos.
Um desafio do tamanho do Brasil
A médica Anelisa Coutinho, presidente da Sociedade Brasileirafutebol facilOncologia Clínica (Sboc), lembra que o mundo já registrafutebol faciltornofutebol facil20 milhõesfutebol facilnovos casosfutebol facilcâncer por ano.
"E as projeções apontam que, até 2050, esse número vai subir para 35 milhões, um incrementofutebol facilpelo menos 70%", calcula ela.
Na visão da médica, a boa notícia é que pelo menos um terço desses tumores podem ser evitados por meiofutebol faciluma atenção maior aos chamados fatoresfutebol facilrisco modificáveis.
Aqui entram questões do estilofutebol facilvida moderno, relacionados ao estresse, à qualidade da alimentação, à obesidade, ao tabagismo, ao sedentarismo…", lista a oncologista.
Isso significa, portanto, que umfutebol facilcada três casosfutebol facilcâncer podem ser evitados por meiofutebol faciluma rotina saudável, que envolve manter-se no peso adequado, fazer atividade física, comer bem, não fumar, maneirar no álcool, etc.
Mas a especialista acredita que não basta pedir que as pessoas sejam mais saudáveis para resolver essa questão — ainda mais diantefutebol facilum cenáriofutebol facilque as taxasfutebol facilexcessofutebol facilpeso e obesidade estãofutebol facilfranco crescimento no país.
"A obesidade pode ser vista como uma epidemia. No começo do ano 2000, 10% dos brasileiros viviam com obesidade", contextualiza Rezende, da Unifesp.
"Hoje essa taxa estáfutebol facil20% e há projeçõesfutebol facilque chegará a 30% até 2030."
Na visãofutebol facilCoutinho, assim como aconteceu com o cigarro, é preciso pensarfutebol facilalgum tipofutebol facilregulamentação para alimentos prejudiciais.
"Poderíamos ter algum tipofutebol faciltaxação para os produtos comprovadamente deletérios", sugere ela.
Rezende concorda. "As pessoas não fumam, tomam álcool ou comem alimentos ultraprocessados simplesmente porque desejam. Há uma indústria bilionária por trás disso, com capacidadefutebol facilmaximizar as vendas e incentivar o consumo", diz ele.
"É importante educar as pessoas, mas não dá para pensarfutebol facilcontrolefutebol facilálcool ou alimentos danosos à saúde sem uma discussão ampla sobre tributação, regulação do marketing e venda", complementa o pesquisador.
Coutinho cita como um avanço recente a aprovação da Política Nacionalfutebol facilPrevenção e Controle do Câncer, sancionada pelo governo federalfutebol facildezembrofutebol facil2023 com quatro objetivos principais:
- diminuir a incidência dos diversos tiposfutebol facilcâncer;
- garantir o acesso adequado ao cuidado integral;
- contribuir para a melhoria da qualidadefutebol facilvida dos usuários diagnosticados com a doença;
- e reduzir a mortalidade e a incapacidade causadas pelos tumores.
"Agora, nós estamos, ao ladofutebol facildiversos setores da sociedade, num esforço comum para encontrar os melhores caminhos e colocar essa lei na prática", diz a presidente da Sboc.
Mas, como lembrado por Fregnani, é preciso pensar na diversidade do câncer — e como alguns tipos da doença exigem ações específicas.
O câncerfutebol facilpele e o melanoma, por exemplo, demandam cuidados com a exposição solar e o usofutebol facilprotetoresfutebol facilboa qualidade.
Já o tumorfutebol facilcolo do útero dependefutebol facilum bom programafutebol facilrastreio (por meio do papanicolau e do testefutebol facilHPV) e das campanhasfutebol facilvacinação contra o HPV.
O câncer colorretal pode ser detectado precocemente por meiofutebol facilum examefutebol facilfezes feito com certa regularidade. E assim por diante.
A questão, portanto, é como implementar tantas medidas específicas, levandofutebol facilconta as limitações financeiras efutebol facilrecursos presentesfutebol facilqualquer sistemafutebol facilsaúde.
Mas Coutinho lembra que algumas medidas gerais poderiam trazer benefícios amplos.
"Se pensarmosfutebol facilforma inteligentefutebol facilmaneirasfutebol facilestimular uma vida mais saudável, muitos casosfutebol facilcâncer poderiam ser prevenidos", reforça ela.
Mesmo com todos esses cuidados, que evitariam cercafutebol facil30% dos tumores, ainda é preciso pensar nas outras causas da doença, que envolvem idade, propensão genética e exposição a fatores que não podemos controlar diretamente (como poluição atmosférica ou agrotóxicos, por exemplo).
"E há ainda um grupofutebol faciltumores sobre os quais não fazemos a menor ideiafutebol facilcomo surge ou os fatoresfutebol facilrisco por trás deles", observa Fregnani.
"Para completar, ainda temos um desafio mundialfutebol facilcomo custear os tratamentos, que ficam cada vez mais caros", acrescenta o especialista.
Um pódiofutebol facilque ninguém quer subir
O médico Sérgio Montenegro, membro do Conselho Administrativo da Sociedade Brasileirafutebol facilCardiologia (SBC), vê a transição epidemiológica como um processo natural — ainda que infarto, AVC e outras enfermidades que envolvem coração e vasos sanguíneos continuem como a causa número umfutebol facilmortes no país.
"Há algumas décadas, as doenças infecciosas eram a principal causafutebol facilmortalidade no Brasil. À medida que as controlamos, as doenças crônicas degenerativas, especialmente aquelas ligadas ao coração, apareceram mais", contextualiza Montenegro.
"Mas trabalhamos muito para combater isso e reduzir esses números, até porque ninguém quer ser esse campeão, esse líder na taxafutebol facilmortalidade."
Montenegro destaca que muitos fatoresfutebol facilrisco para doença cardiovascular — obesidade, tabagismo, dieta inadequada, sedentarismo… — também estão relacionados ao desenvolvimentofutebol faciltumores.
Portanto, trabalhar essas questões do estilofutebol facilvida tem um benefício duplo e pode trazer reduçõesfutebol facilcasos e mortes tanto para as enfermidades cardíacas quanto para alguns tiposfutebol facilcâncer.
O médico entende que a obesidade representa a principal ameaça às conquistas recentes quando o assunto é o coração.
"Já vimos reduções semelhantes na mortalidade cardiovascularfutebol faciloutros países, mas os números voltaram a subir depoisfutebol facilum tempo", destaca ele.
"Ou seja, as quedas recentes não permitem baixar a guarda. Precisamos cuidar da obesidade, até porque ela traz consigo problemas como diabetes, hipertensão e colesterol alto, que aumentam o risco cardiovascular", avisa Montenegro.
Por fim, Rezende destaca que o desenvolvimento econômico dos municípios apareceu como um fator relevante na análise.
"As cidadesfutebol facilmaior renda estão mais adiantadas na transição epidemiológicafutebol facilrelação aos municípiosfutebol facilmenor renda", compara ele.
Segundo o especialista, há diversas explicações possíveis para essa diferença.
"Não podemos ignorar aqui os chamados determinantes sociais da saúde. A menor renda está associada à dificuldadefutebol facilacesso ao diagnóstico e ao tratamento adequados. Nesses locais, há também maior exposição ao cigarro e aos alimentos ultraprocessados", avalia ele.
"Em suma, isso significa que essas regiões se beneficiariam muitofutebol facilpolíticas públicas que aumentassem o acesso ao diagnóstico e ao tratamento, com quedas ainda mais acentuadas na mortalidade por doenças cardiovasculares", antevê o pesquisador.
O próprio artigo recém-publicado, inclusive, reforça "a necessidade urgentefutebol facilo Brasil modificar suas estratégiasfutebol facilsaúde pública, enfatizando a prevenção e o controle do câncer sem negligenciar as doenças cardiovasculares".
"E as disparidades socioeconômicas evidentes no ritmofutebol faciltransição entre os municípios ressaltam a importânciafutebol facilintervenções personalizadas", concluem os autores.
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