As silenciosas mortesjogo a blazerbrasileiros soterradosjogo a blazerarmazénsjogo a blazergrãos:jogo a blazer

Ilustraçãojogo a blazerhomem soterado por grãosjogo a blazersilo, apenas com o rostojogo a blazerfora

Crédito, Vitor Flynn/BBC News Brasil

Legenda da foto, Efeito 'areia movediça' é um dos principais causadoresjogo a blazermortesjogo a blazersilos carregadosjogo a blazergrãos

Cada vez mais comuns nas paisagens rurais do país, silos são grandes estruturas metálicas usadas para armazenar grãos, evitando que estraguem e permitindo que vendedores ganhem tempo para negociá-los.

Foram contabilizados apenas casos noticiados pela imprensa – o que, segundo especialistas, indica que as ocorrências sejam ainda mais numerosas, pois nem todas as mortes são divulgadas.

O ano com mais acidentes fatais foi 2017, quando houve 24 mortes, altajogo a blazer140%jogo a blazerrelação ao ano anterior. Em 2018, houve 13 ocorrências até julho – sinaljogo a blazerque as mortes devem se manter no mesmo patamarjogo a blazer2017, considerando-se o históricojogo a blazerdistribuição das ocorrências ao longo do ano.

Tabela com mortesjogo a blazersilos a cada ano

Os Estados que tiveram mais casos são os mesmos que lideram o rankingjogo a blazerproduçãojogo a blazergrãos: Mato Grosso (28), Paraná (20), Rio Grande do Sul (16) e Goiás (9). Houve mortesjogo a blazer13 Estados distintos,jogo a blazertodas as regiões do país.

Sorriso (MT), o município brasileiro com maior valorjogo a blazerprodução agrícola – R$ 3,2 bilhõesjogo a blazer2016, segundo o IBGE (Instituto Brasileirojogo a blazerGeografia e Estatística) – foi também o que registrou mais mortesjogo a blazersilos, empatado com a também mato-grossense Canarana, com sete casos cada.

Trabalhos mais perigosos no Brasil

"Os dados são estarrecedores", diz à BBC News Brasil Idelberto Munizjogo a blazerAlmeida, professorjogo a blazerMedicina do Trabalho da Universidade Estadual Paulista (Unesp)jogo a blazerBotucatu.

Segundo ele, o levantamento indica que o trabalhojogo a blazersilos está entre as atividades com mais acidentes fatais no país, depois das profissões sujeitas a mortes no trânsito.

Ilustração mostra trabalhador sendo sugado por pilhajogo a blazergrãos

Crédito, Vitor Flynn/BBC News Brasil

Legenda da foto, Mortes mais comunsjogo a blazersilos ocorrem quando trabalhador afunda na massajogo a blazergrãos e é asfixiado

Não há estatísticas oficiais precisas sobre mortesjogo a blazerarmazénsjogo a blazergrãos no Brasil. Quando trabalhadores sofrem acidentes, cabe ao empregador informar a ocorrência ao Ministério da Previdência Social. No formuláriojogo a blazernotificações, porém, não há um código para armazéns agrícolas, englobados pela categoria mais abrangentejogo a blazer"depósitos fixos".

Segundo o ministério, o setorjogo a blazerarmazenagem – que inclui o trabalhojogo a blazersilosjogo a blazergrãos, mas tambémjogo a blazervários outros tiposjogo a blazerarmazéns – teve 11,13 mortes a cada 100 mil trabalhadoresjogo a blazer2016, último ano com dados disponíveis. O índice deixa o setor entre os 25% campos econômicos mais mortíferos para trabalhadores no Brasil.

Em outro sistemajogo a blazercontagem, o Ministério Público do Trabalho – braço do Ministério Público da União – registrou 14 mortesjogo a blazertrabalhadores por asfixia, estrangulamento ou afogamento causados por cereais e derivados entre 2012 e 2017.

O levantamento da BBC News Brasil considera todas as mortes por acidentejogo a blazertrabalhojogo a blazerarmazénsjogo a blazeralimentos a granel (não empacotados) que foram noticiadas por veículos jornalísticos. Os casos foram pesquisados por meiojogo a blazersitesjogo a blazerbusca,jogo a blazermídias sociais e no YouTube.

Mortes evitáveis

O professor Idelberto Almeida afirma que a maioria dos acidentesjogo a blazersilos ocorre quando medidasjogo a blazerprevenção não são adotadas ou não funcionamjogo a blazerforma adequada. "As estratégias para evitar esses acidentes são amplamente conhecidas há pelo menos 15 anos", diz.

Segundo o professor, a ocorrênciajogo a blazervários casosjogo a blazerum mesmo Estado ou município indica que "o poder público tem se mostrado impotente" diante do fenômeno.

Mapa onde mais ocorreram mortesjogo a blazersilos
Legenda da foto, Mato Grosso (28 mortes), Paraná (20), Rio Grande do Sul (16) e Goiás (9) foram Estados com mais casos

Em geral, soterramentosjogo a blazersilos matamjogo a blazerinstantes. O trabalhador é asfixiado ao afundar nos grãos e não consegue subir à superfície, como se fosse sugado por uma areia movediça.

Na maioria dos casos, ele é engolido ao caminhar sobre os grãos sem cordasjogo a blazersegurança enquanto tenta movimentar as partículas para desobstruir dutos. Os grãos costumam se aglutinar quando há excessojogo a blazerumidade, travando o funcionamento do silo.

Em outros casos, menos numerosos, o trabalhador é encoberto por uma avalanchejogo a blazergrãos quando paredes do armazém colapsam – pondojogo a blazerrisco até quem está fora da construção – ou quando há grandes deslocamentojogo a blazerpartículas dentro da estrutura.

Silos podem ainda explodir se tiverem grande quantidadejogo a blazerpójogo a blazercereais – material que se transformajogo a blazercombustível quandojogo a blazercontato com superfícies muito aquecidas ou faíscas.

Sobreviventejogo a blazeracidentejogo a blazersilo

Quando é envolto pelos grãos, o trabalhador raramente sobrevive.

Por isso, quando Anderson Rodrigo Reis começou a afundarjogo a blazerum montejogo a blazersojajogo a blazerum silojogo a blazerParanapanema (SP), pensou que não escaparia.

"Gritei: 'pelo amorjogo a blazerDeus, me segura que estou indo para baixo e vou morrer, não estou achando o chão, estou afundando, afundando!'", ele conta à BBC News Brasil.

Hoje com 40 anos, Reis trabalhava desde 2014 na Cooperativa Agro Industrial Holambra como ajudante geral.

Naquele dia,jogo a blazerjulhojogo a blazer2017, entrou no silo para ajudar a carregar um caminhão. Foi quando um colega, diz, prendeu a perna na pilhajogo a blazergrãos ao empurrar a soja para o canal que abastecia o veículo.

Ilustração mostra quantidade enormejogo a blazergrãos caindo sobre trabalhadores

Crédito, Vitor Flyn/BBC News Brasil

Legenda da foto, Quando massajogo a blazergrãos está desnivelada no silos, deslocamentos podem soterrar trabalhadoresjogo a blazerpoucos segundos

"Puxei ele, mas senti que a soja estava fofa e era melhor sair. Ajudei ele a tirar a botina e, quando estávamos saindo, afundeijogo a blazervez."

Em alguns segundos, diz o ajudante, os grãos chegaram à cintura. O colega tentava puxá-lo pelos ombros, mas a pressão da soja sobre o corpo impedia que fosse içado.

Quando estava só com o pescoço para fora, seu pé tocou a bordajogo a blazeruma estrutura metálica. Foi naquele ponto que o ajudante geral se apoiou por quase cinco horas, até ser resgatado por uma equipejogo a blazerbombeiros.

Ele diz que a pressão da soja o obrigava a respirar "bem devagarinho". "Vai apertando como latajogo a blazersardinha; você não sente dor numa parte, sentejogo a blazertudo."

Reis conta que, apesar da gravidade do acidente, a empresa relutoujogo a blazeresvaziar o silo para facilitar o resgate, pois não queria perder dinheiro com o descarte. Mas relata que os bombeiros insistiram e abriram uma fenda na lateral da construção, permitindo que o níveljogo a blazersoja baixasse e ele fosse puxado.

O ex-ajudante diz que conhecia os riscos do trabalhojogo a blazersilos e havia sido treinado para a atividade. Ele sabia que, ao caminhar sobre a massajogo a blazergrãos, trabalhadores deveriam estar presos por cordas a um sistemajogo a blazerancoragem.

Mas afirma que, quando não havia técnicosjogo a blazersegurança no silo, como naquele dia, os supervisores afrouxavam as regras para acelerar os trabalhos. Ele não vestia cintojogo a blazersegurança quando sofreu o acidente.

Desde aquele episódio, Reis nunca mais conseguiu entrarjogo a blazersilos. Ele diz que pediu à empresa para ser transferido a outros setores, mas que, nove meses depois do acidente, foi demitido sem justificativas.

Procurada pela BBC News Brasil, a Cooperativa Agro Industrial Holambra não quis comentar o caso.

Anderson Rodrigo Reis, que sobreviveu a um acidentejogo a blazersilojogo a blazerParanapanema (SP)

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Anderson Rodrigo Reis diz que nunca mais conseguiu entrarjogo a blazersilos após sobreviver a acidentejogo a blazersilo

Gases tóxicosjogo a blazersilos

Bombeirojogo a blazerSorriso (MT), um dos dois municípios que registraram mais mortesjogo a blazersilos (7), o tenente Gustavo Souza já atendeu quatro casosjogo a blazersoterramentosjogo a blazerarmazéns. Em todos eles, não houve sobreviventes.

Ele diz que,jogo a blazeralguns casos, o trabalhador cai nos grãos e é soterrado após passar mal com gases tóxicos produzidos porjogo a blazerfermentação.

Há ainda casosjogo a blazerque as mortes são causadas unicamente pela inalação desses gases – comojogo a blazerocorrências registradasjogo a blazerPoçosjogo a blazerCaldas (MG), Cachoeira do Sul (RS) e Tangará da Serra (MT).

No acidentejogo a blazerTangará,jogo a blazer2011, a vítima foi justamente um bombeiro que tentava resgatar dois trabalhadores que haviam passado mal com gases tóxicosjogo a blazerum silo com soja. O soldado Valmir Bezerrajogo a blazerJesus desmaiou durante a operação e passou 17 dias internado antesjogo a blazermorrer. Os dois trabalhadores sobreviveram.

As normasjogo a blazersegurançajogo a blazersilos incluem o usojogo a blazersistemasjogo a blazerventilação ejogo a blazerdetecçãojogo a blazergases tóxicos. Em situações extremas, trabalhadores só devem entrar nas instalações com máscarasjogo a blazeroxigênio.

Souza diz que resgatar trabalhadores nessas condições é uma das atividades mais temidas entre seus colegas. "Se a gente não toma cuidado com nossa própria segurança, também vira vítima."

Acidentesjogo a blazertradersjogo a blazergrãos

O levantamento mostra ainda que acidentes fatais ocorreram tantojogo a blazerarmazénsjogo a blazercooperativas (normalmente geridas por gruposjogo a blazerprodutores rurais) ejogo a blazerfazendas individuais quantojogo a blazersilosjogo a blazermultinacionais que comercializam grãos, conhecidas no setor como traders.

Foram registradas mortesjogo a blazerarmazéns das gigantes Cargill (4), Bunge (2) e Amaggi (1).

Em nota à BBC News Brasil, a Abiove (Associação Brasileira das Indústriasjogo a blazerÓleos Vegetais), que representa as três multinacionais, diz que os silosjogo a blazertodas as propriedades e empresas ligadas à associação estão sujeitos a um rígido controlejogo a blazersegurança, que inclui a identificaçãojogo a blazerriscos, medidas preventivas e capacitação profissional.

Silos que armazenavam milho e soja predominam entre os locaisjogo a blazeracidentes fatais, mas também houve mortesjogo a blazerarmazénsjogo a blazerarroz, café, açúcar, ração animal e feijão.

Fazendasjogo a blazergrãosjogo a blazerSorriso, no Mato Grosso

Crédito, Google

Legenda da foto, Vista aéreajogo a blazerfazendas no municípiojogo a blazerSorriso (MT), líder no ranking nacionaljogo a blazerprodução agropecuária ejogo a blazermortesjogo a blazersilos

Em seis casos, os mortos não eram trabalhadores, e sim parentes que os acompanhavam e jamais poderiam ter entrado nos silos.

Em 2017, uma mulher morreu soterradajogo a blazerAlta Floresta (MT) enquanto levava um pratojogo a blazercomida ao marido, que trabalhava ali. Dois anos antes, um meninojogo a blazer8 anos foi soterrado quando brincavajogo a blazerum silo na fazenda dos avós,jogo a blazerTrês Lagoas (MS).

Desde 2015, outros dois meninosjogo a blazer7 anos morreram soterradosjogo a blazerarmazénsjogo a blazerTangará da Serra (MT) e Marechal Cândido Rondon (PR), e uma meninajogo a blazer9 anos morreu encoberta pela sojajogo a blazerCerrito (RS).

Os acidentes ocorremjogo a blazerum momentojogo a blazerque o país amplia a quantidadejogo a blazerarmazéns agrícolas para acompanhar o aumento na produção.

Entre 2000 e 2016, segundo a Conab (Companhia Nacionaljogo a blazerAbastecimento), a capacidadejogo a blazerarmazenagemjogo a blazergrãos no país cresceu 80%, favorecidajogo a blazergrande medida por linhasjogo a blazercrédito públicas.

Apesar do aumento, a companhia diz que a capacidadejogo a blazerarmazenamento do Brasil precisaria crescer mais 48% para cobrir toda a produção atual.

Elevadorjogo a blazergrãosjogo a blazersilo

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Procurador do Trabalho diz que faltam auditores para fiscalizar armazéns agrícolasjogo a blazerMato Grosso

Normasjogo a blazersegurançajogo a blazersilos

As recorrentes mortesjogo a blazersilos no Paraná, segundo Estado com mais registros (20), mobilizaram o Ministério Público do Trabalho (MPT) local.

No segundo semestrejogo a blazer2017, o escritório do MPTjogo a blazerLondrina, que atuajogo a blazer70 municípios, pediu a todas as empresas com silos informações sobre o cumprimento da norma 33 do Ministério do Trabalho, que rege as atividadesjogo a blazerambientes confinados – categoria que inclui o trabalhojogo a blazerarmazénsjogo a blazergrãos.

A norma contém quase uma centenajogo a blazerorientações para prevenir acidentes nesses espaços, entre as quais proibir o acessojogo a blazerpessoas não treinadas, testar com frequência os equipamentosjogo a blazersegurança e realizar simulaçõesjogo a blazersalvamento.

O procurador do Trabalho Marcelo Adriano da Silva diz à BBC News Brasil que, a partir das informações levantadas, o órgão pedirá às empresas que se adequem à norma ou entrará com uma ação civil pública para cobrá-las na Justiça a seguir as regras.

Douglas Nunes Vasconcelos, procurador do Trabalhojogo a blazerMato Grosso, Estado que lidera o rankingjogo a blazerocorrências (28), atribui as mortes a falhas na fiscalização por parte do Ministério do Trabalho e Emprego.

Ele afirma que os auditores do ministério responsáveis por fiscalizar os silos são insuficientes – e que a carência se agravou com os cortes orçamentários dos últimos anos.

Segundo o Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais, o númerojogo a blazerprofissionais na ativa é o menor dos últimos 20 anos: há hoje 2.305 auditores-fiscaisjogo a blazertodo o país, e 1.339 cargos estão vagos.

Colheitajogo a blazersojajogo a blazerMato Grosso, Estado com a maior produçãojogo a blazergrãos do país

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Trabalhojogo a blazersilos se intensifica no períodojogo a blazercolheitajogo a blazergrãos;jogo a blazer2017, safra atingiu níveis recordes

Em Mato Grosso, auditores baseadosjogo a blazerRondonópolis e Cuiabá são responsáveis por fiscalizar uma área tão extensa quanto a Venezuela.

O procurador diz ainda que, como o trabalhojogo a blazersilos é sazonal, muitas empresas costumam terceirizar os serviços, recorrendo a trabalhadores temporários e sem treinamento adequado.

"Tentamos cobrar as empresas, mas nossa perna é curta", afirma. No escritório do MPTjogo a blazerSinop (MT), onde ele atua, há dois procuradores. A unidade é responsável pelo norte mato-grossense, região com grande produção agropecuária.

Procurado pela BBC News Brasil no dia 1°jogo a blazeragosto, o Ministério do Trabalho não quis indicar um representante para uma entrevista sobre as mortesjogo a blazersilos.

O órgão dissejogo a blazernota que o númerojogo a blazerempresas fiscalizadasjogo a blazersetores que utilizam armazéns agrícolas (como comércio atacadistajogo a blazersoja, moagemjogo a blazertrigo e beneficiamentojogo a blazerarroz) passoujogo a blazer35,jogo a blazer2016, a 713,jogo a blazer2017. Em 2018, segundo a pasta, já houve 607 empresas inspecionadas.

Questionado sobre as críticas do procuradorjogo a blazerMato Grosso, o ministério disse que há hoje 15 silos e armazéns interditados por condições inadequadas naquele Estado.

Afirma, porém, que "muitos dos armazéns (em Mato Grosso) estão localizadosjogo a blazerzonas rurais (...), o que dificulta a inspeção in loco".

"Devido ao tamanho do Estado, é pensado tambémjogo a blazeroutras formasjogo a blazerintervenção para potencializar as adequações, somando-se às inspeção físicas, tais como reuniões com os empregadores, notificação coletiva e ações fiscais indiretas", afirma.

Ilustração mostra avalanche provocada por desabamentojogo a blazersilojogo a blazergrãos

Crédito, Vitor Flynn/BBC News Brasil

Legenda da foto, Rupturajogo a blazerparedejogo a blazersilo foi um dos tiposjogo a blazeracidentejogo a blazerarmazénsjogo a blazergrãos que provocaram mortes no Brasil na última década

Mortesjogo a blazersilosjogo a blazeroutros países

Nos Estados Unidos, país com capacidadejogo a blazerarmazenamentojogo a blazergrãos quase quatro vezes superior à brasileira, houve 23 mortes por soterramentojogo a blazersilosjogo a blazer2017, segundo um estudo da Purdue University.

Até os anos 1970 e 1980, a maioriajogo a blazermortesjogo a blazersilos nos EUA ocorria quando as unidades explodiam. Normas federaisjogo a blazersegurança adotadas a partirjogo a blazer1988 reduziram drasticamente essas ocorrências, mas as mortes anuais por soterramento continuaram na casa dos dois dígitos.

Naquele país, silos construídosjogo a blazerfazendas, que concentram boa parte dos acidentes, não são obrigados a seguir as normas federaisjogo a blazersegurança – regalia atribuída à influência do lobby agrícola na política americana.

Na Argentina, outro país com grande produçãojogo a blazergrãos, mortesjogo a blazerarmazéns também são frequentes. Em 1985, a explosãojogo a blazerum silo na cidade portuáriajogo a blazerBahía Blanca matou 22 pessoas e gerou comoção nacional.

Na China, um dos acidentes mais recentesjogo a blazersilos, ocorridojogo a blazer2017 na provínciajogo a blazerShandong, causou seis mortes – lá, uma avalanchejogo a blazergrãos encobriu os trabalhadores.

Edgar Fragoso Fernandes morreu soterrado por soja na Cooperativa C. Vale

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, João Fragoso Fernandes (à esq.) com o irmão Edgar, morto num silojogo a blazerSão Luiz Gonzaga (RS),jogo a blazer2017

Trabalhadores responsabilizados pelos acidentes

Irmãojogo a blazerEdgar Jardel Fragoso Fernandes, um dos trabalhadores soterrados no silo da C. Valejogo a blazerSão Luiz Gonzaga (RS),jogo a blazer2017, o comerciante João Teófilo Fragoso Fernandes diz que o cumprimentojogo a blazernormasjogo a blazersegurança teria evitado as mortes.

Um laudojogo a blazerauditores do trabalho após a ocorrência constatou o descumprimentojogo a blazer27 regrasjogo a blazersegurança na ocasião.

Entre as falhas citadas estavam a faltajogo a blazercapacitação dos profissionais, jornadas excessivamente longas e a inadequação dos equipamentosjogo a blazersegurança. Segundo o laudo, o silo não tinha qualquer sistemajogo a blazerancoragem por cordas que impedisse o afundamento dos trabalhadores na massajogo a blazersoja – item indispensável para a realização da atividade.

O documento diz que a cooperativa "culpou apenas os trabalhadores acidentados pela ocorrência, afirmando que eles não usavam cintosjogo a blazersegurança e não seguiram os procedimentos".

Os auditores afirmam, porém, "que não teria como haver a utilizaçãojogo a blazercintosjogo a blazersegurança sem pontosjogo a blazerancoragem adequadamente projetados e instalados".

A cooperativa teve o silo interditado após o acidente.

Filhos traumatizados pela morte

Quinze anos mais velho que o irmão, Fernandes diz que o tratava como um filho. "Eu criei esse rapaz. Somosjogo a blazerfamília humilde – nosso pai era pedreiro, passamos por muita luta e desde cedo aprendemos a trabalhar."

Edgar tinha um casaljogo a blazergêmeos, hoje com 13 anos, e ajudava a criar os outros dois filhosjogo a blazersua esposa.

O irmão diz que os gêmeos estão traumatizados. "Parece que não caiu a ficha, que ainda não entenderam a realidadejogo a blazerque não têm mais o pai. Chega a correr água dos olhos, parece que o menino está hipnotizado."

Fernandes conta que o ajudante "era um guri cheiojogo a blazerplanos", entre os quais fazer faculdade e prestar concurso para policial.

Não foi o primeiro acidente fataljogo a blazersilos da C. Vale. Em 2011, outro trabalhador morreu soterrado por grãosjogo a blazersojajogo a blazeruma unidade da cooperativajogo a blazerGuarapuava (PR).

Cooperativa C. Valejogo a blazerSão Luiz Gonzaga, Rio Grande do Sul

Crédito, Divulgação

Legenda da foto, Silos da C. Valejogo a blazerSão Luiz Gonzaga (RS), onde dois trabalhadores morreram soterradosjogo a blazer2017

A C. Vale enviou uma nota à BBC News Brasil dizendo que, nos dois casos, os acidentados eram funcionários terceirizados e haviam passado "pelos devidos treinamentos para trabalhojogo a blazerespaços confinados, com o recebimentojogo a blazertodos os equipamentosjogo a blazerproteção individual necessários ao desempenho das atividades".

A cooperativa não respondeu, no entanto, por que tantas falhasjogo a blazersegurança foram detectadas no laudo do Ministério do Trabalho. Diz ter atendido "prontamente a todas as solicitações do agente ministerial, não tendo sido instaurado contra si qualquer procedimento disciplinar até o presente momento".

A família está processando a C. Vale. Fernandes diz que, mais do que uma indenização, os parentes querem que o episódio seja esclarecido.

O comerciante afirma ter ficado indignado com o argumento da cooperativajogo a blazerque Edgar foi desleixado no momento do acidente – segundo ele, seu irmão nunca reclamavajogo a blazertrabalhar e estava havia várias semanas sem folga.

"Meu irmão morreu num domingo às três da tarde. Quantas pessoas estão dispostas a trabalhar num domingo? Isso já diz muito sobre ele."

Colaborou Amanda Rossi, da BBC News Brasiljogo a blazerSão Paulo.

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