Tim Vickery: Na Copa e na vida, temos que dar mais valor ao esforço e menos à 'brasilidade':sportsbet io black friday

Em termossportsbet io black fridayorganização, a seleção brasileira foi um espetáculo. Como exemplosportsbet io black fridaycontraste, a seleção inglesa foi para a Copasportsbet io black fridayChilesportsbet io black friday1962 sem sequer levar um médico. Quatro anos antes, o Brasil já contava com uma enorme comitiva, com médicos, preparadores físicos, um dentista - até uma experiência, prematura, com um psicólogo.

A mesma curiosidade e o espíritosportsbet io black fridaymente aberta se aplicavam à parte tática. O futebol brasileiro se desenvolveu com uma grande participaçãosportsbet io black fridaytécnicos uruguaios e argentinos. Depois, chegou uma influência húngara. Filtrando vários conceitos, a seleção brasileira lançou uma novidade, muito à frente da concorrência - a linhasportsbet io black fridayquatro defensores,sportsbet io black fridayque um jogador fica recuado até o miolo da zaga. Até hoje, pessoas com mais idade falam do "quarto zagueiro". Com mais cobertura na retaguarda, o Brasil não levou nenhum gol na Copasportsbet io black friday1958 até a semifinal - e,sportsbet io black fridayum time sólido atrás, cada lancesportsbet io black fridaygenialidadesportsbet io black fridayseus atacantes é valorizado.

O Brasil, então, virou campeão sustentado por um processo fascinante. Mas, no discurso popular, esse processo tem sempre sido subvalorizado, até esquecido. A vitória foi vista menos como consequênciasportsbet io black fridayum processo e mais como resultadosportsbet io black fridayuma essência da "brasilidade".

A voz - ou a caneta, ou a máquina - mais brilhante a falar disso foi asportsbet io black fridayNelson Rodrigues, que trouxe para o futebol o espírito épicosportsbet io black fridayum dramaturgo. "Qualquer pelada", escreveu, "oferece uma margem imensasportsbet io black fridaymistério,sportsbet io black fridaymagia,sportsbet io black fridaysobrenatural." E oferece oportunidades enormes para a criaçãosportsbet io black fridaymitos - que era o grande objetivosportsbet io black fridayRodrigues.

"O jornalista que tem o culto do fato é profissionalmente um fracassado", escreveu. "O fatosportsbet io black fridaysi vale pouco ou nada. O que lhe dá autoridade é o acréscimosportsbet io black fridayimaginação." Como exemplo, ele narrava a história fictíciasportsbet io black fridayum jornalista que, vendo um pequeno e insignificante incêndio, comoveu a cidade interia inventando um pássaro que, cantando, voou para a mortesportsbet io black fridaydireção às chamas. "Sem passarinho", conclui Rodrigues, "não há jornalismo possível."

Com uma combinação potentesportsbet io black fridayfutebol e nação, os voos da imaginaçãosportsbet io black fridayRodrigues deram vida a pássaros poderosos.

Para ele, somente um fator havia impedido um triunfo brasileiro na Copa antessportsbet io black friday1958: a faltasportsbet io black fridayautoestima. Estava obcecado com a ideia do Brasil como "um Narciso às avessas, que cospe na própria imagem." Superado isso, não há quem possa.

"A pura, a santa verdade é a seguinte - qualquer jogador brasileiro, quando se desmarrasportsbet io black fridaysuas inibições e se põesportsbet io black fridayestadosportsbet io black fridaygraça, é algo único,sportsbet io black fridaymatériasportsbet io black fridayfantasia,sportsbet io black fridayimprovisação,sportsbet io black fridayinvenção. Em suma - temos donssportsbet io black fridayexcesso. E só uma coisa nos atrapalha e, por vezes, invalida as nossas qualidades. Quero aludir ao que eu poderia chamarsportsbet io black friday'complexosportsbet io black fridayvira-latas'. (...) A inferioridadesportsbet io black fridayque o brasileiro se coloca, voluntariamente, face ao resto do mundo."

A força e a influência dessas palavras são inegáveis. Mas é também inegável que se tratasportsbet io black fridayuma visão bastante estranha.

O termo "vira-lata" não se refere a uma misturasportsbet io black fridayraças ("o brasileiro precisa se convencer que não é um vira-latas"). Tem muito mais a ver com o pensamento varguista do Brasil como "uma unidade racial". Rodrigues adora falar sobre "o brasileiro", como se fosse um país sem divisões sociais, sem história, um país não construídosportsbet io black fridayimigrantes, a maioria recém-chegada da Europa.

O Flamengo estava endividado, e Rodrigues achava isso excelente. "Difícil encontrar um brasileiro sem dívidas", escreve. "Insisto - um brasileiro sem dívidas é o que hásportsbet io black fridaymais utópico, inexequível e mesmo indesejável." Aí ele iguala a situção financeirasportsbet io black fridayum campeão mundialsportsbet io black fridaydesigualdade econômica para pegar emprestado um conceito do historiador Eric Hobsbawm - o ex-escravo e o ex-donosportsbet io black fridayescravos unidos nasportsbet io black fridaycondiçãosportsbet io black fridaydevedores. Todos cordialmente gastando mais do que ganhavam.

Óbvio que se tratasportsbet io black fridayuma visão do Brasil que hojesportsbet io black fridaydia não é sustentável. A unidade racial, a cordialidade, a democracia racial - um por um caíram os mitos.

Está na hora, acredito,sportsbet io black fridayolhar para além da ideia dos brasileiros entrandosportsbet io black fridayum estadosportsbet io black fridaygraça - até porque nunca se explica por que outras nacionalidades não podem alcancar esse mesmo patamar.

As vitórias no futebol servem como inspiração, sim. Menos por serem produtos da "brasilidade" e mais porque foram frutossportsbet io black fridayum processo - uma aula para qualquer tarefa na vida.

*Tim Vickery é colunista da BBC News Brasil e formadosportsbet io black fridayHistória e Política pela Universidadesportsbet io black fridayWarwick.

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