A expansão pelo Brasil dos traficantes que se veem como 'soldadoscodigo promocional 1xbetJesus':codigo promocional 1xbet

O complexo é formado pelas comunidades Paradacodigo promocional 1xbetLucas, Cidade Alta, Pica-pau, Cinco Bocas e Vigário Geral.

O território foi tomado depois que um líder do TCP teve o que acreditou ser uma revelação divina,codigo promocional 1xbetacordo com a teóloga e pastora Vivian Costa, autora do livro Traficantes Evangélicos – Quem são e a quem servem os novos bandidoscodigo promocional 1xbetDeus (2023).

Segundo Costa, os traficantes no local se veem como "soldadoscodigo promocional 1xbetJesus" e se autodenominam Tropacodigo promocional 1xbetAarão, referência ao mais velho irmãocodigo promocional 1xbetMoisés.

Quem chegacodigo promocional 1xbettrem a Paradacodigo promocional 1xbetLucas vê a bandeira israelense logo na plataforma da estação, na placa que saúda: "Seja bem-vindo ao Complexocodigo promocional 1xbetIsrael."

Esse território virou sinônimo do avanço da fé evangélica entre criminosos e das restrições que impõem a fiéiscodigo promocional 1xbetoutras religiões, sobretudo ascodigo promocional 1xbetmatriz africana.

"Tanto as manifestações no espaço público como no espaço privado foram proibidascodigo promocional 1xbetexistir nesses territórios, com muitas casascodigo promocional 1xbetumbanda e candomblé destruídas e queimadas", afirma Costa.

Nesses locais, a facção deixacodigo promocional 1xbetassinatura e marcacodigo promocional 1xbetdomínio: "Jesus é dono do lugar".

Entretanto,codigo promocional 1xbetacordo com antropóloga Ana Paula Miranda, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), esse modus operandi tem se espalhado pelo Brasil, com ataques a terreiroscodigo promocional 1xbetumbanda e candomblé replicados por traficantescodigo promocional 1xbetfavelascodigo promocional 1xbetoutras metrópoles, como Fortaleza e Salvador — e não apenascodigo promocional 1xbetterritórios do TCP.

"Esse não é um problema apenas do Rio. Virou um problema das grandes cidades", afirma Miranda, que coordena o Ginga-UFF, grupocodigo promocional 1xbetpesquisa dedicado a conflitoscodigo promocional 1xbetnatureza étnica, racial e religiosa.

"Em Fortaleza, por exemplo, vimos a mesma estratégiacodigo promocional 1xbetfavelas do Comando Vermelho [CV]. Eles [traficantes] entram nas áreas, quebram objetos, picham paredes e assinam 'CV abençoado."

Miranda falacodigo promocional 1xbet"traficrentes" para descrever o fenômeno. Há quem se refira a narcopentecostais ou a traficantes evangélicos.

São denominações que despertam controvérsias, não só pela própria natureza dos termos.

Também pela incompatibilidade que muitos enxergam entre seguir esta fé e levar uma vida no crime.

O que para alguns pesquisadores é uma apropriação estratégica pelos traficantescodigo promocional 1xbetbuscacodigo promocional 1xbetlegitimação e poder, é, para outros, um fenômeno naturalcodigo promocional 1xbetum país cada vez mais evangélico.

'Vida sob o cerco'

A população evangélica no Brasil tem aumentado rapidamente, e há projeções que indicam que pode ultrapassar acodigo promocional 1xbetcatólicos na próxima década, passando a compor o principal grupo religioso do país.

À medida que a presença evangélica aumenta na sociedade, a capilaridade e o estilo carismático sobretudocodigo promocional 1xbetdenominações neopentecostais tornamcodigo promocional 1xbetpresença expressivacodigo promocional 1xbetperiferias e favelas.

Criminosos que exercem muitas vezes controle sobre esses locais não estão isentos desta influência.

De acordo com Christina Vital, professoracodigo promocional 1xbetsociologia da UFF, o "cerco" para moradorescodigo promocional 1xbetcomunidades vem se apertandocodigo promocional 1xbetmúltiplos níveis — político, territorial, emocional,codigo promocional 1xbetconsumo.

No caso do Complexocodigo promocional 1xbetIsrael, soma-se um cerco à religião, que ocorrecodigo promocional 1xbetforma "muito significativa".

"Os moradorescodigo promocional 1xbetlá podem professar outras religiões, mas sem dar visibilidade a elas", afirma Vital, que coordena o Laboratóriocodigo promocional 1xbetEstudos Sócio Antropológicoscodigo promocional 1xbetPolítica, Arte e Religião (Lepar/UFF).

"Não é folclore, não é exagero falarcodigo promocional 1xbetintolerância religiosa naquele território."

De acordo com a pesquisadora, terreiroscodigo promocional 1xbetumbanda e candomblé foram fechados não apenas dentro das comunidades do complexo, como também nos bairros da cercania.

Em julho deste ano, houve relatos publicados na imprensacodigo promocional 1xbetque algumas paróquias católicas na Zona Norte do Rio haviam sofrido represálias e cancelado missas e atividades, o que Arquidiocese do Riocodigo promocional 1xbetJaneiro negou.

De acordo com Vivian Costa, o catolicismo no complexo também passou a ser celebrado forma mais privada, sem ocupar praças ou pendurar faixas nas ruas.

O preconceito sofrido por religiõescodigo promocional 1xbetmatriz africana é histórico e está longecodigo promocional 1xbetvir apenascodigo promocional 1xbettraficantes.

Mas os ataques têm impacto mais grave e abrangente quando partem desses grupos, diz Rita Salim, que comanda a Delegaciacodigo promocional 1xbetCrimes Raciais e Delitoscodigo promocional 1xbetIntolerância (Decradi) do Rio.

"Esses casos têm maior gravidade porque partemcodigo promocional 1xbetuma organização criminosa, por um grupo com um líder, que impõe medo a todo o território que domina", afirma a delegada.

"Ele consegue concretizar aquele crime sem muita resistência, já que aquele espaço é dele. Dificilmente a vítima vai chamar a polícia ou fazer um registrocodigo promocional 1xbetocorrência, porque fica receosa."

De acordo com ela, alguns casos são o suficiente para dar o exemplo e ditar a normacodigo promocional 1xbetque "somente uma fé pode ser professada aqui".

Apesarcodigo promocional 1xbeto temor inibir denúncias, Salim ressalta um mandadocodigo promocional 1xbetprisão emitido contra o traficante que chefia o Complexocodigo promocional 1xbetIsrael, acusadocodigo promocional 1xbetordenar o ataquecodigo promocional 1xbettemploscodigo promocional 1xbetmatriz africanacodigo promocional 1xbetoutra comunidade, na Baixada Fluminense.

'Neocruzada'

Casoscodigo promocional 1xbetextremismo religioso ligados ao tráficocodigo promocional 1xbetdrogas nas comunidades do Rio começaram a despertar alarme no início dos anos 2000.

Mas o problema tem aumentadocodigo promocional 1xbetforma dramática,codigo promocional 1xbetacordo com o babalorixá Márciocodigo promocional 1xbetJagun, à frente da Coordenadoriacodigo promocional 1xbetDiversidade Religiosa da Prefeitura do Riocodigo promocional 1xbetJaneiro.

Jagun diz que o problema tem se espalhando pelo Brasil, com ataques do gênero vistoscodigo promocional 1xbetoutras cidades.

"Isso é uma formacodigo promocional 1xbetneocruzada", afirma Jagun.

"O preconceito por trás desses ataques é religioso e étnico, discriminando religiõescodigo promocional 1xbetmatriz africana que são demonizadas há 500 anos, com foras da lei alegando querer banir o malcodigo promocional 1xbetnomecodigo promocional 1xbetDeus."

Mas religião e crime sempre se entrelaçaram no Brasil, enfatiza a teóloga Vivian Costa.

No passado, traficantes pediam proteção a entidades afrobrasileiras e santos católicos.

"Se olharmos para o nascimento do Comando Vermelho e depois do Terceiro Comando e do TCP, a presença do catolicismo e das religiosidades afro estão ali desde acodigo promocional 1xbetgênese", descreve.

"Nós vamos ver a presençacodigo promocional 1xbetSão Jorge, a presençacodigo promocional 1xbetOgum, os corpos fechados, as tatuagens, as guias, os crucifixos, os cultos, as velas, as oferendas. Por isso, chamarcodigo promocional 1xbetnarcopentecostalismo é reduzir essa relação tão presente, tão sólida, tão histórica e tradicional do crime com a religião."

Costa prefere falarcodigo promocional 1xbetuma "narcorreligiosidade", abarcando uma relação entre religião e tráfico que sempre existiu e agora se reconfigurou para abarcar a crença evangélica, reflexo do espaço e expressão que esta ganhou na sociedade.

Um fuzil e a Bíblia

O pastor Diego Nascimento é um exemplocodigo promocional 1xbetoutra dimensão na relação da religião com o crime: acodigo promocional 1xbetportacodigo promocional 1xbetsaída.

Ele tem experiência nas duas frentes, o tráfico e a fé, embora não ao mesmo tempo.

O pastor se tornou cristão depoiscodigo promocional 1xbetouvir o evangelho pregado por outro traficante, empunhando um fuzil.

É difícil imaginar que o pastorcodigo promocional 1xbet42 anos da Igreja Metodista Wesleyana, com jeito jovem, sorriso fácil e covinhas, foi outrora o DG da Vila Kennedy, chefe do tráfico na comunidade onde nasceu e cresceu, na Zona Oeste do Rio, onde agia como braço local do Comando Vermelho.

Nascimento passou quase quatro anos na prisão por tráficocodigo promocional 1xbetdrogas, preso portando maiscodigo promocional 1xbet200 envelopescodigo promocional 1xbetcocaína.

Mas o cárcere não o dissuadiu da vida no crime. Foi o crack que levou a um beco sem saída: ele foi consumido pelo vício e perdeu a confiança da organização criminosa.

"Perdi a minha família, fui para as drogas, morei na rua quase um ano. Cheguei ao pontocodigo promocional 1xbetvender as coisascodigo promocional 1xbetdentrocodigo promocional 1xbetcasa para usar o crack", conta.

Quando estava no fundo do poço, um traficante com autoridade na comunidade mandou chamá-lo.

"Cheguei todo sujo e ele começou a falarcodigo promocional 1xbetJesus para mim. Disse que aquilo não era vida para mim, e que quando ele se envolveu no tráfico, ele se espelhavacodigo promocional 1xbetmim e queria ser como eu", lembra.

"Ele começou a pregar e a dizer que ainda tinha jeito para mim, que era só eu aceitar Jesus. E ali eu tomei uma atitudecodigo promocional 1xbetir para uma igreja."

O jovem viciado seguiu o conselho do traficante e procurou uma igreja, começandocodigo promocional 1xbetjornada para o púlpito. O traficante que pregou para ele com um fuzil já morreu, como outros amigos que pastor Diego viu serem levados pelo crime.

O pastor ainda passa tempo com criminosos, mas, hoje, é por meiocodigo promocional 1xbetseu trabalho pregando nos presídios do Complexocodigo promocional 1xbetBangu, onde ele tenta ajudar outras pessoas a mudar suas vidas, dando seu próprio testemunho como exemplocodigo promocional 1xbetque é possível.

Apesarcodigo promocional 1xbetter se convertido graças a um traficante, o pastor Diego considera, assim como diversos outros que seguem esta mesma fé, que a ideiacodigo promocional 1xbetcriminosos evangélicos é uma contradiçãocodigo promocional 1xbettermos.

"Não os vejo como pessoas que se acham evangélicas", afirma o pastor.

"Vejo pelo lado do temor a Deuscodigo promocional 1xbetquem sabe que está levando a vida errada e que quem guarda a vida deles é Deus. Acredito que não existe issocodigo promocional 1xbetjuntar as duas coisas", prossegue.

"Se a pessoa aceita Jesus e segue os mandamentos bíblicos, não pode estar no tráfico."