A evangélica que roda igrejas falando sobre suicídio após irmã se matar: 'Disseram que ela ia para o inferno':quem é a empresa vaidebet

Kesia ao microfone erguendo as mãosquem é a empresa vaidebetpalco, rodeado por outras pessoas no palco e observada por plateia
Legenda da foto, Antes da morte da irmã, Késia conta que não tinha contato algum com o tema da saúde mental

Késia Mesquita, hoje com 39 anos, frequentando há anos a Assembleiaquem é a empresa vaidebetDeusquem é a empresa vaidebetTeresina, no Piauí.

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Após a morte da irmã Débora, a vidaquem é a empresa vaidebetKésia mudouquem é a empresa vaidebetdireção.

Késia sentada e falando durante entrevista

Crédito, Fernando Otto/BBC News Brasil

Legenda da foto, 'Essa realidade já chegou tanto nos espaços religiosos quanto nas famílias dos próprios líderes', diz Késia Mesquita sobre o suicídio

Depois da perda equem é a empresa vaidebetum doloroso luto, ela fundouquem é a empresa vaidebethomenagem à irmã um centro dedicado à prevenção do suicídio e aos cuidados com pessoas que perderam alguém que se matou, a chamada posvenção.

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Formadaquem é a empresa vaidebetletras antes da morte da irmã, Késia decidiu depois fazer uma pós-graduação sobre o assunto, escreveu vários livros e passou a viajar pelo Brasil fazendo palestras e pregações sobre saúde mentalquem é a empresa vaidebetigrejas evangélicas.

Uma pregadora ou um pregador é quem espalha a crença evangélica para outras pessoas, mas não tem a função e as obrigaçõesquem é a empresa vaidebetum pastor.

Embora já veja mudanças entre os pastores e igrejas, ela afirma que ainda é uma minoria que está preocupadaquem é a empresa vaidebetquebrar o tabu religiosoquem é a empresa vaidebetrelação ao suicídio.

"É uma porcentagem pequena, mas já conseguimos ver uma luz no fim do túnel", afima.

"Nos últimos dez anos, tive a oportunidadequem é a empresa vaidebetfalarquem é a empresa vaidebetmuitas igrejas e vi a preocupação que muitos líderes têmquem é a empresa vaidebetentender do assunto para acolher melhor."

A trajetóriaquem é a empresa vaidebetKésia e o tratamento do suicídio entre os evangélicos são o tema da segunda reportagem da série "Suicídio & Fé", que aborda o tabu religioso com o ato, com foco nas religiões com mais adeptos no Brasil.

'Foi a cena mais triste que os meus olhos já viram'

Késia conta que, antes da morte da irmã, não tinha qualquer contato com o assunto da saúde mental.

Débora começou a apresentar "reações muito desproporcionais e agressivas", nas palavras da irmã, e a família levou a caçula para um psiquiatra — que,quem é a empresa vaidebet2011, diagnosticou o transtorno bipolar e alertou para um alto riscoquem é a empresa vaidebetsuicídio. quem é a empresa vaidebet

Débora não escondia que pensavaquem é a empresa vaidebetse matar.

"Ao contrárioquem é a empresa vaidebetalgumas pessoas que são pegasquem é a empresa vaidebetsurpresa, ela verbalizava, porque, junto com transtorno, havia a questão da personalidade mesmo, que era muito forte. Ela sempre foi muito sincera", lembra Késia.

A palestrante diz que a irmã teve vários surtos que mobilizavam a família, incluindo um que levou à internaçãoquem é a empresa vaidebetum hospitalquem é a empresa vaidebetjaneiroquem é a empresa vaidebet2012.

Késia enumera então alguns "gatilhos" para mortequem é a empresa vaidebetDébora aos 24 anos,quem é a empresa vaidebetjulhoquem é a empresa vaidebet2012.

Segundo ela, a caçula decidiu interromper o tratamento psiquiátrico e enfrentava problemas no namoro.

Em um surto, a família teve dificuldadesquem é a empresa vaidebetachar um psiquiatra plantonista nas redes pública e privada.

"Ela saiuquem é a empresa vaidebetcasaquem é a empresa vaidebetum táxi, e deduzimos que ela tinha ido para casa onde tinha planejado morar com o futuro marido."

Késia conta que previu a tragédia que poderia acontecer e foi atrás da irmã.

"Por dez minutos, já tinha sido tarde demais", diz.

"Fui eu que encontrei o corpo dela, mais uns dois primos viram. Eu não deixei meus pais verem. Foi a cena mais triste que os meus olhos já viram", conta, afirmando que as duas eram muito próximas.

Késia ao lado dos paisquem é a empresa vaidebetculto; ela levanta as palmas da mão para o alto e estáquem é a empresa vaidebetolhos fechados

Crédito, Fernando Otto/BBC News Brasil

Legenda da foto, Késia ao lado dos paisquem é a empresa vaidebetculto . A família costuma viajar junto pelo país

'Nunca deixeiquem é a empresa vaidebetcrerquem é a empresa vaidebetDeus'

A partir daí, o tabu com o suicídio começou a aparecer — assim como o acolhimento.

"Experimenteiquem é a empresa vaidebettudo. Até no momento do velório mesmo, muitas pessoas nos abraçaram, tentaram nos confortarquem é a empresa vaidebetalguma maneira", conta.

"Mas, pelo fatoquem é a empresa vaidebetaté então, pelo menos no nosso meio, nunca ter ocorrido um suicídio, eu sentia que as pessoas não sabiam muito bem o que falar."

Késia lembra que, durante o culto fúnebre, um pastor fez uma fala indelicada.

"Ele praticamente disse que o filho havia passado por situações emocionais graves, mas que eles [familiares] haviam orado. Então, deu a entender que não tínhamos feito nossa parte como pessoas que creem Deus."

Késia diz que sentiu muita raiva naquele momento e pediu que tirassem o microfone das mãos do pastor.

Hoje, ela consegue ver com "uma certa compaixão e misericórdia" a situação, por entender que o pastor não estava preparado para aquilo.

"As pessoas não foram ensinadas a lidar com esse tipoquem é a empresa vaidebetmorte. As pessoas, na verdade, não são preparadas nem para lidar com a própria morte", aponta.

Mas Késia diz não se arrependerquem é a empresa vaidebetter tirado o microfone do pastor, "porque a ignorância não pode dar liberdade para que as pessoas sejam cruéis".

Ela relata ter ouvidoquem é a empresa vaidebetpessoas próximas falas que também a incomodaram.

"Muitas pessoas ligaram para mim e disseram que ela ia para o inferno. Assim, na lata".

Esse tipoquem é a empresa vaidebetfala é comum também fora das igrejas evangélicas, diz a pregadora, que por seu trabalho já participouquem é a empresa vaidebetvelóriosquem é a empresa vaidebetdiferentes religiões.

Késia diz ter percebido, nessas ocasiões, que outras religiões tratam do suicida como alguém "condenado" na vida após a morte.

"Foi aí que a minha ficha começou a cairquem é a empresa vaidebetque essa incompreensão do tema vem realmente arraigada numa construção histórica que,quem é a empresa vaidebetuma certa forma, atingiu todas as religiões", diz a pregadora.

"Há pessoas que realmente são massacradas com essa faltaquem é a empresa vaidebetacolhimento ou com frases colocadasquem é a empresa vaidebetuma forma inapropriada [no contexto religioso]", afirma.

"Isso inclusive pode levar as pessoas que ficam a um profundo adoecimento mental tanto pela sensaçãoquem é a empresa vaidebetculpa quanto pela sensaçãoquem é a empresa vaidebetque perdeu a esperançaquem é a empresa vaidebetrever aquela pessoa [após a morte]."

Késia falando no palco

Crédito, Fernando Otto/BBC News Brasil

Legenda da foto, Késia participou,quem é a empresa vaidebetsetembroquem é a empresa vaidebet2023,quem é a empresa vaidebetum eventoquem é a empresa vaidebetconscientização sobre saúde mental e suicídio na Igreja Batista da Lagoinhaquem é a empresa vaidebetCampinas

Sobre o destinoquem é a empresa vaidebetsua irmã após a morte, Késia diz que ainda "não tem essa resposta", mas isso não a "inquieta mais".

"Por que me tranquilizo? Porque o assunto 'salvação' é exclusivoquem é a empresa vaidebetDeus."

Ela responde que tampouco teve a fé abalada por conta do suicídio.

"Não, não mesmo. Foram mais questões teológicasquem é a empresa vaidebetentender: será que toda pessoa que cometeu o suicídio está condenada?"

A palestrante afirma que, apesarquem é a empresa vaidebet"não saber como",quem é a empresa vaidebetfé "se fortaleceu" após o suicídio da irmã.

Mas, durante o luto, Késia teve depressão.

"Nunca deixeiquem é a empresa vaidebetcrerquem é a empresa vaidebetDeus, mas depois que eu encontrei o corpo da minha irmã, eu não consegui mais dormir", relata.

Ela credita seu adoecimento mental à falta do sono: "Não foi a faltaquem é a empresa vaidebetfé".

"Precisei passar por toda essa situação para entender que sim, uma pessoa que crêquem é a empresa vaidebetDeus, que tem fé, que está alimentando aquem é a empresa vaidebetvida espiritual, fazendo bem, ela pode adoecer [mentalmente], como adoecequem é a empresa vaidebetqualquer outra enfermidade", diz Késia.

Ela afirma que buscou forças para se reerguer principalmente por conta da mãe, que já havia perdido uma filha, e aceitou se tratar.

Em 2013, ela fundou o Centro Débora Mesquita, que atuou até 2020 na divulgaçãoquem é a empresa vaidebetinformações para prevenção ao suicídio e no atendimento à população com psicólogas voluntárias e grupoquem é a empresa vaidebetapoio a enlutados.

Uma igreja da Assembleiaquem é a empresa vaidebetDeus que Késia frequentava cedeu algumas salas para esse tipoquem é a empresa vaidebetatendimento.

Mas, com a pandemia, as atividades foram interrompidas, e Késia fundou com o marido, Fernando Gutman, o projeto Espiritualmente Saudável, que promove palestras e cursos sobre a prevenção do suicídio no meio religioso.

O casal assina junto também o livro Não é faltaquem é a empresa vaidebetfé: prevenção e posvenção do suicídio no contexto religioso, lançadoquem é a empresa vaidebet2020.

Ela diz terem escolhido o título para atingir um público que muitas vezes deixaquem é a empresa vaidebetbuscar ajuda porque tem medoquem é a empresa vaidebetser julgado "como uma pessoa que não tem fé", explica Késia, que também é cantora.

"A vida é um domquem é a empresa vaidebetDeus, e ninguém tem direitoquem é a empresa vaidebettirar a própria vida, mas também compreendemos hoje que o adoecimento mental pode tirar uma pessoa daquem é a empresa vaidebetracionalidade", diz.

"Mas, quando a gente antecipa a morte, aborta muitos sonhos, muitas experiências. A gente deixaquem é a empresa vaidebetsentir a dor, mas a gente também abre mão do amor", afirma.

"Mas eu não estou aquiquem é a empresa vaidebetforma alguma julgando quem fez isso, porque alguns no momento do impulso não tiveram como escapar."

Késia e os paisquem é a empresa vaidebetsofás; eles conversam

Crédito, Fernando Otto/BBC News Brasil

Legenda da foto, Késia e os pais mostram serenidade ao falar da mortequem é a empresa vaidebetDébora

A BBC News Brasil acompanhou um cultoquem é a empresa vaidebetque Késia participou na Igreja Batista da Lagoinhaquem é a empresa vaidebetCampinas.

Era o Setembro Amareloquem é a empresa vaidebet2023, mês da campanhaquem é a empresa vaidebetprevenção ao suicídio criada por várias organizações brasileirasquem é a empresa vaidebet2015. A pregadora fez uma sequênciaquem é a empresa vaidebetcultos e palestras na capital e no interior paulista.

A viagem a São Paulo foi emendada com uma anterior, ao Rio, onde ela e o marido lançaram Caminhos na Tormenta: a Graçaquem é a empresa vaidebetDeus Manifestada na Saúde Mental.

Os pais dela acompanham frequentemente Késia e Fernandoquem é a empresa vaidebetviagens pelo Brasil. O grupo brinca entre si lembrandoquem é a empresa vaidebethistórias que aconteceram no caminho.

Ao falar da mortequem é a empresa vaidebetDébora, a família mostra serenidade.

No culto, Késia fala sobre saúde mental, canta e fecha os olhos ao se emocionar. Fernando quem é a empresa vaidebet falaquem é a empresa vaidebetsentimentos equem é a empresa vaidebetcuidadosquem é a empresa vaidebetuma perspectiva masculina.

Késia, também bastante ativa nas redes sociais, afirma que a morte da irmã proporcionou novas atividades emquem é a empresa vaidebetvida, como palestras, livros e viagens, mas que essa percepção é agridoce.

"Para qualquer lugar que eu vá, eu sempre vou receber tudo com muito amor, com muita gratidão e até mesmo com felicidade — mas nunca com vaidade, nunca com orgulho, porque eu sei o que me custou."

A posiçãoquem é a empresa vaidebetgrandes igrejas evangélicas sobre o suicídio

Segundo o Censo 2010, as igrejas evangélicas formam o segundo segmento religioso com mais adeptos no Brasil — cercaquem é a empresa vaidebet42,2 milhõesquem é a empresa vaidebetpessoas, 22,2% do total da população —, atrás apenas da Igreja Católica Apostólica Romana (com 123 milhõesquem é a empresa vaidebetfiéis, 64,6% da população).

Os evangélicos foram o grupo que mais cresceu do Censo 2000 aoquem é a empresa vaidebet2010, passandoquem é a empresa vaidebet15,4% para 22,2% da população.

São muitas as divisões internas do mundo evangélico, então a BBC News Brasil buscou saber como as três denominações com mais adeptos tratam a questão do suicídio: a Assembleiaquem é a empresa vaidebetDeus (12,3 milhõesquem é a empresa vaidebetadeptos), as igrejas batistas (3,7 milhões) e a Congregação Cristã no Brasil (2,2 milhões).

Mas os especialistas entrevistados pela BBC News Brasil afirmaram que, não só para essas três denominações, a interpretação geral das igrejas evangélicas é que o suicídio é um pecado.

Assim como no catolicismo, uma das principais bases para esse entendimento é um dos Dez Mandamentos da Bíblia: "Não matarás".

O cientista social e pastor batista Clemir Fernandes, pesquisador do Institutoquem é a empresa vaidebetEstudos da Religião (Iser), lembra tambémquem é a empresa vaidebetJudas, o traidorquem é a empresa vaidebetJesus — que, segundo os textos bíblicos, se matou.

"Em tese, atentar contraquem é a empresa vaidebetvida ouquem é a empresa vaidebetquem quer que sejaquem é a empresa vaidebetfato é pecado. É uma quebraquem é a empresa vaidebetum princípio da relação saudável com Deus", aponta Fernandes, doutorquem é a empresa vaidebetciências sociais pela Universidade do Estado do Rioquem é a empresa vaidebetJaneiro (Uerj).

"A compreensão na tradição evangélica e batista é que a vida pertence a Deus: ele deu e só ele pode tirar."

Falando especificamente das igrejas batistas, Fernandes afirma não ter notíciasquem é a empresa vaidebetpastores que se recusem a fazer cultos funerários para quem se suicida, como há relatos outras denominações.

"Quando a pessoa comete suicídio, não há qualquer tipoquem é a empresa vaidebetdiscriminação nas igrejas para celebrar o cultoquem é a empresa vaidebetgratidão pela vida da pessoa", afirma o pesquisador.

Fernandes explica que, segundo a crença evangélica, os ritos funerários têm um papelquem é a empresa vaidebetconforto para quem ficou — e não a funçãoquem é a empresa vaidebetcontribuir, com orações, por exemplo, para a salvação da almaquem é a empresa vaidebetum falecido.

"Uma pessoa para ser salva, na tradição batista e do mundo protestantequem é a empresa vaidebetmaneira geral, é uma relação entre ela e Deus mediada por Jesus e só, não passa pelo sacerdote. Não passa por ninguém a não ser ela."

Por isso mesmo, o pesquisador explica que a questão do destino pós-mortequem é a empresa vaidebetuma pessoa que tirou a própria vida, na crença evangélica, depende completamentequem é a empresa vaidebetum juízo divino.

Fernandes lembra que as igrejas batistas têm grande autonomia, sendo independentes para não seguir até mesmo as orientaçõesquem é a empresa vaidebetconvenções a que são filiadas.

As convenções são organizações que reúnem várias igrejas locais. Segundo o pesquisador, elas são órgãosquem é a empresa vaidebet"cooperação e nãoquem é a empresa vaidebetimposição".

Mesmo assim, ele aponta que não há menção ao suicídio e questões relacionadas ao atoquem é a empresa vaidebetgrandes documentos como a Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira (CBB) e os Princípios Batistas.

A CBB, convenção que reúne o maior númeroquem é a empresa vaidebetigrejas batistas no país, disse à BBC News Brasil que não se manifestaria sobre o assunto.

Plateiaquem é a empresa vaidebetculto

Crédito, Fernando Otto/BBC News Brasil

Legenda da foto, A Lagoinha faz parte dos heterogêneos mundos evangélico e batista

Ex-pastor da Assembleiaquem é a empresa vaidebetDeus, psicólogo e mestrequem é a empresa vaidebetciência da religião pela Pontifícia Universidade Católicaquem é a empresa vaidebetSão Paulo (PUC-SP), Jimmy Pessoa avalia que, na interpretação desta denominação, o suicídio é um pecado.

"Eles entendem que a pessoa que se suicida não tem salvação. Isso é muito claro, só não se fala isso. Mas eles acreditam", aponta Pessoa, que é doutorando e, no mestrado, pesquisou sobre saúde mentalquem é a empresa vaidebetpastores da Assembleiaquem é a empresa vaidebetDeus.

"Todas as igrejas evangélicas cristãs têm essa interpretação. Não existe nenhuma igreja cristã que diz assim: suicídio não é pecado."

A única exceção poderia acontecer se a "pessoa nos seus últimos momentos antes da morte tenha se arrependido e pedido perdão".

O pesquisador afirma não haver qualquer documento da igreja acerca do suicídio e diz que o assunto é evitado publicamente por lideranças.

"Em questãoquem é a empresa vaidebetcostumes, hoje há um cuidado muito maior quando vai se falar sobre isso, porque eles sabem que a mão da Justiça pesa", diz Pessoa, referindo-se a processos judiciais que podem surgir como consequênciaquem é a empresa vaidebetfalas públicasquem é a empresa vaidebetpastores.

Entretanto, o pesquisador afirma que os pastores têm autonomia para decidir sobre a realizaçãoquem é a empresa vaidebetcultos fúnebres para suicidas — e diz já ter sabidoquem é a empresa vaidebetcasosquem é a empresa vaidebetque estes não foram realizados, o mais recente delesquem é a empresa vaidebet2019.

"É uma questão que fica a cargo e critério do pastor. O pastor não vai ser penalizado se fizer o culto fúnebrequem é a empresa vaidebetalguém que se suicidou ou não."

À semelhança das batistas, o pesquisador diz que, na Assembleiaquem é a empresa vaidebetDeus, os cultos fúnebres não são voltados à pessoa que morreu, mas a quem fica.

"Ao morrer, aquilo que vai acontecer com a pessoa não tem mais relação nenhuma com o que vai acontecer aqui na Terra."

Pessoa, que foi pastor por quase 12 anos e diz não frequentar mais qualquer culto religioso, avalia como psicólogo ser "muito problemática" a doutrina que condena o suicídio.

"Eles deveriam buscar se inteirar mais do assunto relacionado à saúde mental para aprender diferenciar o que équem é a empresa vaidebetfato espiritual do que é relacionado à saúde emocional", defende, para referir-se então à mortequem é a empresa vaidebetJudas.

"Esse exemplo bíblico não foi analisado, não teve a catalogação sobre o sofrimento daquela pessoa, uma análise, uma descrição sintomática. A gente só se baseiaquem é a empresa vaidebetalgo que está escritoquem é a empresa vaidebetum textoquem é a empresa vaidebetaproximadamente 2 mil anos."

A reportagem buscou por telefone, e-mail e redes sociais duas grandes convenções da Assembleiaquem é a empresa vaidebetDeus, a Convenção Geral das Assembleiasquem é a empresa vaidebetDeus no Brasil (CGADB) e a Convenção Nacional das Assembleiasquem é a empresa vaidebetDeus no Brasil (Conamad), mas não teve retorno.

Pessoa segurando Bíblia no colo

Crédito, Fernando Otto/BBC News Brasil

Congregação Cristã no Brasil

A terceira denominação evangélica com mais adeptos no Brasil é a Congregação Cristã no Brasil (CCB).

Em gruposquem é a empresa vaidebetenlutados pelo suicídio nas redes sociais, algumas pessoas comentam que essa igreja tem como regra não realizar funerais para pessoas que se suicidaram.

A informação foi confirmada pelo pesquisador Públio Azevedo, que estudou essa igreja no doutoradoquem é a empresa vaidebetciências da religião pela PUC-SP, e pelo youtuber Josafá Agra, que diz ter frequentado a CCB por anos, até aproximadamente 2018, e tem hoje um canal com denúncias contra ela.

Questionada sobrequem é a empresa vaidebetcondutaquem é a empresa vaidebetrelação ao funeralquem é a empresa vaidebetsuicidas e à saúde mental, a congregação preferiu não se manifestar.

Públio Azevedo explica que ser muito fechada é uma das principais características da CBB — embora a pandemia tenha levado a uma flexibilizaçãoquem é a empresa vaidebetalguns pontos, como na recente práticaquem é a empresa vaidebettransmitir cultos na internet.

O pesquisador atribui isso a características pessoais do fundador da CCB, o missionário italiano Louis Francescon (1866-1964), que ele descreve como tímido equem é a empresa vaidebetorigem simples.

Embora tenha começado a se formarquem é a empresa vaidebet1910, a igreja só iniciouquem é a empresa vaidebetoficialização nos anos 1920.

"Eles têm por princípio a não comunicação externa. Há um sigilo muito forte no que diz respeito às próprias questões ministeriais e administrativas", afirma Azevedo, que também é pastor batista.

Outro resultado desse fechamento é o próprio distanciamentoquem é a empresa vaidebetoutras igrejas evangélicas e cristãs — e por isso a própria CCB rejeita aquem é a empresa vaidebetclassificação por pesquisadores como uma igreja pentecostal, aponta Azevedo.

Por tudo isso, é difícil ter acesso à doutrina da congregaçãoquem é a empresa vaidebetrelação a questões como o suicídio.

Mas, emquem é a empresa vaidebetpesquisa, Azevedo diz ter obtido alguns "tópicosquem é a empresa vaidebetensinamento" — regras compartilhadas internamente entre líderes das igrejas, chamadosquem é a empresa vaidebetanciãos.

Em seu site, a CCB disponibiliza tópicos somente a partirquem é a empresa vaidebet2021. Mas é comum encontrar compilados na internet, reunidos por membros ou dissidentes.

Segundo os entrevistados, os tópicos se acumulam, e não são revogados — por isso, a não ser que tenha sido publicado algum tópico explícito anulando um ensinamento antigo, tópicosquem é a empresa vaidebetdécadas atrás seguem vigentes.

Públio Azevedo afirma que conseguiu reunir tópicos a partirquem é a empresa vaidebetalguns documentos e contatos com membros da igreja.

Sobre o suicídio, um tópicoquem é a empresa vaidebet1964 obtido pelo pesquisador com orientações sobre serviços funerais afirma: "Quanto aos suicidas não tem parte no Reinoquem é a empresa vaidebetDeus; não se faz serviço algum. Se os familiares são crentes, pode-se orar por eles depois que o féretro (caixão) saiu, para confortoquem é a empresa vaidebetseus corações".

Outro,quem é a empresa vaidebet1969, diz: "Compreenda-se que para suicidas não se faz serviçoquem é a empresa vaidebetfuneral, mesmo que tenha sido orado por ele antesquem é a empresa vaidebetmorrer."

A BBC News Brasil encontrouquem é a empresa vaidebetum site que divulga a crença e materiais da CCB um tópico mais recente,quem é a empresa vaidebet2009, que reafirmaria o veto a funeraisquem é a empresa vaidebetsuicidas.

A reportagem tentou contactar os responsáveis pela página por e-mail, mas não houve retorno. Portanto, não foi possível confirmar a veracidade desse tópico mais recente.

"Dentro dos tópicos, fica muito claro que a Congregação entende que todo e qualquer suicida cometeu um pecado que não tem perdão. A danação eterna já está determinada e não se deve prestar serviços fúnebres", aponta Azevedo.

Josafá Agra aponta que o suicídio e os chamados pecados sexuais — como sexo antes do casamento e adultério — têm a mesma gravidade para a CCB.

"Não deve se fazer velório ou funeral para quem se suicidou porque eles acreditam que a pessoa perdeu a salvação", diz Agra.

"É como se a pessoa fosse manchada, como se fosse um grande um pecador. Então ele não merece ter o funeral, porque o funeral na Congregação é uma espéciequem é a empresa vaidebetúltimo seloquem é a empresa vaidebetqualidade que a pessoa recebe para poder entrar no céu."

Religião: entre papel protetor e fatorquem é a empresa vaidebetrisco

Para Késia Mesquita, mais líderesquem é a empresa vaidebetigrejas evangélicas estão sentindo necessidadequem é a empresa vaidebetfalar sobre o assunto porque casosquem é a empresa vaidebetsuicídio chegaram "tanto aos espaços religiosos quanto nas famílias deles".

"Eles sabem que não conseguem lidar com essa questão sozinhos", diz Késia, apontando que os pastores não têm preparação técnica para lidar com questões psicológicas e psiquiátricas.

Os dados indicam que,quem é a empresa vaidebetfato, mais e mais pessoas estão sendo afetadas pelo suicídio no Brasil.

De acordo com dados do Fórum Brasileiroquem é a empresa vaidebetSegurança Pública, o númeroquem é a empresa vaidebetsuicídios no Brasil tem aumentado desde 2016.

Naquele ano, foram registrados 9.623 casos, enquanto,quem é a empresa vaidebet2022, foram 16.262.

Um outro estudo, publicadoquem é a empresa vaidebetfevereiro na revista científica The Lancet Regional Health Americas, calculou que a taxaquem é a empresa vaidebetsuicídios a cada 100 mil habitantes no Brasil cresceuquem é a empresa vaidebetmédia 3,7% ao ano entre 2011 e 2022.

Já no quadro mundial, o Brasil tinhaquem é a empresa vaidebet2019 uma taxaquem é a empresa vaidebetsuicídiosquem é a empresa vaidebet6,4 mortes para cada 100 mil habitantes — abaixo da média global,quem é a empresa vaidebet9 para 100 mil,quem é a empresa vaidebetacordo com números da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Para a psicóloga Karen Scavacini, fundadora e diretora do Instituto Vita Alerequem é a empresa vaidebetPrevenção e Posvenção do Suicídio, a situação pode ser ainda mais grave, por conta das subnotificaçõesquem é a empresa vaidebetsuicídios no país.

"Eu não tenho dúvida que tem um aumento real acontecendo, especialmente no período pós pandêmico —quem é a empresa vaidebettentativa equem é a empresa vaidebetsuicídio completo", aponta Scavacini, doutoraquem é a empresa vaidebetpsicologia pela Universidadequem é a empresa vaidebetSão Paulo (USP).

"A pandemia foi uma tempestade perfeita. A gente já estava com aumentoquem é a empresa vaidebetdepressão,quem é a empresa vaidebetansiedade equem é a empresa vaidebetnúmerosquem é a empresa vaidebetsuicídios. Vem então a pandemia onde teve os impactos sociais, econômicos, familiares,quem é a empresa vaidebetusoquem é a empresa vaidebetsubstâncias... Foram muitos fatoresquem é a empresa vaidebetrisco para o suicídio."

A psicóloga destaca que, embora entidades como a OMS apontem para o grande papelquem é a empresa vaidebetcondições psiquiátricas nas tentativas e nos suicídios, esse fenômeno é multifatorial: pode envolver desde como uma pessoa usa redes sociais atéquem é a empresa vaidebetsituação financeira.

A religião pode ser um desses fatores.

Scavacini aponta que há muitas evidênciasquem é a empresa vaidebetque,quem é a empresa vaidebetgeral, a espiritualidade é um "fatorquem é a empresa vaidebetproteção" que evita que pessoas se matem. Mas pode ter também o papel inverso.

"Em alguns casos, a religião pode ser um fatorquem é a empresa vaidebetrisco, especialmente se traz para a pessoa vergonha e exclusão", diz.

A psicóloga cita como exemplo desde pessoas não aceitas porquem é a empresa vaidebetsexualidade ou identidadequem é a empresa vaidebetgênero àquelas que estão pensandoquem é a empresa vaidebetse matar ou já tentaram.

Uma comunidade religiosa também pode atrapalhar a busca por ajuda profissional, ela aponta.

"Algumas religiões vão falar que depressão é faltaquem é a empresa vaidebetDeus. Não falam com todas as letras — se falassem, talvez fosse até mais fácilquem é a empresa vaidebetlidar. Fica nas entrelinhas."

Scavacini lembra também das pessoas que perderam alguém para o suicídio. Para elas, diz, a religião pode trazer "muito mais dor".

A psicóloga exemplifica frases que os enlutados relatam escutar, como "você não percebeu?", "por que você não levou mais na igreja?" ou "agora, ele está sofrendo no inferno".

"Esse tipoquem é a empresa vaidebetfrase é dita no velório", diz a especialista.

"Colocam na família, que já está passando por essa perda que é absurda, a culpaquem é a empresa vaidebetter ocorrido o suicídio."

Scavacini conta que já lidou com vários casos como esses no consultório.

"A gente trabalha com essas famílias enlutadas que tipoquem é a empresa vaidebetresposta elas vão dar quando a comunidade religiosa vem com uma fala preconceituosa", diz.

"Muitas famílias chegam à conclusãoquem é a empresa vaidebetque aquela crença ainda não conseguiu entender exatamente o que é o suicídio."

"Se uma comunidade religiosa está fazendo mais mal do que bem, a pessoa enlutada tem o direitoquem é a empresa vaidebetrepensarquem é a empresa vaidebetpresença ali e procurar uma outra que faça mais sentido e seja mais acolhedora", conclui.

*Caso seja ou conheça alguém que apresente sinaisquem é a empresa vaidebetalerta relacionados ao suicídio, ou caso você tenha perdido uma pessoa querida para o suicídio, confira alguns locais para pedir ajuda:

- O Centroquem é a empresa vaidebetValorização da Vida (CVV), por meio do quem é a empresa vaidebet telefone 188, oferece atendimento gratuito 24h por dia; há também a opçãoquem é a empresa vaidebetconversa por chat, e-mail e busca por postosquem é a empresa vaidebetatendimento ao redor do Brasil;

- Para jovensquem é a empresa vaidebet13 a 24 anos, a Unicef oferece também o chat Pode Falar;

- Em casosquem é a empresa vaidebetemergência, outra recomendaçãoquem é a empresa vaidebetespecialistas é ligar para os Bombeiros ( quem é a empresa vaidebet telefone quem é a empresa vaidebet 193) ou para a Polícia Militar ( quem é a empresa vaidebet telefone quem é a empresa vaidebet 190);

- Outra opção é ligar para o SAMU, pelo quem é a empresa vaidebet telefone 192;

- Na rede pública local, é possível buscar ajuda também nos Centrosquem é a empresa vaidebetAtenção Psicossocial (CAPS),quem é a empresa vaidebetUnidades Básicasquem é a empresa vaidebetSaúde (UBS) e Unidadesquem é a empresa vaidebetPronto Atendimento (UPA) 24h;

- Confira também o Mapa da Saúde Mental, que ajuda a encontrar atendimentoquem é a empresa vaidebetsaúde mental gratuitoquem é a empresa vaidebettodo o Brasil.

- Para aqueles que perderam alguém para o suicídio, a Associação Brasileira dos Sobreviventes Enlutados por Suicídio (Abrases) oferece assistência e gruposquem é a empresa vaidebetapoio.