O que é ser evangélico?:zebet ghana

Ilustraçãozebet ghanaevangélico

Crédito, Daniel Arce Lopez/BBC

Um exemplo representativo desse avanço no campo político é que o governo Bolsonaro chegou a ter seis ministros protestantes ao mesmo tempo: Onyx Lorenzoni (luterano), André Mendonça (presbiteriano), Milton Ribeiro (presbiteriano), Damares Alves (do Evangelho Quadrangular), Luiz Eduardo Ramos (batista) e Marcelo Antonio (da igreja Cristã Maranata).

Só que esse avanço da população evangélica (que deve superar numericamente azebet ghanacatólicos na décadazebet ghana2030) vem sendo acompanhadozebet ghanadesconhecimento, preconceito e desinformação sobre quem são, o que pensam e por que votamzebet ghanadeterminados candidatos.

Para entender melhor sobre essa população cada vez mais importante na política e na sociedade brasileiras, a BBC News Brasil vai responder a algumas perguntas fundamentais sobre os evangélicos.

Primeiramente, é importante entender as diferenças e as semelhanças entre evangélicos, protestantes e outras vertentes do cristianismo.

Em seguida, vamos explorar as origens do protestantismo no século 16 e a inserção dos evangélicos no Brasil até se tornarem uma força política que teve um enorme impacto na eleiçãozebet ghanaBolsonaro,zebet ghana2018.

Evangélicos, protestantes, crentes…

Para começar, qual é a diferença entre evangélicos, protestantes, pentecostais e neopentecostais?

Em geral, o termo protestante é usado para descrever pessoas que seguem todas as denominações derivadas da Reforma Protestante, movimento ocorrido há maiszebet ghana500 anos que deu origem ao principal desdobramento da Igreja Católica desde o cisma entre as igrejas do Ocidente e do Orientezebet ghana1054.

Isso incluiria então todas as igrejas cristãs criadas a partir das ideiaszebet ghanaMartinho Lutero, dos luteranos à Igreja Universal do Reinozebet ghanaDeus.

O antropólogo Juliano Spyer resume o protestantismo no livro Povozebet ghanaDeus da seguinte forma: "O foco da experiência religiosa deve ser o próprio cristão, seu contato particular com Deus mediado pela leitura e interpretação da Bíblia, e pelo trabalhozebet ghanacumprir a vontadezebet ghanaDeus sendo parte das ações evangelizadoras".

Teoricamente, não há diferenças entre protestantes e evangélicos, mas segundo Spyer, muitas vezes "evangélico" é usado para se referir ao protestante pobre, enquanto "protestante" é geralmente adotado para se referir a pessoas das camadas médias e alta — alguns deles rejeitam a classificaçãozebet ghana"crente" ou mesmozebet ghana"evangélico", preferindo se identificar como cristãos.

Além disso, os protestantes costumam ser divididoszebet ghanatrês grupos: os protestantes históricos, os pentecostais e os neopentecostais.

O primeiro trata das principais correntes protestantes que surgiram na Europa no século 16, como os calvinistas, os luteranos e os anglicanos. O segundo e o terceiro são ligados a desdobramentos protestantes no século 20 que defendem uma experiência mais pura e simples do cristianismo, num contato com Deus menos formal e mais emocional.

As origens dos protestantes

A corrente religiosa conhecida no Brasil como evangélica derivazebet ghanaum movimento que começou oficialmentezebet ghana1517.

Naquele ano do século 16, o monge católico e teólogo alemão Martinho Lutero pregou na portazebet ghanauma igrejazebet ghanaWittenberg (Alemanha) suas "95 Teses".

Seus escritos atacavam, entre outros pontos, abusos e fraudeszebet ghanalideranças católicas e a vendazebet ghana"indulgências" (uma espéciezebet ghana"lugar no paraíso" ou "perdão" dos pecadoszebet ghanaquem estava vivo, morto ou na fase intermediária na crença católica, o purgatório).

Para Lutero, as pessoas deveriam ser salvas por meiozebet ghanasua fézebet ghanaum contato direto e individual com Deus. E não por meiozebet ghanaperdões concedidos por líderes católicos,zebet ghanaindulgências vendidas ouzebet ghanaintermediários para entender a mensagemzebet ghanaDeus (como a tradição escolástica elaborada pelos teólogos católicos).

Uma das principais medidas práticaszebet ghanaLutero foi a tradução da Bíblia do latim para o alemão. Isso não apenas permitiu que as pessoas tivessem acesso direto ao texto bíblico emzebet ghanaprópria língua como também quebrou o monopólio das lideranças católicas sobre a interpretação desses escritos sagrados.

evangélico lê a bíbliazebet ghanaigreja

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Protestantismo levou pessoas comuns a se aproximarem da Bíblia sem intermediários

As ideias e açõeszebet ghanaLutero se espalharam como pólvora pela Europa. De um lado, ele acabou condenado por heresia e excomungado pela Igreja Católica. De outro, começou a ganhar seguidores que viriam a ser conhecidos como luteranos ou protestantes (nome dado por causa do protesto que fizeram contra a política religiosa do catolicismo).

"Ele [Lutero] não foi a primeira pessoa que se levantou contra o poder papal e contra os poderes imperiais [do Sacro Império Romano Germânico]. Mas, sem dúvida nenhuma, as consequências [de seu movimento] ocorreramzebet ghanaforma nunca antes vistas para a cristandade ocidental, porque daízebet ghanafato começa um desenrolar político, econômico e religioso", explica a historiadora Jaquelinizebet ghanaSouza, professora na Universidade Regional do Cariri e pesquisadora nas Faculdades EST (antiga Escola Superiorzebet ghanaTeologia), instituição da Igreja Evangélicazebet ghanaConfissão Luterana no Brasil.

"Nasceu uma nova divisão para a cristandade ocidental, com a necessidadezebet ghanase trabalharem questões sobre liberdade religiosa, já que Lutero defendia que não era bom — nem são — ir contra a consciência. Questões sobre a ideiazebet ghanaliberdadezebet ghanaexpressão,zebet ghanaresistência ao Estado, tudo isso será desdobramento daquilo", diz Souza.

Esse movimentozebet ghanaseparação da Igreja Católica (que começou com o objetivozebet ghanaquestionamento e nãozebet ghanacisão) ficaria conhecido como Reforma Protestante, com três grandes vertentes: luteranismo, anglicanismo e calvinismo.

Esse protestantismo histórico,zebet ghanaforma geral, é centrado numa volta à Bíblia como elemento essencial da fé e da prática religiosa.

O calvinismo tem esse nome por causa do teólogo francês João Calvino, que tinha um foco especial no trabalho.

"Calvino e também o calvinismo [ou seja, as interpretações posteriores da teologia dele] entendem que o trabalho deve ser visto como uma bênção, pois deve ser realizado para glorificar a Deus", explicou à BBC News Brasil o historiador, filósofo e teólogo Gerson Leitezebet ghanaMoraes, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Outro ponto que se destaca no calvinismo é a ideia da escolha, da predestinação. "A partir do século 17, o calvinismo passa a ser visto como uma religiosidade que enaltece a predestinação: só os eleitos são salvos. Mas essa é uma marca do calvinismo [ou seja, dos seguidores] e não do próprio Calvino", explica Moraes.

E isso acabou se tornando muito fortezebet ghanapaíses como a Inglaterra — com os chamados puritanos — e,zebet ghanaseguida, com os colonos que chegaram aos Estados Unidos imbuídos da ideiazebet ghanaque eram os predestinados ao Novo Mundo. No Brasil, a principal denominação ligada ao calvinismo é a Igreja Presbiteriana do Brasil.

"No meio protestante, os calvinistas são reconhecidos como um grupo religioso muito apegado à Bíblia, à tentativazebet ghanafidelidade, ao viver segundo a tradição", explica Sonia Mota, pastora da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e diretora executiva da Coordenadoria Ecumênicazebet ghanaServiço

Mas Mota ressalta que há diferenças ainda mais profundas dentro dessas próprias correntes. "A distância que separa os calvinistas liberais, fundamentalistas e carismáticos é maior do que a distância entre os tradicionais princípios teológicos calvinistas e oszebet ghanaoutras denominações protestantes históricas".

Chegada e expansão do protestantismo no Brasil

Essas e outras correntes protestantes começariam a chegar ao Brasil ainda no século 16, mas só se consolidariam mesmo no século 19.

Muitos fatores favoreceram a chegada delas, como a abertura dos portos brasileiros às nações amigas,zebet ghana1808, e a crescente liberdade religiosa para além da Igreja Católica.

O luteranismo e o anglicanismo foram trazidos principalmente por imigrantes alemães e ingleses, respectivamente. O calvinismo,zebet ghanaseguida, se espalhou graças ao trabalhozebet ghanamissionárioszebet ghanacorrentes como a presbiteriana e a metodista.

O marco fundador do calvinismo no país, por exemplo, é considerado a chegada do pastor americano Ashbel Green Simonton,zebet ghana12zebet ghanaagostozebet ghana1859. Três anos depois, ele fundaria a Igreja Presbiteriana do Brasil, hoje com cercazebet ghana650 mil adeptos. Estima-se que, no total, sejam 1,2 milhão os praticantes do calvinismo no Brasil.

Como dito acima, o protestantismo é divididozebet ghanatrês vertentes: os protestantes históricos (calvinistas, luteranos, anglicanos etc.), os pentecostais e os neopentecostais.

Igreja da Assembleiazebet ghanaDeus

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Assembleiazebet ghanaDeus é a instituição pentecostal mais popular do país

No Brasil, os protestantes históricos incluem as igrejas Luterana, Batista, Presbiteriana, Metodista, Episcopal, entre outras.

O segundo grupo (pentecostal) tem entre seus integrantes Assembleiazebet ghanaDeus, Deus é Amor, Evangelho Quadrangular e Congregação Cristã do Brasil.

O terceiro grupo (neopentecostal), uma subdivisão dos pentecostais, inclui denominações como Renascerzebet ghanaCristo, Igreja Universal do Reinozebet ghanaDeus, Sara Nossa Terra, Igreja Internacional da Graçazebet ghanaDeus e Igreja Mundial do Poderzebet ghanaDeus.

Segundo estimativa do Datafolhazebet ghana2016, a cada 100 evangélicos no Brasil, 34 são da Assembleiazebet ghanaDeus, 17 sãozebet ghanaigrejas que não pertencem a nenhuma grande denominação, 11 da Igreja Batista, oito da Universal, seis da Congregação Cristã do Brasil, cinco da Quadrangular, três da Deus é Amor, dois da Adventista e dois da Presbiteriana, entre outros. E a cada 100 evangélicos, 44 são ex-católicos.

Vale lembrar que, no Brasil, a face típica do evangélico é feminina, negra e jovem: 58% são mulheres, 59% são pretos ou pardos e maiszebet ghana60% têm entre 14 e 44 anos. Os dados sãozebet ghanauma pesquisa Datafolhazebet ghana2020, a mais ampla feita até agora sobre o perfil dos evangélicos brasileiros.

Surgido entre pessoas mais pobres e menos favorecidas no início do século 20 nos EUA, o pentecostalismo é uma formazebet ghanacristianismo que também enfatiza a experiência direta da presençazebet ghanaDeus por aquele que crê.

Em linhas gerais, os pentecostais acreditam que a fé precisa ser uma experiência poderosa, e não apenas algo ligado a rituais ou reflexões, e que os crentes são movidos pelo poderzebet ghanaDeus.

Um aspecto pentecostal importante na conversão é o batismo no Espírito Santo, que acredita-se preencher a vida do crente com o Espírito Santo e conceder a ele a força para viver uma vida verdadeiramente cristã.

A maioria dos pentecostais acredita que esse movimento representa um retorno do cristianismo à forma pura e simplificada, como o que era praticado nos primeiros anos da própria Igreja Católica. A formazebet ghanaorar pentecostal, por exemplo, é menos formal e mais emocional do que a tradição católica.

Esse movimento pentecostal (que não é uma igrejazebet ghanasi, mas várias denominações que discordamzebet ghanadiversos aspectos) chega ao Brasil ainda no início do século 20. Especialistas falamzebet ghanatrês ondaszebet ghanaexpansão no país.

A primeira onda tem umzebet ghanaseus marcoszebet ghana1911, anozebet ghanaque missionários suecos fundam a Assembleiazebet ghanaDeus no país.

O trabalho deles começazebet ghanaBelém direcionado aos indígenas, mas décadas depois se volta para o restante da população. Hoje, a Assembleiazebet ghanaDeus é a mais popular denominação pentecostal, reunindo cercazebet ghanaum terço dos evangélicos.

A segunda onda pentecostal ganha força nos anos 1950 e 1960 por meiozebet ghanadenominações como Brasil para Cristo e Deus é Amor.

A terceira onda, a partir dos anos 1970 estaria mais ligada a um desdobramento do pentecostalismo chamadazebet ghananeopentecostalismo. Um dos marcos é a fundação da Igreja Universal do Reinozebet ghanaDeus,zebet ghana1977.

Mulher evangélica ora durante Marcha para Jesus

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Mulheres negras são a maior parcela entre os evangélicos brasileiros

Não há consenso sobre o que diferencia o neopentecostalismozebet ghanarelação ao pentecostalismo e nem sezebet ghanafato há uma unidade entre essas denominações que não seja apenas temporal (ou seja, neopentescostais, por essa classificação, seriam todas as que tenham surgido a partir dos anos 1970).

"O neopentecostalismo transformou as tradicionais concepções pentecostais acerca da conduta e do modozebet ghanaser do cristão no mundo. Propagou a ideiazebet ghanaque ser cristão constitui o meio primordial para permanecer liberto do Diabo e obter prosperidade financeira, saúde e triunfo nos empreendimentos terrenos. 'Ter um encontro com Cristo' passou a significar gozarzebet ghanauma vida próspera e feliz, ou a certezazebet ghanapoder contar com a efetiva intervenção divinazebet ghanatoda circunstância, até para satisfazer ambições materiais", escreve o sociólogo e professor Ricardo Mariano (USP)zebet ghanaartigo sobre o tema.

Potência política e social

Mas, se a história dos protestantes no Brasil começazebet ghanameados do século 19 e avança no século 20, por que só no século 21 os evangélicos se tornaram uma potência política e social?

O sociólogo peruano José Luis Pérez Guadalupe aponta no livro Novo ativismo político no Brasil: os evangélicos do século 21 alguns fatores importantes para essa transformação evangélica:

O primeiro foi a percepção, com o amadurecimento das igrejas evangélicas,zebet ghanaque era válido reivindicar um lugar legítimo na sociedade, defender a liberdade religiosa e atuar como cidadãos imbuídos da mensagem cristã.

O segundo foi uma mudança teológica significativa, segundo Guadalupe. Antes, a mentalidade dominante (pré-milenarismo) rejeitava participarzebet ghanacoisas "mundanas", como a política, porque a vida era vista como uma "salazebet ghanaespera" da segunda vindazebet ghanaJesus Cristo.

"Houve (na época) grande pressão nas comunidades evangélicas para abandonar as coisas mundanas e se dedicar inteiramente à evangelização, uma vez que a segunda vinda do Salvador poderia ocorrer a qualquer momento", escreve. Era quase como uma "greve social" contra o que chamavamzebet ghana"mundo".

Mas, a partir dos anos 1990, o pós-milenarismo começa a ganhar força na América Latina. Essa doutrina afirma que o milênio atual é "tempozebet ghanacolheita", ou seja, que os cristãos protestantes deveriam não apenas esperar a segunda vindazebet ghanaCristo, mas trabalhar ativamente pelo usufruto da vida e pela restauração do Reinozebet ghanaDeus na Terra.

Um exemplo dessa mudançazebet ghanauma fuga do mundo para uma conquista do mundo é a Teologia do Reino Presente, pregada por algumas denominações neopentecostais.

"É uma escatologia (doutrina que trata do destino final do homem e do mundo) da vitória, que torna os devotos verdadeiros herdeiros do poder, da autoridade e do direito divinozebet ghanaconquistar as naçõeszebet ghananomezebet ghanaDeus. O Reinozebet ghanaJesus Cristo não se refere mais a uma promessazebet ghanabênçãos futuras, mas ao tempo presente do fiel ezebet ghanasua igreja", explica o sociólogo argentino Joaquín Algranti na obra Política e Religião nas Margens: Novas formaszebet ghanaparticipação social das megaigrejas evangélicas na Argentina.

Especialistas apontam outros três teologias influentes na transformação da atuação políticazebet ghanaevangélicos no Brasil: a Teologia da Prosperidade (desfrutar o mundo criado por Deus), a Teologia da Guerra Espiritual (purificar o mundo dos demônios do mal) e a Teologia do Domínio (conquistar o poder e comandar o mundo segundo a palavrazebet ghanaDeus).

evangélicos oram
Legenda da foto, Mudanças sociais, teológicas e políticas impulsionaram participaçãozebet ghanaevangélicos na política e na vida pública do Brasil

Segundo Juliano Spyer, na teologia da prosperidade pregada no neopentecostalismo, por exemplo, "a conversão e adoção da prática religiosa são recompensadas por Deus via ascensão financeira".

Nessa vertente, o fiel é "estimulado a atuarzebet ghanamaneira empreendedora para enfrentar as adversidades da vida", e prosperidade não se trata apenaszebet ghanauma questão financeira, maszebet ghanaviver melhor.

"A disciplina e o esforço para abraçar valores e ideais cristãos se fortalecem quando a pessoa está menos vulnerável socialmente, tem casa, está empregada, pode estar e tem comidazebet ghanacasa."

Spyer ressalta que parte do crescimento das igrejas evangélicas se dá justamente porque entrar para uma dessas denominações geralmente melhora as condiçõeszebet ghanavida dos brasileiros mais pobres e conduz à ascensão socioeconômica. Por quê?

Segundo ele, o conjuntozebet ghanacausas inclui tanto questões religiosas quanto práticas, como o "fim do alcoolismo e consequentemente da violência doméstica (associada ao vício), fortalecimento da autoestima, da disciplina para o trabalho e aumento do investimento familiarzebet ghanaeducação e nos cuidados com a saúde", alémzebet ghana"conforto emocional, dinheirozebet ghanamomentoszebet ghanadificuldade, acesso a empregos, consultas com profissionais da saúde, encontros com advogados ou com representantes do poder público e até vagaszebet ghanaclínicaszebet ghanadesintoxicação".

Spyer menciona também o papel como nova redezebet ghanarelacionamentos que igrejas pentecostais tiveram para milhareszebet ghanatrabalhadores rurais que migraram do interior do Nordeste para a periferiazebet ghanagrandes centros urbanos e se afastaramzebet ghana"redeszebet ghanaajuda mútua dentro dos espaços familiares"zebet ghanasuas terras natais.

Já no caso do protestantismo histórico, o progresso econômico "resultazebet ghanaum estilozebet ghanavida austero" que se relaciona com o mundo por meio do trabalho e da produçãozebet ghanariqueza.

Segundo Spyer, "pentecostais e especialmente protestantes históricos frequentemente rejeitam a ideiazebet ghanaque a conversão possa ser justificada por uma ambiçãozebet ghanaprosperidade material. Muitos entendem que a melhorazebet ghanacondições pode acontecer como consequênciazebet ghanauma vida mais regrada e pela influência da igreja, por exemplo, na promoção da educação formal".

Segundo Spyer, o incômodozebet ghanarelação à teologia da prosperidade, mais ligado a setores médios e altos da sociedade (incluindo os protestantes históricos), "seria uma desaprovação a que o pobre ambicione para si aquilo que faz parte da vida dos brasileiros mais ricos, como viajarzebet ghanaavião, fazer turismo para o exterior e consumir produtos caros".

O terceiro fator apontado por Guadalupe para a transformação evangélica no Brasil seria ligado à política.

O panozebet ghanafundo era uma crisezebet ghanaideologias e dos partidos políticos tradicionais, cujo auge foi o declínio do comunismo, gerando "vácuos e bolsõeszebet ghanapoder que foram deixados sem uma representação política viável na região".

Assim, a política se mostraria um meiozebet ghanaevangelização das massas ezebet ghanagruposzebet ghanainfluência na sociedade, como políticos, empresários e comunicadores.

Um dos marcos na participação políticazebet ghanaevangélicos no Brasil se deu nos anos 1980, simbolizada na mudança do lema dominante "crente não mexe com política" pelo avanço do slogan "irmão votazebet ghanairmão".

Preconceito e atuação no debate público

Por causa desse conjuntozebet ghanacaracterísticas, o evangélicos costumam ser alvozebet ghanapreconceitozebet ghanadiversos lados. Em algumas situações, são pejorativamente chamadoszebet ghanafanáticos, hipócritas (por supostamente praticarem o oposto do que pregam), alienados e preconceituosos.

Parte disso acontece porque evangélicos não aceitam a posição passivazebet ghanavulneráveis, submissos ou humildes, na visão do antropólogo Juliano Spyer,zebet ghanaseu livro Povozebet ghanaDeus. "(O evangélico) é acusadozebet ghanaser manipulado ouzebet ghanaser avarento por querer ter as mesmas coisas que seus críticos desfrutam: viajar, se vestir bem e ir a restaurante."

Para alémzebet ghanaataques com ou sem fundamento, o antropólogo e professor Ronaldo Almeida, da Unicamp, identifica quatro eixos na atuação da camada evangélica mais conservadora no debate público.

São eles: a defesa da moral (antiaborto, antieducação sexualzebet ghanaescolas, etc.), o discurso da ordem (redução da maioridade penal, endurecimento das lei penais etc.), a defesazebet ghanaum Estado menos intervencionista nas relações sociais e econômicas e a demonizaçãozebet ghanaadversários políticos e religiosos (esquerda e religiões fora da tradição judaico-cristã).

Mas a brasilianista e cientista política americana Amy Erica Smith (Iowa State University) lembra,zebet ghanaartigo sobre o tema, que a atuação políticazebet ghanareligiososzebet ghanadireção aos eleitores mais conservadores nos últimos anos não se resumiu aos evangélicos.

Juliano Spyer

Crédito, Juliano Spyer/Acervo pessoal

Legenda da foto, Antropólogo Juliano Spyer afirma que evangélicos são alvoszebet ghanapreconceito por questões religiosas, sociais e econômicas

Em 2010, por exemplo, o papa Bento 16 instruiu bispos a orientarem os brasileiros católicos que não votassemzebet ghanacandidatos pró-legalização do aborto.

"Católicos e evangélicos se encontram com frequência no mesmo ladozebet ghanadebates ideológicos sobre questões ligadas à sexualidade, ao aborto e aos direitos das mulheres."

Mas ao longo dos anos, conta Smith, lideranças católicas se tornaram mais cautelosaszebet ghanase posicionar politicamente, enquanto as evangélicas seguem caminho inverso.

Segundo Smith,zebet ghana2014 quase metade dos evangélicos brasileiros ouviram seus pastores falarem sobre campanha eleitoral nas semanas que antecederam o pleito.

Isso não significa, ressalta a pesquisadora, que seja direta e automática a influênciazebet ghanabispos e pastores nos votos dos fiéis. Em geral, o principal efeito é a maior participação política dos eleitores evangélicos, e não o direcionamento deles para votoszebet ghanarebanho no candidato A ou B.

Há, no entanto, grande influência na pauta legislativa.

"A presença evangélica na crescente direita ideológica só tende a crescer nos próximos anos. Entre os evangélicos brasileiros, a defesazebet ghanapolíticas que promovem posições conservadoraszebet ghanaquestõeszebet ghanasexualidade e família parece estar crescendo com fortes ligações à missão teológica", afirma Smith.

Em quem os evangélicos votam e por quê?

No segundo turno da eleição presidencialzebet ghana2018, por exemplo, quase 105 milhõeszebet ghanapessoas foram às urnas.

Dentre eles, estima-se que 31,4 milhões eram evangélicos — 21,7 milhões votaramzebet ghanaJair Bolsonaro (então PSL) e 9,7 milhões,zebet ghanaFernando Haddad (PT). Ou seja, quase 70% dos evangélicos votaramzebet ghanaBolsonaro. Em comparação, entre os católicos Bolsonaro obteve 51% dos votos válidos.

Grande parte das lideranças evangélicas aderiram à campanhazebet ghanaBolsonarozebet ghana2018, como Edir Macedo, Silas Malafaia (Assembleiazebet ghanaDeus Vitóriazebet ghanaCristo), Valdemiro Santiago e R.R. Soares (Igreja Internacional da Graçazebet ghanaDeus).

"Eu vou votar no Bolsonaro, analisei todos os projetos e o dele é o melhor, principalmentezebet ghanarelação à ideologiazebet ghanagênero. Estão convencendo que meninos podem ser meninas, e meninas podem ser meninos", disse à época o missionário R.R. Soares, líder da Igreja Internacional da Graçazebet ghanaDeus.

Mas qual é o peso dos pastores nas escolhas dos fiéis nas urnas? Pesquisas com eleitores apontam que esses líderes influenciam o votozebet ghanasomente trêszebet ghanacada 10 fiéis evangélicos — a taxa é um pouco maior entre neopentecostais (como as denominações Universal e Renascer),zebet ghana31%, do que entre os evangélicos como um todo,zebet ghana26%.

"Não é um votozebet ghanacabresto. Mesmo quando o pastor é candidato e toda a igreja é mobilizada para votar nele, há casoszebet ghanaderrota fragorosa. Os membros parecem estar obedientes, mas não estão", disse o sociólogo Paul Freston, que estuda o papel dos evangélicos na política desde os anos 1980,zebet ghanaentrevista à BBC News Brasil sobre o tema.

Manifestantes da Marcha para Jesus

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Bolsonaro somou quase 70% do voto evangélico no segundo turnozebet ghana2018

"Estamos falandozebet ghanapessoas que são cidadãos comuns, têmzebet ghanainserção na sociedade. Elas levamzebet ghanaconsideração fatores pessoais, profissionais,zebet ghanafamília,zebet ghanaclasse."

Muitos pesquisadores brasileiros investigam o que motiva os votos dos evangélicos, e quão diferentes são esses motivos do restante da população. Como dito antes, é importante ressaltar que os evangélicos não são um grupo uniforme, formado apenas por pessoas com as mesmas posições políticas.

Um exemplo disso é o fatozebet ghanaque o apoiozebet ghanalideranças neopentecostais populares a Bolsonaro continua forte, mas, segundo pesquisaszebet ghanaintençãozebet ghanavoto, o apoio e a vantagem eleitoral dele entre eleitores deste segmento têm caídozebet ghanarelação a 2018.

O que, então, está por trás do comportamento eleitoral dos eleitores evangélicos? Eles são mais conservadoreszebet ghanamédia do que outros grupos da sociedade brasileira?

Especialistas apontam que pautas conservadoras têm atraído tanto católicos quanto evangélicos há décadas no país.

Mas, para os pesquisadores Paulo Gracino Junior e Carlos Henrique Souza, parte dos evangélicos brasileiros aproveita esse novo espaço no debate público para expor suas posições, o que fez com que o grupo se tornasse central na onda conservadora recente no país — que culminou na eleiçãozebet ghanaJair Bolsonaro,

Segundo Gracino Junior e Souza, a candidaturazebet ghanaBolsonaro impulsionou e sintetizou discursivamente o conservadorismo a partirzebet ghanauma articulaçãozebet ghanatorno da família, educação, moralidade e segurança.

Os pesquisadores lembram que algo equivalente ocorreu durante a ditadura militar (1964-85) com o catolicismo conservador.

O elo e o combustível da nova onda conservadora, segundo os pesquisadores, foi o antipetismo, que conseguiu sintetizar todos esses diversos afetos difusos na sociedade, como a fobia ante as novas identidadeszebet ghanagênero e outras pautas minoritárias, a nostalgia da ordem militar e o ódio contra a corrupção na política.

Martinho Lutero

Crédito, Domínio Público

Legenda da foto, Martinho Lutero deu início à Reforma Protestante há maiszebet ghana500 anos

Em outro trabalho sobre o tema, Gracino Junior (Iuperj), desta vezzebet ghanaconjunto com as cientistas políticas Mayra Goulart (UFRJ) e Paula Frias (Uerj), afirma que o "ressentimento é o afeto que catalisa os vínculoszebet ghanaidentificação entre a candidaturazebet ghanaBolsonaro e seu eleitorado, sobremaneira, o evangélico".

Há uma perspectivazebet ghanaabandono por trás desse ressentimento, explicam os pesquisadores, ligada a uma demandazebet ghanaeleitores órfãos que acabaria casando com a oferta do populismozebet ghanadireitazebet ghanaBolsonaro.

Segundo o triozebet ghanaestudiosos, isso ocorre principalmente com os evangélicos porque nas últimas três décadas eles passaramzebet ghanagrupo ressentido, que se sentia humilhado cultural e socialmente, para uma camada social organizada, heterogênea, mas com forte representação cultural e política.

E agora esse grupo se vê quase que profeticamente uma variaçãozebet ghanaum dos versículos bíblicos mais populares no meio evangélico pentecostal: "os humilhados serão exaltados".

Segundo os pesquisadores Ricardo Mariano e Dirceu André Gerardi,zebet ghanaestudo sobre o tema, o antipetismo evangélico começouzebet ghana1989 na política brasileira, perdeu força nos governos Lula e Dilma, mas ganhou novo impulso a partirzebet ghana2006, a partir das propostaszebet ghanacombate à homofobia ezebet ghanadescriminalização do aborto.

Em 2015, o afastamento desse grupo político chegou ao auge, com 89% da bancada evangélica votando a favor do impeachmentzebet ghanaDilma.

Por outro lado, a cientista política Ana Carolina Evangelista, diretora-executiva do Iser (Institutozebet ghanaEstudos da Religião), ressalta que a identidade religiosa pesa menos na escolha eleitoral dos evangélicos do que diversas demandas sociais, políticas, econômicas e também religiosas.

Para Evangelista, a chamada "agenda moral" tem servido menos a demandas e propostaszebet ghanamudanças e mais ao papel antiesquerdazebet ghanaacionar medos e pânicos no eleitoradozebet ghanaeixos como defesa da moral e da família e força e ordem na segurança pública.

José Luis Pérez Guadalupe, por outro lado, afirma que não há um "voto evangélico" único, mas sim "o voto dos evangélicos" plural e pulverizado.

Em 2018, segundo ele, houve uma maior união (e não unanimidade) desses votos por causa da agenda moral (contra o direito ao aborto e pró-família), que se tornou central na atuação político-eleitoralzebet ghanalideranças e denominações evangélicas.

Uma das evidênciaszebet ghanaque o voto dos eleitores evangélicos não é baseado apenaszebet ghanafatores religiosos, segundo Guadalupe, é a sub-representação eleitoral desse segmento religioso na Câmara dos Deputados.

Em 2019, havia 82 representantes evangélicos na Casa, equivalente a 16% dos 513 deputados — aquém da proporçãozebet ghanaevangélicos na população brasileira (cercazebet ghana30%).

Mesmo assim, isso não significa que a Frente Parlamentar Evangélica, conhecida como "bancada evangélica", tenha pouca influência no Congresso. Pelo contrário. Ao se associar a outros gruposzebet ghanainteresse, como a bancada ruralista, por exemplo, ela consegue avançar ou barrar projetos sem precisar ser majoritária na Câmara.

*Com informações adicionais da BBC,zebet ghanaRafael Barifouse (BBC News Brasil) ezebet ghanaEdison Veiga (colaboração para a BBC News Brasil)

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