Eleições 2022: 'Perseguição contra cristãos já começou no Brasil. Só que dentro da igreja':casa de aposta 1 real
À BBC News Brasil, eles dizem que, enquanto muitoscasa de aposta 1 realseus irmãoscasa de aposta 1 realfé apoiam Bolsonaro por medocasa de aposta 1 realenfrentarem episódios futuroscasa de aposta 1 realintolerância religiosa no Brasil, a perseguição contra cristãos já existiria no país.
Nas palavras dos entrevistados, ela acontece dentro dos próprios templos, puxada principalmente por líderes religiosos que ameaçam com castigo divino ou punição dentro da própria igreja aqueles que discordam da fusão entre política e religião que tem marcado estas eleições.
A BBC News Brasil pediu esclarecimentos a todas as igrejas citadas nesta reportagem: Igreja Quadrangular, Igreja Batista, Assembleiacasa de aposta 1 realDeus e Santuário católicocasa de aposta 1 realSão Miguel Arcanjo. Nenhuma respondeu às solicitaçõescasa de aposta 1 realcomentários.
Enquanto pastores influentes como André Valadão e Silas Malafaia dizem que igrejas devem ter posição política clara e fazem campanha pela reeleição do atual presidente, a BBC News Brasil recebeu maiscasa de aposta 1 real100 relatoscasa de aposta 1 realcristãos, principalmente evangélicos, que narram episódioscasa de aposta 1 realpressão ou intimidação dentro dos templos na reta final da eleição.
Muitos pediram anonimato, com medocasa de aposta 1 realconsequências para si próprios ou suas famílias dentro das igrejas.
Outros já sofreram consequências.
'Queimar quem votacasa de aposta 1 realLula'
Alisson Santos diz ter sido expulso junto à esposa da igreja evangélica que frequentava desde 2019casa de aposta 1 realAracaju (SE). Até o iníciocasa de aposta 1 realoutubro, ambos trabalhavam como evangelizadorescasa de aposta 1 realjovens no templo.
Em entrevista à BBC News Brasil, ele diz que o apoiocasa de aposta 1 realpastores a Bolsonaro e seus aliados sempre existiu, mas se intensificou no segundo semestre, quando um dos pastores se candidatou a deputado estadual.
"A partir daí,casa de aposta 1 realtodas as reuniões a gente tinha que orar por esse pré-candidato e fazia reuniões para falar sobre isso", ele conta. "Diziam que Bolsonaro é o único candidato que defende a liberdade religiosa, o único que vai manter igrejas abertas. E que, se Lula for eleito, ele vai fechar as igrejas, queimar as igrejas".
Ele conta que viu frequentadores da igreja sendo expostos no altar por discordarem dos candidatos apoiados pela igreja.
"Ele (o pastor), antes do culto, procurou pessoas para perguntarcasa de aposta 1 realquem elas votariam. Algumas pessoas disseram que votariam num candidato diferente do dele. Na hora do culto ele usou essas pessoas como exemplo do que não fazer", ele diz.
"Ele fez isso durante a Palavra, duas semanas antes da eleição."
Para o jovem, o tom violento adotadocasa de aposta 1 realalguns cultos contradiz o propósito dos templos religiosos.
"Teve um cultocasa de aposta 1 realque o pastor chegou e falou que se o candidato Lula fosse eleito e fossem queimar as igrejas, ele ia mandar queimar primeiro quem votou nele. Isso não foi fora da igreja, não foi nos corredores, foi na frente da igreja toda", ele diz.
'Minha esposa só chora'
Após semanas evitando se posicionar na frentecasa de aposta 1 realpastores, Alisson compartilhou no status do WhatsApp um trechocasa de aposta 1 realuma entrevistacasa de aposta 1 realBolsonaro à revista IstoÉ Gente,casa de aposta 1 realfevereirocasa de aposta 1 real2000.
Questionado na ocasião sobrecasa de aposta 1 realopiniãocasa de aposta 1 realrelação ao aborto, que hoje condena veementemente, o então deputado respondeu: "Tem que ser uma decisão do casal".
Alisson também compartilhou um vídeo gravadocasa de aposta 1 real2017, quando Bolsonaro discursou dentrocasa de aposta 1 realum templo da maçonaria — entidade criticada por parte dos evangélicos.
Ambas as imagens viralizaram recentemente nas redes sociais e foram usadas por opositores para ilustrar mudanças no discurso religiosocasa de aposta 1 realBolsonaro ao longo das últimas duas décadas.
"Foi justamente por esse vídeo que eles marcaram uma reunião da diretoria", conta o jovem.
"Ele (o pastor) disse: 'Se vocês que não querem seguir o posicionamento da igreja, procurem outro lugar'. E isso pra mim foi um absurdo. E não foi nem particularmente, foicasa de aposta 1 realfrente a toda a diretoria."
Os dois deixaram seus cargos e não frequentam mais a igreja desde então.
"É muito triste. Minha esposa só chora desde o ocorrido. Ela só chora porque é o lugar que sempre nos acolheu", afirma. "A perseguição contra os cristãos já começou no Brasil. Só que dentro da própria igreja."
'Perseguição dentro do templo'
Marta vive numa capital nordestina. Muito religiosa, ela também diz que se viu obrigada a deixar a igreja que frequentava há décadas por discordar da pressãocasa de aposta 1 realpastores por apoio ao presidente.
"Sinceramente, eu me senti pressionada. Fiquei muito triste, decepcionada primeiramente. E, sinceramente, não tenho vontadecasa de aposta 1 realretornar para o templo mais porque Jesus não é isso. Ele não veio para fazer pressão", diz.
"Você passa a ser perseguido dentro do próprio templo pelos irmãos, na fé e pelos próprios pastores. Porque, se você não obedece, se você não segue aquele político que eles escolheram para votar, você não é cristão. Acasa de aposta 1 realfé, ela está sendo colocada à prova."
Durante toda a entrevista, Marta cita trechos e ensinamentos da Bíblia.
"Não é assim que Jesus nos ensinou, que a gente fosse agressivo, que a gente que se armasse e partisse para cima do nosso adversário. Não é isso que a palavra do Senhor ensina. A Palavracasa de aposta 1 realDeus diz que a gente tem que mostrar o amor, a misericórdia, a bondade", afirma. " Jesus, ele é amor, é bondade. Ele veio para curar, salvar e libertar, e não para colocar medo nas pessoas."
Mãecasa de aposta 1 realuma criança pequena ecasa de aposta 1 realum adolescente, ela conta que a pressão política e o consequente afastamento da Igreja abalou toda a família.
"Isso mexe muito com a família, porque temos uma base religiosa, uma base cristã. Você fala para os seus filhos, você prega para os seus filhos sobre acasa de aposta 1 realdoutrina que você crê. E,casa de aposta 1 realrepente, o seu filho pergunta 'Mãe, que Cristo é esse'? 'Que doutrina é essa'? 'Que religião é desse jeito? Sobre pressão, sobre ditadura, sobre não poder escolher?'"
'Ninguém se importou com a nossa saída'
Quase 3 mil quilômetros separam Martacasa de aposta 1 realDeloana, uma assistente socialcasa de aposta 1 realOsasco (SP) que frequentava a Assembleiacasa de aposta 1 realDeus há 12 anos. A história, no entanto, se repete.
"Sinto que perdi uma referência. De verdade. Sempre acrediteicasa de aposta 1 realDeus. Sempre gosteicasa de aposta 1 realficar na igreja. Sempre gosteicasa de aposta 1 realparticipar dos grupos. Era realmente algo que fazia parte da minha vida", ela conta por videoconferência.
"E eu sinto que isso se perdeu. Não reconheço mais a Igreja hoje como a que conheci há dez anos. Por mais que a Igreja sempre tenha tido um posicionamento conservador, tenha a questão da doutrina, eu vejo as coisas hojecasa de aposta 1 realforma muito violenta. Se pensocasa de aposta 1 realforma diferente, vem uma palavracasa de aposta 1 realcondenação. É como se eu pudesse ser punida por um pensamento que seja contrário."
A punição, na prática, aconteceu. Tudo começou quando seu marido, que frequentava a igreja desde criança, procurou um presbítero após um culto após se sentir ofendido por algumascasa de aposta 1 realsuas falas.
"Meu esposo terminou o ensinamento dos adolescentes e os levou para o final da aula para adultos. Esse homem estava finalizando a aula. Ele começou a passar alguns slides, colocando como se fosse o antes e depois dos jovens que entram nas universidades públicas. Era uma espéciecasa de aposta 1 realalerta para os pais que estavam ali", ela conta.
As imagens, segundo Deolana, mostravam um "antes e depois"casa de aposta 1 realjovens que entramcasa de aposta 1 realuniversidades públicas. "O jovem todo arrumadocasa de aposta 1 realum primeiro momento, e depois ele fazendo usocasa de aposta 1 realdroga ou se 'tornando homossexual' dentro da universidade e coisas desse tipo. Querendo deixar bem claro que a universidade pública era um ambiente perigoso para os jovens."
Eles disseram ao religioso que aquele discurso era inapropriado e que o próprio maridocasa de aposta 1 realDeolana estudacasa de aposta 1 realuma universidade pública.
"Ele já se alterou bastante, pelo que eu entendi, por ter sido questionado por uma fala. Como se ele já não admitisse ser questionado. E aí chegou o momentocasa de aposta 1 realele falou: 'Estou vendo que você écasa de aposta 1 realesquerda e sinto muito por você'", conta a assistente social.
"E ele falou como se fosse um posicionamento que fosse trazer uma condenação para a gente, como se fosse algo absurdo. Em momento algum o meu marido falou dessa questãocasa de aposta 1 realpolítica,casa de aposta 1 realesquerda ecasa de aposta 1 realdireita. Ele estava querendo focar na fala delecasa de aposta 1 realrelação a universidadecasa de aposta 1 realsi, e aí ele misturou vários assuntos."
O casal não conseguiu mais ir à Igreja depois do episódio.
"A gente se sentiu descartável, né? Ficamos com essa visãocasa de aposta 1 realque é um ambientecasa de aposta 1 realque a gente não vai ser bem-vindo por causa da forma que a gente pensa. O que me chateou mais a gente foi essa intolerância. Que o pensamento contrário seja colocado dessa forma, como se fosse pecado ou coisas do tipo", ela diz.
"E com isso a gente não retornou mais, nem ninguém procurou a gente. Então, ninguém se importou, essa é a verdade, com a nossa saída."
Santinhos
João* e a esposa moramcasa de aposta 1 realSão Paulo (SP) e, diferentecasa de aposta 1 realAlisson, Marta e Deloana, vão continuar frequentando a igreja, apesar da pressão pelo votocasa de aposta 1 realBolsonaro —casa de aposta 1 realquem o casal não pretende votar.
"O nomecasa de aposta 1 realBolsonaro é citado normalmente (nos cultos). Os irmãos, eles se dirigem ao presidente como o candidato correto. É o candidato do bem. E os demais candidatos, todos, independente da ideologia, são os adversários. São candidatos do mal, digamos."
Ele conta que, além do voto para presidente, pastores chegaram a indicar nomes e númeroscasa de aposta 1 realcandidatos a cargos legislativos no primeiro turno dentro do templo.
"Geralmente a gente tem essa parte dos avisos no final dos cultos. Então, o pastor comentou que alguns irmãos tinham perguntado para ele alguma sugestãocasa de aposta 1 realcandidatos para deputadoscasa de aposta 1 realsenadores (…) Então ele falou que, para quem quisesse, estava sendo montada uma listacasa de aposta 1 realcandidatoscasa de aposta 1 realdeputadoscasa de aposta 1 realque fosse, que seria disponibilizada para os irmãos que procurassem."
Frequentes nos comentários ouvidos pela reportagem, os relatos sobre indicaçõescasa de aposta 1 realvotos dentro e foracasa de aposta 1 realtemplos não vem sócasa de aposta 1 realevangélicos.
Católica, a paranaense Paula Izidro diz que essa foi a gota d'água.
"Eu tinha o costumecasa de aposta 1 realparticiparcasa de aposta 1 realuma caminhada com peregrinos da região ao Santuáriocasa de aposta 1 realSão Miguel Arcanjo. E na porta do santuário estavam entregando o santinhocasa de aposta 1 realum candidato. Toda aquela coisa da peregrinaçãocasa de aposta 1 realfé acabou para mim ali", ela diz.
"Aquilo me deixou indignada, porque eles usaram o santuáriocasa de aposta 1 realpalanque. O padre fala abertamente sobre engajar na eleição, posta foto com Bolsonaro, e isso me deixa muito, muito deprimida. Logo ele que defende tortura, penacasa de aposta 1 realmorte, que não se importou com as pessoas na pandemia e tudo mais. Não condiz com o contexto religioso", ela diz.
'Perdi minha fé. Não tenho mais religião'
Enquanto muitos dos cristãos ouvidos pela reportagem contam que decidiram se afastarcasa de aposta 1 realsuas igrejas e buscar outras opções, ondecasa de aposta 1 realposição política seja respeitada, Luiz Fernando, que vive no interior da Bahia e era evangélico desde os 12 anos, tomou decisão mais drástica.
"Durante todos os anos que eu estive na Igreja, passamos por eleições presidenciais, por eleições municipais e nunca, até 2018, foi abordada essa questãocasa de aposta 1 real'votecasa de aposta 1 realtal candidato'. Era uma coisa que deixava todo mundo muito à vontade. Você não sabia se o seu irmão da cadeira da frente era a favor do partido A ou do partido B. Não sabia se a pessoa ao seu lado era a favorcasa de aposta 1 realpartido A ou partido B. Tinha essa liberdadecasa de aposta 1 realvoto e ninguém era recriminado por isso", ele lembra.
"Em 2018, eleição presidencialcasa de aposta 1 realque Jair Bolsonaro apareceu como o candidato cristão, que levantava a bandeira da família, da religiosidade, aquela coisa toda, eu percebi que a entonação dos cultos, o direcionamento dos cultos da igreja modificou. O pastor líder,casa de aposta 1 realculto, no púlpito, falou: 'Vamos como cristãos votarcasa de aposta 1 realJair Bolsonaro, pois ele representa a família e ele representa a nós cristãos. Aí, naquele momento eu entendi e falei 'não'. A política entrou na Igreja."
"Aí eu simplesmente percebi que tudo o que eu tinha vivido, aquela coisacasa de aposta 1 realpaz,casa de aposta 1 realamor ao próximo,casa de aposta 1 realtentar conquistar através do amor, foi tudo por água abaixo, porque eu vi o ódio presente nas pessoas, nos meus amigos que eram da igreja. Eu vi essa coisacasa de aposta 1 realguerra. Então eu falei: 'não, não dá mais, me desiludi com a religião. Eu simplesmente deixeicasa de aposta 1 realir'."
A decepção o levou a, pela primeira vez na vida, se declarar "sem religião".
"Depois desse governo que se diz cristão, eu não consigo mais me relacionar com Deus intimamente. Na última pesquisa do IBGE, eu já declarei que não tenho fé. (Perguntaram) 'Você é crente, você é católico, qual é acasa de aposta 1 realreligião?' Eu falei: 'Não, não tenho religião'. Então não sei o que eles colocaram. Se agnóstico ou ateu, alguma coisa assim. Mas eu já não me coloquei mais como cristão, não me representa. Isso já não me representa mais."
"Eu percebi que para eu voltar a ter um relacionamento com Deus, a Igreja precisa mudar. E eu vejo que a Igreja não quer mudar."
*Nome alterado a pedido do entrevistado
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