Eleições 2022: intolerância religiosa vai piorar seja qual for o eleito, diz pesquisadora:afiliado b2xbet

Em agosto, por exemplo, a primeira-dama Michelle Bolsonaro criticou Lula nas redes sociais por um vídeoafiliado b2xbetque o petista aparece sendo abençoado por mulheresafiliado b2xbetreligiões afro-brasileiras.

"Isso pode, né? Eu falarafiliado b2xbetDeus não pode, né", escreveu a primeira-dama,afiliado b2xbetresposta a uma publicaçãoafiliado b2xbetuma vereadora bolsonarista que falava que Lula "vendeu a alma" para vencer as eleições.

Bolsonaristas também tem associado a companheiraafiliado b2xbetLula, a socióloga Rosângela Lula da Silva (conhecida como Janja), às mesmas religiõesafiliado b2xbetmatriz africana. O presidente também tem dito que as eleições são uma batalha do "bem contra o mal" — e ele seria o bem.

Nesta quarta-feira, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou a retirada das redes sociaisafiliado b2xbetum vídeo que ligava Lula ao satanismo.

Por outro lado, Bolsonaro também foi ligado aos maçons depoisafiliado b2xbetum vídeoafiliado b2xbet2017,afiliado b2xbetque ele apareceafiliado b2xbetuma loja da maçonaria, viralizar nas redes sociais nesta semana.

Para Tayná Louise De Maria, o petista tem pouco a ganhar com vídeos como esse, e deveria se aproximarafiliado b2xbetreligiosos progressistas que o ajudem a conversar com a parcela evangélica do eleitorado.

Já a campanhaafiliado b2xbetBolsonaro, diz a pesquisadora, se apoia no fundamentalismo cristão e racismo religioso para tentar vencer as eleições no segundo turno.

Confira a entrevista abaixo.

afiliado b2xbet BBC News Brasil - Por que cristãos, principalmente evangélicos, apoiam pautas conservadoras como as defendidas por Bolsonaro?

afiliado b2xbet Tayná Louise De Maria - O bolsonarismo segue uma pauta que não está só no Brasil, masafiliado b2xbetvários países cristãos, como os Estados Unidos e Itália, que recentemente elegeu uma políticaafiliado b2xbetextrema-direita (Giorgia Meloni, cujo partido Irmãos da Itália ganhou as eleições para formar um governo).

Ele se utilizaafiliado b2xbetum discurso que chamoafiliado b2xbetneofundamentalismo religioso cristão, muito influenciado pelos Estados Unidos.

É preciso voltar um pouco no tempo para entender isso.

Até a Segunda Guerra Mundial, o fundamentalismo cristão nos Estados Unidos atacava principalmente a ciência e o ensino da teoriaafiliado b2xbetDarwin nas escolas, porque enxergava esses elementos como uma ameaça ao cristianismo.

A partir da décadaafiliado b2xbet1960, com a influência da Guerra Fria, ele mudaafiliado b2xbetpauta para um combate ao comunismo, que vira o principal inimigo.

Nessa época, a Suprema Corte dos Estados Unidos revogou várias leis criadas por cristãos conservadores, como a lei da sodomia que proibia o casamento gay e a legislação Jim Crow, que era racista e segregracionista. Todas essas mudanças foram associadas ao comunismo.

Os fundamentalistas cristãos passam a ver a política como um campoafiliado b2xbetbatalha, porque as leis que sustentavam a religião estavam sendo revogadas. Eles começaram a disputar e ocupar as casas legislativas.

Eu coloco esse ponto como o início da bancada da Bíblia.

afiliado b2xbet BBC News Brasil - Como isso influenciou o Brasil?

afiliado b2xbet De Maria - É preciso lembrar que o golpe militarafiliado b2xbet1964 já teve grande apoioafiliado b2xbetparte do catolicismo e dos evangélicos.

No período da redemocratização, essa influência continuou no Brasil eafiliado b2xbetoutros países cristãos.

A força do bolsonarismo e do neofundamentalismo religioso está na pautaafiliado b2xbetcostumes.

Eles defendem os costumes e a cultura do cristianismoafiliado b2xbetoposição ao que eles acreditam ser a ameaça comunista. Para eles, o comunismo se revelaafiliado b2xbetmuitas maneiras.

Tudo é chamadoafiliado b2xbetcomunismo: religiões afro-brasileiras, combate ao racismo e legalização do aborto, por exemplo. Para os fundamentalistas cristãos, até uma mulher que faz um aborto para não morrer é uma comunista.

afiliado b2xbet BBC News Brasil - Como essa pauta encontra ressonância nas ideiasafiliado b2xbetOlavoafiliado b2xbetCarvalho?

afiliado b2xbet De Maria - O fundamentalismo cristão precisa sempre ter um inimigo. Isso vai da ciência aos imigrantes, por exemplo.

Para o falecido Olavoafiliado b2xbetCarvalho, o Ocidente e o cristianismo estão ameaçados pela ideologiaafiliado b2xbetesquerda e por outras religiões.

O Ocidente é uma ideia que tem o cristianismo como umafiliado b2xbetseus pilares. Então, na narrativaafiliado b2xbetOlavo e dos fundamentalistas, esses pilares precisam ser defendidos.

Mas essa narrativa se esquece que o progressismo e a própria ideiaafiliado b2xbetesquerda também nasceram no Ocidente, também nasceram no berço do cristianismo e se utilizamafiliado b2xbetvalores cristãos.

afiliado b2xbet BBC News Brasil - Pastores evangélicos famosos, como Silas Malafaia e Edir Macedo, também apoiaram governos do PT, mas essa pauta conservadora não tinha tanta força. Bolsonaro tirou o fundamentalismo do armário?

afiliado b2xbet De Maria - O fundamentalismo cristão é camaleônico. Ele se adapta às circunstâncias, está sempre ao lado do poder.

Talvez alguns pares não gostem do que vou falar, mas acredito que o bolsonarismo, principalmenteafiliado b2xbetface fundamentalista cristã, também é fruto do antipetismo.

Os principais líderes religiosos que chamoafiliado b2xbetfundamentalistas, como Silas Malafaia e Edir Macedo, romperam com o PT depois dos escândalosafiliado b2xbetcorrupção envolvendo o partido.

Isso incentivou muitos religiosos a rever suas posições e relações com políticos.

Mas Bolsonaro não é só apoiado por pastores evangélicos, mas por religiosos que também são empresários.

A intelectualidade bolsonarista é cristã, mas, antesafiliado b2xbettudo, também é liberal, faz parte do empresariado, do agronegócio. Essas pessoas não viam tantos benefícios nos governos do PT, e agora se aproveitam da religião emafiliado b2xbetnarrativa eleitoral.

afiliado b2xbet BBC News Brasil - O Brasil vai sair mais intolerante com as religiões depois do segundo turno?

afiliado b2xbet De Maria - Jair Bolsonaro incentiva a intolerância religiosa.

Ele pode não cometer intolerância, mas algumasafiliado b2xbetsuas falas, alguns discursos, incentivam a intolerância e deixam muito à vontade quem quer se comportar dessa forma.

A intolerância e o racismo religiosos vão tomar proporções maiores depois das eleições, seja qual for o resultado. Os fundamentalistas vão se sentir mais à vontade.

afiliado b2xbet BBC News Brasil - Você acredita que Lula e a esquerda estão errando na abordagem com os evangélicos?

afiliado b2xbet De Maria - Para vencer, Lula e a esquerda precisam urgentemente renovarafiliado b2xbetbase e conversar com cristãos liberais. Não digo liberais no sentido econômico, mas evangélicos progressistas que não veem a Bíbliaafiliado b2xbetmaneira literal.

São esses religiosos liberais que vão ajudar a esquerda a convencer os cristãos conservadoresafiliado b2xbetque há outro caminho possível. A intelectualidadeafiliado b2xbetesquerda está muito distante desse religioso.

A esquerda diz que os governos do PT beneficiaram muito a população pobre, mas muitos desses benefícios são relacionados ao poderafiliado b2xbetcompra.

O que eles não entendem é que o pobre também é cristão e não está muito a fimafiliado b2xbetperder aquilo que dá sentido à vida dele. O cristão não quer sentir que seus valores estão ameaçados. E o bolsonarismo pintou Lula como uma ameaça a esses valores.

afiliado b2xbet BBC News Brasil - Na segunda-feira, repercutiu bastante um vídeoafiliado b2xbet2017afiliado b2xbetque Bolsonaro fez campanhaafiliado b2xbetuma loja maçônica. Como o evangélico enxerga essa imagem?

afiliado b2xbet De Maria - O primeiro ponto é que existem muitos pastores maçons, principalmenteafiliado b2xbetigrejas evangélicas tradicionais, como a batista e presbiteriana.

A imagemafiliado b2xbetBolsonaro ligado à maçonaria talvez tenha um impacto negativo entre os pentecostais e neopentecostais.

É uma investida do PTafiliado b2xbetquerer manchar o nomeafiliado b2xbetBolsonaro, uma vez que o Bolsonaro coloca Lula como anti-cristão. Essa ala progressista percebeu que a maçonaria é conhecida por ser uma coisa anti-cristã.

É claro que vai movimentar alguns setores, mas não acho que terá um efeito muito grande.

afiliado b2xbet BBC News Brasil - Por quê?

afiliado b2xbet De Maria - Bolsonaro está convivendo e falando a língua desses religiosos há muito tempo. O PT não vai conseguir mudar issoafiliado b2xbetduas semanas. Não vai virar o voto evangélico perpetuando esse tipoafiliado b2xbetvídeo.

Volto a dizer: para vencer, Lula precisa chamar para conversar líderes religiosos progressistas. São eles que podem mudar a visão dos evangélicos conservadores.

afiliado b2xbet BBC News Brasil - Como o racismo religioso está sendo usado nessa eleição?

afiliado b2xbet De Maria - Esse racismo religioso está muito presente no neofundamentalismo cristão, masafiliado b2xbetmaneira velada, difícilafiliado b2xbetidentificar.

Lula é associado ao comunismo e às religiõesafiliado b2xbetmatriz africana, que são vistas como algo maléfico e que ameaça o cristianismo.

Em muitas igrejas, ouafiliado b2xbetrevistas evangélicas, o mal é sempre representado pelas cores escuras.

Isso tem a ver com uma interpretaçãoafiliado b2xbetuma história da Bíblia, o mitoafiliado b2xbetCam.

Essa história coloca a África como uma região amaldiçoada por causaafiliado b2xbetCam, um dos filhosafiliado b2xbetNoé, que foi amaldiçoado por ver o pai nu. Depois, ele foi enviado à África. Esse mito foi utilizado pelo cristianismo para justificar a escravidão e até hoje tem muita influência na sociedade.

O resultado dessa postura têm se revelado nos últimos anos, com uma sérieafiliado b2xbetataques a terreirosafiliado b2xbetcandomblé e umbanda.

afiliado b2xbet BBC News Brasil - O quanto essa visão incentivada pelo bolsonarismo influencia na vida dos seguidores das religiões afro-brasileiras?

afiliado b2xbet De Maria - Afeta muito o cotidiano dos religiosos. Afeta do momentoafiliado b2xbetque a pessoa coloca suas roupas religiosas até quando anda na rua.

É viver sempre ameaçado porque não se sabe o que pode acontecer nas ruas.

Aqui no Rioafiliado b2xbetJaneiro, por exemplo, já ocorreram vários episódiosafiliado b2xbetviolência, desde criança atacada por estar vestidaafiliado b2xbetbranco até terreirosafiliado b2xbetcandomblé invadidos e destruídos.

A própria democracia se colocaafiliado b2xbetrisco quando uma pessoa não consegue praticarafiliado b2xbetreligião.

afiliado b2xbet BBC News Brasil - Como os evangélicos lidam com posturasafiliado b2xbetBolsonaro que contrariam valores cristãos, como apoio à tortura e armamento da população?

afiliado b2xbet De Maria - Vou fundamentar minha resposta citando uma série que assisti na Netflix chamada The Family, que conta como fundamentalistas religiosos chegaram ao poder nos Estados Unidos.

Esses fundamentalistas acreditam que um político 'escolhido por Deus' é humano e pode errar. Então, sempre há posturas que são deixadas debaixo do tapete porque os benefícios são considerados maiores do que os erros.

Há também a construçãoafiliado b2xbetnarrativas para desvirtuar a história. Por exemplo, alguns dizem que Bolsonaro nunca atrasou as vacinas contra a covid-19, ou que as vacinas não funcionam, então não houve problemas nesse atraso.

Mesmo que as pessoas desconfiem dessas narrativasafiliado b2xbetum primeiro momento, depois são convencidasafiliado b2xbetque existe um compromisso maiorafiliado b2xbetBolsonaro e que isso precisa prevalecer.

- Este texto foi publicadoafiliado b2xbethttp://vesser.net/brasil-63152672

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