A síndrome inventada por médicos italianos que salvou dezenascodigo galera betjudeus dos nazistas :codigo galera bet

Roma

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A comunidade judaicacodigo galera betRoma teve seus direitos restritos

Nessa época, começavam a chegar informações sobre os camposcodigo galera betconcentração nazistas. E, para evitar a temida deportação, muitos judeus refugiaram-se com seus vizinhos, mas principalmentecodigo galera betigrejas, monastérios, conventos e atécodigo galera bethospitais administrados pela Igreja Católica.

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E foicodigo galera betum desses centroscodigo galera betsaúde que três médicos acolheram dezenascodigo galera betpessoas e as diagnosticaram com uma doença mortal e terrível, da qual ninguém havia ouvido falar até então. O que é perfeitamente natural, já que a doença nunca existiu.

Judeus sendo expulsos por soldados

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Na Itália, muitos judeus se refugiaramcodigo galera betinstituições católicas para fugir do nazismo

Remédio original e perigoso

Em 16codigo galera betoutubrocodigo galera bet1943, Roma acordou sobressaltada.

Os soldados alemães lançaram-se sobre o gueto judeu, a apenas três quilômetroscodigo galera betdistância do Vaticano.

E começaram a prender homens, mulheres e crianças. Maiscodigo galera betmil pessoas foram detidas.

Giovanni Borromeo

Crédito, YAD VASHEM

Legenda da foto, O médico Giovanni Borromeo e outros dois colegas inventaram uma doença para salvar dezenascodigo galera betjudeus mantidos por mesescodigo galera bet'isolamento'

Mas alguns tiveram a sortecodigo galera betescapar e chegaram ao hospital São João Calibita, conhecido pelos romanos como Fatebenefratelli ("Faz o bem, irmão",codigo galera betportuguês).

Com 437 anoscodigo galera bethistória, o centro médico pertence à Santa Sé e ficacodigo galera betuma pequena ilha no rio Tigre. Dali, pode-se ver a Grande Sinagogacodigo galera betRoma e o local onde, um dia, ficava o gueto.

Os nazistas logo chegaram ao hospital para continuar a perseguição. Mas, o então diretor do hospital, Giovanni Borromeo – católico fervoroso com bons contatos na Santa Sé –, recebeu os soldados e se ofereceu a mostrar a eles o recinto.

Mas, ao chegar a uma sala, Borromeo advertiu que, ali, havia pessoascodigo galera betisolamento. Elas apresentavam sintomascodigo galera betuma estranha e perigosa doença que o hospital estava começando a investigar.

Soldado com máscara

Crédito, Zabelin

Legenda da foto, A possibilidadecodigo galera betcontrair uma doença perigosa, cujo nome recordava a temida tuberculose, afastou os alemães do hospital

O diretor disse aos alemães que se tratava da síndrome K, uma doença que descreveu como altamente contagiosa, que afetava o sistema neurológico, levando o paciente à morte.

"Chamamoscodigo galera bet'síndrome K' devido ao comandante [Albert] Kesselring [responsável pela ocupação da Itália]", afirmou o médico Vittorio Sacerdoti à BBC,codigo galera bet2004. "Os nazistas pensaram que fosse câncer ou tuberculose e fugiram."

Sacerdoti, Borromeo e o médico e antifascista italiano Adriano Ossicini foram os autores intelectuais do artifício, que permitiu salvar dezenascodigo galera betjudeus da morte certa.

Sacerdoti era judeucodigo galera betorigem e foi contratado por Borromeo para trabalhar no hospital romano, contrariando as leis discriminatórias aprovadas por Mussolini no final dos anos 1930, que proibiamcodigo galera betcontratação.

Arquivos do Vaticano

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Em 2020, o papa Francisco autorizou a abertura dos arquivos pertencentes ao controverso papadocodigo galera betPio 12, que cobriu o período da Segunda Guerra Mundial

Existem também versões que garantem que a doença fictícia recebeu o nomecodigo galera betsíndrome K devido a Herbert Kappler, chefecodigo galera betRoma da temida SS, o braço paramilitar do partido nazista alemão. Mas outros estudiosos oferecem explicações diferentes.

"Eles batizaram a doençacodigo galera betsíndrome K para aproximar-se da doençacodigo galera betKoch [a tuberculose], que estava causando muitos problemas para as tropascodigo galera betHitler na Hungria e na Polônia, naquela época", explicou à BBC News Mundo, serviçocodigo galera betespanhol da BBC, o escritor e sacerdote espanhol Jesús Sánchez Adalid.

Adalid publicou, no iníciocodigo galera betmarço, o romance Una Luz en la Nochecodigo galera betRoma ("Uma luz na noitecodigo galera betRoma",codigo galera bettradução livre), uma históriacodigo galera betamor entre uma jovem abastada e um rapaz judeu, que se passa exatamente durante estes fatos históricos.

Grande atuação

Borromeo, Sacerdoti e Ossicini elaboraram uma grande encenação.

Eles começaram a fabricar os prontuários médicos dos judeus que, supostamente, teriam contraído a misteriosa doença.

Para esta operação, eles precisaram da colaboraçãocodigo galera betmuitas pessoas, dentro e fora do hospital.

O sacerdote e escritor espanhol Jesús Sánchez Adalid

Crédito, JESÚS SÁNCHEZ ADALID

Legenda da foto, O sacerdote e escritor espanhol Jesús Sánchez Adalid passou maiscodigo galera betdois anos pesquisando sobre o ocorrido no hospital romano
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"Houve uma equipe muito grande, que envolveu religiosos, entre eles o superior da ordem [São Joãocodigo galera betDeus] que administrava o hospital", explica Sánchez Adalid.

Outras pesquisas históricas e jornalísticas indicam que o então monsenhor Giovanni Battista Monti ocupava na época um alto cargo na Secretariacodigo galera betEstado do Vaticano.

Ele estava a par do que acontecia no hospital e apoiava a operação. O monsenhor assinou diversos documentos que facilitaram as atividadescodigo galera betBorromeo.

Vinte anos depois, Monti se tornaria o papa Paulo 6º.

Mesmo depois que a história da suposta doença mortal afastou os nazistas, os médicos não baixaram a guarda. Eles instruíram os judeus sobre o que deveriam fazer caso os soldados retornassem.

"O médico nos disse que, se víssemos os alemães, precisaríamos tossir com todas as forças e dar a impressãocodigo galera betque éramos doentes terminais", declarou à rádio e TV pública alemã Deutsche Welle a sobrevivente Gabrielle Soninno,codigo galera bet2019. Ela tinha apenas quatro anos quando foi "internada" no hospital católico.

Nazistascodigo galera betRoma

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Nazistas 'fugiam' do hospital temendo a doença inventada

Os nazistas 'engoliram' a história?

"Os alemães enviaram médicos para o hospital, para confirmar a versão da doença", explica Sánchez Adalid. "Mas eles se conformaram com as explicações dos médicos italianos."

"Talvez o medo do contágio ou o simples fatocodigo galera betnão querer perder tempocodigo galera betum hospital cheiocodigo galera betdoentes fez com que eles fossem enganados", afirma o escritor.

"Se os médicos alemães tivessem feito algum exame dos supostos doentes, teriam descoberto a mentira, mas não o fizeram."

Em maiocodigo galera bet1944, as tropas nazistas voltaram ao hospital e o inspecionaram. Mas, quando se aproximaram do quarto onde estavam os judeus isolados, o ruído da tosse fez com que eles passassem direto.

Um mês depois, as forças aliadas liberaram Roma e os supostos pacientes internados no hospital receberam "alta".

Gabrielle Soninno

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Gabrielle Soninno (à direita) permaneceu por meses no hospital quando criança

O grande mistério

Os fatos ocorridos no hospital romano foram confirmados por historiadores e por diferentes autoridades.

O Yad Vashem, memorial oficial do Holocaustocodigo galera betIsrael, homenageou Borromeo postumamentecodigo galera bet2004, nomeando-o "justo entre as nações".

Esta honra é reservada às pessoas que salvaram ou ajudaram a salvar vidascodigo galera betcidadãos judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

Papa Pio 12

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Apesar das muitas críticas sobre a atuação do papa Pio 12 durante a Segunda Guerra Mundial, a Igreja Católica, como instituição, ajudou a salvar milharescodigo galera betjudeus na Europa

Não se sabe até hoje quantas pessoas foram salvas dos nazistas pela síndrome K.

"Não sabemos o número exatocodigo galera betpessoas salvas no hospital", segundo Sánchez Adalid. "Não conseguimos porque o hospital era uma tábuacodigo galera betsalvação."

Para escrever seu romance, Sánchez Adalid passou dois anos pesquisando os arquivos do centro médico, do Vaticano, da Fundação Shoah (da Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos) e do próprio Yad Vashem.

"As pessoas que chegavam ao Fatebenefratelli, supostamente doentes, recebiam documentos falsos para que pudessem fugir para a Suíça ou para outros países. Em certo momento, chegou a haver 75 crianças", conta o escritor.

Sánchez Adalid afirma que alguns dos "pacientes" acabaram emigrando para a América Latina após o fim da guerra. Ele se recusa a fornecer dados sobre essas pessoas, que desejam manter-se no anonimato.

Soldados apontando rifles

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, O hospital romano não foi apenas um refúgio para os judeus. Ele também serviucodigo galera betbasecodigo galera betoperações para os opositores dos nazistas

O hospital foi apenas um dos lugarescodigo galera betque a Igreja Católica salvou os judeus do extermínio na Europa. "A Igreja salvou pelo menos 4.480 judeus naquele hospital,codigo galera betigrejas, monastérios e conventos", segundo Sánchez Adalid.

"Pessoas me contaram que, quando a Gestapo chegou a Roma, ficou surpresa ao ver que,codigo galera betalguns conventos, havia até 70 freiras. É claro que muitas delas não eram freiras, mas sim mulheres judias disfarçadas."

"As religiosas inventaram explicações sem sentido para enganar os nazistas, como que Roma é a capital do catolicismo e, obviamente, é onde existem mais freiras", afirma Sánchez Adalid.

Não apenas um refúgio

A proteção oferecida pela doença fictícia permitiu que o hospital não servisse apenascodigo galera betrefúgio para os judeus.

"Graças ao medo que afastou os nazistas, o hospital foi centrocodigo galera betespionagem, basecodigo galera betcomunicações e localcodigo galera betreuniões da resistência italiana", conta o escritor espanhol.

Albert Kesselring

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Legenda da foto, A letra ‘K’ da síndrome foi escolhida por brincadeira, como referência ao general Albert Kesselring, comandante das forças alemãscodigo galera betocupação da Itália

No Fatebenefratelli, funcionou a chamada Rádio Vitória — uma redecodigo galera betcomunicações operada por soldados norte-americanoscodigo galera betascendência italiana.

Ela transmitia para os aliados onde estavam os quartéis e unidades nazistascodigo galera betRoma, para que fossem bombardeados.

O escritor e religioso afirma que não procurou escrever seu romancecodigo galera betcomemoração aos 80 anos dos acontecimentos ocorridos no hospital romano. Na verdade, a história foi oferecida a ele pelas autoridades do centro médico.

Mas Sánchez Adalid admite quecodigo galera betpesquisa permitiu confirmar que "nos piores momentos da história da humanidade, é que sai e brota o melhor do ser humano".

- Este texto foi publicadocodigo galera bet