Tudo precisa ser útil? 'Esforço por produtividade esgota a capacidadedonos da pixbetnos deslumbrarmos', diz filósofa:donos da pixbet
Todas essas emoções são fundamentais, mas não são todas iguais. E a admiração é a mais diferente entre elas.
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Fim do Matérias recomendadas
"Todas estas emoções fazem avaliações: quando você odeia alguma coisa, você diz 'não é útil para mim'; quando ama, diz 'é útil'. Se algo faz você feliz, você pensa que é bom, mas, se entristece você, é ruim", explica Cruz.
"Mas a admiração não faz avaliações. Ela simplesmente observadonos da pixbetseus próprios termos." E, para a filósofa, esta qualidade é fundamental.
"Parece que, hojedonos da pixbetdia, sempre que fazemos algo, pensamos: 'Será que é útil?' 'Como irá nos ajudar?'", prossegue ela.
"A nossa mentalidade é esta: tudo precisa ser útil, até os seus hobbies, é preciso maximizar o produto. E isso mata a admiração. Este é o antídoto contra o deslumbramento."
Maravilhar-se com o mundo é um aspecto fundamental da nossa humanidade. O deslumbramento incentiva novas ideias e invenções que alimentam e enriquecem nossas vidas, individual e coletivamente.
Este é o argumentodonos da pixbetHelendonos da pixbetCruz no seu livro Wonderstruck: How Wonder and Awe Shape the Way we Think ("Maravilhado: como o deslumbramento e o assombro moldam nossa formadonos da pixbetpensar",donos da pixbettradução livre).
Assombro e deslumbramento
Uma toneladadonos da pixbetcocaína, três brasileiros inocentes e a busca por um suspeito inglês
Episódios
Fim do Novo podcast investigativo: A Raposa
Entender o assombro e o deslumbramento, segundo Cruz, é apreciar um aspecto importante e imortal do ser humano. E, embora psicologicamente relacionadas, são duas emoções diferentes.
O assombro é o que "sentimos quando percebemos ou conceitualizamos a imensidão", seja ela física ou conceitual. É o que sentimos quando contemplamos o céu, observamos as pirâmides do Egito ou tomamos conhecimento dos inúmeros infinitos.
Já o deslumbramento "é a emoção despertada quando vislumbramos o desconhecido que está além dos limites da nossa compreensão".
É algo como o que sentimos ao ver um grãodonos da pixbetareia sob a lente do microscópio ou um evento astronômico inesperado.
Essas duas emoções são combinadas pela "necessidadedonos da pixbetacomodação cognitiva" — ou seja, o desejodonos da pixbetabrir espaço na nossa mente para acomodar o assombro e o deslumbramento.
"Com assombro e deslumbramento, eu me refiro à ideiadonos da pixbetDescartes,donos da pixbetque eles são basicamente a primeira paixão", explica a filósofa.
"Quando você encontra algo pela primeira vez ou considera algo como se fosse a primeira vez, você tem essa sensaçãodonos da pixbet'uau, o que é isso?' Existe ali alguma coisa para a qual você não estava preparado."
Cruz destaca que essas duas emoções instigam ativamente dois ramos do conhecimento que, atualmente, acreditamos serem totalmente separados: as ciências humanas e exatas.
"Acredito que,donos da pixbetúltima instância, elas encontramdonos da pixbetorigem no sentidodonos da pixbetassombro, já que o mundo à nossa volta nos deixa deslumbrados e tratamosdonos da pixbetentendê-lo melhor", segundo ela.
"Em seguida, tentamos dar um lugar na nossa mente àquilo que nos assombra, o que podemos fazerdonos da pixbetmuitas maneiras — seja pela arte, poesia ou pesquisa científica, ou por qualquer das muitas outras atividades humanas. Elas são, na verdade, a resposta à nossa tentativadonos da pixbetaprender mais sobre o mundo."
E isso é algo que fazemos desde sempre. Mas, nadonos da pixbetpesquisa, a filósofa traçou uma linhadonos da pixbetassombro ao longo da história, partindo da filosofia ocidental.
Platão e Aristóteles consideravam que o assombro era a origem da Filosofia. Graças a ele e ao deslumbramento, os seres humanos começaram a explorar o seu entorno e se perguntar sobre a origem da vida e das coisas.
"Em Teeteto [o diálogodonos da pixbetPlatão sobre a natureza do saber], Sócrates diz que 'a Filosofia não tem outra origem senão o assombro'", explica a filósofa.
"Em seguida, Aristóteles afirma que a ciência começa com o assombrodonos da pixbettodos os seres humanos. Não se trata apenas das crianças, nem dos filósofos ou cientistas, masdonos da pixbettodos."
Milagres e maravilhas
Na Idade Média, segundo Cruz, as pessoas se perguntavam o que nos causa assombro. Assim surgiu a distinção entre milagres e maravilhas.
"Os milagres são aquilo que é causado por Deus e está realmente fora do alcancedonos da pixbetcomo a natureza funciona normalmente", explica ela. "Mas as maravilhas são coisas da natureza que não entendemos, como o magnetismo, descrito por São Tomásdonos da pixbetAquino. As pessoas acreditavam naquela época que fosse um fenômeno raro."
Esses fenômenos raros interessaram particularmente os pioneiros da ciência moderna. E, no século 16, eles "se concentraram no que era estranho, não no normal". Aqui se incluem os alquimistas, que foram os precursores da química.
"O estranho ajudou os cientistas a irem mais além para aprender sobre o mundo. E, na verdade, este é um aspecto importante da revolução científica", prossegue a filósofa.
"Robert Hooke [1635-1703], por exemplo, escreveu um livro mostrando como é estranho aquilo que podemos observar no microscópio. E o que pareceu mais assombroso foi como é bonito aquilo que é natural."
"Uma pulga, por exemplo, que as pessoas odeiam, aparece bonita no microscópio", explica Cruz, "enquanto uma lâminadonos da pixbetbarbear parece rombuda como um machado que não serviria para cortar uma árvore."
"Por que a natureza parece tão bonita e os objetos feitos pelo homem, tão imperfeitos?", questiona a filósofa. "Este era o tipodonos da pixbetpergunta que as pessoas faziam, tentando realmente se aprofundar naquilo que nos assombra. E isso continua até os diasdonos da pixbethoje."
O surpreendente é que a ciência não elimina o assombro, quando torna seus mistérios inteligíveis.
O arco-íris não deixoudonos da pixbetnos deslumbrar quando a Ciência explicou o que ele é. Além disso, "nossa compreensãodonos da pixbetcomo se forma fisicamente o arco-íris abre novos mistérios, como, por exemplo, a estrutura da cor e da própria realidade", escreve Cruz.
Mas, no mundodonos da pixbethoje, existem obstáculos que eliminam o assombro das nossas vidas. Alguns deles são resultantes da tecnologia, por mais avanços que ela tenha nos trazido, incluindo novos motivos e oportunidadesdonos da pixbetassombro e deslumbramento.
Um exemplo é a poluição luminosa, que faz com que grande parte do espetáculo do céu noturno seja invisível para a maioria da população mundial.
Quando você olha para cima, segundo Cruz,donos da pixbetexperiência é muito diferente da que tiveram nossos antepassados. Em uma noite clara, eles viam na vastidão escura "um rico tapete tecido com sutis tonsdonos da pixbetpúrpura, rosa e vermelho-violeta, salpicado por milharesdonos da pixbetestrelasdonos da pixbetdiversos tamanhos."
Mas, hojedonos da pixbetdia, "o brilho constante da luz artificial significa que muitosdonos da pixbetnós nunca vimos a Via Láctea, nossa galáxia".
Mas o obstáculo mais persistente talvez seja o nosso próprio comportamento. Nosso contínuo esforçodonos da pixbetprol da produtividade esgota a capacidadedonos da pixbetnos deslumbrarmos.
Por isso, Cruz adverte: "o assombro exige atenção".
"O que você precisa fazer é basicamente se colocardonos da pixbetum estado que não o leve a se perguntar: 'isto é útil para mim ou não?' Você simplesmente se deixa levar e aprecia as coisas pelo que elas são."
Promovendo o assombro
No seu livro, Cruz oferece conselhos para fazer com que o assombro faça parte da nossa vida.
"A questão é: por que somos assim? Por que nos comportamos como se cada segundo precisasse ser produtivo?", ponderou ela para a BBC News Mundo.
"Fazemos isso porque a sociedade é configurada desta forma. Acredito que precisamosdonos da pixbetuma mudança social."
"Precisamos resistir à ideiadonos da pixbetque a economia é tudo o que importa e conseguir nos organizar, não só individualmente, mas também como sociedade, para termos a oportunidadedonos da pixbetnos deslumbrarmos", defende a filósofa.
"Vou contar uma pequena história. Muito tempo atrás, eu moravadonos da pixbetuma rua com muito trânsito e, no meio, havia uma pequena faixa que era como um refúgio, com cerejeiras japonesas e um pequeno riacho. Ela foi feita por um arquiteto no século 19 e era realmente muito bonita."
"Chegou um momentodonos da pixbetque as autoridades disseram que aquelas árvores estavam obstruindo o trânsito e seria necessário construir uma terceira pista", ela conta. "Todos no bairro se opuseram. Eles se acorrentaram às árvores e organizaram eventos, como reuniões para observar flores e procurar ovosdonos da pixbetPáscoa."
"Mas, infelizmente, o canteiro foi destruído. Desde então, ficou para mim a lembrançadonos da pixbetcomo, até entre duas ruas tomadas pelo trânsito, foi possível existir uma fontedonos da pixbetdeslumbramento."
E não é preciso apenas preservar essas fontesdonos da pixbetdeslumbramento. Toda a sociedade e nós mesmos as precisamos incorporá-las ao nosso cotidiano, para que elas não passem despercebidas.
O livrodonos da pixbetHelendonos da pixbetCruz apresenta sugestões para cultivar o assombro e o deslumbramento. Elas incluem desde assistir a eventos científicos, como as noitesdonos da pixbetCiência oferecidas por alguns museus, até "observar eclipses, como ocorreu recentemente, e participardonos da pixbetgrupos como osdonos da pixbethanami, a tradição japonesadonos da pixbetse maravilhar com as cerejeirasdonos da pixbetflor".
Outra alternativa é se entregar à ficção, com obras como a sériedonos da pixbetlivros Terramar, da escritora americana Ursula K. Le Guin (1929-2018). Suas obras inspiram assombro, desafiando os leitores a questionar a realidade e a natureza das possibilidades.
Outra opção é a filosofia, que fornece o espaço mental para a reflexão. E contemplar a arte ou se permitir ser invadido pela música, participardonos da pixbeteventos esportivos ou assistir a festivais religiosos.
Se você não tiver tempo, pode simplesmente seguir este antigo conselho: "pare e sinta o aroma das rosas".
Você pode observar como uma flor se infiltradonos da pixbetuma rachadura do concreto ou, como diz a filósofa, deleitar-se com "os cristaisdonos da pixbetgelo nadonos da pixbetjanela, no inverno", que nunca perdem seu encanto.
"Sem um poucodonos da pixbetmagia nas nossas vidas, sem um lugar para o inesperado e o maravilhoso, a vida é aborrecida e monótona", escreveu Cruz.
"A realidade é literalmente repletadonos da pixbetmaravilhas. Precisamos abrir espaço para elas, para que a vida valha a pena."