As sacerdotisas africanas perseguidas pela Inquisição no Brasil:free spins casino

Cortejo da rainha negra na festafree spins casinoReis,free spins casinoilustraçãofree spins casinoCarlos Julião

Crédito, Biblioteca Nacional

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O termo possui uma história e acepção muito mais ampla do que ficou cristalizado no imaginário popular pelos bonecos espetados do vodu haitiano (que também tem raízes nas tradições da Costa da Mina).

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"É um termo muito antigo para esses povos, especificamente da África Ocidental, usado para designar as suas divindades", diz Maia.

"A religião tinha características muito abertas, agregadoras. Havia cultos pertencentes à populaçãofree spins casinogeral, por exemplo voduns associados a árvores ou serpentes e, ao mesmo tempo, havia cultos individuais, particulares da família, do clã, da linhagem."

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Rodrigues afirma que "o Vodum é um sistemafree spins casinocrenças que organiza a relação dos vivos com o mundo invisível dos ancestrais. Com o racismo religioso, tudo isso foi lido como culto ao demônio".

"Mas, na verdade, você tem a dimensão materialfree spins casinopráticas que envolvem a confecçãofree spins casinoobjetos sagrados, acionados por meiofree spins casinorituais que levam a um poder tanto para práticas maléficas como benéficas,free spins casinoproteção etc."

Esse sistema, que regia uma parte importante das vidas naquela porção da África ocidental, colapsa quando essas populações são arrancadasfree spins casinosuas terras para embarcarfree spins casinouma brutal — e muitas vezes mortal — viagem pelo Oceano Atlântico.

"Essas pessoas são tiradas dafree spins casinocomunidade efree spins casinosua relação com o mundo dos ancestrais. É uma violência que vai além da violência física, porque você é retirado das suas redesfree spins casinoparentesco, algo crucial para ajudar alguém a se inserir na sociedade", diz Rodrigues, que é professor na Unicamp.

Os que sobrevivem à jornadafree spins casinonaviosfree spins casinocondições sub-humanas tentam se adaptar à vida no Brasil colônia da forma que podem. Uma delas é recuperar elementosfree spins casinosuas terrasfree spins casinoorigem junto a outros escravizados.

Espaçosfree spins casinoreconexão com as raízes

Cortejo ao vodum serpente Dangbé durante a coroação do reifree spins casinoUidá, free spins casinoimagem do início do século 18

Crédito, Divulgação

Legenda da foto, Cortejo ao vodum serpente Dangbé durante a coroação do reifree spins casinoUidá, atual República do Benim,free spins casinoimagem do início do século 18

Em Minas Gerais criou-se uma língua geral da "Nação Mina", já que os diferentes idiomas pertenciam ao mesmo ramo linguístico. Eram variados níveisfree spins casinointercompreensão, masfree spins casinocomunicação facilitada.

Com o tempo, também organizam-se os espaços físicos para reviver as tradições da religião Vodum que tinham tanta importânciafree spins casinosuas genealogias.

Maia, também pesquisador da Universidade Federalfree spins casinoMinas Gerais (UFMG), diz que documentos sobre um caso ocorridofree spins casinoParacatu, interior mineiro, apontam um encontro do "assim classificado grupo específico da área Vodum, que cultua o que as autoridades chamamfree spins casino'cultuar o Deusfree spins casinosua terra'. Então há ali uma necessidade, após esse terror que foi a migração,free spins casinose reconectar ao seu universo cultural".

O documento descreve um culto numa área mais afastadafree spins casinoParacatu, instalado no localfree spins casinomoradia da vodúnsi (sacerdotisa) Josefa Maria, formado por uma maioriafree spins casinomulheres.

"E tinham na mesma casa uma cozinha, onde ela testemunha não entrou nem viu o que estava dentro dela, mas que viu saíafree spins casinolá uma preta forra por nome Josefa Maria embrulhadafree spins casinoumas chitas velhas e [entrava] na dança [em que proferia] algumas palavras que encontrava a nossa santa fé e outras que ela não entendeu e na mesma dança se fingia morta, caindo no chão, e outras a pegavam e levavam para dentro da tal camarinha", registra o documento.

O evento na casafree spins casinoJosefa ocorria com regularidade, sempre aos sábados, reunindo libertos e escravizados.

"Há o estereótipofree spins casinoque todo negro, toda mulher negra naquela época era escrava. Mas havia mulheres negras livres, são elas que predominam nas alforrias. É uma liberdade precária, mas o livro falafree spins casinouma liberdade negra feminina na escravidão", diz Rodrigues.

O professor da Unicamp explica que isso se deve, no casofree spins casinoMinas Gerais, à presença feminina negra no comérciofree spins casinoalimentos, que abriam vendas e tinham consequentemente maior trânsito para negociar a obtenção das alforrias.

"Os homens ficavam mais na mineração, nas lavras, com menos possibilidadefree spins casinoacumular dinheiro."

As mulheres, assim, constituíam casa própria e um local possível para fazer reuniões.

"Elas ocupam um espaço maiorfree spins casinoautonomia, mesmo com todas as limitações e dificuldades. E, ao contrário da sociedade paternalistafree spins casinoseus locaisfree spins casinoorigem, elas conseguem um papel religioso ampliado no culto Vodum que se instala no Brasil", afirma Maia.

Segundo Rodrigues, "essa liberdade é vividafree spins casinoforma contraditória porque essas mulheres adquirem escravizados, muitas vezes da mesma regiãofree spins casinoonde elas vieram. No Brasil da época, a posição social, o prestígio eram medidosfree spins casinorelação à escravidão porque era uma sociedade escravista".

Os historiadores Aldair Rodrigues e Moacir Rodrigofree spins casinoCastro Maia

Crédito, Divulgação

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Com a monarquia portuguesa fundamentada na religião católica, a estabilidade política também se fundamenta diretamente na unidade da fé. A Inquisição é um tribunal especializadofree spins casinovigiar a pureza da fé e perseguir quem se desvia dela.

"Tudo o que diz respeito a outras manifestações culturais religiosas vai ser perseguido. E um grande elemento para articular essa perseguição é a crençafree spins casinoque os adeptosfree spins casinoreligiõesfree spins casinoorigem africanas estão cultuando o demônio. Havendo uma associação dos Voduns ao demônio isso legitima a violência", aponta Rodrigues.

"Há um outro fator que, nesses cultos, são formadas lideranças que às vezes planejam rebeliões e fugas. Então, para o controle social dessa população, era urgente perseguir e eliminar esses espaços."

A Inquisição também molda as estruturasfree spins casinoascensão social à época. Candidatar-se a agentefree spins casinoMinas Gerais não proporcionava grande remuneração, mas apresentar-se como defensor da pureza da fé católica significava a obtençãofree spins casinogrande prestígio na sociedade.

"Se você entra para a Inquisição, você tem uma prova públicafree spins casinoque passou por um processo rigorosofree spins casinoinvestigação dafree spins casinopurezafree spins casinosangue, diz Rodrigues.

O ofício era vedado a descendentesfree spins casinojudeus, muçulmanos e pessoas escravizadas.

Representação do vodum Dan, símbolo da continuidade, nas paredes do palácio daomeanofree spins casinoAbomei, atual Benim

Crédito, Divulgação

Legenda da foto, Representação do vodum Dan, símbolo da continuidade, nas paredes do palácio daomeanofree spins casinoAbomei, atual Benim

"Então todos os elementos vão confluindo para a defesa desse ideário católico. O poder econômico não basta nessa época. Você precisa ter status social."

Apesar da estigmatização e perseguição ao Vodum, muitos brancos procuravam nos cultos africanos um alívio para momentosfree spins casinodesespero e a busca por curafree spins casinodoenças.

Mas a possibilidadefree spins casinoser envolvidofree spins casinoum processo contra manifestações do Vodum significava um incentivo para entregar sacerdotisas e devotos às autoridades.

"A Inquisição distribui editais no Brasil para coletar denúncias, lidos no final das missas. Um dos elementos que a gente encontra nesses editais é que se as pessoas não denunciam o que elas sabem, elas estão automaticamente excomungadas", explica Rodrigues.

"E, se você delata, muitas vezes há uma comutação da pena. Pessoas brancas, num momentofree spins casinodesespero, vão aos cultos, se sentem acolhidos, resolvem seu problema e depois eles se sentem culpados porque são católicos. E aí, para aliviar a consciência, denunciam os africanos com quem eles convivem."

Os casos compiladosfree spins casinoSacerdotisas Voduns, apesarfree spins casinoperseguições e prisões, não chegaram a ter sentenças. Por alguma razão, ficaram sem desfecho.

Segundo Maia, "pode-se pensar que o fatofree spins casinoque não viraram um processo depois e não houve uma condenação final indica uma significância menor desses casos. Quando a gente vê essas estruturas sociais agindo para colher informações e denúncias contra essas pessoas, principalmente africanas, a gente vê o terror que foi imposto àqueles locais".

Maisfree spins casino250 anos depois, a perseguição a religiõesfree spins casinomatrizes africanas permanece no Brasil. Rodrigues diz que é a representação do racismofree spins casinolonga duração, que apenas se transforma no tempo e no espaço.

"Eu diria que o principal elementofree spins casinopermanência é associar entidades africanas ao demônio. É isso que provoca o medo e atiça a violência. O medo do que não se conhece, o medo do que é diferente e, ao mesmo tempo, a construçãofree spins casinouma identidade religiosa cristã. Ela é construídafree spins casinorelação ao outro. E o outro, no caso, é o africano."