'Meu pai se matou, e hoje sou padre e especialistarola roletasuicídio':rola roleta
"Porque a Igreja Católica dizia naquela época que as almas das pessoas que se matavam iam direto para o inferno. [Segundo a doutrina antiga] Quem se mata peca contra o Quinto Mandamento da leirola roletaDeus, que é não matar. Então, na minha família, nós vivemos isso na carne."
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Quando adolescente, a perspectiva do pai "não ter a salvação eterna" era "profundamente angustiante", ele diz.
Essa posição do catolicismo apostólico romano — a religião mais popular do Brasil, com maisrola roleta123 milhõesrola roletafiéis (64,6% da população), segundo o Censo 2010 do Instituto Brasileirorola roletaGeografia e Estatística (IBGE) — só mudou após a revisão do Códigorola roletaDireito Canônicorola roleta1983.
"Hoje, como padre, graças a Deus, nossa doutrina católica evoluiu", diz, garantindo que a rejeição a esses ritos não acontece mais, nem na teoria nem na prática.
A históriarola roletapadre Lício e as mudanças da doutrina da Igreja Católica sobre suicídio é a primeira da sérierola roletareportagens "Suicídio & Fé", que a BBC News Brasil publica nas próximas semanas.
Licio conta que realizou um sonhorola roletainfância — anterior à morte do pai —rola roletase tornar padre há 40 anos.
Também é formadorola roletafilosofia pela Pontifícia Universidade Católicarola roletaSão Paulo (PUC-SP), especializadorola roletaprevenção ao suicídio pela Universidade Federalrola roletaSanta Catarina (UFSC), palestrante e autorrola roletavários livros sobre o tema, como E foram deixados para trás: uma reflexão sobre o fenômeno do suicídio.
No Brasil, o tema ganha cada vez relevância apesar do tabu persistente que o envolve, porque, como mostram estudos recentes, o númerorola roletasuicídios vem aumentando.
Licio avalia que a Igreja Católica atualizourola roletadoutrina porque "dialoga com a Ciência".
"Estudos mostram que a grande maioria das pessoas que se mata não tem a intençãorola roletatirarrola roletavida, portanto não tem a intençãorola roletapecar contra o Quinto Mandamento", diz o padre.
"Porque, para que haja pecado, tem que haver intenção. E quem sabe a intenção? Só Deus."
'Eu me tornei especialistarola roletaprevenção ao suicídio por causa da morte do meu pai'
Licio é filho único e cresceu na capital paulistarola roleta"berço católico", nas suas palavras. A avó materna ia à missa todos os dias, e ele a acompanhava.
Enquanto isso, seu pai lutava com a depressão e o alcoolismo. Licio conta que o pai aceitava receber cuidados, mas acredita que, da forma que eram feitos os tratamentos na época, isso pode ter atrapalhado.
"Ele foi internado no hospital psiquiátrico, que nos anos 1960 era uma prisão. Ele tomou eletrochoque, porque os medicamentos antidepressivos vão surgir no Brasil na metade dos anos 1970. Então, ele sofreu muito, inclusive com as internações", lembra.
Atualmente, o chamado eletrochoque foi adaptado e ganhou novo nome, a eletroconvulsoterapia (ECT).
Alguns especialistas e instituições defendem o seu uso para algumas condiçõesrola roletasaúde mental, como a depressão grave, e somente com o usorola roletaanestesia e com correntes elétricas mais baixas do que as usadas antigamente.
Mas, segundo o Ministério da Saúde, o Sistema Únicorola roletaSaúde (SUS) não preconiza e nem financia esse tipo tratamento.
Licio conta que, para lidar com a perda do pai, fez 30 anosrola roletaterapia com psicanálise tradicional.
"Estava na no início da adolescência, aquela faserola roletaque o filho homem se identifica com a figura do pai. Eu me senti abandonado", conta.
"Foram 30 anos, uma vez por semana, no divã para elaborar o estrago emocional que o suicídio dele provocou na minha vida pessoal."
Além da ajuda da psicanálise, Licio se debruçou sobre o trauma na chamada direção espiritual, um acompanhamento que seminaristas recebem emrola roletapreparação para serem padres — ele começou essa formaçãorola roleta1978.
"Essa morte hoje ressoa como uma grande graça. Tem um texto da Bíbliarola roletaque São Paulo diz: 'Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus'. Eu me tornei especialistarola roletasuicídio por causa da morte dele", afirma o padre.
"Graças ao cuidado da minha saúde mental por um lado e ao cuidado da saúde espiritual por outro, pude transformar esta morterola roletavida. E claro que ele está vivo aqui, dentrorola roletamim."
Em uma segunda-feira nubladarola roletanovembro do ano passado, o padre Licio chegou à entrevista com a BBC News Brasil com os minutos contados, depoisrola roletauma reuniãorola roletaoutro bairro e antesrola roletarezarrola roletamissa semanal na paróquia Sagrada Família.
Na celebração daquele dia, havia mais assentos do que fiéis. Mas o que se via era um grupo unido, que parecia se encontrar ali com frequência e demonstrava uma relação próxima com Licio.
É também ali que o padre dedica três dias na semana para receber pessoas que estejam precisandorola roletaajuda na prevençãorola roletasuicídio ou no acolhimento após terem perdido alguém que se matou, a chamada posvenção.
Na verdade, nesses encontros, Licio diz que aciona mais o "lado especialista" do que o "lado padre".
Ele conta que sacerdotesrola roletavários bairrosrola roletaSão Paulo encaminham pessoas — não necessariamente católicas — para lá.
Após cercarola roletatrês encontros, caso veja necessidade, Licio recomenda auxílio com psicólogos ou psiquiatras.
"A grande maioria não é ali do bairro", diz o padre, que estima encontrarrola roletacinco a sete pessoas por semana nessa situação.
"Muita gente procura os padres para conversar mesmo não sendo católicos. Estão desesperadas, estãorola roletaideação suicida e procuram um padre. E aí os padres normalmente encaminham para mim."
Como a rígida doutrina católica mudou
O que aconteceu com o pairola roletaLicio,rola roletanão ter tido as missas funerárias tradicionais, era parterola roletauma longa tradição doutrinária na Igreja Católica.
Do século 6 ao final do século 20, a orientação formal da Igreja Católica era não fazer os rituais funerários normais para um fiel que morresse por suicídio, segundo a pesquisadora americana Ranana Dine — nem o funeral cristão, nem enterrorola roletaespaços sagrados ou missas.
Dine, que é judia e faz doutoradorola roletaÉtica Religiosa na Universidaderola roletaChicago, estuda desde a faculdade questões religiosas com o olhar da filosofia.
No mestrado na Universidaderola roletaCambridge, ela analisou as doutrinas católica e judaica sobre o suicídio.
Uma das origens da histórica posição católica sobre o suicídio está nos Dez Mandamentos, cuja base está no Antigo Testamento.
Um destes mandamentos afirma: "Não matarás". A interpretação que vingou por muito tempo é que se matar é uma violação desse princípio.
"Grande parte do problema com o suicídio é que ele era visto como alguém querendo agir intencionalmente contra Deus e o domíniorola roletaDeus sobre a vida", explica Dine.
Especialistas apontam também que contribui para a aversão ao assunto no cristianismo o relatorola roletaque, segundo os evangelhos canônicos (aqueles reconhecidos como autênticos pela Igreja Católica), Judas Iscariotes, traidorrola roletaJesus Cristo, se suicidou.
As primeiras discussões acerca do suicídio surgiram nos sínodos, reuniões convocadas por uma autoridade da Igreja Católica, do século 5.
A formalizaçãorola roletauma postura punitiva quanto ao ato não demorou a aparecer.
No século 6, durante o Conselhorola roletaBragarola roleta563, um gruporola roletabispos promulgou alguns decretos, entre eles a proibiçãorola roletaque suicidas recebessem grandes cerimônias ou fossem enterrados dentrorola roletaigrejas.
Ao longo da Idade Média, outros documentos reafirmaram essa posição.
Na Europa, isso se combinou com costumes da época. No artigo Christianity and Suicide, os pesquisadores Nils Retterstøl e Øivind Ekeberg afirmam que,rola roletamuitas partes do continente, "o corpo [de um suicida] era arrastado pelas ruas e enterradorola roletauma encruzilhada, com uma estaca cravada e uma pedra colocada sobre o rosto".
O artigo aponta que o Iluminismo, movimento marcado pelo valorização da racionalidade, trouxe no século 18 uma visão menos condenatória do suicídio e mais crítica ao catolicismo — que, no entanto, ainda demoraria alguns séculos para mudarrola roletaposição sobre o assunto.
O Códigorola roletaDireito Canônicorola roleta1917 reforçou mais uma vez o caráter pecaminoso do suicídio.
Uma das normas desse código afirmava que "a menos que tenham dado sinalrola roletaarrependimento antes da morte", aqueles que "se mataramrola roletamaneira deliberada" estavam entre aqueles "privadosrola roletaum sepultamento eclesiástico" — assim como excomungados e pecadores manifestos.
Esse trecho foi retirado na revisão do códigorola roleta1983.
"O contexto externo [da mudança] era o desenvolvimento da ideia da depressão erola roletaoutras doenças mentais como patologias tais quais a doenças físicas, que não eram culpa do indivíduo", explica a pesquisadora Ranana Dine.
O Códigorola roletaDireito Canônico, na avaliaçãorola roletaDine, é o "documento mais importante"rola roletanormas da Igreja Católica.
Mas há outros documentos relevantes que também demonstram mudanças na conduta católica sobre o suicídio, como o Catecismorola roleta1992 — que tem um caráter maisrola roletaorientação e educação do que uma função normativa como o código.
Um trecho do Catecismo afirma que o "suicídio contraria a inclinação natural do ser humano para conservar e perpetuar arola roletavida" e é "contrário ao amor do Deus vivo".
"Ofende igualmente o amor do próximo, porque quebra injustamente os laçosrola roletasolidariedade com as sociedades familiar, nacional e humana [...]", diz o documento.
Mas um trecho seguinte reconhece que "perturbações psíquicas graves, a angústia ou o temor grave duma provação, dum sofrimento, da tortura, são circunstâncias que podem diminuir a responsabilidade do suicida".
Por isso, o documento conclui: "Não se deve desesperar da salvação eterna das pessoas que se suicidaram. Deus pode, por caminhos que só Ele conhece, oferecer-lhes a ocasiãorola roletaum arrependimento salutar. A Igreja ora pelas pessoas que atentaram contra a própria vida".
Em um discursorola roletaoutubrorola roleta2021, no Dia Mundial da Saúde Mental, o papa Francisco defendeu o acolhimento a pessoas que se suicidaram e às suas famílias.
"Gostariarola roletalembrar dos nossos irmãos e irmãs afetados por distúrbios mentais e também as vítimas, frequentemente jovens, do suicídio", disse o papa.
"Vamos rezar por eles e por suas famílias, para que eles não sejam deixados sozinhos ou sejam discriminados, mas sim bem recebidos e apoiados."
Dine avalia que a doutrina sobre o suicídio não é algo que divida diferentes alas da Igreja Católica tal qual outras questões controversas como, por exemplo, o casamento gay e o aborto.
A pesquisadora vêrola roletaforma positiva as mudanças recentes na abordagem católica ao assunto, mas diz compreender o posicionamento anterior.
"Fico satisfeita que a Igreja tenha mudadorola roletaposição sobre o enterrorola roletasuicidas, mas acho que as normas anteriores vinhamrola roletauma abordagem teológica sincera", afirma.
Dine argumenta que, por haver razões teológicas para a Igreja Católica ser contra o suicídio, faz sentido dentro do catolicismo o suicídio ser visto como um pecado.
"Acho que alguém como [Santo] Agostinho e outras pessoas realmente acreditavam que Deus tem o domínio do mundo, dos nossos corpos, e negar isso a Deus realmente vai contra grandes princípios do cristianismo."
Narola roletaavaliação, a Igreja Católica ainda considera o suicídio um pecado — mas não um "pecado mortal", aquelerola roletaque não há qualquer esperançarola roletasalvação da alma.
"Ainda há o sentidorola roletapecado,rola roletafalha, mas envolto nessa posturarola roletacompaixão, com a ideiarola roletaque a pessoa não sabia o que estava fazendo. Então, é um pecadorola roletanatureza diferente", avalia Dine.
O padre Licio Vale também não firma uma definição.
"O suicídio continua sendo pecado nesse sentidorola roletaque ninguém pode matar a si mesmo, ter a intençãorola roletase matar. Porque a vida pertence unicamente a Deus, então, nesse sentido, a gente diz que é um mal moral", afirma o padre.
"Mas o conceitorola roletapecado tem a ver com intenção. A maioria dos estudos diz que a maioria das pessoas que se mata não tem essa intenção. Por isso, a gente evita dizer hoje que é pecado."
Licio reconhece que o tabu com o suicídiorola roletafundo religioso ainda é "muito presente" na cultura popular.
Durante a apuração dessa reportagem, por exemplo, uma fonte deu um relato que não pôde ser confirmado pela BBC News Brasilrola roletaque vizinhos faziam o sinal da cruz toda vez que passavam na frente da casarola roletauma mãe que perdeu a filha para o suicídio.
"Ainda existe essa cultura errônearola roletaque quem se mata vai para o inferno. Por isso, é importante que a gente fale que não é mais assim, que a Igreja não pensa mais assim", diz o padre.
"A doutrina continua a mesma, ninguém pode se matar, mas ela evoluiu no sentidorola roletaque o suicida não quer, não tem a intenção, segundo a ciência,rola roletapecar. Ele quer matar a dor emocional."
Por isso, o padre afirma que a decisão pela salvação da almarola roletaum suicida ficaria a cargorola roletaum "Deus misericordioso".
Perguntado se a Igreja Católica tem responsabilidade nesse tabu persistente, o padre consente.
"Claro, uma doutrina que foi ensinada durante maisrola roleta900 anos, quase mil anos, é óbvio que vai levar muito tempo para que essa doutrina possa ser definitivamente esclarecida", avalia Licio.
"Mas a Igreja Católica, institucionalmente, está aprendendo a lidar com o fenômeno."
Apesarrola roletaainda ser o maior, o segmento católico está diminuindo seu percentual na população desde o primeiro Censo,rola roleta1872.
Por outro lado, no período mais recente,rola roleta2000 para 2010, houve aumento do percentualrola roletaespíritas, evangélicos e pessoas sem religião.
Suicídiosrola roletapadres
Desde 2016, Licio voltou a conviver maisrola roletaperto com notíciasrola roletamortes por suicídio: ele tem se dedicado a fazer um levantamento detalhadorola roletapadres que tiraram a própria vida.
Licio afirma que os dadosrola roletamortes entre sacerdotes são ainda mais alarmantes do que na população geral.
Para isso, o especialista compara a médiarola roletamortesrola roletapadres que ele registrourola roletarelação ao totalrola roletapadres no Brasil com a taxarola roletamortes por suicídio na população brasileira — embora esses números não resultemrola roletauma mesma metodologia.
De acordo com os dados mais recentes do Anuário Brasileirorola roletaSegurança Pública,rola roleta2022, houve 8 suicídios para cada 100 mil habitantes no Brasil.
Em 2022, Licio registrou 5 suicídiosrola roletapadres. Considerando que o país tinha naquele ano cercarola roleta21,8 mil padres, segundo a Comissão Nacionalrola roletaPresbíteros, isso daria aproximadamente 23 suicídios a cada 100 mil padres.
De 2016 a 2022, o pesquisador contabilizou um totalrola roleta33 mortesrola roletapadres por suicídio, com médiarola roleta4,7 por ano.
Os anosrola roletaque mais mortes foram registradas foram 2017 e 2021, com 10 suicídiosrola roletapadres cada um.
Licio reúne esses dados a partirrola roletainformações divulgadas por dioceses, pela imprensa ou por fontes da internet.
As dioceses, segundo ele, estão cada vez mais publicando a causa da morte quando há um suicídio comprovado, embora ainda haja muito "mistério"rola roletatorno desses dados.
O pesquisador conta que nunca passou pela situaçãorola roletaconhecer pessoalmente algum padre que tenha se matado, mas diz que já foi procurado por dois amigos padres que pediram ajuda por questõesrola roletasaúde mental, a quem Licio recomendou tratamento psicológico e psiquiátrico.
Mesmo não conhecendo pessoalmente os padres que se mataram, Licio diz que se sente abatido ao documentar as mortesrola roletacolegas.
"Por exemplo, um casorola roletaum padre jovem. Isso me impacta porque é alguém que tem uma vida pessoal e uma vida no sacerdote inteira pela frente. Sempre me impacta", desabafa.
Licio afirma que a escolha do sacerdócio "não imuniza" os padresrola roletalutas internas e desafios pessoais.
Há particularidades dessa ocupação que afetam a saúde mental, aponta Licio, como o excessorola roletatrabalho, a solidão e a cobrança excessiva.
"A vida do padre é muito mais complicada do que a gente imagina", ele diz.
"Vou te fazer uma pergunta: onde você vai passar o Natalrola roleta2030? Se eu estiver aqui na paróquiarola roleta2030, às 18h vou ter uma missa numa comunidade e às 20 horas eu tenho missa aqui. Eu já tenho compromisso assumido para daqui a sete anos."
O padre afirma que a solidão é outro fatorrola roletarisco grande para o suicídio no clero, principalmente os diocesanos — que estão vinculados a uma diocese e não a uma ordem religiosa, como os franciscanos e beneditinos.
"Um padre às vezes mora sozinho na casa paroquial, fica longe da família, tem poucos amigos verdadeiros que gostem da pessoa e não do padre", diz Licio.
"E a gente se cobrarola roletatermosrola roletasermos coerentes com aquilo que pregamos, com aquilo que vivemos. O povo nos cobra posturas, comportamentos. A própria Igreja nos cobra posturas e comportamentos."
Licio alerta que o númerorola roletasuicídios entre padres pode ser muito maior por conta da subnotificação — a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que, para cada morte por suicídio confirmada, há provavelmente maisrola roleta20 tentativas.
A reportagem também buscou dados sobre suicídios entre líderes religiosos — não só católicos — a partir do DataSUS, sistema mantido pelo Ministério da Saúde, mas especialistas consultados afirmaram não ser possível obter informações confiáveis com esse recorte.
A BBC News Brasil procurou a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para obter um posicionamento oficial da Igreja Católica no Brasil sobre o cuidado com a saúde mentalrola roletapadres e a doutrina acerca do suicídiorola roletaforma geral.
A CNBB respondeu que não foi encontrado bispo "com disponibilidade para atender à demanda".
'Falarola roletaculpabilização ligada à religião pode causar muita dor'
Segundo a OMS, maisrola roleta700 mil pessoas morrem a cada ano por suicídio no mundo.
De acordo com a organização, a ligação entre suicídio e distúrbios mentais — notadamente a depressão e o alcoolismo — já foi bem demonstrada, mas esse tiporola roletamorte também ocorre após crises pontuais, como términosrola roletarelacionamentos e problemas financeiros.
Taxasrola roletasuicídio tendem a ser maiores tambémrola roletacenáriosrola roletaabuso, violência, desastres e vulnerabilidade social — como entre refugiados e migrantes, priosioneiros e pessoas LGBTQIA+.
No Brasil, o número absolutorola roletasuicídios vem crescendo ano após ano desde 2016, segundo dados do Fórum Brasileirorola roletaSegurança Pública (FBSP).
Um outro estudo, publicado na revista científica The Lancet Regional Health Americas, calculou que, entre 2011 e 2022, a taxarola roletasuicídios a cada 100 mil habitantes cresceurola roletamédia 3,7% ao ano no Brasil.
Em 2011, a taxa erarola roleta5 por 100 mil, chegando a 7,3 por 100 milrola roleta2022.
Todas as regiões brasileiras tiveram aumento nas taxas. Entre jovens (10 a 24 anos), o crescimento foirola roleta6%, significativamente maior do que na população geral.
No mundo, considerando dados da OMSrola roleta2019, a taxa médiarola roletasuicídios foirola roleta9 por 100 mil habitantes.
Neste relatório, o Brasil aparece abaixo da média global, com 6,4 suicídios por 100 mil habitantes.
A psicóloga Karen Scavacini, fundadora e diretora do Instituto Vita Alererola roletaPrevenção e Posvenção do Suicídio, afirma que as religiões — não apenas o catolicismo — podem ter um papel ambíguo na prevenção e na posvenção do suicídio.
"Os estudos mostram que [a religião] é um fatorrola roletaproteção, e é, na maioria das vezes", diz Scavacini.
"Até o medorola roletair para o inferno,rola roletair para o umbral, embora muitas religiões não falem mais sobre isso, pode fazer com que a pessoa não se mate. Então, acaba protegendo.”
A sensaçãorola roletapertencimento a uma comunidade religiosa é outro fator protetor contra o suicídio, aponta a psicóloga.
"Quando a gente põe na balança, a espiritualidade tem um fator maisrola roletaproteção do querola roletarisco, porém — e esse é o grande porém —, quando ela se torna um fatorrola roletarisco, pode ser um risco importante."
Scavacini, que é doutorarola roletapsicologia pela Universidaderola roletaSão Paulo (USP), afirma que o tabu religioso pode ser danosorola roletavários estágios relacionados ao suicídio.
"Começando pela prevenção, o que a gente escutarola roletamais comum é a relaçãorola roletavergonha quando uma pessoa está pensandorola roletase matar", diz.
"Isso piora toda a situação, porque a pessoa pensa: 'Puxa, alémrola roletatudo, eu sou um pecador, porque eu estou pensandorola roletame matar."
A psicóloga cita também casosrola roletapessoas cuja sexualidade não é bem aceita emrola roletareligião, o que agrava o quadrorola roletasaúde mental.
Também há aquelas que deixamrola roletaprocurar ajuda especializada depois que "foram falar com o pastor, com o padre, e a resposta foirola roletaque estava faltando Deus, que estava faltando oração, que psicólogo não resolvia nada, que o que resolve é a igreja".
"Há ainda o caso das pessoas que tentaram [se suicidar]. Então, entram as questõesrola roletapecado,rola roletaculpabilização,rola roletafaltarola roletareza,rola roletaestar possuído, e issorola roletanovo vai ser um fatorrola roletarisco", diz Scavacini.
"Pode ser um gatilho, pode ocasionar um isolamento dessa pessoa da comunidade religiosa, que no geral é um fatorrola roletaproteção."
A psicóloga lembra também dos enlutados, cenáriorola roletaque a questão religiosa talvez se torne ainda mais "delicada".
Ela diz ser comum estas pessoas ouvirem, inclusiverola roletavelórios, que alguém que elas perderam para o suicídio vai para um lugarrola roletasofrimento após a morte.
"O impacto da falarola roletaum religioso para uma família enlutada é muito grande. O tabu religioso não está só na figura religiosa, ele estárola roletatoda uma sociedade."
"Para quem estárola roletaluto, que está buscando uma resposta, muitas vezesrola roletachoque, que pode estar naquela culpa que é própria do luto por suicídio, uma falarola roletaculpabilização ligada a religião tem um peso muito grande e pode causar muita dor."
*Caso seja ou conheça alguém que apresente sinaisrola roletaalerta relacionados ao suicídio, ou caso você tenha perdido uma pessoa querida para o suicídio, confira alguns locais para pedir ajuda:
- O Centrorola roletaValorização da Vida (CVV), por meio do rola roleta telefone 188, oferece atendimento gratuito 24h por dia; há também a opçãorola roletaconversa por chat, e-mail e busca por postosrola roletaatendimento ao redor do Brasil;
- Para jovensrola roleta13 a 24 anos, a Unicef oferece também o chat Pode Falar;
- Em casosrola roletaemergência, outra recomendaçãorola roletaespecialistas é ligar para os Bombeiros ( rola roleta telefone rola roleta 193) ou para a Polícia Militar ( rola roleta telefone rola roleta 190);
- Outra opção é ligar para o SAMU, pelo rola roleta telefone 192;
- Na rede pública local, é possível buscar ajuda também nos Centrosrola roletaAtenção Psicossocial (CAPS),rola roletaUnidades Básicasrola roletaSaúde (UBS) e Unidadesrola roletaPronto Atendimento (UPA) 24h;
- Confira também o Mapa da Saúde Mental, que ajuda a encontrar atendimentorola roletasaúde mental gratuitorola roletatodo o Brasil.
- Para aqueles que perderam alguém para o suicídio, a Associação Brasileira dos Sobreviventes Enlutados por Suicídio (Abrases) oferece assistência e gruposrola roletaapoio.