Por que tantos evangélicos defendem Israel?:cassino 777
O apoio tem um fundo religioso, explicam pesquisadores ouvidos pela BBC News Brasil.
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Uma das bases teológicas é uma corrente muito difundida chamada dispensacionalismo que enxerga Israel como uma espéciecassino 777"relógio do fim do mundo".
Além disso, há toda uma identificação dos evangélicos com o Antigo Testamento da Bíblia, que trata basicamente da história sagrada do povo israelita.
Identificação com Israel
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O pastor e teólogo Guilhermecassino 777Carvalho diz que, para evangélicos como ele, o povo judeu é especial porque o cristianismo surgiu a partir do judaísmo. Ou seja, porque Jesus era judeu e foi criado dentro da religião judaica. E mesmo que Cristo tenha mudado muitos aspectos da religião, o povo judaico ainda teria um lugar especial nos planos divinos.
"A questão existencialcassino 777Israel é importante para o cristianismo. Porque o cristianismo saiu da nação judaica, porque o cristianismo perseguiu a nação judaica (e depois se emendou) e porque existem razões teológicas para acreditar que a nação judaica tem ainda um destino cristão", diz carvalho.
Pastores e teólogos explicam que essa visão faz com que muitos evangélicos fiquem inclinados a apoiar não só o povo judeu, mas o Estado modernocassino 777Israel. Para Guilhermecassino 777Carvalho, não dá para separar a existência dos judeus no mundo moderno da existênciacassino 777Israel.
"É claro que o Estadocassino 777Israel não representa o Reinocassino 777Deus, não é o Israel bíblico. Mas o Estado modernocassino 777Israel é uma reencarnação histórica das lutas do povo judeu. Isso valida o comportamento nacionalcassino 777Israel? Não, isso é outra história. Mas se existe uma ameaça existencial ao povo judeu encarnado nesse Estado, então isso importa para os cristãos", diz ele.
Um fator que reforça essa identificação é que diversas correntes evangélicas dão bastante importância a valores e símbolos do Antigo Testamento — que tem uma visãocassino 777Israel como a terra prometida e do povo judaico como escolhidocassino 777Deus.
Isso está muito presente entre os pentecostais, mas também acompanhou missionárioscassino 777outras denominações desde o século 19, segundo a antropóloga Jacqueline Teixeira.
"É nesse período que surge uma inspiração protestantecassino 777construir uma relação com o Antigo Testamento, com trechos específicos do Antigo Testamento, então as batalhas do povocassino 777Israel, o períodocassino 777Escravização, a passagem dos judeus. Tentando trazer sempre essa interpretaçãocassino 777que o processocassino 777libertação instauraria um Estado Literal e seria o cumprimentocassino 777uma promessacassino 777Deus do Antigo Testamento", diz Teixeira.
Dentro da comunidade evangélica, há quem critique essa visão que une Israel histórico e o Estado moderno.
"Se confunde o povocassino 777Deus histórico, a naçãocassino 777Israel do velho testamento, com o Estado modernocassino 777Israel, com a política sionista", afirma o pastor e teólogo Alexandre Gonçalves.
Relógio do Fim do Mundo
No século 19 também surgiu um outro tipocassino 777pensamento que influencia até hoje a visãocassino 777muitos evangélicos sobre o tema.
Se tratacassino 777uma corrente teológica que enxerga Israel como uma espéciecassino 777relógio do fim do mundo. Teólogos evangélicos explicam que essa corrente é chamada “dispensacionalismo”
A ideia é que Israel seria uma espéciecassino 777“sinal divino” para o cristianismo, explica Alexandre Gonçalves, quando um períodocassino 777crise econômica e escassez deu origem a correntes evangélicas voltadas para a interpretaçãocassino 777profecias e previsões sobre o apocalipse.
“Havia uma interpretaçãocassino 777que, antes do fim do mundo, Deus faria com que o seu povo voltasse para a terra prometida, isso seria um sinal”, explica Gonçalves.
A criação do Estadocassino 777Israelcassino 7771948, diz ele, foi entendida por essa corrente como esse sinalcassino 777que o fim do mundo está próximo. Ou seja, o relógio do apocalipse teria sido disparado a partir da criação do Estadocassino 777Israel, explica Dusilek, e seria necessário prestar muita atençãocassino 777tudo o que acontece nesse local.
Para essa corrente, a região é entendida como uma espéciecassino 777campocassino 777batalha do fim do mundo, diz Dusilek.
“Ela localiza o fim do mundocassino 777Jerusalém, onde haverá o grande Armagedom, a batalha final entre a luz e as trevas, entre Deus e seus anjos por um lado, e o Diabo e seus demônios por outro lado”, explica Dusilek.
Essa corrente teológica é muito difundida, afirma o teólogo Kenner Terra.
“Muitas vezes, mesmo que a pessoa não conheça essa corrente teológica ou saiba o nome, ela adere a esse pensamento, acaba assimilando essa ideia, que é bastante popular no Brasil”, afirma o pastor e teólogo Kenner Terra. Para essa corrente, explica Terra,cassino 777posiçãocassino 777relação a Israel definiria se você é fiel ou não o povocassino 777Deus.
Evangélicos, bolsonarismo e Israel
Apesar do fundo religioso, afirma o teólogo Sergio Dusilek, ex-presidente da Convenção Batista Carioca, a maneira como muitos líderes têm se posicionado sobre o assunto nos últimos anos tem um forte caráter político.
Segundo ele, os líderes têm usado interpretaçõescassino 777conceitos do antigo testamento para se inserirem no espaço público e na política.
“É no primeiro testamento que está a noçãocassino 777territorialidade,cassino 777governo,cassino 777uma ação política, teocrática até. Neste sentido, tal apoio ganha um caráter mimético e balizador”, afirma Dusilek. “A questão é que essa inserção se dá com interesses governamentais.”
“O apoio, e aí voltamos ao cerne do fundamentalismo, écassino 777fundo político sob o verniz religioso. A ideia subjacentecassino 777certos líderes, ao que parece, écassino 777instaurar um 'evangelistão'. O primeiro testamento, então, funciona como base desse ideário”, diz ele.
Bolsonaro, diz Dusilek, soube ler bem esse momento e aproveitá-lo politicamente.
“Embora acredite que Bolsonaro não esteja nem aí para esse movimentocassino 777apoio ao Estadocassino 777Israel, ele fez a leitura correta (e esperta)cassino 777que muito da liturgia praticadacassino 777muitas igrejas evangélicas incorporou elementos judaicos”, explica Dusilek, que também é pesquisador do Núcleocassino 777Estudos e Pesquisacassino 777Filosofia da Religião, da Universidade Federalcassino 777Juizcassino 777Fora.
“O que Bolsonaro fez foi colocar um holofote institucionalcassino 777uma situação que já estava posta.”
Se o apoio a Israel e à agenda política do país já existia muito antescassino 777Bolsonaro se tornar influente entre evangélicos, o bolsonarismo trouxe uma novidade para esse apoio, segundo Teixeira: o discurso bélico-religioso. Ou seja, a ideiacassino 777que uma disputa entre o bem o mal justificaria o uso da violência.
Sua pesquisa tem apontado para "uma apostacassino 777uma naturalização da violência ou da guerra."
"Tem me chamado a atenção a tentativacassino 777construçãocassino 777uma justificação ética para os bombardeios, para as políticascassino 777violência ecassino 777guerra que Israel tem lançado sobre o povo palestino", explica Teixeira.
A naturalização entre religiososcassino 777medidas como restriçãocassino 777comida e água para os palestinos, seria, segundo a pesquisadora, resultadocassino 777uma "circulação mais preeminentecassino 777imagens do bolsonarismo no contexto das igrejas", que permitiu uma "naturalização um pouco maior da guerra e da desumanização" dos palestinos.
Alexandre Gonçalves afirma que a noçãocassino 777que Israel hoje representa os valorescassino 777uma “sociedade ocidental judaico-cristã” também foi muito difundida entre conservadores evangélicos a partir da ideiacassino 777uma guerra cultural entre esquerda e direita.
“Eu vi muitos jovens da igreja ouvindo o (escritor) Olavocassino 777Carvalho, que difundia essa ideiacassino 777guerra cultural”, conta Gonçalves. Por essa perspectiva, defender Israel seria defender esses valores.
Para Kenner Terra, a corrente teológica do dispensacionalismo foi cooptada por tradições conservadoras evangélicas e sionistas, muitas vezes ligadas a um fundamentalismo cristão, para quem essa confusão entre a nação histórica e o Estado modernocassino 777Israel é interessante.“É uma teologia que tem origem nos EUA, país que é aliado históricocassino 777Israel”, afirma o teólogo.
Terra critica esse apoio incondicional que muitos líderes evangélicos dão a Israel hoje.
“É um apoio que ignora uma sériecassino 777perspectivas históricas, como os tratados internacionais que Israel rompeu, os territórios que tomou e a forma como tratam os palestinos.”