Depressãobetsson cavalosidosos: por que doença ainda é difícilbetsson cavalosser diagnosticada:betsson cavalos

No fim do tratamento, a família optou pelos cuidados paliativosbetsson cavaloscasa, e o maridobetsson cavalosMaria Helena partiu enquanto eles estavambetsson cavalosmãos dadas uma última vez.

Depois da morte dele, a aposentada foi diagnosticada com depressão e chegou a perder muito peso.

"De um dia para o outro, passei a morar sozinha. Sentia uma tristeza muito grande", lembra ela.

"Ao mesmo tempo, passei a receber ligações e mensagensbetsson cavalosWhatsApp com tentativasbetsson cavalosgolpe depois que passei a receber a aposentadoria dele."

Mudanças na rotina também contribuíram para que Maria Helena tivesse crisesbetsson cavalosansiedade. Ela conta que sentia uma angústia muito grande ao ter que assumir tarefas do dia-a-dia que antes cabiam ao seu marido, como tirar dinheiro no caixa eletrônico.

Os filhos insistiram que ela buscasse ajuda médica, mas Maria Helena diz que acreditava, na época, que conseguiria se curar com ajudabetsson cavalossua fé.

"Eu tinha tentado intensificar minhas orações e recorrer ao exercício físico, que eu tinha retomado", diz. "Foram uns seis meses até eu aceitar que precisavabetsson cavalosajuda."

É comum que idosos com depressão demorem a perceber e a aceitar que estão com a doença, segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil.

Além disso, familiares costumam não identificar os sinais da depressãobetsson cavalospessoas da terceira idade por acharem que mudançasbetsson cavaloscomportamento são naturais nessa fase da vida, diz Natan Chehter, médico do Hospital Estadual Mário Covas e membro da Sociedade Brasileirabetsson cavalosGeriatria e Gerontologia.

"Depressão tem um estigma, e, no idoso, muito mais", diz Chehter.

"Se a pessoa nunca teve alteraçãobetsson cavaloshumor, nunca foi deprimida, ela pode, eventualmente, achar que não tem nada", afirma.

O especialista reforça que, se um idoso passa a se comportarbetsson cavalosuma forma diferente do habitual, isso precisa ser devidamente investigado: "Não pode atribuir tudo à idade".

Fatores desencadeantes

A depressão é um transtorno biológico no qual a pessoa perde o interesse ou prazerbetsson cavalosrelação a algo que tinha antes, afetandobetsson cavalosvida pessoal, profissional e social.

Segundo os últimos dados do IBGE (Instituto Brasileirobetsson cavalosGeografia e Estatística) publicados no Observatório Nacional da Família, do Governo Federal, 10,2% das pessoas com 18 anos ou maisbetsson cavalosidade referiram ter recebido o diagnósticobetsson cavalosdepressão.

Os idosos com 60 a 64 anos representavam a faixa etária proporcionalmente mais afetada, com 13,2%. Osbetsson cavalos65 a 74 anos apareciam com 11,8%. E, por último, osbetsson cavalos75 ou mais, 10,2%.

Essa doença tem características próprias entre idosos, explica Rita Reis Ferreira, psiquiatra do Programa Terceira Idade do Institutobetsson cavalosPsiquiatria do Hospital das Clínicasbetsson cavalosSão Paulo.

Embora vários fatores possam desencadear a depressão, o próprio envelhecimento contribui para isso, diz Ferreira.

A médica explica que doenças cerebrovasculares, provocadas por diabetes, hipertensão e outras, podem atingir os vasos do cérebro e danificar o funcionamento do órgão, ocasionando uma depressão vascular.

Nos jovens, fatores biológicos como hipotiroidismo e até câncer podem gerar o problema. O que difere a condição entre essas faixas etárias, segundo os especialistas, realmente são os problemas vasculares nos idosos.

"É uma depressãobetsson cavalosgeral muito grave", explica a médica.

"Quando fazemos ressonância magnética, encontramos lesões vasculares. Com o passar do tempo, nosso sistema vascular vai ficando pior. O sistema vascularbetsson cavalosum idoso é diferentebetsson cavalosum jovem."

Além disso, doenças clínicas como hipertensão, tabagismo e a própria faltabetsson cavalosatividade física minam a saúde do indivíduo ao longo dos anos, gerando consequências no futuro.

"O que vai acontecer é que os problemas vão surgir tardiamente. Todas as doenças existem clinicamente, mas as suas repercussões surgem ao longo do tempo ", alerta Ferreira.

A solidão frequente também contribui para um quadro depressivo, segundo especialistas. Isso foi mostrado inclusivebetsson cavalospesquisa publicada pela Universidade Estadualbetsson cavalosCampinas (Unicamp)betsson cavalos2023.

O estudo Solidão ebetsson cavalosassociação com indicadores sociodemográficos ebetsson cavalossaúdebetsson cavalosadultos e idosos brasileiros: ELSI-Brasil apontou que a depressão é quatro vezes mais comum entre idosos que relatam se sentirem sempre sozinhos.

Já os indivíduos que moravam sozinhos apresentaram índices mais altosbetsson cavalossolidão do que os que moravam com uma ou mais pessoas. Os dados revelam ainda que os níveisbetsson cavalossolidãobetsson cavalosmulheres idosas são mais altos que os dos homens.

O geriatra Leonardo Bernal, professor da Faculdadebetsson cavalosMedicina do ABC, aponta ainda questões socioeconômicas para o surgimento da depressão nessa fase da vida.

Idososbetsson cavalosáreas periféricas e com menor poder aquisitivo tendem a sofrer mais com a doença.

"Se tem mais condições, logo, tem melhor acesso a um serviçobetsson cavalossaúde. Um convênio é caríssimo para um idoso", diz Bernal.

"Quando o idoso está ativo economicamente, consegue uma consulta como gostaria. Mas, quando se aposenta, o plano consome quase todo o rendimento dele."

Além disso, especialistas apontam que outros fatores psicossociais favorecem o surgimento da condição, como mudanças bruscas na rotina.

"Na verdade, envelhecer é conviver com perdas. Quando você se aposenta, por exemplo, você também perde seu papel social", afirma Ferreira.

'Não sentia vontadebetsson cavalosfazer nada'

Durante quase 30 anos, a aposentada paulista Jairê Marques,betsson cavalos84 anos, trabalhou como técnicabetsson cavaloslaboratóriobetsson cavalosuma universidadebetsson cavalosSão Paulo.

Quando se aposentou e começou a ficarbetsson cavaloscasa com mais frequência, ela notou que o sentimentobetsson cavalostristeza não passava.

Mesmo suspeitando que poderia ser depressão, ela destaca que anos atrás não se falava na doença como agora, o que dificultava o acesso à informação.

"Meu diagnósticobetsson cavalosdepressão foi depois da minha aposentadoria. Eu sempre fui um pouquinho depressiva, mas, no começo, nem sabia o que era depressão", diz.

Jairê afirma ainda que, como amava o que fazia, sair do trabalho foi um dos gatilhos para a mudança no humor.

"Depois que me aposentei, fiquei muito mal e passei uns anos assim, procurando alguma coisa para melhorar", afirma.

Para tentar entender o que sentia, a aposentada recorreu ao Hospital das Clínicas,betsson cavalosSão Paulo.

Começou um tratamento com uma psicóloga, mas precisou ser encaminhada a um psiquiatra. Foi então que recebeu o diagnósticobetsson cavalosdepressão.

Segundo a aposentada, ela sentia muita angústia e tinha pensamentos negativos com frequência.

"Não sentia vontadebetsson cavalosfazer nada. É tanta coisa que a gente sente que não dá nem para explicar o que era pior."

Ela não relutoubetsson cavalosse tratar e seguiu a linha terapêutica com medicações e atividadesbetsson cavalosarte.

"Já estava com quase 60 anos, e o tratamento foi um alívio muito grande. Não queria continuar vivendo daquela forma", conta.

Na época, ela ainda teve que lidar com o falecimento do pai e, alguns anos depois, com a morte da mãe, que partiu aos 94 anos e tinha sintomasbetsson cavalosdemência.

"Graças a Deus, tive condiçõesbetsson cavalosacompanhar (minha mãe). Nós morávamos juntas, e essa foi a parte principal. Se eu não estivesse bem, não conseguiria", afirma.

Depois desse episódio, Jairê seguiu com o tratamento e, hoje, já são quase 24 anosbetsson cavalosacompanhamento e medicações.

Ela diz ter sido importante ter recebido um diagnóstico precoce e defende que é preciso acabar com o preconceitobetsson cavalosrelação à depressão.

"Dou a maior força para as pessoas da terceira idade que estão com problema, nem todas as pessoas aceitam, mas hojebetsson cavalosdia já está bem melhor falar sobre depressão."

Sintomas podem ser confundidos

O diagnóstico da depressãobetsson cavalosidosos pode ser difícil devido à semelhança com outras doenças mentais, apontam especialistas.

Diferentemente do quadrobetsson cavalosum jovem,betsson cavalosque os sintomas ficambetsson cavalosgeral mais evidentes,betsson cavalospessoas mais velhas, a condição pode ser "mascarada".

"O paciente pode estar com alguma alteração cognitiva e os sintomas podem ser confundidos com depressão e vice-versa", diz o geriatra Leonardo Bernal.

"Não é raro um quadro depressivo ser confundido com demência ou Alzheimer."

Por isso, o médico defende que, quando há uma alteraçãobetsson cavaloscomportamento prolongada, é necessário que o próprio idoso ou familiares busquem uma ajuda médica.

Essas alteraçõesbetsson cavaloshumor podem vir acompanhadasbetsson cavalossintomas como dores frequentes, sonolênciabetsson cavalosexcesso, insônia, faltabetsson cavalosapetite, fadiga, tristeza profunda e apatia.

A dificuldadebetsson cavalosobter o diagnóstico também ocorre por negligência dos próprios familiares, segundo os médicos.

"Parece que no idoso tudo é normal. Ele tem uma dor, é atribuída à idade. O paciente está esquecido, é a idade. Sempre tem um problema e uma justificativa. O maior estigma ainda é relacionado à idade", destaca Bernal.

Flavia Mariabetsson cavalosPaula Soares, psicóloga e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), diz que outro problema comum é o idoso ser tratado como criança.

"É muito comum associarem o público da terceira idade a pessoas ranzinzas, birrentos e até tratá-losbetsson cavalosforma infantilizada", diz.

"É importante ter uma escuta dedicada, mas sem infantilização."

Ao procurar ajuda é necessário que o idoso receba orientaçãobetsson cavalosum geriatra ou psiquiatra.

A psicoterapia também faz parte do tratamento e deve ser levadabetsson cavalosconsideração durante o acompanhamento médico.

"Além disso, é importante ter esse entorno que o escute, que o acolha. Que fale para ele e não dele", ressalta Soares, que também é autora do livro Envelhescência: o trabalho psíquico na velhice (Editora Appris, 2021).

Mudanças no estilobetsson cavalosvida também ajudam que uma pessoa que sofrebetsson cavalosdepressão recupere o prazer embetsson cavalosrotina, segundo especialistas.

Durante o processo, é importante que o idoso não receba julgamentos ou questionamentos, mas sim, uma ajudabetsson cavalospessoas próximas.

É importante incentivar a participação delesbetsson cavalosatividades sociais, gruposbetsson cavalosapoio ou clubes para combater a solidão.

Há unidades básicasbetsson cavalossaúde que promovem atividadesbetsson cavaloslazerbetsson cavalostodo país. Também existem programasbetsson cavaloslazer nas unidades do Serviço Social do Comércio (Sesc), instituição que promove serviçosbetsson cavalosbem-estar e qualidadebetsson cavalosvida à população.

Apoio dos filhos foi fundamental

Mesmo relutante, Maria Helena teve o apoio da família para buscar um especialista e investigar por que o sentimentobetsson cavalostristeza profunda não passava.

"Tenho dois filhos que, apesarbetsson cavalosmorarembetsson cavalosoutro Estado, sempre estiveram presentes, me ligando todos os dias por vídeo", conta ela.

"Eles percebiam que eu não melhorava daquele estadobetsson cavalostristeza e começaram a colocar na minha cabeça que aquilo não era normal e que eu precisava procurar ajuda médica."

Seu filho, Marcus Barroso,betsson cavalos37 anos, lembra que essa fase foi bem complicada, ainda mais durante o processobetsson cavaloslutobetsson cavalosque todos estavam vivendo.

"Foi muito duro ver a minha mãe tão triste. Ela sempre foi muito ativa, masbetsson cavalosum ano, ela emagreceu maisbetsson cavalos10 kg, sendo que já era magra", diz Marcus.

"Eu e minha irmã moramos muito longe, então a preocupação era ainda maior, porque não podíamos estar perto."

Depoisbetsson cavalosmuita insistência dos filhos, a aposentada procurou um geriatra que, na sequência, a encaminhou para um psiquiatra.

O tratamento começou a ser feito com medicação e também com recomendaçãobetsson cavalosatividadesbetsson cavaloslazer.

De início, diz Maria Helena, foi difícil se acertar com o remédio, já que alguns medicamentos davam efeitos colaterais como sonolência e outros não mostravam muitos efeitos.

Depoisbetsson cavalosquase três meses, ela conta que começou a sentir uma melhora visível.

"Fiz algumas sessõesbetsson cavalosterapia com uma psicóloga. Ganhei o peso que tinha perdido e voltei à minha rotinabetsson cavalosexercícios ebetsson cavalosencontrar as amigas", diz.

"Também entrei para um grupobetsson cavalosoração e comecei um trabalho voluntário com pacientesbetsson cavaloscâncerbetsson cavalosum hospital público da minha cidade", diz.

A aposentada seguebetsson cavalostratamento e diz que está se sentindo bem melhor.

Pela primeira vez desde o diagnóstico do câncer do seu marido, ela vai fazer uma festa para comemorar seu aniversário, como fazia no passado.

Aos poucos, Maria Helena está retomando os hábitos que a deixavam feliz, e reforça a importânciabetsson cavalosnão tratar a depressão como tabu.

"Por mais que a gente tenha aquela resistênciabetsson cavalosachar que a saída para a depressão está na fé, na oração, depressão é uma doença como qualquer outra", diz.

"Precisabetsson cavalosum tratamentobetsson cavalosvárias frentes, e o remédio é uma delas. Procurar ajuda especializada é extremamente importante."