Como atletasroleta das decisões pcelite fazem as emoções trabalharem a seu favor — e que lições eles podem nos dar:roleta das decisões pc

Rebeca Andrade

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Legenda da foto, Rebeca Andrade tornou-seroleta das decisões pcParis 2024 a maior medalhista olímpica da história do Brasil — e chamou a atenção porroleta das decisões pccalma antesroleta das decisões pccompetições importantes

Mas como eles fazem isso na prática? E há algo que nós, que não praticamos esportesroleta das decisões pcaltíssimo nível, podemos aprender com essas estratégias?

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Para responder a essas perguntas, é preciso antes entender como o papel dos atletas se modificou ao longo da história dos Jogos Olímpicos.

'Atletas empoderados como nunca'

A psicóloga Katia Rubio, professora da Faculdaderoleta das decisões pcEducação da Universidaderoleta das decisões pcSão Paulo (USP), aponta que é preciso entender a saúde mental no esporte dianteroleta das decisões pcuma perspectiva histórica.

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"Durante um bom tempo, os atletas eram desrespeitados na condição humana. Eles eram vistos como máquinasroleta das decisões pcproduzir resultados e acabavam submetidos a qualquer estratégia para melhorar marcas e desempenhos", avalia ela, que também coordena o Gruporoleta das decisões pcEstudos Olímpicos da USP.

Rubio divide a história dos jogosroleta das decisões pcalguns períodos. O primeiro vairoleta das decisões pc1896 a 1914, quando se inicia a Primeira Guerra Mundial,roleta das decisões pcque a situação ainda era um pouco confusa e a propostaroleta das decisões pcum evento do tipo ainda não estava bem sedimentada.

Depois,roleta das decisões pc1914 ao fim da Segunda Guerra Mundial,roleta das decisões pcmeadosroleta das decisões pc1945, as competições já são reconhecidas como algo grande,roleta das decisões pccaráter internacional.

"Na sequência, tivemos a época da Guerra Fria,roleta das decisões pc1948 até 1988, que coincide com a busca pela profissionalização,roleta das decisões pcque os atletas são mobilizados como ferramentasroleta das decisões pcprolroleta das decisões pcinteresses nacionais, para metaforizar uma guerra que não acontecia no camporoleta das decisões pcbatalha", caracteriza a psicóloga.

No espaçoroleta das decisões pctempo que duraroleta das decisões pc1988 a 2016 — anoroleta das decisões pcque a Olimpíada foi realizada no Rioroleta das decisões pcJaneiro — a pesquisadora observa uma transformação nos jogos. As competições viram "um grande produto" e os atletas "começam a ser reconhecidos como protagonistas do espetáculo".

"A questão aqui já não são mais os interesses nacionais, mas, sim, o interesse pela marca olímpica", diz ela.

Para Rubio, esse período sofreu um esgotamento a partirroleta das decisões pc2016 — e as duas olimpíadas que ocorreram depois,roleta das decisões pcTóquio (2021) e agoraroleta das decisões pcParis (2024), são marcadas por uma mudança profunda no posicionamento dos protagonistas do espetáculo.

"Os atletas começam a exigir respeito e não querem mais ser vistos como um produto, uma commodity, dentro desse sistema."

"Nos jogosroleta das decisões pcTóquio e Paris, eles estão mais empoderados do que nunca", acredita a pesquisadora.

Um dos episódios que ilustra essa transformação recente envolve a ginasta americana Simone Biles, queroleta das decisões pc2021 se afastou das competições pelas medalhas por questões relacionadas à saúde mental — a decisão causou um choque, já que ela era uma das grandes estrelas daquela Olimpíada, e motivou toda uma discussão sobre o papel do psicológico no desempenho dos atletas.

"Daí ela volta agoraroleta das decisões pc2024,roleta das decisões pcParis, e dá um show", complementa Rubio.

"Os atletas hoje têm poder sobre si mesmos. Há pouco tempo, as instituições determinavam o rumo da vida deles."

Para a especialista, esse processo está relacionadoroleta das decisões pcparte ao trabalho da psicologia esportiva.

"Nos tempos da Guerra Fria, a psicologia enxergava os atletas na condiçãoroleta das decisões pcmáquinas."

Atualmente, dentro da chamada "psicologia social do esporte", os competidores são vistosroleta das decisões pcprimeiro lugar como seres humanos.

"Para que tenham um bom desempenho, os atletas precisam se reconhecer como indivíduos, dentro dos seus limites e potencialidades, para que possamos trabalharroleta das decisões pcbusca por objetivos", explica Rubio.

"Quando a Rebeca faz as declarações sobre as receitas, ela presta um serviço imenso à psicologia. Ela mostra como os atletas não são ratosroleta das decisões pclaboratório para passar por um pretenso treinamento mental."

Simone Biles

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Legenda da foto, Nos jogosroleta das decisões pcTóquio, Simone Biles fez história ao deixar a competição por questões relacionadas à saúde mental

Controle das emoçõesroleta das decisões pcprol da vitória

A abordagem psicológica mais atual usa algumas técnicas para aumentar a concentração ou controlar a ansiedade nos treinos e nas partidas ou eventos oficiais.

"No meu entender, esses objetivos são alcançados hojeroleta das decisões pcdia por um processo que envolve o autoconhecimento", diz Rubio.

A psicóloga clínica e esportiva Fernanda Faggiani, professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), concorda.

"Dentro da clínica, trabalhamos para ajudar o atleta a identificar o que ele está sentindo e reconhecer os efeitos disso no corpo", exemplifica ela.

"Isso permite que se perceba determinadas emoções que podem atrapalhar o desempenho", complementa a especialista, que também integra o Gruporoleta das decisões pcPesquisaroleta das decisões pcEstudos Olímpicos da PUC-RS.

As técnicas usadas por psicólogos ajudam os esportistas a focar no presente, no aqui e no agora. Essas ferramentas permitem que eles tenham a atenção 100% voltada ao que precisam fazer naquele momento para atingir determinados objetivos — como, por exemplo, realizar um saque perfeito ou encadear os movimentos precisos para atingir uma boa velocidade e ultrapassar os adversários.

"Também tentamos diferenciar o que está no controle do atleta e aquilo que foge da atuação dele, como a torcida, o adversário, a imprensa…", continua Faggiani.

Para os momentosroleta das decisões pcansiedade, o competidor aprende a observar sinais físicos, como taquicardia e faltaroleta das decisões pcar, e a fazer alguns exercícios básicosroleta das decisões pcrespiração para ter calma e eventualmente até "domar" as batidas do coração.

Outra tática comum na psicologia esportiva é a estratégiaroleta das decisões pcvisualização. "Tentamos recriar imagens, cenários, movimentos e rotinas que o atleta gostaria que acontecesse ou que ele já fez", explica a professora da PUC-RS.

Em alguns casos, o indivíduo fecha os olhos e refaz essas cenas na cabeça, como uma formaroleta das decisões pcreforçar o que precisa ser feito para ter sucesso.

Faggiani diz que a táticaroleta das decisões pcRebeca Andrade —roleta das decisões pcfocarroleta das decisões pccoisas que vão além do esporte, como receitas ou seriados — também é algo muito inteligente.

"Não posso te garantir que isso seja um trabalho entre ela e a psicóloga que a acompanha, mas pensarroleta das decisões pcoutras coisas além da competição é uma estratégia inteligente, saudável e eficaz para diminuir a ansiedade sem perder a concentração", avalia ela.

"Isso permite que ela alivie a pressão e entre na competição mais relaxada."

Aliás, Faggiani fez parteroleta das decisões pcum projeto que traduziu para o português um instrumentoroleta das decisões pcavaliaçãoroleta das decisões pcsaúde mentalroleta das decisões pcatletas elaborado originalmente pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).

"Os atletas possuem um esquema especialroleta das decisões pcdescanso, sono, treino, alimentação… Portanto, as ferramentas psicológicas que avaliam o público geral não são tão precisas quando aplicadasroleta das decisões pcesportistas", compara ela.

"Esperamos que esse material nos ajude futuramente a acompanhar nossos atletasroleta das decisões pcuma forma ainda melhor", antevê ela.

Rubio acrescenta que o acompanhamento dos competidores exige um ajuste muito fino.

"Os atletas buscam o melhorroleta das decisões pcsi todos os dias, mas precisamos lembrar que existem limites. Temos que tomar cuidado para não exagerar nos treinamentos e cair num estadoroleta das decisões pcburnout", pondera ela.

Aliás, a especialista lembra que o termo burnout, muito usado hojeroleta das decisões pcdia para descrever o esgotamento físico e emocional relacionado ao ambienteroleta das decisões pctrabalho, veio justamente da psicologia esportiva.

"Reconhecer os próprios limites é um primeiro passo. Outro é desafiar esses limites sem ultrapassar aquela linharoleta das decisões pcestouro", complementa ela.

Chiaka Ogbogu

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Legenda da foto, Atletas precisam ter um alto nívelroleta das decisões pcconcentração durante jogos e provas

Os atributosroleta das decisões pcum campeão

Mas será que existem algumas características psicológicas que diferenciam um atleta olímpico? Há uma espécieroleta das decisões pc"perfil mental" que os torna obcecados na busca pela excelência — e pelos pódios?

Como parteroleta das decisões pcum projetoroleta das decisões pcpesquisa que já dura 20 anos, a professora Rubio teve a oportunidaderoleta das decisões pcentrevistar 1,4 mil homens e mulheres que representaram o Brasil nos Jogos Olímpicos ao longo da história.

"Uma marca comumroleta das decisões pctodos eles é essa determinaçãoroleta das decisões pcbuscar um sonho", resume ela.

A psicóloga vê nos relatos desses indivíduos algo parecido ao mito do herói.

"Quando crianças, ainda muito jovens, eles são reconhecidos por ter alguma habilidade diferenciada. Daí alguém diz: 'você pode se tornar um atleta olímpico'", relata ela.

"Pensar uma coisa dessas no Brasil, dianteroleta das decisões pctoda a faltaroleta das decisões pcestrutura esportiva, especialmente nos rincões do país, pode parecer até um delírio para muita gente."

Após esse "chamado", essas pessoas iniciam uma trajetória.

"Geralmente, o chamado é mais forte do que as adversidades. Muitos atletas me disseram que na cidade onde moravam não havia condições para treinar ou competir, e eles decidiram fazer outra coisa da vida. Mas,roleta das decisões pcrepente, eles notavam que não estavam felizes", detalha Rubio.

"Muitos, então, partem para uma grande aventuraroleta das decisões pcbuscaroleta das decisões pcum clube. Depois, vão para as seleções nacionais e eventualmente chegam aos Jogos Olímpicos", diz a pesquisadora.

Um estudo realizado por diversas instituições canadenses tentou desvendar quais são as características mais relevantes para os esportistas que buscam a excelência.

Após analisar tudo que havia sido publicado sobre o tema, os autores do trabalho publicadoroleta das decisões pc2021 criaram o chamado "perfil medalharoleta das decisões pcouro da psicologia esportiva", que reúne as competências mais importantes para um atletaroleta das decisões pcalto nível.

Esses atributos são divididos nas categorias ouro, prata e bronze,roleta das decisões pcalusão às medalhas,roleta das decisões pcacordo com o nívelroleta das decisões pcimportância que eles têm.

Na categoria ouro, que engloba as habilidades fundamentais, estão:

  • Motivação: as razões para a pessoa querer alcançar determinado objetivo;
  • Confiança: quanto o atleta acredita que consegue fazer determinadas coisas;
  • Resiliência: a capacidaderoleta das decisões pcreagir e se adaptar às adversidades.

Essa informação, aliás, vai ao encontro do que a professora Rubio mencionou sobre a buscaroleta das decisões pcsonhos tão comum entre os esportistas.

A categoria prata inclui as competênciasroleta das decisões pcautorregulação, ou quanto a pessoa consegue se controlar para completar as metas:

  • Autoconsciência: a introspecção e o entendimentoroleta das decisões pcseu estado interno;
  • Regulação emocional: o atoroleta das decisões pclidar com o estresse e com as pressões internas e externas;
  • Controleroleta das decisões pcatenção: capacidaderoleta das decisões pcfocar no que realmente importa, sem ligar para o adversário, a torcida ou outros fatores externos.

Por fim, a categoria bronze abarca as habilidadesroleta das decisões pcrelacionamento interpessoal:

  • Relação entre atleta e treinadores;
  • Liderança;
  • Trabalhoroleta das decisões pcequipe;
  • Comunicação.
Bia Souza, medalhistaroleta das decisões pcouro no judô

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Legenda da foto, Encontrar motivação e confiança são alguns dos atributos indispensáveisroleta das decisões pcum atletaroleta das decisões pcalto nível, mostra pesquisa

Balanço geral após a Olimpíada

Mas e se, mesmo com todo esse trabalho, a medalha não vem? Como fica a cabeçaroleta das decisões pcatletas que se prepararam por anos e não conseguem o resultado que tanto almejavam?

Com o fim dos jogos, o esportista e a equiperoleta das decisões pcpsicologia realizam uma avaliação dos resultados — o que deu certo, o que não funcionou, o que precisa ser trabalhado daqui para frente.

"Temos atletas que não conseguiram medalhas, mas fizeram a melhor marca da carreira deles. Ou seja, há uma vitória dentro daquela derrota", destaca Rubio.

"Para aqueles que perderam porque não conseguiram fazer o seu melhor, esse é o momentoroleta das decisões pcdescobrir os motivos por trás disso e elaborar um significado para essa derrota."

"É preciso internalizar o que aconteceu para que o atleta consiga se reconhecer naquiloroleta das decisões pcque falhou", complementa a psicóloga.

A vitória, por outro lado, também pode representar um certo perigo.

"Primeiro, é preciso gozar a conquista. Muitas vezes, o atleta não tem temporoleta das decisões pcfestejar o que ganhou", diz Rubio.

Passada a comemoração, é horaroleta das decisões pcrefazer os planos para o próximo ciclo.

"Muitos competidoresroleta das decisões pcalto nível dizem que, mais difícil que ganhar, é manter-seroleta das decisões pcprimeiro lugar e encontrar a motivação para isso", observa a professora.

Atleta japonesa chora após derrota

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Legenda da foto, Aprender com as derrotas é uma maneiraroleta das decisões pcencontrar caminhos para futuras vitórias, dizem psicólogas

O que podemos aprender com eles

Para Rubio, há pelo menos três coisas que os participantesroleta das decisões pcOlimpíadas podem ensinar para a populaçãoroleta das decisões pcgeral.

"A primeira delas é que, todos dias ao acordar, você deve pensar no que quer fazer da vida. Se o atleta não tiver muita convicçãoroleta das decisões pcque deseja treinar para buscar o seu melhor, ele nem levanta da cama", diz ela.

Para a professora, essa motivação envolve "ter um prazer imenso naquilo que você faz".

"Eu já vi muitos profissionaisroleta das decisões pcoutras áreas que eram infelizes no trabalho. Mas são raríssimos os atletas que não estão satisfeitos", observa ela.

O segundo aspecto envolve a disciplina. "Essa é uma característica central na vida do atleta: a capacidaderoleta das decisões pcplanejar e ter disposiçãoroleta das decisões pcbuscar sempre o melhorroleta das decisões pcsi."

"E isso não tem a ver com competir. Buscar o melhor não está relacionado ao outro, mas a si mesmo", diferencia ela.

Em terceiro lugar, a psicóloga chama a atenção para aquilo que ela considera um grande tabu do mundo contemporâneo: a derrota.

"Não conheço nenhum atleta que ganhou sempre. E isso é uma questão que devemos trazer para nossas vidas: como aprender com as derrotas?", pergunta ela.

Já Faggiani cita o exemplo dado por duas medalhistas brasileiras nos jogosroleta das decisões pcParis: Rayssa Leal, bronze no skate street, e a própria Rebeca Andrade deram diversas declaraçõesroleta das decisões pcque enfatizaram o apoio psicológico que recebem.

Há também os casosroleta das decisões pcGabriel Medina, bronze no surfe, e da própria Simone Biles, multimedalhista pelos Estados Unidos. Ambos chegaram a se afastarroleta das decisões pccompetições importantes nos últimos anos para cuidar da cabeça — e brilharam nas competições olímpicasroleta das decisões pc2024.

"Espero que todos esses exemplos ajudem a reforçar a importância da saúde mental não só nas competições, mas na vidaroleta das decisões pctodas as pessoas", diz a pesquisadora da PUC-RS.

"O acompanhamento psicológico não é importante sóroleta das decisões pcmomentosroleta das decisões pccrise e não resolve os problemas do dia para a noite. Trata-seroleta das decisões pcum trabalhoroleta das decisões pclongo prazo."

"Espero que essa se torne uma das grandes lições deixadas por esses Jogos Olímpicos", conclui ela.