'Elites não têmbet7777concordar comigo, mas não precisam ter medo', diz Gabriel Boric à BBC:bet7777

Gabriel Boric

Crédito, Natalia Vial

Legenda da foto, Gabriel Boric será o mais jovem presidente da história do Chile
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bet7777 BBC News Mundo - O que o sr. acha que representa e o que lhe permitiu chegar ao Palácio La Moneda?

bet7777 Gabriel Boric - Acredito que representamos uma energia geracionalbet7777transformação que aprendeu ao longo do caminho a valorizar a história que nos constitui. Representamos o ar puro, a juventude, a novidade, mas com consciência da cadeia histórica dos processos. Também representamos (a ideia de) que o status quo, ou o conservadorismo, é a pior coisa que pode acontecer ao Chile neste momento.

Num momentobet7777que o mundo está mudando rapidamente, o Chile também precisa mudar e se adaptar. Representamos a forçabet7777uma era.

bet7777 BBC News Mundo - O sr. acababet7777anunciar um gabinete com 10 homens e 14 mulheres…

bet7777 Boric - Que alegria poder falar isso nos diasbet7777hoje. O fatobet7777termos conseguido isso se deve à lutabet7777milharesbet7777mulheres que, por muito tempo, empurraram as barreiras do que era considerado possível, e agora com a última onda feminista ainda mais.

Mas não somos os primeiros a fazer isso. A presidente (Michelle) Bacheletbet7777seu primeiro mandato fez um esforço para ter um gabinete conjunto, e as forças do conservadorismo rapidamente a cortaram.

bet7777 BBC News Mundo - Por que diz isso?

bet7777 Boric - Porque teve que mudar. O primeiro gabinete apresentado tinha paridade e ninguém repete o prato, disse; e na primeira mudançabet7777gabinete, ela teve que fazer mudanças por causabet7777pressões que iam além do que era seu desejo genuíno. Hoje nós trazemos essa experiência também. Não quero nos apresentar como pioneiros, mas estamos colhendo frutosbet7777um legado que vai muito alémbet7777nós.

Gabinetebet7777Boric

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, O governobet7777Boric será mais diverso do que os anteriores

bet7777 BBC News Mundo - E com ministras e ministros que vêmbet7777diferentes realidades educacionais, qual é a sinalização que o sr. quer dar?

bet7777 Boric - Que o Chile é diverso, e que a diversidade também deve ser expressabet7777suas instituições e embet7777política. Por muito tempo, a elite chilena foi excessivamente consanguínea e não conseguia enxergar alémbet7777seus próprios narizes. Como partebet7777uma elite, acredito que temos o dever e a responsabilidadebet7777sairbet7777nossos círculosbet7777conforto e pensarbet7777um Chile mais abrangente.

bet7777 BBC News Mundo - Entre seus ministros há um professor na pastabet7777Educação que foi formadobet7777escola pública...

bet7777 Boric - Isso mesmo,bet7777San Miguel, na mesma escolabet7777Los Prisioneros (uma das principais bandasbet7777rock do Chile). Pareceu-nos que este foi um gesto importante, para além da competência e da vocação profissionalbet7777Marco Ávila. Creio que foi um gesto necessário para o setor.

Por muito tempo tivemos acadêmicos sem salabet7777aula, engenheiros comerciais dirigindo a educaçãobet7777nosso país. Acredito que era preciso um choquebet7777salabet7777aula, que é onde as desigualdades e os desafios da experiência educacional se expressam com mais clareza. Esta não pode ser uma reforma sem salabet7777aula, sem meninos e meninas, não pode ser uma reforma sem professores.

bet7777 BBC News Mundo - E uma mulherbet777735 anos, a ex-presidente da Faculdadebet7777Medicina, Izkia Siches, no Ministério do Interior…

bet7777 Boric - Que coragem tem Izkia Siches. Mas isso vem sendo amplamente demonstrado há muito tempo. É uma liderança reconhecida pela sociedade chilena pelo papel que desempenhou nos momentos mais difíceisbet7777que a pandemia nos atingiu.

De opiniões firmes, mas ao mesmo tempo aberta a ouvir e convocarbet7777forma transversal para um bem comum acima dos interesses pessoais. Acho que ela conseguiu dar sentido a uma faculdadebet7777medicina que, por muito tempo, só defendia os interessesbet7777um setor muito pequeno. E a partir daí falou com a sociedade.

Não tenho dúvidasbet7777que desempenhará um excelente papel no comando do Ministério do Interior e Segurança Pública, o que é um tremendo desafio, porque é um ministério que tem sido tradicionalmente conturbado. Izkia também está muito interessadabet7777aceitar este desafio, e confio plenamente nela.

bet7777 BBC News Mundo - Que critérios o sr. utilizou para escolher abet7777equipebet7777ministros?

bet7777 Boric - Os critérios que tivemosbet7777vista foram, por um lado, que teria que ser um gabinete paritário, ou com mais mulheres que homens; que incorporaria a diversidadebet7777realidades, incluindo a presença da educação pública, tanto acerca da formação escolar como universitária; um gabinete que conseguisse ser uma síntesebet7777gerações, por um lado a nossa geração que emergiu na vida públicabet77772006 e tem crescido a partirbet7777lutas sociais, mas também outra que administrou o Estado por muito tempo e tem experiências valiosas das quais queremos aprender.

E também um gabinete que representasse a amplitude social que conseguimos reunir na vitóriabet777719bet7777dezembro na base da coligação Apruebo Dignidad, mas que vai além dela, com os partidos políticos que nos deram seu apoio no segundo turno e têm representação parlamentar. Além, também, das organizações sociais e das pessoas independentes que mobilizaram e fizeram a diferença com as mulheres.

bet7777 BBC News Mundo - A sinalização da escolha do atual presidente do Banco Central para administrar o Ministério da Fazenda foi aplaudida por empresários e investidores. Quanto lhe custou convencer o Partido Comunista desta nomeação?

bet7777 Boric - As nomeações,bet7777todos os cargos, eram discutidasbet7777termosbet7777pessoas com os partidos. Eles me deram total liberdade para designar o gabinete, confinados aos critérios que eu tinha para formar nossa equipebet7777trabalho. E nisso eu aprecio o nível da visão que todas as partes tiveram.

Gabriel Boric

Crédito, Natalia Vial

Legenda da foto, Boric falou à BBC News Mundo embet7777primeira entrevista a um veículo estrangeiro apósbet7777vitória

bet7777 BBC News Mundo - Foi uma decisão coletiva?

bet7777 Boric - Foi uma decisão coletiva. Discuti no início do processo com o Apruebo Dignidad a possibilidadebet7777incorporar independentes e militantesbet7777partidos políticos que não faziam parte da coalizão, e eles me deram total liberdade para isso, algo que usei adequadamente.

Além disso, acredito que no casobet7777Mario Marcelbet7777particular, ele tem uma trajetória e experiência no Estado, na diretoriabet7777orçamento, no Banco Central e também no exterior, no Banco Mundial, na OCDE. Essa trajetória histórica é inquestionável, e é também uma garantiabet7777seriedade para as reformas que temosbet7777impulsionar, que vão ser difíceis e que vão exigir um amplo consenso.

Eles precisavam, penso eu, desta garantiabet7777que uma pessoa como Mario Marcel pode dar, alémbet7777suas firmes convicções progressistas, já que ele se define como social-democrata.

bet7777 BBC News Mundo - O sr. sempre responde no plural,bet7777todas as perguntas foram feitas ao sr., provavelmente porque toma suas decisões negociando com o restobet7777sua equipe. Essa lógicabet7777assembleia que usa com seu grupo para tomar decisões pode ser bem democrática, mas o sr. acha que será eficiente na horabet7777tomar decisões?

bet7777 Boric - Há muito mitobet7777torno das assembleias. Toda organização requer algum tipobet7777ordem. E o desafio que temos como governo é gerar uma nova ordem.

Eu diria que o problema no Chile hoje é que essa ordem não existe. O contrato social foi quebrado. E, do meu pontobet7777vista, pelas elites. Portanto, para recuperar a ordem são necessárias novas formas, e não repetir as mesmas do passado.

bet7777 BBC News Mundo - De que maneira o contrato social foi quebrado?

bet7777 Boric - Quando vemos que, durante a pandemia, por exemplo, os mais ricos do Chile aumentaram substancialmente seu capital, enquanto a pobreza e a extrema pobreza cresceram pela primeira vezbet7777décadas.

Quando vemos o nívelbet7777precariedade e vulnerabilidade que a classe média tembet7777relação às pessoas mais ricas deste país, (vemos que) o lugar onde se nasce continua a determinarbet7777forma muito substantiva ou preditiva o lugar onde se vai morrer.

Por isso a promessabet7777igualdade, além do fatobet7777que sem dúvida houve maior acesso a bens básicos, ampliaçãobet7777matrículas, redução da pobreza… Acredito que a promessabet7777igualdade e inclusão não foi cumprida e, portanto, esse pacto social está quebrado e precisamos construir um novo.

bet7777 BBC News Mundo - O sr. pode definir essa "nova ordem"?

bet7777 Boric - O que aspiramos é poder construir uma sociedade colaborativa, na qual algunsbet7777seus membros não sejam abandonados ou discriminados pelas condiçõesbet7777vidabet7777que tiveram que viver, e na qual o Estado também seja capazbet7777garantir os direitos sociaisbet7777forma universal. independentementebet7777onde você nasceu, da etnia da qual você vem ou da corbet7777sua pele. Isso requer reformas estruturais.

Sabemos que essas coisas não podem ser alcançadas da noite para o dia, sabemos que certamente nosso governo vai construir sobre o que foi construído no Chile nos últimos 30 anos, mas também vamos ter uma viradabet7777relação à lógica política neoliberalbet7777cada um por si na sociedade. Isso é algo que tem que acabar.

Não podemos passarbet7777"não esperávamos" para "nada aconteceu aqui". No Chile, ainda existe um mal-estar profundo que não foi resolvidobet7777questões sociais. Há muita precariedade.

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ESTILO DE GOVERNAR

bet7777 BBC News Mundo - O sr. é um homembet7777dúvidas oubet7777certezas?

bet7777 Boric - Sou um homem maisbet7777dúvidas do quebet7777certezas. É importante acompanhar as convicções que tenho com a possibilidadebet7777duvidar delas, para melhorar. As pessoas que são muito segurasbet7777si me geram um certo distanciamento.

bet7777 BBC News Mundo - Haverá muitas vezesbet7777que o sr. terá que tomar decisões difíceis sozinho. Quanto estresse essas circunstâncias têm sobre o sr.?

bet7777 Boric - É super difícil. Não será a primeira vez, você tem que ser muito claro sobre suas convicções e princípios e agir semprebet7777coerência com eles. Às vezes isso significa ir contra o que pode ser mais popularbet7777um determinado momento ou o que as pessoas mais próximas te dizem.

Há algo impossívelbet7777se medir, que é a intuiçãobet7777política. Quando se tem convicções firmes não se vai ziguezagueando pela vida. Isso te permite ter uma trajetória previsível.

bet7777 BBC News Mundo - Quais são as habilidades e competências que um presidente deve ter atualmente?

bet7777 Boric - Venho formando a convicçãobet7777que um bom presidente não é aquele que está mais ocupado, não é aquele que tem mais papéis abet7777volta. Um bom presidente é aquele que tem capacidadebet7777ouvir, estar aberto a novas ideias mesmo que não venhambet7777seu círculo mais íntimo. Um presidente que tem capacidadebet7777refletir e convocar.

Sempre disse que a radicalidade da nossa proposta não estábet7777quão forte a defendemo,bet7777quão esdrúxulas são as intervenções, mas sim pela capacidadebet7777convocação e pelo significado que dá às pessoas.

Primeiro você se torna classe dominante antesbet7777ser classe dirigente. Você primeiro faz mudanças culturais antesbet7777ter a chancebet7777dirigi-las. E acho que nossa geração fez exatamente isso.

Gabriel Boric após ganhar as eleições

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Legenda da foto, Boric assumirábet777711bet7777março

bet7777 BBC News Mundo - Você adotou uma nova formabet7777relacionamento com as pessoas, muito horizontal, próxima, afetuosa, as pessoas lhe contam seus problemas, você as ouve e anota. Não tem medobet7777gerar expectativas impossíveisbet7777cumprir?

bet7777 Boric - É uma preocupação, mas também sempre digo às pessoas nessas conversas que não vou conseguir cumprir tudo. E há uma sabedoria popular maior do que supõem as elites.

As pessoas sabem que isso vai ser difícil, sabem que as mudanças não virão da noite para o dia, mas querem que tentemos e que sejamos honestos ao tentar. Uma das coisas que importa para mim é contar a eles sobre os obstáculos que estamos enfrentando e por que há certas coisas que fazemos e outras que não podemos fazer.

E também para envolvê-los no processobet7777governo, para que eles se sintam parte dele, e nós vamos lá juntos, moldando expectativas com base na realidade. A realidade é mais teimosa do que qualquer ideologia.

bet7777 BBC News Mundo - E quais são suas expectativas?

bet7777 Boric - Minha expectativa é que ao finalbet7777nosso mandato tenhamos um Chile que se encontre, onde colaboramos mais do que competimos; um Chile que se faz ouvir e sobretudo um Chile mais justo no sentidobet7777que as enormes desigualdades que hoje marcam o lugarbet7777origem e o lugar da morte se diluembet7777função da trajetóriabet7777vida e das possibilidades que cada um tem como pessoa. E que essas possibilidades sejam cada vez mais iguais.

bet7777 BBC News Mundo - Não é fácil assumir este país... O que está disposto a perder?

bet7777 Boric - Essa pergunta é boa porque na política sempre perguntam o que você quer fazer, mas não do que você está disposto a desistir. O que importa para mim é melhorar as condiçõesbet7777vidabet7777forma sustentável e sustentável a tempo para quem habita o nosso país. É preciso, portanto, ter mais do que limites rígidos.

Estou disposto a conversar muito e me preocupo maisbet7777chegar ao porto do que apenas seguir o caminho que tracei para mim no início. Temos um roteiro, mas se descobrirmos que há um precipício no caminho, encontraremos uma maneirabet7777atravessá-lo, mesmo que isso torne a estrada um pouco mais longa.

bet7777 BBC News Mundo - O sr. dissebet7777muitas ocasiões que quer ser um presidente que no finalbet7777seu mandato tenha menos poder do que quando começou. Ao que o sr. se refere especificamente?

bet7777 Boric - Isso tem a verbet7777onde eu venho. Soubet7777Magalhães, nascido e criado nas margens do Estreito e desde que me lembro ouço a palavra descentralização sem que ela tenha tido grandes efeitos na vida cotidiana das pessoas. As decisões acabam sendo tomadas por uma elitebet7777classe altabet7777Santiago, acima das realidades vividas nas comunas, nos bairros. E a figura presidencial está no topo disso.

De fato, a quantidadebet7777expectativas que existem tem a ver com a idealização da figura presidencial que vai muito além das minhas características. É algo que aconteceu muitas vezes na história do Chile. Assim, espero, e isso estará na vanguarda do processo constitucional, que possamos construir um paísbet7777que sejamos democráticos, onde uma pessoa não detenha tanto poder e onde o poder seja também mais transparente, não apenasbet7777termos da Presidência da República, mas também dos famosos poderes fáticos que a exercem sem mediar qualquer tipobet7777decisão ou deliberação democrática.

Sendo mais específico, espero que no finalbet7777nosso mandato tenhamos um Chile descentralizado, que nos bairros, nas comunas, nas regiões se possa decidir seu futuro mais do que a partir do Palácio La Moneda oubet7777um bairro ricobet7777Santiago.

bet7777 BBC News Mundo - Prefere ser chamadobet7777presidente ou apenasbet7777Gabriel?

bet7777 Boric - É um desafio, mas tenho entendido que é importante assimilar a instituição presidencial. Porque hoje estou assumindo uma instituição que já existe. Por isso, sem perder a minha essência, acredito que seja importante o que foi construído e o que vem depois. Nesse sentido, penso que nesse momento eu deva se tratado como a instituição que represento.

Gabriel Boric
Legenda da foto, Boric é um ex-líder do movimento estudantil

bet7777 BBC News Mundo - O sr. passa a sensaçãobet7777que é muito importante para si demonstrar afeto.

bet7777 Boric - É quebet7777um país tão agredido ultimamente, tão dividido, é importante que nos amemosbet7777novo. Para mim, a preocupação com a saúde mental foi fundamental no meu desenvolvimento nos últimos anos, e entender que, como chilenos, nos falta afeto. E se alguém pode contribuir um pouco para dar isso, me parece uma boa hora.

Agora, ouvir tem muitobet7777reparar. Quando você ouve uma pessoa, mesmo que não consiga resolver o problema dela, você começa a gerar um vínculo diferente, ciente, insisto,bet7777que provavelmente nem todos os problemas serão resolvidos. Mas vai se tendo um termômetro diferente. Se você se cercar apenas das mesmas pessoas que são iguais a você, da mesma classe social que você, ou que pensam igual a você, você acababet7777uma bolha que distorce a realidade. E esse é um problema endêmico da política que temos que tentar mudar.

Não estou dizendo que somos mais virtuosos, ou moralmente limpos, mas que, aprendendo, e vou insistir muito nessa ideia, a partir dos erros e acertos do passado, devemos mudar e melhorar.

Há uma frase que citei recentementebet7777um discurso ebet7777que gosto muito. É do compositor Gustav Mahler, que diz que "a tradição não consiste no culto às cinzas, mas na preservação do fogo" e que,bet7777certa forma, também é um leitmotiv.

bet7777 BBC News Mundo - Há também muitos que o temem, ou melhor, que não confiambet7777seu discursobet7777chamamento... "Lobinho disfarçadobet7777cordeiro", comentam alguns. O que o sr. representa que pode gerar medobet7777parte da elite?

bet7777 Boric - Parte da elite é muito egocêntrica, isso ainda é muito inato. Por viverembet7777uma posição privilegiada por tanto tempo, qualquer mudança gera a incerteza que a maioria dos chilenos vive no dia a dia. E isso gera rejeição. Uma rejeição um tanto atávica.

Espero, por um lado, que as elites deixembet7777ter medobet7777nós. Não espero que concordem comigo, mas espero que parembet7777ter medobet7777nós.

Mas essa desconfiança não é uma crítica infundada, porquebet7777alguma forma se passoubet7777um políticobet7777frases e ações às vezes impetuosas para um político acolhedor, moderado...

No caminho da política, que se cruza com o da vida, há sempre aprendizados, e na minha construção política prefiro ser barro do que pedra. As experiências ou ações nas quais alguns se baseiam para fazer esses julgamentos também são o que me moldou. Porque errando é que eu consegui aprender. Então eu não veria isso como um problema, mas como partebet7777um processobet7777aprendizagem.

bet7777 BBC News Mundo - Outra dúvida é a capacidadebet7777seu setor, muito bet7777 millennial bet7777 para alguns,bet7777garantir a governabilidade do país…

bet7777 Boric - Essa críticabet7777que somos muito millennials (nascidos entre 1980 e 1996) é como se tivéssemos dito alguma vez que os baby boomers (nascidos entre 1946 e 1964) nunca deveriam ter assumido o poder quando são eles que governaram o Chile nos últimos 30 anos.

Essa crítica fica aquém da perspectiva histórica quando se vê o que as gerações anteriores foram. No "Balanço Patriótico", (Vicente) Huidobrobet77771920 disse muito claramente sobre os primeiros anos da República que tudobet7777grande no Chile foi feito pelos jovens: (um dos líderes da independência chilena José Miguel) Carrera aos 26, (outro líder da independência chilena Bernardo) O'Higgins aos 36, (o guerrilheiro da independência chilena) Manuel Rodríguez aos 24…

Você tem que olhar para a história e ver que não é um fenômeno novo. Não é preciso ter tanto medo disso.

bet7777 BBC News Mundo - Sua vitória nas eleições representa o triunfobet7777uma ideiabet7777sociedade ou do olharbet7777uma nova geração?

bet7777 Boris - Como tudobet7777coisas assim, é múltiplo. Tem a ver com o surgimentobet7777uma nova geração, com a necessidadebet7777renovação, com a ideiabet7777uma sociedade que se opõe claramente ao que o atual governo apresentou e à candidatura com que nos deparamos no segundo turno.

É o oposto do gestor 24 horas por dia, 7 dias por semana, o self-made man que estudou apenasbet7777universidades estrangeiras, mas também tem a ver com conhecer bem a trajetória do Chile.

bet7777 BBC News Mundo - Parece quebet7777vitória se deve mais a seu capital político pessoal e pouco a ver com a formaçãobet7777uma frente ampla ou combet7777identidade comunista. Como o Partido Comunista contribui para o seu governo?

bet7777 Boric - Muito. Nossa aliança é a "Aprovar Dignidade", mas chamamos ao gabinete partidos que fazem partebet7777outra tradição. Devemos conseguir desmistificar os medos contra o Partido Comunista chileno. Tivemos diferenças táticas e outras maisbet7777determinados momentos.

O dia 15bet7777novembro (data da assinatura do acordo que prevê uma Convenção Constitucional — órgão encarregadobet7777redigir uma nova Constituição —.e que o Partido Comunista não assinou) é o mais visível, mas o Partido Comunista hoje está comprometido com a implementação do nosso programa.

Além disso, foi um partido que, no Chile, foi profundamente democrático e que esteve do lado das lutas sociais e dos oprimidos, e isso é algo que também me inspira.

Protestos no Chile

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Legenda da foto, O Chile viu uma grande crise social eclodirbet77772019

bet7777 BBC News Mundo - Dois anos após a eclosãobet7777uma crise social, como você entende o que aconteceu então?

bet7777 Boric - Acho que foi um momentobet7777muita frustração com as promessas da meritocracia que não estavam sendo cumpridas. E havia uma consciência coletivabet7777que isso não estava acontecendobet7777diferentes partes do país.

E esse encontro levou a uma mobilização fora dos canais institucionais que, porbet7777vez, uniu raiva e esperança. Espero que o que prevaleça nisso seja a esperança.

Paralelamente a isso, enquanto discutimos as regras do futuro, temos que ser capazesbet7777resolver os problemas específicos das pessoas, que foram particularmente afetadas pela pandemia.

bet7777 BBC News Mundo - Existe a possibilidadebet7777um governobet7777esquerda comedido e reformista?

bet7777 Boric - Discordo da obsessão da elite com moderar nosso discurso e nos rotular. É mais um complexo deles do que nosso. Temos uma direção e vamos caminhar rumo a ela.

E essa direção é criar um Estado que consagre os direitos sociais universais, com pleno respeito aos direitos humanos, que descentralize o poder, que assuma os desafios ambientais, da crise climática.

bet7777 BBC News Mundo - Não estamos falandobet7777moderação, então...

bet7777 Boric - A ideiabet7777ser equilibradobet7777vezbet7777moderado faz mais sentido para mim. Há alguns fanáticos da moderação que acabam não se movendo, e esses fanáticos causaram danos profundos ao país. Porque, com um medo atávico da mudança, acabaram estourando a panelabet7777pressão.

Boris e Izkia Siches.

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Legenda da foto, Boric terá Izkia Siches,bet777735 anos, como ministra do Interior

bet7777 BBC News Brasil - O sr. está mais próximo da social-democracia ou do comunismo?

bet7777 Boric - Venho da tradição socialista libertária chilena. Esse é o meu espaço ideológicobet7777referência. Sou democrata e acredito que a democracia tem que mudar e se adaptar, e não se petrificar. Acredito que a democracia no Chile carecebet7777maior densidade.

bet7777 BBC News Brasil - E dentro da América Latina, o sr. se reconhecebet7777algum dos governantesbet7777esquerda?

bet7777 Boric - Espero trabalhar ao ladobet7777Luis Arce, na Bolívia,bet7777Lula se ele ganhar as eleições no Brasil,bet7777Gustavo Petro, cuja experiência se consolida na Colômbia. Acho que pode ser um eixo interessante.

Entendo que a pergunta está relacionada à Venezuela e à Nicarágua. No caso da Nicarágua, não consigo encontrar nada lá, e no caso da Venezuela é uma experiência que fracassou, e a principal demonstraçãobet7777seu fracasso é a diásporabet77776 milhõesbet7777venezuelanos.

bet7777 BBC News Mundo - O sr. se sente parte da geraçãobet7777Jacinda Ardern, Sanna Marin, Emmanuel Macron, até mesmo Alexandria Ocasio-Cortez? Existe algo maior, alémbet7777todos terem menosbet777745 anos?

bet7777 Boric - Não seibet7777detalhes quais são as convicçõesbet7777cada um deles, e ter a mesma idade não indica necessariamente alguma coisa.

Posso dizer que tenho uma proximidade ideológica com (o político boliviano Álvaro) García Linera, independentementebet7777sua idade, ou uma clara cumplicidade com o Podemos na Espanha, que não tem nada a ver com uma questãobet7777idade, mas com as convicções que temos. E valorizo ​​muito a experiênciabet7777Lula, mas também procuro conhecer abet7777(Fernando Henrique) Cardoso. Não se pode ter referências estáticas.

O que é certo é que hoje existe uma crise climática global partir da qual acredito que nossa geração vai adquirir uma consciência maior do que as anteriores. E que eu espero seja algo que nos una. Tive a oportunidadebet7777falar sobre isso com (o premiê canadense) Justin Trudeau. Recebi uma cartabet7777Emmanuel Macron (presidente da França), também nesse sentido, sei que (a premiê neozelandesa) Jacinda Ardern teve essa preocupação, então espero que tenhamos um pontobet7777comum e forcemos a gerações anteriores e os governantesbet7777todos os países, como (a ativista) Greta (Thunberg) disse, a agir agora.

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PRIORIDADES ECONÔMICAS

bet7777 BBC News Brasil - Quais são suas prioridades na economia?

bet7777 Boric - Que possamos ter uma consolidação da recuperação econômica que seja justa. Que não sejam reproduzidas as desigualdades anteriores. E isso implica dar maiores ferramentas às pequenas empresas para que haja uma desconcentração do mercado. Hoje, 87% das vendas no Chile estão concentradasbet7777grandes empresas e apenas 13%bet7777pequenas e médias empresas. Essa é a pedra angular da desigualdadebet7777nosso país.

Temos que alcançar a combinação entre crescimento e redistribuição. Uma distribuição mais justa da riqueza. Um não é sustentável sem o outro. Todos cresceram, é verdade, mas alguns muito mais do que outros e isso ampliou a fratura da sociedade chilena.

bet7777 BBC News Mundo - O sr. falabet7777um pacto tributário e nãobet7777uma reforma, uma diferença semântica fundamental, porque a primeira significa um acordo com todos os setores políticos.

bet7777 Boric - É bom que você perceba isso, porque é ao que aspiramos.

Não se tratabet7777mocinhos contra bandidos. Queremos que todas as forças produtivas do país concordem que é necessária uma melhor redistribuiçãobet7777riqueza para crescer. E que também seja sustentávelbet7777relação ao meio ambiente, e, para isso, esperamos convocar trabalhadores organizados, pequenas e médias empresas e grandes empresários.

bet7777 BBC News Mundo - O sr. receberá um país com uma das maiores taxasbet7777inflação das últimas décadas, com um déficit relevante. Em que momento pretende comunicar que não será fácil cumprir as promessas do seu programa?

bet7777 Boric - Estamos fazendo isso permanentemente. Temos o compromissobet7777respeitar o orçamento aprovado pelo Congresso, que tem reduçãobet777722% nos gastos, e tambémbet7777avançarbet7777nossas reformas na medidabet7777que estamos garantindo receita permanente para o que é considerado gasto permanente. E essa é uma linha da qual não podemos nos desviar. Não pode haver atalhos irresponsáveis. Estou confiantebet7777que a população vai entender.

Gabriel Boric

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Legenda da foto, O presidente eleito do Chile diz querer transformar o país

bet7777 BBC News Brasil - Quão complexo é instalar um Estadobet7777bem-estar socialbet7777um país que não tem os padrões econômicos ou sociais que os modelos social-democratas mais bem sucedidos têm?

bet7777 Boric - Precisamos ver como se encontravam os países que desenvolveram Estadosbet7777bem-estar social no momentobet7777que optaram por esse caminho.

Os desafios são diferentes. No caso dos países europeus, não apenas os nórdicos, eles decidiram criar Estadosbet7777bem-estar que garantissem direitos sociais universais quando tinham um PIB per capita semelhante ou inferior ao do Chile hoje.

Espero que concordemos como sociedade, no sentidobet7777que há metasbet7777longo prazo que não terão resultados antes das próximas eleições e que, portanto, muitas das decisões que tomaremos não podem ser pautadas por uma ansiedade eleitoral e que há frutos que não vou colher (durante o governo).

bet7777 BBC News Brasil - O que diria que é o nosso calcanharbet7777Aquiles?

bet7777 Boric - A desigualdade.

bet7777 BBC News Brasil - E o seu?

bet7777 Boric bet7777 - Há muitas coisas que poderia dizer, mas, se tivesse que escolher uma, mais do que uma minha pessoal, o grande risco para nosso governo é não conseguir ampliar nossa base socialbet7777apoio para alémbet7777nossas fronteiras atuais.

Se ficarmos apenas com quem somos hoje, não conseguiremos fazer as transformações que queremos. Portanto, se não caminharmos todos juntos, será um desafio muito difícil.

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RESPOSTA À VIOLÊNCIA

bet7777 BBC News Mundo - Como líder estudantil, o sr. esteve nas ruas muitas vezes, mas muitas dessas manifestações terminarambet7777atosbet7777violência. Vocês mesmos falarambet7777pessoas que mancharam aqueles protestos, mas disseram que foram poucas... Hoje, elas parecem ser a norma. O que aconteceu?

bet7777 Boric - Elas não são a normabet7777relação à maioria. O que acontece é que existem várias explicações, mas primeiro quero deixar claro que continuo acreditando que o caminho não é a violência, quero deixar bem claro isso. Acredito que há uma frustração acumulada ao ver que as mudanças não puderam ser feitas pelos canais institucionais.

Mas a violência é um fenômeno que devemos tentar entender para tentar erradicar. Se você quer ter certezabet7777que seguirá havendo violência, basta deixar as coisas como estão.

bet7777 BBC News Mundo - Há um setor da esquerda que provavelmente não lhe dará margem para um radicalismo ponderado, e a resposta pode ser mais violência nas ruas. Como pretende lidar com isso?

bet7777 Boric - Temos o deverbet7777fazer cumprir a ordem pública, isso não é uma opção para o governo. E fazer cumprir a lei. O que esperamos é que, através do processobet7777transformação que vamos iniciar, da convocação e da forma como falamos com povo do Chile, esses setores sejam cada vez mais minoritários.

Protestos no Chilebet77772020

Crédito, Alamy

Legenda da foto, Protestosbet77772020 no Chile foram marcados pela violência

bet7777 BBC News Mundo - Que tipobet7777Constituição o atrai mais, uma bem regulamentada ou uma mais orientadora?

bet7777 Boric - Gosto da ideiabet7777uma Constituição orientadora, mas não asséptica. Uma Constituição que consagra os direitos sociais universais, que defende a liberdade e a igualdade, uma Constituição que descentraliza, mas uma Constituição que não abarca todas as questões e todos os problemas.

A Constituição não pode ser concebida apenas a partirbet77772021 e 2022. Ela tem que permitir até questões que ainda não temos como enquadrar na Constituição.

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VIDA PESSOAL

bet7777 BBC News Mundo - Na esfera pessoal, do que mais teve que abrir mão além dos cabelos compridos e das camisetasbet7777bandasbet7777rock?

bet7777 Boric - Ultimamente, sair para um bar, ir a uma livraria, está cada vez mais difícil.

bet7777 BBC News Mundo - O senhor é conhecido por não usar gravata. Em que circunstâncias usaria?

bet7777 Boric - A gravata tem dois sentidos. Um é estético e um tanto absurdo, mas também percebi que havia no Congresso um espíritobet7777disciplina e homogeneização por partebet7777uma elite muito fechada e muito parecida entre si — e por isso me mandaram para a comissãobet7777ética, por não usar gravata. Agora, isso está totalmente naturalizado, e é totalmente normal andar sem gravata no Congresso.

A propósito, uma vez tive a sortebet7777conhecer (a cantora americana) Joan Baez, e nós dançamos, ela me perguntou sobre esse assunto, porque eles contaram essa anedota sobre a gravata, e meses depois eu ganhei uma gravata feita por aborígenes australianos. Se um dia eu tivesse que usar uma, com certeza seria essa.

bet7777 BBC News Mundo - E isso pode acontecer logo?

bet7777 Boric - Não pensei nisso. Talvez no casamentobet7777um amigo.

Gabriel Boric

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Boric é conhecido por seu estilo mais informal

bet7777 BBC News Mundo - Não na posse?

bet7777 Boric - Não, há limites.

bet7777 BBC News Mundo - O sr. vembet7777uma família religiosa, tem uma mãe católica, que reza e tem um altar à Virgembet7777casa. Nada disso faz sentido para o sr.bet7777momentosbet7777angústia?

bet7777 Boric - Tenho muito respeito pela fé da minha mãe e, às vezes, sinto falta do dom da fé, mas não é algo que tenho agora, e não acho que seja algo que você só possa recorrerbet7777um estadobet7777necessidade. Tenho uma questão pendentebet7777como trabalhar a espiritualidade. É algo que sempre me interessou, e nunca tive tempo para fazê-lo.

bet7777 BBC News Mundo - Como controlabet7777ansiedade?

bet7777 Boric - Às vezes, comendo, que não é o melhor método. Ler me acalma. Quando tenho tempo, pratico esportes, gostobet7777jogar futebol.

bet7777 BBC News Mundo - Sente que às vezes perde o controle?

bet7777 Boric - Aprendi, graças a tratamentos, a controlar isso. Tenho transtorno obsessivo compulsivo, e tomo remédios. Também é algo que consegui domar graças à Ciência, não é só vontade.

bet7777 BBC News Mundo - Falou-se muitobet7777sua saúde e também do transtorno obsessivo compulsivobet7777que o sr. sofre e que o sr. tornou público. Houve outras intenções quando essa questão foi levantada durante a campanha eleitoral?

bet7777 Boric - Sem sombrabet7777dúvida. Há um estigmabet7777torno da saúde mental.

bet7777 BBC News Mundo - Quais situações o incomodam?

bet7777 Boric - A mentira intencional me incomoda muito, não o erro, as pessoas que falam mal no jornalismo me incomodam, os intrigueiros me incomodam.

bet7777 BBC News Mundo - O sr. se mostrou um político muito tolerante com as críticas da oposição, mas e quando isso atinge as pessoas que você mais ama — comobet7777parceira Irina Karamanos, que assumirá como primeira-dama e foi criticada por isso?

bet7777 Boric - Devemos distinguir entre a crítica construtiva — e o debate político que ocorre dentro do feminismo e que é totalmente legítimo — bet7777 e bet7777 a crítica oportunista. Parece que já houve o suficiente da primeira e pouco da segunda. Os debates do feminismo são desejáveis.

Temos que nos acostumar com o fatobet7777que ter diferençasbet7777opinião não significa uma tragédia. Mas, quando os ataques são pessoais, e particularmente contra meus entes queridos, irmãos, pais, amigos ou Irina, é algo que realmente me incomoda muito.

bet7777 BBC News Mundo - Qual é a imagem que gostariabet7777imprimir com seu governo?

bet7777 Boric - Que, através da política, é possível mudar o mundo. Que a política não é um espaçobet7777corrupção, mentiras e acomodações. A política pode ser um trabalho honesto para transformações sociais, inclusivas, não apenas profissionais.

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