Metade dos casosroleta viciadademência no Brasil podem ser evitados — conheça os 12 fatoresroleta viciadarisco:roleta viciada
A listaroleta viciadafatores por trás da demência inclui nívelroleta viciadaeducação, perda auditiva, hipertensão, obesidade, tabagismo, depressão, isolamento social, sedentarismo, diabetes, consumo excessivoroleta viciadaálcool, poluição atmosférica e traumas na cabeça (entenda a seguir como eles estão relacionados ao desenvolvimento da doença).
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Conclusão
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Alémroleta viciadacalcular uma média para toda a América Latina, o estudo também avaliou a situação específicaroleta viciadacada país e o peso que os 12 elementos possuem nesses lugares.
Para ter ideia, a educação e a hipertensão são os dois fatores mais impactantes no Brasil, enquanto a depressão e a obesidade se sobressaem no México e o tabagismo é o principal problemaroleta viciadaHonduras.
Os autores esperam que os achados sirvamroleta viciadaorientação para as pessoas e principalmente ajudem governos a criar políticas públicas customizadas,roleta viciadaacordo com a situaçãoroleta viciadacada local.
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As estatísticas usadas na análise foram retiradasroleta viciadagrandes trabalhos epidemiológicos realizados nesses países durante a última década.
Esses levantamentos reúnem dados relacionados à saúderoleta viciadauma amostra representativa da população, que supera as dezenas ou até centenasroleta viciadamilharesroleta viciadapessoas.
No caso do México, as estatísticas englobam maisroleta viciada107 mil indivíduos acimaroleta viciada18 anos. Os números também são elevados nos casosroleta viciadaHonduras (89 mil), Peru (81 mil) e Argentina (29 mil).
"E, mesmo no caso do Brasil, cujo estudo traz dadosroleta viciada9,4 mil pessoas, trata-seroleta viciadauma amostra representativa da população do país", explica a bióloga Regina Silva Paradela, pesquisadora da FMUSP e uma das autoras do estudo recém-publicado.
Segundo ela, o principal desafio foi padronizar e harmonizar todas essas estatísticas, para que elas fossem submetidas aos mesmos critérios e definições sobre o que significa, por exemplo, ter hipertensão ou fazer um consumo excessivoroleta viciadaálcool.
Superada essa barreira, os cientistas puderam calcular o impactoroleta viciadacada um daqueles 12 elementos que provocam a demência.
"Precisamos também levarroleta viciadaconta a comunalidade, pois alguns dos fatores tendem a se agrupar e estão relacionados. A obesidade está associada à hipertensão, ao diabetes, ao sedentarismo…", detalha a médica Claudia Kimie Suemoto, professora do Departamentoroleta viciadaGeriatria da FMUSP e outra autora do trabalho.
A partir dessa análise, que isolou a contribuiçãoroleta viciadacada um dos elementos, os cientistas puderam concluir que 54% dos casosroleta viciadademência na América Latina podem ser atribuídos aos 12 fatores citados anteriormente.
Em ordem decrescente, aparecem obesidade (7%), sedentarismo (7%), depressão (5%), tabagismo (4%), hipertensão (4%), traumas na cabeça (4%), educação (3%), isolamento social (3%), poluição atmosférica (3%), diabetes (3%), perda auditiva (1%) e consumoroleta viciadaálcool (1%).
Em outras pesquisas do tipo, que avaliaram partes diferentes do mundo (especialmente os países mais ricos), essa porcentagemroleta viciadacasosroleta viciadademência ligada a esses 12 fatores ficaroleta viciada40%.
Mas o que explica a diferençaroleta viciada14 pontos percentuais a mais na América Latina?
"Basicamente, grande parte dessa diferença tem a ver com a prevalência mais elevadaroleta viciadaalguns dos fatores na nossa região", responde Suemoto.
"Sabemos, por exemplo, que o baixo nívelroleta viciadaeducação é mais comum por aqui, assim como os fatoresroleta viciadarisco cardiovasculares, casoroleta viciadahipertensão, diabetes e obesidade", complementa ela.
Para a geriatra, essa informação representa ao mesmo tempo uma grande ameaça e uma enorme oportunidade.
Afinal, a América Latina já tem a maior prevalênciaroleta viciadademência: 8,5% da população acimaroleta viciada60 anos do continente sofre com essa condição.
As projeções apontam que essa taxa vai subir para 19,3% até 2050 — isso significa que praticamente um a cada cinco indivíduos mais velhos sofrerão com a perdaroleta viciadamemória e as dificuldadesroleta viciadaraciocínio.
"Ou seja, estamos falandoroleta viciadauma possível reduçãoroleta viciada54% nos casosroleta viciadarelação a uma quantidaderoleta viciadapessoas muito maior, com um aumento projetado para o futuro", compara Suemoto.
Enquanto isso, nos países mais ricos, a possível diminuiçãoroleta viciada40% nos casos pode acontecer sobre uma base que já é menor e tende a crescer menos nas próximas décadas.
"Na prática, isso significa que as políticas públicas contra a demência, se bem aplicadas, podem fazer uma diferença ainda maior na América Latina", complementa a médica.
Diferenças entre os países
Como citado anteriormente, a pesquisa da FMUSP também revelou como os impactos entre os diferentes "gatilhos" da demência variamroleta viciadacada país da América Latina.
No caso do Brasil, a ordem dos doze fatores por trás da demência é: educação (8%), hipertensão (8%), perda auditiva (7%), obesidade (6%), depressão (4%), sedentarismo (4%), poluição atmosférica (3%), diabetes (3%), traumas na cabeça (3%), tabagismo (2%), isolamento social (0%) e consumoroleta viciadaálcool (0%).
No total, 48% dos casosroleta viciadademência no Brasil podem ser prevenidos se esses elementos fossem devidamente controlados.
A educação também aparece como um grande problema na Bolívia (11%) eroleta viciadaHonduras (7%), mas tem um impacto bem menorroleta viciadalocais como México (2%), Argentina (2%), Chile (1%) e Peru (1%).
"Isso tem a ver com o sistema educacionalroleta viciadacada lugar. Na Argentina, existe uma forte políticaroleta viciadaeducaçãoroleta viciadaqualidade para todos", exemplifica Suemoto.
Em nações como Chile e Argentina, questões como obesidade, sedentarismo, depressão e isolamento social se sobressaíram mais.
"A ideia é que cada país possa usar as informações desses gráficos e pensarroleta viciadacomo aplicá-las na prática. Claro que criar políticas para todos os 12 fatores é difícil, mas há a possibilidaderoleta viciadafocar nas questões mais significativasroleta viciadacada lugar", sugere Suemoto.
Paradela destaca o impacto reduzido do tabacoroleta viciadatoda a região — com exceçãoroleta viciadaHonduras e Peru, onde o cigarro responde por 12% e 11%, respectivamente, o papel desse hábito na demência é menor nos demais países e fica entre 5% na Argentina e 2% no Brasil.
"Isso é frutoroleta viciadapolíticas públicas que restringiram o tabagismo na maioria dos países latino-americanos durante as últimas décadas", aponta Paradela.
Nesse período, foram criadas leis e iniciativas para restringir o fumoroleta viciadalugares fechados, aumentar os impostos sobre a indústria do tabaco, coibir a propaganda desses produtos, fazer campanhasroleta viciadaconscientização e oferecer tratamentos contra a dependência à nicotina.
Em países como o Brasil, essas medidas fizeram com que a porcentagemroleta viciadafumantes caísseroleta viciada35% nos anos 1980 para menosroleta viciada15%roleta viciadaanos recentes.
Os gatilhos da demência
O médico Marco Túlio Cintra, presidente da Sociedade Brasileiraroleta viciadaGeriatria e Gerontologia (SBGG), que não esteve envolvido com o estudo da FMUSP, explica que a demência é uma condição marcada pela "perdaroleta viciadafuncionalidade".
"O idoso que não sairoleta viciadacasa sozinho, não controla mais as próprias finanças, não consegue tomar medicamento sem ajuda, não faz as tarefas dentroroleta viciadacasa, ou seja, se torna cada vez mais dependente, não está dianteroleta viciadaum processo normal do envelhecimento", contextualiza o geriatra, que também é professor da Universidade Federalroleta viciadaMinas Gerais (UFMG).
"Se essa perdaroleta viciadafuncionalidade vem associada a esquecimentos significativos, especialmenteroleta viciadaepisódios recentes, estamos dianteroleta viciadaum quadroroleta viciadademência", continua ele.
Cintra destaca que atualmente no Brasil até 80% dos casosroleta viciadademência são diagnosticadosroleta viciadafases mais avançadas.
"Essas pessoas são privadasroleta viciadaum tratamento precoce e cuidados que poderiam fazer a diferença", lamenta ele.
Mas qual a relação entre os 12 gatilhos e a perdaroleta viciadamemória e capacidade cognitiva? Qual o mecanismoroleta viciadaação por trás desses fenômenos?
Comecemos pela educação, o fator mais importante no contexto brasileiro. Ao estudarmos e desafiarmos a mente, nós fortalecemos e criamos novas conexões entre os neurônios.
Ao longo dos anos, isso cria o que especialistas chamamroleta viciadareserva cognitiva.
Ela funciona como uma "poupança cerebral", ou seja, caso o sistema nervoso comece a se deteriorar — e essas sinapses entremroleta viciadacolapso —, ainda existem outras conexõesroleta viciadafuncionamento para garantir um "acesso" ao raciocínio e às lembranças.
"Vamos pegar como exemplo dois indivíduos que apresentam um perfil genético similar, que propicia o aparecimento da demência. Aquele que estudou menos e, portanto, tem uma reserva cognitiva menor, vai ultrapassar o limiar da doença com mais rapidez e apresentará sintomasroleta viciadaforma precoceroleta viciadarelação àquele que teve mais anosroleta viciadaaprendizado", compara Cintra.
Aliás, a formação dessa poupança cerebral é mais intensa na infância e na adolescência — o que significa que a prevenção da demência começa a partir do nascimento.
No entanto, o aprendizado é importanteroleta viciadatodas as fases da vida — ler, conhecer um novo idioma, fazer cursos e desafiar o intelecto permitem criar e cultivar a tal da reserva cognitiva.
"E precisamos lembrar que o acesso à educação no Brasil foi tardio. Boa parte dos idososroleta viciadahoje estudaram numa épocaroleta viciadaque o ensino obrigatório eraroleta viciadaapenas quatro anos", destaca Cintra.
Seguindo a lista, aparecem os fatores ligados ao estiloroleta viciadavida e às doenças crônicas: hipertensão, diabetes, obesidade, sedentarismo, tabagismo, consumoroleta viciadaálcool e poluição atmosférica.
Em linhas gerais, a questão aqui está relacionada aos vasos sanguíneos.
De diferentes maneiras, todos esses elementos machucam veias e artérias. Com o passar do tempo, esses tubos do sistema circulatório entramroleta viciadacolapso — e deixamroleta viciadalevar oxigênio e nutrientes para diferentes partes do corpo.
Agora, imagina o que acontece no cérebro: o fechamentoroleta viciadapequenos vasos sanguíneos provoca aos poucos a morteroleta viciadaneurônios.
A questão é que esse quadro pode dar sintomas claros, como no casoroleta viciadaum acidente vascular cerebral (AVC), mas muitas vezes é sutil e passa despercebido.
Ao longo do tempo, isso compromete diversas funções da mente, como a memória e o raciocínio — tanto é que a demência vascular (causada por problemas na chegadaroleta viciadasangue ao cérebro) é um dos tipos mais comuns da doença, ao lado do Alzheimer.
Alémroleta viciadalesar os vasos sanguíneos, alguns dos fatores citados acima também podem ter um efeito direto nas células cerebrais, como é o caso do consumoroleta viciadaálcool e da poluição.
Na lista, também chama a atenção a importância da perda auditiva, que responde por 7% dos casosroleta viciadademência no Brasil.
"Podemos pensar no cérebro como um computador. Ele dependeroleta viciadaestímulos do ambiente para funcionar, e a audição é um dos meios mais importantes para isso", ensina Suemoto.
"A pessoa que não ouve direito fica mais quieta, deixaroleta viciadafalar com os outros, se afasta e, por consequência, tem menos estímulos cognitivos", observa a geriatra.
"Esses indivíduos são privados dos sons que fazem a vida, como a folha que cai no chão, o canto dos pássaros, a roda do carro deslizando no asfalto…", complementa Cintra.
E, com o passar do tempo, isso gera um declínio cognitivo e desemboca numa demência.
Para fechar, há os fatores ligados à saúde mental, como o isolamento social e a depressão.
Cintra explica que esses quadros provocam a liberaçãoroleta viciadasubstâncias inflamatórias no cérebro que, ao longo do tempo, aumentam o riscoroleta viciadademência.
"Além disso, a pessoa que vive sozinha tem menos contato social, costuma se alimentar pior, faz pouca atividade física…", pontua Cintra.
Como melhorar esse cenário
Suemoto argumenta que a prevençãoroleta viciadacasosroleta viciadademência passa necessariamente pela criaçãoroleta viciadapolíticas públicas.
"Os estudos mostram que mudanças individuais são pouco efetivas. Para reduzir o risco, precisamos alterar o ambiente, para que todos esses fatores tenham um melhor controle", diz ela.
Ou seja: não basta apenas pedir para que a pessoa emagreça ou controle a pressão arterial. É necessário aprimorar a estrutura das cidades e dos sistemasroleta viciadasaúde para garantir que todos tenham acesso a lugares para praticar atividade física, possam fazer um acompanhamentoroleta viciadasaúde, tenham condiçõesroleta viciadacomprar alimentos saudáveis, recebam os remédios necessários, e assim por diante.
"Eu mororoleta viciadaBelo Horizonte e vejo os problemasroleta viciadamobilidade todos os dias. Muitos idosos não têm uma atividaderoleta viciadalazer pertoroleta viciadaonde moram e só saemroleta viciadacasa para ir ao médico quando é extremamente necessário", ilustra ele.
"Precisamos investir no bem-estar e na saúde da população agora para evitar uma sérieroleta viciadaproblemas no futuro", acredita ele.
Suemoto destaca que a Organização Mundial da Saúde pediuroleta viciada2015 que todos os países criassem planos para prevenir e lidar com a demência.
No Brasil, esse debate começou a acontecerroleta viciada2023 e surgem agora as primeiras iniciativas para lidar com essa demanda.
Em junhoroleta viciada2024, o Governo Federal sancionou uma lei que cria a "Política Nacionalroleta viciadaCuidado Integral às Pessoas com Doençaroleta viciadaAlzheimer e Outras Demências".
Também está previsto para os próximos meses a publicaçãoroleta viciadauma cartilha do Ministério da Saúde para educar a população sobre como se proteger contra a demência, que foca justamente na listaroleta viciadafatores citados ao longo da reportagem.
Suemoto vê com bons olhos esses primeiros passos, mas entende que há muito trabalho pela frente.
"Precisamosroleta viciadauma mudança na estrutura das cidades e do ambiente para propiciar esses cuidadosroleta viciadasaúde", reforça ela.
Cintra concorda. "Há a necessidaderoleta viciadaum investimento para que essas políticas sejamroleta viciadafato implementadas na prática."
"Se isso não acontecer, corremos o riscoroleta viciadaelas serem apenas mais um livreto que fica num canto qualquer acumulando poeira", conclui ele.