Brics: como Lula tenta ampliar influência do Brasil no mundo:betly

Lula

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Legenda da foto, A aposta do atual governo brasileirobetlyaumentar a influência do país internacionalmente é resultado da combinação entre o perfil pessoalbetlyLula e da forma como integrantes do entorno do presidente vêem o mundo

Os pilares desse plano vêm sendo delineadosbetlydiscursos e ações ao longo dos últimos meses, segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil. Segundo eles, pautas tradicionais da diplomacia brasileira continuam relevantes como a reformulação do ConselhobetlySegurança da Organização das Nações Unidas e mudanças no sistemabetlygovernança global.

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Eles apontam, no entanto, que outros temas mais recentes passaram a compor o plano do atual governo para ampliar a esferabetlyinfluência brasileira no mundo. Para atingir esse objetivo, as principais apostas do Brasil vêm sendo: reduzir a dependência globalbetlyrelação ao dólar norte-americano; liderar os debates relativos às mudanças climáticas; e atuar como mediador da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

Os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil e diplomatas que falarambetlycaráter reservado apontam que o cenário internacional oferece obstáculos e oportunidades para o Brasil. Entre os obstáculos estão, por exemplo, a complexidade da crise envolvendo russos e ucranianos. Já entre as oportunidades estão o fatobetlyque, durante seu mandato, o Brasil terá a chancebetlypresidir o Mercosul, os Brics e o G20, oferecendo múltiplas plataformas para que o país tente avançarbetlyagenda.

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A aposta do atual governo brasileirobetlyaumentar a influência do país internacionalmente é, segundo os especialistas, resultado da combinação entre o perfil pessoalbetlyLula e da forma como integrantes do entorno do presidente vêem o mundo.

"Há um esforço clarobetlyquerer ampliar a visibilidade e influência do Brasil sobretudo depoisbetly10 anos que inviabilizaram uma atuação do Brasil na arena internacional", disse o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Oliver Stuenkel.

"Os dois primeiros governosbetlyLula tiveram como característica essa maior inserção do Brasil no exterior. Isso é característico dele ebetlypessoas ligadas ao PT como o (ex-ministro das Relações Exteriores) Celso Amorim. Essa retomada iniciada agora é, sim, intencional", disse à BBC News Brasil a coordenadora do programa Brazilian Studies da UniversidadebetlyOxford, no Reino Unido, Laura Waisbich.

Segundo ela, esse grupo entende que haveria uma necessidadebetlyalterar as normas da governança global que, no momento, não contemplam a maior parte dos países, entre eles o Brasil.

"Essa visãobetlymundo entende que as regrasbetlygovernança global estabelecidas depois da Segunda Guerra Mundial excluem países como o Brasilbetlypapeis mais relevantes. Nesse sentido, há um esforço para que haja reformasbetlydiferentes frentes e que o Brasil precisa fazer movimentos nesse sentido", complementa Laura Waisbich.

Os presidentes Lula do Brasil, Dmitry Medvedev da Rússia, Hu Jintao da China e o primeiro-ministro indiano Manmohan Singh apertam durante um encontrobetly2009

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Legenda da foto, Os presidentes Lula do Brasil, Dmitry Medvedev da Rússia, Hu Jintao da China e o primeiro-ministro indiano Manmohan Singh apertam durante um encontrobetly2009

Fim da 'dólar-dependência'?

Um dos pilares do plano do atual governo para ampliarbetlyinfluência internacional é militar pela redução da dependência globalbetlyrelação ao dólar norte-americano nas transações comerciais.

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial,betly1945, o dólar se transformou na moeda mais utilizada no comércio global. Na prática, isso obriga que países e empresas comprem dólares para realizarem suas transações.

Nos últimos anos, porém, países como a China, atual segunda maior economia do mundo, passaram a liderar um movimento para a utilizaçãobetlyoutras moedas, entre elas, o yuan chinês.

O tema passou a ser recorrentebetlydiscursosbetlyLula desde que assumiu seu novo mandato.

"Toda noite, me pergunto por que é que todos os países estão obrigados a fazer seu comércio lastreado no dólar. Por que é que nós não podemos fazer o nosso comércio lastreado na nossa moeda? Por que é que nós não temos o compromissobetlyinovar?", disse Lulabetlyum discursobetlyXangai, durante visita ao Novo BancobetlyDesenvolvimento (NDB, na siglabetlyinglês), também conhecido como "Banco dos Brics".

A redução da dependência do dólar também foi abordadabetlyoutro discursobetlyLula, dessa vez diantebetlyoutra audiência, na França,betlyum eventobetlyjunho convocado pelo presidente Emmanuel Macron.

"Por que que a gente não pode fazer (comércio) nas nossas moedas? Não sei por que Brasil e China não podem fazer nas nossas moedas. Por que eu tenho que comprar dólar?", disse Lula na ocasião.

Antes,betlyjaneiro, quando visitou a Argentina, Lula também abordou o assunto e chegou a anunciar que os dois governos estudariam uma formabetlyrealizar suas transações comerciaisbetlyuma espéciebetlymoeda ou unidade monetária comum.

Politicamente, o Brasil vem buscando alternativas para ajudar a Argentina a driblar a crisebetlyliquidez pela qual o país passa. Empresários argentinos reclamam que não conseguem importar produtosbetlypaíses como o Brasil porque não têm dólaresbetlyquantidade suficiente para fazerem os pagamentos pelas mercadorias.

Para Laura Waisbich, os movimentos do governo brasileiro são resultado da percepçãobetlyque as instituições financeiras multilaterais criadas após a Segunda Guerra Mundial (Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial, por exemplo), não atendem aos anseios do chamado "sul global", termo usado para paísesbetlydesenvolvimento na Ásia, África e América Latina.

"A reforma do FMI ou do Banco Mundial não aconteceu e é por isso que têm ocorrido iniciativas como a criaçãobetlyoutros bancosbetlydesenvolvimento, como o Banco dos Brics. São iniciativas complementares. A desdolarização do comércio global é uma das pautas do atual governo", disse a especialista à BBC News Brasil.

Em linha com os discursos, o governo brasileiro vem tentando ampliar o alcance do banco dos Brics, atualmente comandado pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

O governo vem se mostrando favorável ao aumentobetlymembros da instituição que, alémbetlyter os cinco fundadores iniciais, já conta com Bangladesh, Egito e Emirados Árabes Unidos. Nos próximos meses é esperada a inclusão do Uruguai.

Recentemente, o presidente brasileiro disse que pretende discutir maneirasbetlyreduzir a dependência globalbetlyrelação ao dólar na reuniãobetlylíderes dos Brics. Nesta semana, diplomatas brasileiros disseram a jornalistas que os líderes dos Brics vão debater sobre a eventual criaçãobetlyuma unidade monetária comum para ser usadabetlytransações comerciais dos países do bloco.

"Um aspecto interessante desse movimento é que o NDB (banco dos Brics) já empresta dinheiro na moeda local dos seus países-membros. Isso reduz, ainda quebetlypequena escala, a dependência do dólar para financiamentosbetlyprojetos importantes", disse Laura.

Para o professorbetlyRelações Internacionais da Universidade FederalbetlyMinas Gerais (UFMG) Dawisson Belém Lopes, o plano brasileirobetly"desdolarizar" a economia global tem raízes na forma como o atual governo vê o mundo.

"Essa reivindicação pela desdolarização da economia internacional se baseiabetlyuma leiturabetlyum mundo multicêntrico e multipolar, mas também é resultadobetlyfrustrações passadas com tentativasbetlyreformas do sistema financeiro internacional por dentro. Os países, agora, tentam essa reforma por fora", disse à BBC News Brasil.

Notasbetlydolar

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Legenda da foto, Desde o fim da Segunda Guerra Mundial,betly1945, o dólar se transformou na moeda mais utilizada no comércio global

Diplomacia ambiental

Outro tema que passou a fazer parte da plataformabetlyexpansão da influência brasileira no mundo é a pauta climático-ambiental.

Antes mesmobetlyassumir a presidência,betlydezembrobetly2022, Lula incorporoubetlyvez o temabetlyseus discursos ao falar a chefesbetlyEstado durante a 27ª Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP-27), no Egito.

Lá, ele prometeu zerar o desmatamento na Amazônia até 2030 e disse que seu governo tentaria conciliar o crescimento econômico à sustentabilidade ambiental.

Parte do projetobetlyampliar a influência do Brasil no tema também passou pelo lançamento da candidaturabetlyBelém, capital do Pará, para ser sede da COP-30,betly2025.

Em Belém, aliás, se deu outro passo desse projeto. Há duas semanas, o governo brasileiro promoveu a Cúpula da Amazônia.

O evento reuniu países da região amazônica alémbetlyrepresentantesbetlypaíses ricosbetlyflorestas tropicais fora da Amazônia como a República do Congo, República Democrática do Congo e Indonésia.

Diplomatas brasileiros ouvidos pela BBC News Brasilbetlycaráter reservado afirmam que o objetivo do país é se transformarbetlyuma espéciebetly"porta-voz informal" dos países ricosbetlyflorestasbetlyfóruns internacionais como as COPs.

Em jogo estão recursos estimadosbetlyUS$ 100 bilhões anuais prometidos pelos países ricos a naçõesbetlydesenvolvimento como formabetlymitigar os efeitos das mudanças climáticas, fenômeno causado, principalmente, pelas emissõesbetlygases do efeito estufa produzidas por países desenvolvidos.

A cúpula foi vista com uma espéciebetlyprimeiro ensaio para a COP-25 e Lula disse que esperava terminar o evento com uma posição única dos paísesbetlyrelação a temas como a preservação ambiental, o que não ocorreu.

Havia a expectativabetlyque todos os países da região assumissem um compromissobetlyzerar o desmatamento na região até 2030, mas isso não aconteceu.

O evento também ficou marcado pela ausênciabetlyum compromisso dos paísesbetlylimitar a exploraçãobetlypetróleo na região amazônica, uma pauta defendida pelo governo da Colômbia, mas que encontra resistênciasbetlypaíses como o Brasil, Venezuela e Guiana.

Apesar dos percalços durante a cúpula, a pauta ambiental é vista pelos especialistas ouvidos pela BBC News Brasil como aquela com a maior chancebetlyampliar a influência do Brasil internacionalmente.

Para Dawisson Lopes, o esforço do governo atual é transformar o Brasilbetlyuma referência na área aproveitando a tradição do país na pauta ambiental.

"Na questão ambiental, o Brasil é um ator incontornável. Essa estratégia (de potencializar a pauta ambiental) é resultado do entendimentobetlyque o mundo vive uma grave crise ambiental e que o Brasil tem, sim, um papel importante a desempenhar na solução desse problema", disse.

Para Laura Wisbich, há sinais evidentesbetlycomo o atual governo passou a usar a pauta ambiental para ampliarbetlyinfluência internacional.

"O atual governo incorporou a pauta ambientalbetlyuma forma muito mais forte do que os anteriores, inclusive, se considerarmos os dois primeiros governosbetlyLula", disse.

Para Oliver Stuenkel, a pauta ambiental seria a melhor aposta do Brasil neste momento.

"Acho que do pontobetlyvistabetlyum possível retorno, o tema ambiental é aquelebetlyque o país consegue, com maior facilidade, se viabilizar como um ator indispensável no sistema internacional", afirma.

O presidente Lula com líderes sul-americanos presentes na cúpula

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Legenda da foto, O presidente Lula com líderes sul-americanos presentes na Cúpula das Amazônia

Guerra na Ucrânia

A terceira aposta citada pelos especialistas como parte do projeto do Brasilbetlyampliarbetlyinfluência global é a que, segundo eles, tem sido menos mencionada nos últimos meses: a mediaçãobetlyum acordobetlypaz entre Rússia e Ucrânia.

Nos bastidores, o raciocínio ébetlyque a influência internacional do Brasil aumentaria se o país conseguisse atuarbetlyforma significativabetlyum eventual acordobetlypaz entre Ucrânia e Rússia.

Os dois países estãobetlyguerra desde fevereirobetly2022, quando militares russos invadiram o território ucraniano.

Logo que assumiu a presidência, Lula passou a defender a criaçãobetlyum clubebetlypaíses não envolvidos com o conflito com o objetivobetlyintermediar o processobetlypaz.

Mas ao mesmo tempobetlyque defendia a ideia, Lula deu declarações que causaram reaçõesbetlypaíses europeus e dos Estados Unidos. Em visita à China,betlyabril deste ano, Lula disse que era preciso que nações parassembetly"incentivar" a guerra.

"É preciso que os EUA parembetlyincentivar a guerra e comece a falarbetlypaz. É preciso que a União Europeia comece a falarbetlypaz para que a gente poder convencer o Putin e o Zelenskybetlyque a paz interessa a todo mundo e a guerra só está interessando por enquanto aos dois", disse o presidente.

Dias depois, ele deu a entender que a responsabilidade pelo conflito era tanto do presidente da Rússia, Vladimir Putin, quanto do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.

"Putin não toma a iniciativabetlyparar. Zelensky não toma a iniciativabetlyparar. A Europa e os EUA continuam contribuindo para a continuação desta guerra", disse.

As declarações causaram reações na União Europeia e nos Estados Unidos.

O porta-voz do ConselhobetlySegurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, criticou a falabetlyLula na ocasião.

"É profundamente problemático como o Brasil abordou essa questãobetlyforma substancial e retórica, sugerindo que os Estados Unidos e a Europabetlyalguma forma não estão interessados na paz ou que compartilhamos a responsabilidade pela guerra", disse.

Em meio às declarações e às reações, Lula enviou umbetlyseus principais conselheirosbetlypolítica externa, o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim a encontros com Putin, Zelensky e com líderesbetlypaíses como a Arábia Saudita, que tenta mediar um acordobetlypaz.

Para Dawisson Lopes, o esforço brasileirobetlyatuar como pacificador na crise ucraniana segue a tradição diplomática do país.

"Essa atuação é uma continuaçãobetlyum processo no qual o Brasil reivindica as suas credenciais históricasbetlyum país dado à mediação e facilitação da paz como formabetlyparticipar do sistemabetlysegurança internacional", explica.

"Isso é parte dessa visãobetlymundo brasileirabetlyque paísesbetlyporte médio, os chamados países emergentes como o Brasil, devem ter mais funções e mais papeis na governança global", diz o professor.

Para o professor Oliver Stuenkel, a forma com a qual o Brasil abordou a guerra da Ucrânia faz com que um retornobetlyformabetlyinfluência seja difícil.

"Quando o presidente (Lula) disse que os dois países tinham responsabilidade no conflito, isso dificultou a posição do Brasil numa eventual mediação. Além disso, as chances reaisbetlyum acordo, hoje, são muito pequenas. Nem Estados Unidos e nem a China vêem um cenário crível para o fim do conflito no curto prazo", disse.

Na avaliaçãobetlyDawisson Lopes, as chancesbetlysucesso do Brasil ao explorar essa frente são,betlyfato, mais limitadas.

"Nesse aspecto, o jogo é mais difícil para o Brasil. Diferentemente da pauta ambiental,betlyrelação ao conflito, há muitos outros atores habilitados e tentando se habilitar para mediar um acordobetlypaz. O cenário é mais congestionado para o Brasil", pontua.

Soldados ucranianos

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Legenda da foto, Nos bastidores, o raciocínio ébetlyque a influência internacional do Brasil aumentaria se o país conseguisse atuarbetlyforma significativabetlyum eventual acordobetlypaz entre Ucrânia e Rússia

Ganhos e limitações

Laura Waisbich avalia que, para a maioria das pessoas, os ganhosbetlyum país quando ele ampliabetlyinfluência internacional não são claros. Ela recorre a um exemplo para tentar explicar como esses ganhos podem se dar.

"Durante muito tempo, o Brasil lutou para que a questão da fome e redução da miséria fosse um tema global. Nos anos 2000, esse assunto virou um tema importante na ONU, o que fez com que recursos fossem direcionados para isso. Ao final, esses recursos poderiam ter chegado ao Brasil após esse esforço", explicou.

Oliver Stuenkel diz que por mais que o governo Lula esteja determinado a ampliar a influência internacional do Brasil, há limitações domésticas que podem afetar esse projeto.

"O principal limite desses esforços é a estabilidade política interna. Se a situação interna piorar, isso colocaria um grande limite ao que o governo pode fazer lá fora. E a situação pode piorar se a economia não crescer ou se a relação com o Congresso não melhorar", explicou o professor.

Laura Waisbich pondera que ainda é cedo para saber se o atual governo atingirá seus objetivos.

"É importante saber que não há bolabetlycristal quando se faz análisebetlycenário. O governo está no início e as diretrizes da atuação internacional ainda estão sendo construídas. Nesse momento, não é possível dizer se o plano do governo vai obter o que deseja", disse.