Qual é o futuro dos Brics após guerra da Ucrânia - e como Brasil se equilibra no bloco?:https www betnacional com

Bandeiras dos países que compõem os BRICS

Crédito, Marcelo Camargo/Agência Brasil

Legenda da foto, O bloco formado por Rússia, Índia, Brasil, China e África do Sul prometia ser nova locomotiva econômica no sistema internacional

Já Manjari Chatterjee Miller, pesquisadora sênior para Índia, Paquistão e Sul da Ásia do Council on Foreign Relations, discorda do prognósticohttps www betnacional comCanuto. Segundo ela, nos quase 16 anoshttps www betnacional comexistência, os Brics permitiram a seus membros compartilhar informação (não só econômica, mas estratégica, como dadoshttps www betnacional comsegurança) e tirar do papel planos compartilhados, como a criação do banco do bloco, o New Development Bank (NDB).

O NDB, composto por cotashttps www betnacional com20%https www betnacional comcada um dos países membros, financia projetoshttps www betnacional compaíses emergentes a juros mais baixos ehttps www betnacional commoeda local, uma formahttps www betnacional comproteger as economias desses países das oscilações do dólar.

No começohttps www betnacional commarço, o banco informou que, por decisão "técnica", suspendeu as operações com a Rússia, depois que parte significativa do sistema bancário russo foi alvohttps www betnacional comsanções ehttps www betnacional comexclusão do sistema internacionalhttps www betnacional comtransações financeiras, o Swift.

"Tudo isso foi feitohttps www betnacional comum espaço que excluía países ocidentais e os Estados Unidos. E foi muito importante para todos os seus membros porque fomentou a cooperação e permitiu a liderança. Duvido que veremos uma desintegração do Bricshttps www betnacional combreve, mesmo que haja bloqueios e recuos pontuais atualmente, como no caso do NDB, que suspendeu todas as novas transações na Rússia por causa da crise na Ucrânia", disse Manjari à BBC News Brasil.

BRICS: uma promessa não cumprida?

O termo Bric foi cunhadohttps www betnacional com2001 pelo economista-chefe do banco Goldman Sachs, Jim O'Neil, como uma categoria analítica que olhava para Brasil, Rússia, China e Índia como países emergentes que poderiam se tornar, dado seu então crescimento acelerado, um novo eixohttps www betnacional comgovernança econômica do mundo.

Em 2006, o conceito ganhou vida fora da análise econômica quando o presidente russo Vladimir Putin convidou seus colegas do Brasil, da China e da Índia, a viabilizar a existência do grupo,https www betnacional comuma conversa inicial entre diplomatas à margem da Assembleia Geral da ONU, quase 16 anos atrás. O primeiro encontro no nível mais alto do grupo aconteceria sóhttps www betnacional com2009. E a África do Sul, não prevista no modelohttps www betnacional comO'Neil, chegaria apenas 4 anos mais tarde, como a representante do continente africano.

"A vocação primordial dos Brics era funcionar como uma alavanca para os interesses comuns dos membros, aumentar o peso deles nas instituições multilaterais", afirma Canuto, quehttps www betnacional com2010 publicou o livro "The day after tomorrow",https www betnacional comque sugeria que poderia haver uma "trocahttps www betnacional comlocomotivas na economia global", já que a importância dos emergentes naquele momento era muito maior do que havia sido no fim dos anos 1980 e 1990, o que deveria provocar mudanças na maneira como as decisões geopolíticas eram tomadas. Entre 2003 e 2007, por exemplo, o crescimentohttps www betnacional comBrasil, China, Rússia e Índia representou 65% da expansão do PIB mundial.

O próprio Canuto, no entanto, nota que o "entusiasmo" mostrou seus limites. "Os Brics nunca tiveram uma real integração, estão longehttps www betnacional comconcordarhttps www betnacional commuita coisa ehttps www betnacional comlevarhttps www betnacional comconta o posicionamento dos pares nas decisões, como faz o G7", diz o economista, para quem o bloco se mostrou pouco "ambicioso".

Além disso, o próprio ritmohttps www betnacional comcrescimento dos membros se mostrou intensamente variado, o que torna difícil colocá-loshttps www betnacional compatamares semelhantes. Enquantohttps www betnacional com2000 o PIB da China era apenas o dobro do que o da segunda maior economia do bloco, na época o Brasil,https www betnacional com2020 a economia chinesa se mostrou 6 vezes maior do que o segundo colocado no grupo, a Índia (o Brasil foi o quarto maior, apenas à frente da África do Sul).

Jim O'Neill

Crédito, Cortesia Jim O'Neill

Legenda da foto, O economista Jim O'Neill, que cunhou a sigla Bric, disse que a China foi o único país no bloco que consistentemente exerceu todo o potencial econômico que ele vislumbrarahttps www betnacional com2001

Em um artigo escrito pelo próprio Jim O'Neilhttps www betnacional com2021, quando o termo que ele criou completou 20 anos, e publicado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), o economista afirma que a China foi o único país no bloco que consistentemente exerceu todo o potencial econômico que ele vislumbrarahttps www betnacional com2001. Já Brasil e Rússia, além da África do Sul, enfrentaram recessões nos anos 2010.

"A segunda década deste século foi um grande contraste com a primeira década, que para todos os quatro países (Brasil, Rússia, China, Índia) se mostrou ainda melhor do que nos cenários que projeteihttps www betnacional com2001. Embora a Índia tenha decepcionado notavelmente nos últimos anos, está se desenvolvendo amplamente ao longo do caminho que imaginei. Tanto para o Brasil quanto para a Rússia, no entanto, o desempenho econômicohttps www betnacional com2010 a 2020 foi muito decepcionante, o que ocasionalmente me levou a brincar que talvez eu devesse ter chamado os 'Brics'https www betnacional com'ICs'", escreveu O'Neil.

Para ele, o Brasil e a Rússia sofreram com o que o economista chamahttps www betnacional com"maldição das commodities", ou seja, ficaram muito dependenteshttps www betnacional comalguns poucos produtos essenciais e vulneráveis à flutuação do mercado internacional desses itens. Ambos, segundo ele, precisariam diversificar mais a economia e expandir a participação do setor privado nos negócios.

Os RICs e o fim do G20

Se do pontohttps www betnacional comvista econômico os BRICS não mostraram estar no mesmo ritmo, do pontohttps www betnacional comvista geopolítico, o peso e a importância desses países, alémhttps www betnacional comsua conexão, também não foi consistente ao longo do tempo. Mas esse é um cenário que a Guerra da Ucrânia pode alterar profundamente.

"Há aí uma oportunidade pra reativação do bloco, se é que ele estava dormente. É um bloco anti-hegemonia por princípio, revisionista e reformista da ordem mundial estabelecida no pós-guerra fria. Nesse sentido, goste-se ou não, o bloco tende a ganhar com a guerra da Ucrânia", afirma Vinícius Rodrigues Vieira, professorhttps www betnacional comRelações Internacionais da FAAP.

Vieira nota que, enquanto o G7 mostrou coesão e musculatura na crise da Ucrânia (impondo sançõeshttps www betnacional comconjunto à Rússia e realizando reuniões semanais desde o início da guerra), o G20, seu antagonista que incluía países emergentes e nações fora do eixo Europa-EUA deve perder condições práticashttps www betnacional comoperar. Em resposta, países como China, Índia e Rússia procurarão acelerarhttps www betnacional comindependênciahttps www betnacional comrelação ao dólar e fortalecer seus posicionamentos regionais ehttps www betnacional comblocos multilaterais, processos iniciados antes da guerra da Ucrânia.

"O G7 acena com a exclusão da Rússia do G20, os Brics já disseram que não concordam com isso, mas na prática é impossível imaginar os líderes da Alemanha e dos EUA apertando a mão e posando para foto ao lado do Putin, a quem (o presidente americano Joe) Biden chamouhttps www betnacional com"criminosohttps www betnacional comguerra". Então o mais provável é que o G20 deixehttps www betnacional comfuncionar,https www betnacional comter reuniões. É nesse vácuo que os Brics passam a se tornar uma instância multilateral alternativa importante", afirma Oliver Stuenkel, professorhttps www betnacional comRelações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas.

O chanceler russo Sergey Lavrov (segundo da esquerda para a direita) e colegas diplomatas dos BRICShttps www betnacional comrecente reunião

Crédito, Divulgação

Legenda da foto, O chanceler russo Sergey Lavrov (segundo da esquerda para a direita) e colegas diplomatas dos BRICShttps www betnacional comrecente reunião

Há duas semanas, o Ministériohttps www betnacional comRelações Internacionais russo postou uma fotohttps www betnacional comsuas redes sociais na qual o chanceler Sergey Lavrov, alvohttps www betnacional comsanções da Europa Ocidental, EUA e outros países, posava ao lado dos embaixadores dos demais quatro países dos Brics. A mensagem por trás da postagem, avalia Stuenkel, era mostrar que a Rússia não está isolada do mundo, como gostariam os EUA e a Europa Ocidental.

E não só a Rússia está interessadahttps www betnacional cominvestir nesse espaço. A China, que disputa com os EUA a hegemonia econômica mundial na última década, tenta construir um polo alternativohttps www betnacional compoder geopolítico.

"Brasil e África do Sul, mergulhadahttps www betnacional comcrise doméstica, perderam muita relevância político-estratégica. O que se impõe agora é uma aproximação dos RICs - Rússia, Índia e China - que até fizeram uma cúpula à parte depois da reunião dos Bricshttps www betnacional com2019. São 3 países que lidam com uma realidade geopolítica mais específica e mais grave", afirma Guilherme Casarões, professorhttps www betnacional comRelações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas.

Casarões lembra que nem entre esses três atores internacionais é possível falarhttps www betnacional comharmonia ampla. Embora a Rússia tenha com a China uma relação que os países descreveram recentemente como uma "amizade sem limites", e com a Índia uma complementaridade econômica, com o comérciohttps www betnacional comcombustível e armas, entre China e Índia, a situação é mais tensa. Isso porque os dois países travam há décadas uma disputa territorial e fronteiriça, na região da Cordilheira do Himalaia. E também porque a Índia questiona o protagonismo dado pela China ao seu rival, o Paquistão, na chamada nova rota da seda, o projeto econômico internacionalhttps www betnacional comPequim.

Apesar dessas diferenças, no entanto, China e Índia parecem dispostas a manter os Brics como um espaço multilateral.

"Todos os três grandes players do Brics - China, Índia e Rússia - têm fortes incentivos para manter o Brics funcional e relevante. Todos esses países têm diferenças entre si, e a instituição dos Brics oferece uma viahttps www betnacional comcooperação. No mínimo, a crise na Ucrânia tornou ainda mais importante manter o Brics relevante. A China, por exemplo, que sedia a cúpula do Brics este ano, quer a participação da Índia na cúpula. Os chineses veem a Índia compartilhando posição semelhante sobre a Ucrânia (ambos se recusaram a condenar publicamente a Rússia), e o bloco é um espaço que inclui a Índia e exclui os Estados Unidos. Para a Rússia, o Brics é uma instituição legitimadorahttps www betnacional comum momentohttps www betnacional comque o país se tornou um pária internacionalhttps www betnacional commuitos quadrantes. Para a Índia, os Brics mantém canais abertos com a China e tem o efeito simultâneohttps www betnacional commostrar à Rússia que não precisa fazer negócios apenas com a China", afirma Manjari Chatterjee Miller.

O equilibrista Brasil

Da esquerda para a direita os lídereshttps www betnacional comChina, Rússia, Brasil, Índia e África do Sulhttps www betnacional comreunião dos Bricshttps www betnacional com2019

Crédito, Alan Santos/ PR

Legenda da foto, Da esquerda para a direita, os lídereshttps www betnacional comChina, Rússia, Brasil, Índia e África do Sulhttps www betnacional comreunião dos Bricshttps www betnacional com2019

O posicionamento do Brasilhttps www betnacional comrelação à crise da Ucrânia é uma boa síntese do equilibrismo que o país terá que adotar para navegar entre tantos parceiros comerciais fundamentais, como China, Índia e EUA, sem que essas relações tragam custos ao país.

O Brasil foi o único dos membros dos Brics a votar pela condenação das atitudes da Rússiahttps www betnacional comrelação à Ucrânia, tanto no Conselhohttps www betnacional comSegurança quanto na Assembleia Geral da ONU. A própria Rússia vetou ahttps www betnacional comadmoestação e os demais países do bloco se abstiveram. O presidente brasileiro, no entanto, deu diversas declarações favoráveis a Rússia e o diplomatas do país discursaram contra as sanções aos russos.

"O que os brasileiros fizeram foi manter uma ambiguidade que pudesse agradar a todos. Fez o gesto para os americanos na ONU, mas também garantiu apoio aos russos contra as sanções. Foi o mesmo quando Putin anexou a Crimeiahttps www betnacional com2014 e a (então presidente) Dilma (Rousseff) se recusou a condenar Putin. O posicionamento não era um alinhamento com os russos, mas uma sinalizaçãohttps www betnacional comque essa guerra não é nossa", afirma Stuenkel.

Dentre os membros do bloco, o Brasil é o que parece ter menores condiçõeshttps www betnacional comromper ou perturbar a relação com qualquer um dos lados da disputa. Se, por um lado, a China é o maior parceiro comercial do Brasil, por outro, os EUA são o segundo.

Manter esse fino equilíbrio agora, no entanto, pode ser ainda mais difícil do que já foi no passado. Segundo Stuenkel, entre diplomatas europeus, o comportamento brasileiro hoje é visto como pró-Rússia e essa percepção pode ser usada para dificultar as relações do Brasil no exterior, já abaladas recentemente.

Os americanos, por exemplo, ameaçaram sanções à China se Pequim aceitar enviar socorro financeiro ou armamentício a Moscou, algo que os chineses negam que farão. A Índia anunciou que seguiria comprando petróleo russo, mais barato dadas as sançõeshttps www betnacional comdezenashttps www betnacional compaíses ao produto. Em resposta, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse que o movimento colocaria a maior democracia do mundo "no lado errado da História", mesma acusação feita por ela ao Brasil quando o presidente brasileiro Jair Bolsonaro expressou "solidariedade" aos russoshttps www betnacional comuma visita a Moscou,https www betnacional comfevereiro.

"O Brasil terá que fazer um esforço político real para transformar os Bricshttps www betnacional comum bloco viável sem necessariamente focar nas questões geopolíticas, que realmente dividem esse grupohttps www betnacional commaneira incontornável", afirma Casarões.

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