Tudo precisa ser útil? 'Esforço por produtividade esgota a capacidademrjack bet app aviatornos deslumbrarmos', diz filósofa:mrjack bet app aviator

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Legenda da foto, Nosso planeta é maravilhoso — não há como não se deslumbrar com ele

Todas essas emoções são fundamentais, mas não são todas iguais. E a admiração é a mais diferente entre elas.

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"Todas estas emoções fazem avaliações: quando você odeia alguma coisa, você diz 'não é útil para mim'; quando ama, diz 'é útil'. Se algo faz você feliz, você pensa que é bom, mas, se entristece você, é ruim", explica Cruz.

"Mas a admiração não faz avaliações. Ela simplesmente observamrjack bet app aviatorseus próprios termos." E, para a filósofa, esta qualidade é fundamental.

"Parece que, hojemrjack bet app aviatordia, sempre que fazemos algo, pensamos: 'Será que é útil?' 'Como irá nos ajudar?'", prossegue ela.

"A nossa mentalidade é esta: tudo precisa ser útil, até os seus hobbies, é preciso maximizar o produto. E isso mata a admiração. Este é o antídoto contra o deslumbramento."

Maravilhar-se com o mundo é um aspecto fundamental da nossa humanidade. O deslumbramento incentiva novas ideias e invenções que alimentam e enriquecem nossas vidas, individual e coletivamente.

Este é o argumentomrjack bet app aviatorHelenmrjack bet app aviatorCruz no seu livro Wonderstruck: How Wonder and Awe Shape the Way we Think ("Maravilhado: como o deslumbramento e o assombro moldam nossa formamrjack bet app aviatorpensar",mrjack bet app aviatortradução livre).

Assombro e deslumbramento

Crédito, Cortesiamrjack bet app aviatorHelenmrjack bet app aviatorCruz

Legenda da foto, Helenmrjack bet app aviatorCruz é catedráticamrjack bet app aviatorCiências Humanas e professoramrjack bet app aviatorfilosofia da Universidademrjack bet app aviatorSaint Louis, nos Estados Unidos
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Entender o assombro e o deslumbramento, segundo Cruz, é apreciar um aspecto importante e imortal do ser humano. E, embora psicologicamente relacionadas, são duas emoções diferentes.

O assombro é o que "sentimos quando percebemos ou conceitualizamos a imensidão", seja ela física ou conceitual. É o que sentimos quando contemplamos o céu, observamos as pirâmides do Egito ou tomamos conhecimento dos inúmeros infinitos.

Já o deslumbramento "é a emoção despertada quando vislumbramos o desconhecido que está além dos limites da nossa compreensão".

É algo como o que sentimos ao ver um grãomrjack bet app aviatorareia sob a lente do microscópio ou um evento astronômico inesperado.

Essas duas emoções são combinadas pela "necessidademrjack bet app aviatoracomodação cognitiva" — ou seja, o desejomrjack bet app aviatorabrir espaço na nossa mente para acomodar o assombro e o deslumbramento.

"Com assombro e deslumbramento, eu me refiro à ideiamrjack bet app aviatorDescartes,mrjack bet app aviatorque eles são basicamente a primeira paixão", explica a filósofa.

"Quando você encontra algo pela primeira vez ou considera algo como se fosse a primeira vez, você tem essa sensaçãomrjack bet app aviator'uau, o que é isso?' Existe ali alguma coisa para a qual você não estava preparado."

Cruz destaca que essas duas emoções instigam ativamente dois ramos do conhecimento que, atualmente, acreditamos serem totalmente separados: as ciências humanas e exatas.

"Acredito que,mrjack bet app aviatorúltima instância, elas encontrammrjack bet app aviatororigem no sentidomrjack bet app aviatorassombro, já que o mundo à nossa volta nos deixa deslumbrados e tratamosmrjack bet app aviatorentendê-lo melhor", segundo ela.

"Em seguida, tentamos dar um lugar na nossa mente àquilo que nos assombra, o que podemos fazermrjack bet app aviatormuitas maneiras — seja pela arte, poesia ou pesquisa científica, ou por qualquer das muitas outras atividades humanas. Elas são, na verdade, a resposta à nossa tentativamrjack bet app aviatoraprender mais sobre o mundo."

E isso é algo que fazemos desde sempre. Mas, namrjack bet app aviatorpesquisa, a filósofa traçou uma linhamrjack bet app aviatorassombro ao longo da história, partindo da filosofia ocidental.

Platão e Aristóteles consideravam que o assombro era a origem da Filosofia. Graças a ele e ao deslumbramento, os seres humanos começaram a explorar o seu entorno e se perguntar sobre a origem da vida e das coisas.

"Em Teeteto [o diálogomrjack bet app aviatorPlatão sobre a natureza do saber], Sócrates diz que 'a Filosofia não tem outra origem senão o assombro'", explica a filósofa.

"Em seguida, Aristóteles afirma que a ciência começa com o assombromrjack bet app aviatortodos os seres humanos. Não se trata apenas das crianças, nem dos filósofos ou cientistas, masmrjack bet app aviatortodos."

Milagres e maravilhas

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Legenda da foto, Nós nunca perdemos nosso fascínio ao observar o arco-íris, mesmo depois que aprendemos as razões científicas damrjack bet app aviatorformação.

Na Idade Média, segundo Cruz, as pessoas se perguntavam o que nos causa assombro. Assim surgiu a distinção entre milagres e maravilhas.

"Os milagres são aquilo que é causado por Deus e está realmente fora do alcancemrjack bet app aviatorcomo a natureza funciona normalmente", explica ela. "Mas as maravilhas são coisas da natureza que não entendemos, como o magnetismo, descrito por São Tomásmrjack bet app aviatorAquino. As pessoas acreditavam naquela época que fosse um fenômeno raro."

Esses fenômenos raros interessaram particularmente os pioneiros da ciência moderna. E, no século 16, eles "se concentraram no que era estranho, não no normal". Aqui se incluem os alquimistas, que foram os precursores da química.

"O estranho ajudou os cientistas a irem mais além para aprender sobre o mundo. E, na verdade, este é um aspecto importante da revolução científica", prossegue a filósofa.

"Robert Hooke [1635-1703], por exemplo, escreveu um livro mostrando como é estranho aquilo que podemos observar no microscópio. E o que pareceu mais assombroso foi como é bonito aquilo que é natural."

"Uma pulga, por exemplo, que as pessoas odeiam, aparece bonita no microscópio", explica Cruz, "enquanto uma lâminamrjack bet app aviatorbarbear parece rombuda como um machado que não serviria para cortar uma árvore."

"Por que a natureza parece tão bonita e os objetos feitos pelo homem, tão imperfeitos?", questiona a filósofa. "Este era o tipomrjack bet app aviatorpergunta que as pessoas faziam, tentando realmente se aprofundar naquilo que nos assombra. E isso continua até os diasmrjack bet app aviatorhoje."

O surpreendente é que a ciência não elimina o assombro, quando torna seus mistérios inteligíveis.

O arco-íris não deixoumrjack bet app aviatornos deslumbrar quando a Ciência explicou o que ele é. Além disso, "nossa compreensãomrjack bet app aviatorcomo se forma fisicamente o arco-íris abre novos mistérios, como, por exemplo, a estrutura da cor e da própria realidade", escreve Cruz.

Mas, no mundomrjack bet app aviatorhoje, existem obstáculos que eliminam o assombro das nossas vidas. Alguns deles são resultantes da tecnologia, por mais avanços que ela tenha nos trazido, incluindo novos motivos e oportunidadesmrjack bet app aviatorassombro e deslumbramento.

Um exemplo é a poluição luminosa, que faz com que grande parte do espetáculo do céu noturno seja invisível para a maioria da população mundial.

Quando você olha para cima, segundo Cruz,mrjack bet app aviatorexperiência é muito diferente da que tiveram nossos antepassados. Em uma noite clara, eles viam na vastidão escura "um rico tapete tecido com sutis tonsmrjack bet app aviatorpúrpura, rosa e vermelho-violeta, salpicado por milharesmrjack bet app aviatorestrelasmrjack bet app aviatordiversos tamanhos."

Mas, hojemrjack bet app aviatordia, "o brilho constante da luz artificial significa que muitosmrjack bet app aviatornós nunca vimos a Via Láctea, nossa galáxia".

Mas o obstáculo mais persistente talvez seja o nosso próprio comportamento. Nosso contínuo esforçomrjack bet app aviatorprol da produtividade esgota a capacidademrjack bet app aviatornos deslumbrarmos.

Por isso, Cruz adverte: "o assombro exige atenção".

"O que você precisa fazer é basicamente se colocarmrjack bet app aviatorum estado que não o leve a se perguntar: 'isto é útil para mim ou não?' Você simplesmente se deixa levar e aprecia as coisas pelo que elas são."

Promovendo o assombro

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Legenda da foto, As maravilhas do mundo não devem passar despercebidas.

No seu livro, Cruz oferece conselhos para fazer com que o assombro faça parte da nossa vida.

"A questão é: por que somos assim? Por que nos comportamos como se cada segundo precisasse ser produtivo?", ponderou ela para a BBC News Mundo.

"Fazemos isso porque a sociedade é configurada desta forma. Acredito que precisamosmrjack bet app aviatoruma mudança social."

"Precisamos resistir à ideiamrjack bet app aviatorque a economia é tudo o que importa e conseguir nos organizar, não só individualmente, mas também como sociedade, para termos a oportunidademrjack bet app aviatornos deslumbrarmos", defende a filósofa.

"Vou contar uma pequena história. Muito tempo atrás, eu moravamrjack bet app aviatoruma rua com muito trânsito e, no meio, havia uma pequena faixa que era como um refúgio, com cerejeiras japonesas e um pequeno riacho. Ela foi feita por um arquiteto no século 19 e era realmente muito bonita."

"Chegou um momentomrjack bet app aviatorque as autoridades disseram que aquelas árvores estavam obstruindo o trânsito e seria necessário construir uma terceira pista", ela conta. "Todos no bairro se opuseram. Eles se acorrentaram às árvores e organizaram eventos, como reuniões para observar flores e procurar ovosmrjack bet app aviatorPáscoa."

"Mas, infelizmente, o canteiro foi destruído. Desde então, ficou para mim a lembrançamrjack bet app aviatorcomo, até entre duas ruas tomadas pelo trânsito, foi possível existir uma fontemrjack bet app aviatordeslumbramento."

E não é preciso apenas preservar essas fontesmrjack bet app aviatordeslumbramento. Toda a sociedade e nós mesmos as precisamos incorporá-las ao nosso cotidiano, para que elas não passem despercebidas.

O livromrjack bet app aviatorHelenmrjack bet app aviatorCruz apresenta sugestões para cultivar o assombro e o deslumbramento. Elas incluem desde assistir a eventos científicos, como as noitesmrjack bet app aviatorCiência oferecidas por alguns museus, até "observar eclipses, como ocorreu recentemente, e participarmrjack bet app aviatorgrupos como osmrjack bet app aviatorhanami, a tradição japonesamrjack bet app aviatorse maravilhar com as cerejeirasmrjack bet app aviatorflor".

Outra alternativa é se entregar à ficção, com obras como a sériemrjack bet app aviatorlivros Terramar, da escritora americana Ursula K. Le Guin (1929-2018). Suas obras inspiram assombro, desafiando os leitores a questionar a realidade e a natureza das possibilidades.

Outra opção é a filosofia, que fornece o espaço mental para a reflexão. E contemplar a arte ou se permitir ser invadido pela música, participarmrjack bet app aviatoreventos esportivos ou assistir a festivais religiosos.

Se você não tiver tempo, pode simplesmente seguir este antigo conselho: "pare e sinta o aroma das rosas".

Você pode observar como uma flor se infiltramrjack bet app aviatoruma rachadura do concreto ou, como diz a filósofa, deleitar-se com "os cristaismrjack bet app aviatorgelo namrjack bet app aviatorjanela, no inverno", que nunca perdem seu encanto.

"Sem um poucomrjack bet app aviatormagia nas nossas vidas, sem um lugar para o inesperado e o maravilhoso, a vida é aborrecida e monótona", escreveu Cruz.

"A realidade é literalmente repletamrjack bet app aviatormaravilhas. Precisamos abrir espaço para elas, para que a vida valha a pena."