Venenoplataforma betaranha brasileira vira esperançaplataforma bettratamento contra câncer:plataforma bet

A aranha Vitalius wacketi

Crédito, Rogério Bertani/Instituto Butantan

Legenda da foto, A aranha Vitalius wacketi habita o litoral paulista

Ela também apresentou algumas vantagens estratégicas quando comparada aos métodos disponíveis atualmente para tratar essa doença, como a quimioterapia.

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No entanto, os estudos com a substância ainda estão nos estágios preliminares. É preciso experimentá-laplataforma betmais células e cobaias para observar a segurança e a eficácia — para só depois começar os testes clínicos com seres humanos.

Os profissionais dizem que já negociam com empresas farmacêuticas para fazer parcerias e obter os investimentos necessários para seguir adiante.

A BBC News Brasil conversou com os pesquisadores responsáveis por estudar o veneno desta aranha. Conheça a seguir todos os detalhes do projeto.

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Essa história começa há cercaplataforma bettrês décadas, quando cientistas do Instituto Butantan fizeram uma sérieplataforma betexpedições pelo litoralplataforma betSão Paulo.

"Nós geralmente éramos chamados para regiõesplataforma betque aconteciam movimentações, como o corteplataforma betárvores e desmatamento. Nessas visitas, fazíamos a coletaplataforma betaranhas", lembra o biólogo Pedro Ismael da Silva Junior, do Laboratórioplataforma betToxinologia Aplicada do Butantan.

Outro integrante dessas expedições era o aracnólogo Rogério Bertani, também do Butantan, que fez estudos e reclassificações taxonômicas da Vitalius wacketi — e outras aranhas — da décadaplataforma bet1990plataforma betdiante.

Alguns anos depois, entrouplataforma betcena o bioquímico Thomaz Rocha e Silva, que hoje trabalha no Einstein. Quando ele estava terminando a formação acadêmica, no início dos anos 2000, resolveu investigar as possíveis atividades farmacológicasplataforma betalgumas substâncias encontradas no veneno dessas espécies.

"Ao estudar aranhas do gênero Vitalius, encontramos no veneno uma atividade neuromuscular. Fomos atrás da toxina responsável por esse efeito, que era uma poliamina grande e instável", lembra ele.

As poliaminas citadas pelo pesquisador são moléculas presentes no organismoplataforma betplantas, animais e micro-organismos.

Essa investigação foi publicadaplataforma betperiódicos acadêmicos mas, como não havia um interesse comercial imediato na molécula, o projeto acabou engavetado.

"Anos depois, me estabeleci numa faculdade e um aluno me disse que gostariaplataforma betestudar o potencial citotóxico desses mesmos venenos", conta Rocha e Silva.

Os cientistas resolveram fazer um painelplataforma bettestes e análises para avaliar as toxinas encontradasplataforma betvárias aranhas do gênero Vitalius.

"E vimos que uma toxina encontrada na Vitalius wacketi possuía uma poliamina pequena e com uma atividade bastante interessante", aponta o bioquímico.

Essa molécula foi isolada e purificada por Rocha e Silva — depois, Silva Junior conseguiu sintetizá-la, ou seja, criou uma versão química idêntica, sem a necessidadeplataforma betextraí-la diretamente da aranha.

Na sequência, essa substância passou por testes in vitro. Na bancada do laboratório, ela foi colocada juntoplataforma betcélulas cancerosas, para ver qual ação teria.

Cientistas extraindo venenoplataforma betaranha

Crédito, Thomaz Rocha e Silva/Einstein

Legenda da foto, O veneno foi extraído da aranha — para depoisplataforma betestudado ser sintetizadoplataforma betlaboratório

E a atividade da molécula contra as unidades doentes foi considerada "importante" para os especialistas.

Isso porque o candidato a fármaco causou a morte das células cancerosas por meioplataforma betum processo chamado apoptose — geralmente, os tratamentos oncológicos mais tradicionais provocam uma necrose.

"Quando ocorre a necrose, a célula sofre um colapso, o que gera uma reação inflamatória com efeitos no organismo", explica Rocha e Silva.

"Já a apoptose, ou a morte programada das células, é um processo muito mais limpo. É como se as células implodissemplataforma betforma controlada", compara ele.

Na apoptose, o sistema imunológico "é avisado" sobre o colapso dessas células — e isso gera uma reação bem mais controlada, sem grandes impactos para outros órgãos e tecidos.

Até existem opções terapêuticas capazesplataforma betprovocar a tal da apoptose nas células do câncer — é o caso, por exemplo, dos anticorpos monoclonais. Mas esses fármacos são mais difíceisplataforma betproduzir e costumam ter um preço elevado.

A molécula desenvolvida a partir do venenoplataforma betaranha é sintética, o que facilita a fabricação (e reduz os custos).

"Além disso, ela possui algumas características físico-químicas que facilitam a permanência no sangue e depois a excreção com facilidade pelos rins", acrescenta Rocha e Silva.

A poliamina foi testada inicialmente contra a leucemia, mas há uma expectativaplataforma betanalisar qual será a atividade dela contra outros tiposplataforma bettumores.

Os próximos passos

Após essa análise in vitro que teve resultados promissores, as equipesplataforma betinovação das instituições correram para fazer as patentes e garantir a propriedade intelectual da novidade.

A farmacêutica Denise Rahal, gerenteplataforma betparcerias e operações do Health Innovation Techcenter do Einstein, explica que a patente tem a ver com o processoplataforma betpurificação e sintetização que foi desenvolvido pelos pesquisadores — e não com a moléculaplataforma betsi.

"Eu não posso patentear algo que já existe na natureza, como é o caso do veneno da aranha ou das toxinas presentes nele. Mas a síntese, o processoplataforma betobtenção dessa molécula, é um produto que foi desenvolvido a partir dessas pesquisas", contextualiza ela.

Cristiano Gonçalves, gerenteplataforma betInovação do Butantan, acrescenta que as instituições estãoplataforma betcontato com parceiros para licenciar a tecnologia e seguir com as pesquisas.

"Nem o Einstein, nem o Butantan, têm capacidadeplataforma betprodução da molécula, mesmo que seja para gerar o material necessário para os testes clínicosplataforma betfase 1", diz ele.

"Estamosplataforma betcontato com parceiros para desenvolvermos juntos essa tecnologia", complementa Gonçalves.

Rahal destaca que esse estudoplataforma betespecífico traz ainda mais um atrativo: ele tem como base e inspiração a biodiversidade brasileira.

"Nosso trabalho é justamente tirar essas pesquisas do papel e trazê-las para o benefício da sociedade", pontua ela.

Aranha

Crédito, Thomaz Rocha e Silva/Einstein

Legenda da foto, Pesquisa reforça a importânciaplataforma betconhecer a biodiversidade brasileira

Do pontoplataforma betvista científico, os especialistas desejam começar análises que vão desvendar o mecanismoplataforma betação da poliamina. Eles querem entender a forma exata que ela age,plataforma betmodo a matar as células com câncer.

A substância também precisará ser avaliadaplataforma betcobaias, para avaliar a eficácia e a segurança delaplataforma betorganismos mais complexos do que um conjuntoplataforma betcélulas.

Se esses testes forem bem-sucedidos, o projeto evolui para a chamada fase clínica, divididaplataforma bettrês etapas diferentes. O objetivo aqui é estudar como a substância ageplataforma betseres humanos — e se realmente pode funcionar como um tratamento contra o câncer.

Caso os resultados sejamplataforma betfato positivos, a droga poderá finalmente ser submetida à aprovação nas agências regulatórias, como a Anvisa, para ser usadaplataforma betclínicas e hospitais.

Questionado sobre o significadoplataforma betfazer investigações do tipo com a biodiversidade brasileira, Silva Junior destaca a "experiência" longevaplataforma betalgumas espécies.

"Alguns dos aracnídeos surgiram há 300 ou 350 milhõesplataforma betanos, e os trabalhos mostram que eles mudaram muito pouco desde então", estima ele.

"Para sobreviver a esses milhõesplataforma betanos, eles certamente desenvolveram estratégias para protegê-los das ameaçasplataforma betambientes inóspitos."

"E nós podemos hojeplataforma betdia estudar como essas características e habilidades aparecem na biodiversidade brasileira, que é a maior do mundo, para encontrar essas moléculas que podem nos ajudar futuramente contra uma sérieplataforma betdoenças", conclui ele.