Por que algumas pessoas sofremesporte de sortefadiga extrema após doenças como covid e gripe:esporte de sorte

"É assim que meu corpo se sente", segundo ela. "Meus músculos não conseguem se mover. Não consigo nem mesmo manter minha mãoesporte de sortecima da cabeça."

A covid longa – o conjuntoesporte de sortesintomas que persistem após a infecção, depois que o vírus é eliminado do nosso corpo - surgiu com a pandemia.

Mas ela abriu uma nova janela para o estudo da fadiga pós-viral – uma doença similar, caracterizada pela exaustão persistente, vivenciada por algumas pessoas depois que se recuperamesporte de sorteoutros tiposesporte de sorteinfecções.

A fadiga pós-viral é pouco compreendida há muito tempo. Por muitos anos, ela foi menosprezada e considerada uma doençaesporte de sorteorigem psicológica.

Mas é uma fadiga que persiste, com vários grausesporte de sorteseriedade, e que foi relacionada a diversas infecções. Elas incluem Sars, Ebola, vírus Epstein-Barr e a gripe, alémesporte de sorteinfecções por patógenos transmitidos por carrapatos, como a bactéria Borrelia burgdorferi, causadora da doençaesporte de sorteLyme.

Enigma

Rosalind Adam é médica e moraesporte de sorteAberdeen, no Reino Unido. Ela está acostumada a observar pacientes acometidos por fadiga problemática.

Mas, ao longo do tempo, ela ficou cada vez mais surpresa com a natureza genérica desta expressão. Usamos a denominação para designaresporte de sortetudo, desde o cansaço do dia a dia até a faltaesporte de sorteenergia incapacitante, que deixa as pessoas presasesporte de sortecasa, incapazesesporte de sortetrabalhar.

"Não acho que devemos pensar na fadiga como algo único", afirma Adam, "e gostariaesporte de sorteentender se diferentes padrõesesporte de sortefadiga reagemesporte de sorteforma diversa a diferentes abordagens."

Como pesquisadora acadêmica da Universidadeesporte de sorteAberdeen, Adam deu início a um estudo com 40 pessoas que sofremesporte de sortediversas formasesporte de sortefadiga problemática, desde pacientesesporte de sortecovid longa até insuficiência cardíaca ou câncer.

Para iniciar a pesquisa, os pacientes receberam sensores digitais que acompanham uma sérieesporte de sorteparâmetros físicos, incluindo velocidade da respiração, temperatura corporal, qualidade do sono, atividade cardíaca e níveisesporte de sorteatividade. Com eles, foi fornecido um aplicativo para avaliaresporte de sortefadiga física e mental ao longo do dia.

O objetivo é usar a inteligência artificial para identificar padrões nos dados que possam representar o que Adam chamaesporte de sorte"fadigótipos" – características distintas que poderão ser empregadas para categorizar subtiposesporte de sortefadiga com maior precisão.

Ela espera que as conclusões possam finalmente trazer testes clínicos mais específicos para a fadiga e, possivelmente, abrir caminho para novos medicamentos.

Desafio diário

Este tipoesporte de sortedesligamento fisiológico é intrínseco ao mal-estar pós-esforço (PEM, na siglaesporte de sorteinglês), um fenômeno muito mais grave e complexo do que a fadiga pós-viral comum.

Com PEM, pacientes como Edwards ficam presosesporte de sorteum estado no qual o menor excessoesporte de sorteesforço pode resultaresporte de sorteum choque que dura meses e, às vezes, até anos.

O professor David Putrino, do Departamentoesporte de sorteReabilitação e Desempenho Humano da Faculdadeesporte de sorteMedicina Icahnesporte de sorteMount Sinai, nos Estados Unidos, acredita que existem pelo menos 10 explicações plausíveis diferentes para os motivos que levam as pessoas a desenvolver PEM.

Eles incluem distúrbios do sono, deficiências hormonais e inflamações do revestimento dos vasos sanguíneos. Mas, no centroesporte de sortemuitas dessas teorias, estão as estruturas tubulares criadorasesporte de sorteenergia chamadas mitocôndrias, que podem ser encontradasesporte de sortetodas as nossas células.

Quando os vírus invadem as nossas células, eles "sequestram" as mitocôndrias, retiram parte da energia gerada para nosso benefício e a utilizam para ajudar naesporte de sortereprodução e no bombeamentoesporte de sortenovos vírus através do corpo.

"Agora, você tem uma célula trabalhando muito acima daesporte de sortecapacidade, produzindo energia para a reprodução viral e para as funções gerais necessárias para o seu desempenho", explica Putrino.

Isso significa, segundo o professor, que, enquanto tentamos nos recuperar da infecção, o corpo também está enfrentando o que ele chamaesporte de sorte"déficit energético", gerando duas vezes a quantidade habitualesporte de sorteenergia durante a faseesporte de sorteinfecção.

Uma das teorias sobre os motivos que podem levar o Sars-CoV-2 e outros vírus a gerar PEM é que pequenas quantidades do vírus podem persistiresporte de sortealgumas partes do corpo.

Por isso, retornar às atividades normais antes que o corpo se recupere do seu déficit energético pode causar o choque. E, durante esse período, o vírus pode se reanimar ou reativar vírus dormentes, causando novos danos às mitocôndrias.

Em outros casos, acredita-se que o motivo da fraqueza muscular e da debilitação física descritas por muitas pessoas com grave fadiga pós-viral e PEM seja um estadoesporte de sorteautoimunidade induzido pela infecção inicial. Ele altera o comportamento das células imunológicas, levando-as a atacar as próprias fibras nervosas que permitem a contração dos músculos.

Já se demonstrou que a autoimunidade grave está relacionada aos sintomasesporte de sortefadiga prolongada que acometem muitos sobreviventesesporte de sorteEbola. E processos similares também foram relacionados à fadiga crônica e à incapacidade vivenciadas por sobreviventes do surtoesporte de sorteSars no início dos anos 2000.

"As infecções virais podem debilitar o sistema imunológicoesporte de sorteforma longa e persistente", explica Avik Roy, diretor científico da organização Simmaron Research, que realiza pesquisas sobre o tratamentoesporte de sortedoenças neuroimunes.

"As reações autoimunes causadas pela alteraçãoesporte de sortecomportamento das células imunológicas, como os linfócitos T, células exterminadoras naturais [NK, na siglaesporte de sorteinglês] e macrófagos podem causar lesões da camadaesporte de sortemielina dos nervos periféricos, resultandoesporte de sortefadiga e fraqueza muscular", segundo ele.

Uma terceira ideia sendo estudada por Putrino e outros pesquisadores se refere ao comprometimento da eliminaçãoesporte de sorteresíduos.

O trabalho excessivo faz com que as mitocôndrias gerem muito estresse oxidativo. Mas o corpo não consegue se limpar adequadamente, já que o sistema imunológico se encontraesporte de sorteestadoesporte de sorteprolongada exaustão, depois da batalha contra o vírus.

Esta situação pode contribuir para os sintomas físicos, como o nevoeiro mental e a fadiga muscular, prejudicando a nossa capacidadeesporte de sortemovimentação e funcionamento normal.

Um estudo chegou a demonstrar que pacientes com covid longa mantêm produtos tóxicos residuais acumulados nas suas fibras musculares.

Os tratamentos para a fadiga pós-viral, às vezes, incluem "exercício gradual" ou "regulado". Ambos significam que os pacientes devem tentar voltar a se exercitar lentamente, até atingirem os níveis normaisesporte de sorteatividade física.

No exercício regulado, os próprios pacientes definem a velocidade e a intensidade das suas atividades, conforme suas condiçõesesporte de sortesaúde. Já o exercício gradual é mais estruturado, com progressivos aumentos planejados da atividade física.

Mas esta técnica nem sempre funciona.

Em alguns pacientes com doençaesporte de sorteLyme, covid longa e encefalomielite miálgica/síndrome da fadiga crônica, pesquisas demonstraram que a doença inicial faz com que o exercício gradual ou regulado, na verdade, possa piorar a situação.

Após a análise das evidências, o Instituto Nacionalesporte de sorteExcelênciaesporte de sorteSaúde e Assistência do Reino Unido (NICE, na siglaesporte de sorteinglês) alterou suas orientações, passando a recomendar que a terapiaesporte de sorteexercício gradual não seja empregada no tratamentoesporte de sortepacientes com síndrome da fadiga crônica. O organismo afirma que é necessário adotar uma forma mais flexívelesporte de sorteexercício físico especializado.

Os Centrosesporte de sortePrevenção e Controleesporte de sorteDoenças dos Estados Unidos (CDC, na siglaesporte de sorteinglês) também deixaramesporte de sorterecomendar o exercício gradual. Mas o exercício regulado pode ser útil, segundo o organismo, se os pacientes usarem estratégias para equilibrar a atividade física com as demais.

"Os pacientes com covid longa precisam atingir alguma melhoria no seu estado funcional,esporte de sortevirtude das medicações, antesesporte de sorteiniciar qualquer formaesporte de sorteexercício gradual", explica o pneumologista David Systrom, do Hospital Brigham & Women'sesporte de sorteBoston, nos Estados Unidos.

Mas encontrar a medicação correta requer a identificação da causa inicial dos sintomas.

Possível solução

Depoisesporte de sortepassar décadas estudando pessoas com síndrome da fadiga crônica, a professora Betsy Keller, do Departamentoesporte de sorteEducação Física e Ciências do Esporte da Faculdade Ithacaesporte de sorteNova York, nos Estados Unidos, percebeu que a expressão "disfunção mitocondrial" é mencionada repetidamente como possível causa da fadiga prolongada dos seus pacientes.

Mas ela afirma que a questão principal é a causa que leva ao comprometimento das mitocôndrias. E,esporte de sortealguns casosesporte de sortefadiga pós-viral gerada pelos vírus Ebola, Zika e da gripe, pesquisas indicam que essa causa é a lesão viral direta ao DNA da mitocôndria.

Estudos que se aprofundaram nos possíveis mecanismos que levam a esta condição concluíram que a invasão viral pode inibir a produçãoesporte de sortefosfocreatina, uma substância fundamental no processoesporte de sortecriaçãoesporte de sorteenergia. Mas existem outros casosesporte de sorteque as mitocôndrias podem simplesmente sofreresporte de sortefaltaesporte de sorteoxigênio.

O Sars-CoV-2 e outros vírus, aparentemente, são capazesesporte de sortedirigir a formaçãoesporte de sortemicrocoágulos – partículas minúsculas que se movem através dos vasos sanguíneos, capturando diversas proteínas e dificultando o fluxoesporte de sorteoxigênio. Em outros casos, as lesões virais podem afetar o batimento cardíaco normal, a função respiratória e o fluxo sanguíneo.

Se as mitocôndrias não conseguirem oxigênio suficiente para seu funcionamento normal, Keller afirma que o corpo recorre à produção anaeróbicaesporte de sorteenergia, uma formaesporte de sortegeraçãoesporte de sorteenergia que, normalmente, só é necessária para surtos curtos e intensosesporte de sorteatividade, como correresporte de sortealta velocidade.

"Quando esta mudança para a produção anaeróbicaesporte de sorteenergia ocorrer prematuramente, durante pequenos esforços, até as atividades simples do dia a dia irão causar fadiga", explica ela.

Em Mount Sinai, David Putrino agora lidera um teste clínico para observar se uma enzima chamada lumbroquinase pode ajudar a melhorar a função mitocondrial e os níveisesporte de sorteenergiaesporte de sortepacientes com covid longa e síndrome da fadiga crônica.

A lumbroquinase decompõe fibrina, uma proteína que se acredita ser fundamental para os microcoágulos.

Esta é apenas uma dentre toda uma sérieesporte de sortepossíveis soluções atualmenteesporte de sorteestudo.

Em pacientes com covid longa, a persistência viral ou os vírus reativados parecem ser responsáveis pela PEM. Putrino estuda se as diversas medicações contra o HIV podem ser redirecionadas para ajudar a restaurar essas infecções para uma forma dormente.

A Simmaron Research,esporte de sorteconjunto com a Clínica Mayo e o Centroesporte de sorteDoenças Complexas, nos Estados Unidos, lançaram um teste clínicoesporte de sortebaixa dosagemesporte de sorterapamicina,esporte de sortepessoas com síndrome da fadiga crônica.

O objetivo é verificar se a substância pode melhorar a função mitocondrial e a qualidadeesporte de sortevida, estimulando um processo fundamental para o corpo chamado autofagia, que leva as células a remover e reciclar componentes lesionados.

"Até agora, o teste produziu resultados iniciais muito promissores", segundo Avik Roy.

Todas estas pesquisas também identificam suplementos que podem ajudar as pessoas com formas menos gravesesporte de sortefadiga pós-viral a se recuperarem com mais rapidez após a infecção.

A coenzima Q10, um composto empregado pelas mitocôndrias para gerar energia e considerado esgotadoesporte de sortepacientes com síndrome da fadiga crônica, agora é disponível no varejo nos EUA e no Reino Unido.

Ele é regulamentado como suplemento alimentar e alguns estudos demonstraram que ele reduz a fadiga.

Keller afirma que esta pesquisa também ajuda a identificar subgruposesporte de sortepessoas que, aparentemente, apresentam maior riscoesporte de sortefadiga pós-viral.

Ela acredita que pessoas que já sofremesporte de sortetensão muscular ou nervosa, devido aos seus hábitosesporte de sorteestiloesporte de sortevida, lesões crônicas ou cirurgias, podem ser mais vulneráveis. Estes fatores pré-existentes, por si só, já inibem o fornecimentoesporte de sorteoxigênio pelo corpo.

"Descobrimos que a tensãoesporte de sorteficar sentado com frequência ou por muito tempo, ou nos músculos do pescoço, do peito e dos ombros devido ao excessoesporte de sortetempo frente às telas, usoesporte de sortetelefones celulares e a baixa força e resistência dos principais músculos que apoiam o correto alinhamento da coluna podem contribuir", explica Keller.

"Lesões ou cirurgias que causam cicatrizes dos tecidos conectivos, como cesarianas ou redução dos seios, também podem aumentar essa tensão."

Putrino destaca que é fundamental conseguir identificar melhor os fatores exatos que podem fazer as pessoas terminaremesporte de sorteum estadoesporte de sortefadiga prolongada. Isso irá permitir o desenvolvimentoesporte de sortemelhores diagnósticos e, por fim, tratamentos mais específicos para diversos subgruposesporte de sorteindivíduos.

"Existem muitos fatores e é ingenuidade pensar que um único medicamento ou intervenção irá cuidaresporte de sortetudo", explica ele.

"Mas, se pesquisarmos metodicamente possíveis medicamentos e compreendermos por que eles não funcionamesporte de sortediferentes pessoas, temos a possibilidadeesporte de sorteconseguir testes mais sofisticados com combinaçõesesporte de sortedrogas, nos próximos 12 a 24 meses. Eles poderão trazer alguma esperança real para as pessoas que vivem com essas condições crônicas associadas a infecções."

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Innovation.