Dia D, 80 anos: a história do único brasileiro presente no desembarque na Normandia:acima abaixo asiático pixbet
Em 28acima abaixo asiático pixbetfevereiroacima abaixo asiático pixbet1921, nasceu o filho único do casal: o franco-brasileiro Pierre Henri Clostermann. Vinte e três anos, três meses e seis dias depois, Clostermann entrou para a História como o único brasileiro conhecido por participar do Dia D, o 6acima abaixo asiático pixbetjunhoacima abaixo asiático pixbet1944, que marcou o desembarque das tropas aliadas nas praias da Normandia, no norte da França, então ocupada pelos nazistas.
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“Um peixinho no oceano. É assim que eu me sentia”, descreveuacima abaixo asiático pixbet2004, aos 83 anos.
“Na guerra, você avista um avião pelo retrovisor e não sabe se é amigo ou inimigo. Essa sensação dura um segundo, mas acredite: é muito desagradável. Eu só conseguia pensaracima abaixo asiático pixbetuma coisa: ‘Quero dar o fora daqui o mais depressa possível!’”.
A declaração foi dada ao músico João Barone no dia 1ºacima abaixo asiático pixbetjunhoacima abaixo asiático pixbet2004 na casa do ex-piloto, na cidade francesaacima abaixo asiático pixbetPerpignan.
Barone, baterista dos Paralamas do Sucesso, viajou para a França para participar das comemoraçõesacima abaixo asiático pixbet60 anos do Dia D. Seu pai, Joãoacima abaixo asiático pixbetLavor Reis e Silva (1918-2000), estava entre os 25.334 pracinhas brasileiros que lutaram na Segunda Guerra.
Pouco antesacima abaixo asiático pixbetembarcar, o músico entrouacima abaixo asiático pixbetcontato com a Força Aérea Brasileira (FAB): queria prestar homenagem ao único brasileiro conhecido por participar da invasão.
A FAB, então, enviou para a França uma comitivaacima abaixo asiático pixbetex-combatentes do 1º Grupoacima abaixo asiático pixbetAviaçãoacima abaixo asiático pixbetCaça, o famoso Senta a Pua!, para entregar a Clostermann a medalha Santos Dumont, a mais alta condecoração da Aeronáutica.
A prefeituraacima abaixo asiático pixbetCuritiba também homenageou o filho ilustre com uma placa.
O brigadeiro Rui Moreira Lima (1919-2013) foi um dos três ex-pilotos da FAB que viajaram para homenagear Clostermann. Durante o trajeto, o veterano conversou com Barone sobre o diaacima abaixo asiático pixbetque, no finalzinho dos anos 1950, os dois se encontraram no Rioacima abaixo asiático pixbetJaneiro para bater papo.
Entre um chope e outro, terminaram a noiteacima abaixo asiático pixbetuma animada rodaacima abaixo asiático pixbetchoroacima abaixo asiático pixbetum bar da Zona Norte.
Quem encontraram lá? Pixinguinha (1897-1973) e Jacob do Bandolim (1918-1969).
“Clostermann se considerava francês no papel, mas brasileiroacima abaixo asiático pixbetcoração. Sua história daria um filme e tanto!”, relata Barone que transformouacima abaixo asiático pixbetviagemacima abaixo asiático pixbetdocumentário, Um Brasileiro no Dia D (Editora Abril, 2006), eacima abaixo asiático pixbetlivro, A Minha Segunda Guerra (Panda Books, 2009).
'Meu Deus, o que estou fazendo aqui?'
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O pequeno Pierre Clostermann viveuacima abaixo asiático pixbetCuritiba até completar um anoacima abaixo asiático pixbetidade – depois, passou a moraracima abaixo asiático pixbetParis. Durante anos, o garoto se dividiu entre os dois países: cursava o ano letivo na França e curtia as férias escolares no Brasil. Quando terminou o ginásio, aos 16 anos, veio morar no Rioacima abaixo asiático pixbetJaneiro.
Na então capital federal do país, estudou filosofia no Liceu Franco-Brasileiro e aprendeu a pilotar no Aeroclube do Brasil. Seu instrutor era o alemão Karl Benitz.
Em umaacima abaixo asiático pixbetsuas decolagens, um urubu colidiu contra a héliceacima abaixo asiático pixbetsua aeronave Bucker Jungmann. Conclusão: Clostermann foi obrigado a fazer um pousoacima abaixo asiático pixbetemergência.
À noite, escrevia para o jornal Correio da Manhã. Assinava seus artigos sobre aviação como P. Henry C.
Do Brasil, Clostermann seguiu para os EUA, onde fixou residência,acima abaixo asiático pixbet1938. Na Califórnia, estudou engenharia aeronáutica na Ryan School of Aeronautics,acima abaixo asiático pixbetSan Diego.
O aviador estava no Rio quando,acima abaixo asiático pixbet22acima abaixo asiático pixbetjunhoacima abaixo asiático pixbet1940, a França se rendeu ao exércitoacima abaixo asiático pixbetHitler.
Poucos dias depois, recebeu uma cartaacima abaixo asiático pixbetseu pai: “Junte-se ao General De Gaulle ou não será mais meu filho!”.
O paiacima abaixo asiático pixbetPierre, Jacques Clostermann, havia lutado na Primeira Guerra Mundial. Ele sofreu ferimentos e, com o fim do conflito, recebeu a Ordem Nacional da Legiãoacima abaixo asiático pixbetHonra da França. Depois disso, tornou-se diplomata.
Após a ordem do pai, a próxima paradaacima abaixo asiático pixbetPierre foi a Inglaterra. Alistou-se na Força Aérea Francesa Livre (FAFL) e, ao ladoacima abaixo asiático pixbetoutros compatriotas, serviu na Real Força Aérea Britânica (RAF).
“Cheguei a Liverpool, bem no meioacima abaixo asiático pixbetum bombardeio. Pensei: ‘Meu Deus, o que estou fazendo aqui?’ Era tão feliz na praiaacima abaixo asiático pixbetMalibu. Que estúpido eu sou!”, admitiu a Barone,acima abaixo asiático pixbet2004.
Em 27acima abaixo asiático pixbetjulhoacima abaixo asiático pixbet1943, Clostermann, a bordoacima abaixo asiático pixbetum Spitfire, abateu um Focke Wulf 190. Foi a primeira das 33 aeronaves inimigas que o piloto abateu na Segunda Guerra.
Das 33 vitórias conquistadas, 19 foram individuais e 14 compartilhadas. Não bastasse, reivindicava ainda a destruiçãoacima abaixo asiático pixbet225 caminhões, 72 locomotivas, cinco tanques, dois lança-torpedos e um submarino.
“A marcaacima abaixo asiático pixbet33 vitórias é, sem dúvida, impressionante. Mas, o que mais me impressiona na vidaacima abaixo asiático pixbetClostermann é o fatoacima abaixo asiático pixbetele ter sobrevivido à guerra”, afirma Delmo Arguelhes, doutoracima abaixo asiático pixbetHistória pela Universidadeacima abaixo asiático pixbetBrasília (UnB) e pesquisador do Núcleoacima abaixo asiático pixbetEstudos Avançados do Institutoacima abaixo asiático pixbetEstudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF).
“E não ter se deixado abater e ter continuado a combater os nazistas voando pela Grã-Bretanha”.
O Spitfire foi apenas um dos modelos que Clostermann pilotou durante a Segunda Guerra.
Batizou um Tempestacima abaixo asiático pixbet"Le Grand Charles" (“O Grande Charles”),acima abaixo asiático pixbethomenagem ao general francês Charlesacima abaixo asiático pixbetGaulle (1890-1970), que liderou as Forças Francesas Livres durante a Segunda Guerra.
Clostermann fez amigos – o maior deles foi Jacques Remlinger (1923-2002), que conheceu na escolaacima abaixo asiático pixbetcadetes Cranwell da RAF, na Inglaterra – e viveu apuros.
Ele chegou a ser ferido na perna no dia 24acima abaixo asiático pixbetmarçoacima abaixo asiático pixbet1945 e obrigado a passar uma semanaacima abaixo asiático pixbetrepousoacima abaixo asiático pixbetum hospitalacima abaixo asiático pixbetcampanha.
Até casar durante a guerra, Clostermann se casou. Com Lydia Jeanne Starbuck na Igreja St. Denys,acima abaixo asiático pixbetSleaford, no condadoacima abaixo asiático pixbetLincolnshire, no dia 28acima abaixo asiático pixbetabrilacima abaixo asiático pixbet1943.
Dia D não foi 'início do fim' nem 'a batalha que salvou o mundo'
O navio americano USS General W.A. Mann chegou ao portoacima abaixo asiático pixbetNápoles, no sul da Itália, no dia 16acima abaixo asiático pixbetjulhoacima abaixo asiático pixbet1944. Trazia a bordo os 5 mil homens que integravam o 1º Escalão da Divisãoacima abaixo asiático pixbetInfantaria Expedicionária da Força Expedicionária Brasileira (FEB).
Sob o comando do general Euclides Zenóbio da Costa (1893-1963), aquele seria o primeiro dos cinco escalões enviados do Brasil à Itália para lutar na Segunda Guerra.
Ao todo, 25.334 expedicionários – 15.265 deles combatentes propriamente ditos – participaram do maior confronto militar do século 20.
Os pracinhas da FEB, incorporados ao 5º Exército dos EUA, comandado pelo general Mark Clark (1896-1984), participaramacima abaixo asiático pixbetbatalhas decisivas, como a conquistaacima abaixo asiático pixbetMonte Castello, Castelnuovo e Montese.
“A FEB não participou do Dia D. Sua atuação se deuacima abaixo asiático pixbetoutra frenteacima abaixo asiático pixbetcombate: a campanha italiana. Eacima abaixo asiático pixbetum período posterior ao da invasão da Normandia”, explica o historiador Francisco César Ferraz, doutoracima abaixo asiático pixbetHistória pela Universidadeacima abaixo asiático pixbetSão Paulo (USP), professor da Universidade Estadualacima abaixo asiático pixbetLondrina (UEL) e autoracima abaixo asiático pixbetOs Brasileiros e a Segunda Guerra Mundial (Zahar, 2005).
“A Segunda Guerra foi interdependente. Havia os aliados na Normandia, os soviéticos no Leste Europeu e os brasileiros na Itália. Cada um contribuiuacima abaixo asiático pixbetum jeito,acima abaixo asiático pixbetdiferentes proporções estratégicas, para a derrota do Eixo”.
“O Dia D foi, sem dúvida alguma, uma batalha muito importante porque ajudou a acelerar o fim da Segunda Guerra Mundial. Mas, não foi ‘o início do fim’. Nem ‘a batalha que salvou o mundo’”, afirma o historiador Icles Rodrigues.
Doutoracima abaixo asiático pixbetHistória pela Universidade Federalacima abaixo asiático pixbetSanta Catarina (UFSC) e criador do podcast História FM e do canal Leitura ObrigaHISTÓRIA, Rodrigues acabaacima abaixo asiático pixbetlançar O Dia D – Como a História Se Tornou Mito (Contexto, 2024).
“A ideiaacima abaixo asiático pixbetque o Dia D teria sido ‘o início do fim’ foi inventada pelos aliados ocidentais, especialmente os EUA, para fazer parecer que só ali,acima abaixo asiático pixbet6acima abaixo asiático pixbetjunhoacima abaixo asiático pixbet1944, a Alemanha começou a perder a guerra. No entanto, desde a derrotaacima abaixo asiático pixbetKursk, quase um ano antes, a Alemanha já não tinha chances reaisacima abaixo asiático pixbetvencer. Desde então, os alemães nunca mais realizaram uma ofensiva”.
'Quem diz que nunca sentiu medo é porque gostaacima abaixo asiático pixbetcontar histórias'
Ao todo, Clostermann participouacima abaixo asiático pixbet432 missões, entre escoltas, varreduras e interceptações. Entre um ataque e outro, rabiscava suas memóriasacima abaixo asiático pixbetcadernosacima abaixo asiático pixbetanotações.
Na capaacima abaixo asiático pixbetum deles, escreveu: “No casoacima abaixo asiático pixbeteu ser morto ou dado como desaparecido, desejo que este livro seja enviado a meu pai, o capitão Jacques Clostermann, no QG do Exército Francês,acima abaixo asiático pixbetBrazzaville”.
Não foi necessário.
Em 1948, três anos depois do fim da Segunda Guerra, publicou O Grande Circo (Le Grand Cirque). Traduzido para 30 idiomas, vendeu maisacima abaixo asiático pixbettrês milhõesacima abaixo asiático pixbetexemplares.
No Brasil, ganhou duas edições:acima abaixo asiático pixbet1961, pela extinta Flamboyant, eacima abaixo asiático pixbet2013, pela C & R Editorial. No prólogo, o autor descreve a guerra como “ingrata, mas fascinante”.
“Muitos livrosacima abaixo asiático pixbetmemóriasacima abaixo asiático pixbetpilotos militares, não apenas da Segunda Guerra, masacima abaixo asiático pixbetoutros conflitos, como o Vietnã, trazem a preocupaçãoacima abaixo asiático pixbetseguir a ‘história oficial’. Clostermann não parece ter se submetido a qualquer ‘filtro’. Sua linguagem é direta e surpreendentemente franca. Ele, inclusive, não poupaacima abaixo asiático pixbetcríticas nem superiores, nem aliados. É quase um relato jornalístico”, observa o jornalista Cláudio Lucchesi, que editou O Grande Circo pela C & R Editorial.
Das muitas histórias contadas no livro, Lucchesi aponta a "parada aérea" da vitória, organizada pela RAF pouco depois da rendição alemã, como a mais impactante.
E explica o motivo: “É,acima abaixo asiático pixbettodo o livro, o momentoacima abaixo asiático pixbetmaior ira e revoltaacima abaixo asiático pixbetClostermann”.
No dia 12acima abaixo asiático pixbetmaioacima abaixo asiático pixbet1945, o oficial britânico Bernard Montgomery (1887-1976) convidou o militar soviético Georgy Zhukov (1896-1974) para visitar os escombros das cidadesacima abaixo asiático pixbetHamburgo e Bremerhaven, na Alemanha.
E, para impressioná-lo, a RAF organizou uma parada aérea, com cercaacima abaixo asiático pixbet100 esquadrões –acima abaixo asiático pixbetcaças Spitfire, Tempest e Typhoon a bombardeiros Mosquito e B-25.
“Clostermann considerou tal demonstraçãoacima abaixo asiático pixbetforça uma estupidez e uma irresponsabilidade. Eram aviões demais juntos e seus pilotos estavam cansados. E tudo por um objetivo político”, explica.
Quase no final da parada, houve uma colisão. Três pilotos do esquadrãoacima abaixo asiático pixbetClostermann morreram. Ele só escapou com vida porque saltouacima abaixo asiático pixbetparaquedas.
Clostermann entrou para a reserva no dia 27acima abaixo asiático pixbetjulhoacima abaixo asiático pixbet1945. Ao todo, contabilizou maisacima abaixo asiático pixbet2 mil horasacima abaixo asiático pixbetvoo, 600 delasacima abaixo asiático pixbetcombate. Em 1946, ingressou na política.
Considerado um ás da aviação francesa, foi eleito deputado e reeleito sete vezes consecutivas. Dez anos depois,acima abaixo asiático pixbet1956, retornou à cabineacima abaixo asiático pixbetcomandoacima abaixo asiático pixbetuma aeronave.
Participou por dois anos da Guerra da Argélia e publicou Episódios da Guerra Aérea na Argélia (Flamboyant, 1961).
Pierre Henri Clostermann morreuacima abaixo asiático pixbet22acima abaixo asiático pixbetmarçoacima abaixo asiático pixbet2006, aos 85 anos.
“Quem diz que nunca sentiu medo é porque gostaacima abaixo asiático pixbetcontar histórias. Eu, pessoalmente, ficava apavorado. As balas passavam a 20 centímetros do meu capacete”, recordou o veterano, emacima abaixo asiático pixbetúltima entrevista, dois anos antesacima abaixo asiático pixbetmorrer.