Os diáriossite de apostas e sportspracinha brasileiro capturado por nazistas na 2ª Guerra: 'Comíamos neve para enganar o estômago' :site de apostas e sports
As linhas acima foram escritassite de apostas e sports1944 pelo cabo Waldemar Reinaldo Cerezoli, um dos 25 mil brasileiros enviados à Europa para combater os nazistas na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). ]
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Fim do Matérias recomendadas
Elas foram redigidas dentro do navio americano General Mann, que transportou o primeiro grupo da Força Expedicionária Brasileira (FEB) a deixar o Brasil para lutar contra as forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão).
Estavam a bordo 5,8 mil homens, a maioria deles pracinhas, como ficaram conhecidos os brasileiros destacados para lutar ao lado dos Aliados (Reino Unido, França, União Soviética e Estados Unidos) e que não eram militaressite de apostas e sportscarreira.
Eles deixaram o porto do Riosite de apostas e sportsJaneirosite de apostas e sports29site de apostas e sportsjunho, sem saber quando ou onde desembarcariam. No pescoço, levavam uma placasite de apostas e sportsreconhecimento militar para identificaçãosite de apostas e sportscasosite de apostas e sportsmorte.
Waldemar Cerezoli sobreviveu e, com ele, seu diário, no qual registrou detalhessite de apostas e sportssua rotina nos 381 dias que ficou fora do país — 142 deles como prisioneirosite de apostas e sportsguerrasite de apostas e sportsum camposite de apostas e sportsconcentração alemão.
O caderno, com 98 páginas preenchidas a caneta azul, voltou na bagagem do ex-combatentesite de apostas e sports1945 e foi conservado porsite de apostas e sportsfamília apóssite de apostas e sportsmorte,site de apostas e sports1975.
Mas só agora, oito décadas depois do desembarque do primeiro contingente brasileiro na Itália, o manuscrito veio à tona, resgatado pela historiadora Cristina Pellegrino Feres.
Pesquisadora do Laboratóriosite de apostas e sportsEstudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação (LEER), da Universidadesite de apostas e sportsSão Paulo (USP), Feres vem se debruçando sobre a história da FEB, com foco nas pessoas comuns que tiveram a vida transformada pelos acontecimentos históricos.
“Não me interessam os dados sobre batalhas, sobre estratégia militar, me interessa o homemsite de apostas e sportscombate, a valorização do indivíduo na história”, afirma.
Feres recebeu um caderno com fotocópias das páginas do diário no fim da décadasite de apostas e sports1990, das mãossite de apostas e sportsum amigo da famíliasite de apostas e sportsWaldemar.
Como ainda não pesquisava o tema, deixou o caderno guardado, até que,site de apostas e sports2020, decidiu analisar seu conteúdo.
Em novembrosite de apostas e sports2023, ela lançou o livro A dupla face da guerra: A FEB pelo olharsite de apostas e sportsum prisioneiro (ed. Intermeios), no qual, alémsite de apostas e sportsreproduzir integralmente o texto do diário, interpreta e dá contexto ao relato, com basesite de apostas e sportsfontes acadêmicas esite de apostas e sportsdocumentos históricos.
Diáriossite de apostas e sportsguerra
Muitos pracinhas registraram por escritosite de apostas e sportsexperiência durante o conflito, contrariando a orientação do Ministério da Defesa da época, que proibiu os soldadossite de apostas e sportsmanterem diários.
“No começo, todo mundo anotava tudo”, relatou o cronista Rubem Braga, então correspondentesite de apostas e sportsguerra, no jornal Diário Carioca.
Segundo Maria Luiza Tucci Carneiro, professora do Departamentosite de apostas e sportsHistória da USP, o diáriosite de apostas e sportsguerra, alémsite de apostas e sportsservir como fonte histórica, cumpre diversas funções para seus autores.
Um exemplo: o hábitosite de apostas e sportsescrever ajuda o soldado a manter as referências temporais na falta dos marcos convencionais da vidasite de apostas e sportssociedade — como festas, casamentos e feriados. Mas não só.
“Muitas vezes, cumpre com o seu papelsite de apostas e sportsautoajuda nos momentossite de apostas e sportsangústias e frustrações;site de apostas e sportsoutros, serve para o narrador retomar o equilíbrio e a respiração após um bombardeio”, afirma Carneiro, no prefácio do livro sobre o diáriosite de apostas e sportsWaldemar — que ela considera uma “preciosidade histórica” por ter sido produzido in loco,site de apostas e sportsmeio a situaçõessite de apostas e sportsestresse individual e coletivo.
Alguns diáriossite de apostas e sportspracinhas sobreviveram e foram publicados, mas Cristina Feres viu no relatosite de apostas e sportsWaldemar algumas contribuições inéditas.
Primeiro, porque se tratasite de apostas e sportsum dos poucos testemunhossite de apostas e sportsum brasileiro capturado pelos alemães. Dos 25,3 mil pracinhas, só 35 foram feitos prisioneiros.
“O Brasil fecha os olhos para essas histórias”, afirma Feres, acrescentando que os combatentes que caem nas mãos do inimigo são vistos como a antítese do herói.
“Eles carregam o estigmasite de apostas e sportsterem falhado na missão.”
Dois desses ex-prisioneiros da Segunda Guerra tiveram seus depoimentos incluídos na coleçãosite de apostas e sportshistória oral do Exército.
Um terceiro, Eliseusite de apostas e sportsOliveira, contousite de apostas e sportshistória ao jornalista Altino Bondesan, que compilou as entrevistas no livro Um pracinha paulista no infernosite de apostas e sportsHitler (ed. Guaíra, 1947).
O diáriosite de apostas e sportsWaldemar, porsite de apostas e sportsvez, é um testemunho escrito no calor dos acontecimentos, sem ter sido lapidado ou ressignificado pelo filtro do tempo, como acontece com outras memórias.
Talvez por isso o registro passe longe da grandiosidade dos relatos tradicionaissite de apostas e sportsguerra, revelando uma dimensão cotidiana da rotinasite de apostas e sportssoldado, que sente medo, tédio, saudade e incômodo — nas palavrassite de apostas e sportsFeres, “as fragilidades humanas que o discurso oficial tende a ocultar”.
Para a historiadora, faltam no Brasil ações institucionais para conservar e compilar os relatossite de apostas e sportssobreviventes da Segunda Guerra, como fizeram outros países.
“Essa memória sobrevivesite de apostas e sportspequenos nichos: entre os familiares, associaçõessite de apostas e sportsveteranos ou simpatizantes da temática da guerra. Mas não está na memória coletiva brasileira”, afirma.
Ratos, comida enlatada e camasite de apostas e sportscapim
Morador da cidade paulistasite de apostas e sportsRibeirão Pires, que na época era um distritosite de apostas e sportsSanto André, Waldemar foi sorteado para o Exércitosite de apostas e sports1941.
Segundosite de apostas e sportscertidão funcional, ele era um soldado que se destacava porsite de apostas e sportsdisciplina, forçasite de apostas e sportsvontade e resistência física durante os treinamentos.
O diário revela outro lado do pracinha: osite de apostas e sportsum jovemsite de apostas e sports24 anos consumido pelas saudades da família, que abandonousite de apostas e sportspacata vidasite de apostas e sportsfuncionário dos Correios para empunhar uma metralhadora no frontsite de apostas e sportsguerra e que não teve coragemsite de apostas e sportscontar para a mãe que havia sido convocado para lutar na Europa — preferiu dizer que estava no Norte do Brasil.
Seu relato se inicia com o embarque no Riosite de apostas e sportsJaneiro,site de apostas e sports29site de apostas e sportsjunhosite de apostas e sports1944, e tem periodicidade diária até 30site de apostas e sportsoutubro, logo antessite de apostas e sportsseu aprisionamento.
As agruras do cativeiro também foram registradas, massite de apostas e sportsforma resumida, provavelmente apóssite de apostas e sportslibertação.
A última anotação do caderno é um poema datadosite de apostas e sportsjaneirosite de apostas e sports1946, seis meses após seu retorno ao Brasil.
De acordo com o diário, o calvário do grupo começou já na viagemsite de apostas e sportsnavio, dormindosite de apostas e sportsum porão cheiosite de apostas e sportsratos, sob um calor infernal e com comida insuficiente.
“Dia 4site de apostas e sportsjulho.
A maior parte dos meus colegas está doente. Eu, felizmente, estou me acostumando com a viagem, mas cada dia mais triste porque afasto-me cada vez mais da minha terra e com poucas esperançassite de apostas e sportstornar a vê-la. Temos passado fome aqui no navio, onde só temos duas refeições durante o dia todo, e eu não me acostumo com essa comida americana, tudo é doce.
À noite, é uma tristeza, apagam-se todas as luzes cedo e temos que ficar no escuro com os ratos, e o porão faz um calor insuportável! Todos os dias temos instruçõessite de apostas e sportsabandono do navio, é a maior chateação!”
As privações continuaram após o desembarque no portosite de apostas e sportsNápoles. Os pracinhas dormiam sobre capim, acordavam antes do sol nascer para cumprir treinos exaustivos e comiam refeições enlatadas.
Eventualmente, alguém conseguia tomates e preparava uma salada dentro do capacete.
“Dia 16site de apostas e sportsjulho.
Estou loucosite de apostas e sportsfome e cansado. Às 8h, recebemos duas latinhassite de apostas e sportscomidasite de apostas e sportsconserva.
Esta noite vamos dormir tendo por teto as estrelas. Começou o sofrimento. Acabou a boa cama e a mamãe para fazer tudo. Enfim, estamos na guerra e nãosite de apostas e sportscasa. Arrumei um poucosite de apostas e sportscapim embaixosite de apostas e sportsuma árvore e deitei-me para dormir.”
Ainda assim, Waldemar comemora um luxo raro, providenciado pelo Exército dos Estados Unidos.
“Estamos no mato, e temos chuveiro com água quente. Nos quartéis do Brasil nem água fria tínhamos!”, escreveu.
Vinho e mulheres
As primeiras semanas do diário são marcadas pela ansiedade da espera para entrarsite de apostas e sportscombate.
Diversas vezes, Waldemar escreve que quer ver logo “a cobra fumar” — expressão surgida como uma provocação (de que seria mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra), que acabou sendo incorporada à iconografia e ao uniforme da FEB.
Para passar o tempo, os pracinhas jogavam vôlei ou baralho, lavavam roupa, limpavam as armas, dormiam ou conversavam “sobre o Brasil e as garotas”.
O cigarro e o álcool eram válvulassite de apostas e sportsescape para o estresse e o tédio. Waldemar faz referências constantes a se embriagar com o vinho comprado dos empobrecidos italianos. “Vinho e miséria aqui não faltam”, escreveu.
“Dia 28site de apostas e sportsjulho.
A cada dois dias recebemos um maçosite de apostas e sportscigarros, já estamos sem cigarros e não temos onde comprar. Hoje, recebi o primeiro pagamento aqui na Itália, 2.500 liras que correspondem a 500 cruzeirossite de apostas e sportsnosso dinheiro; mas para que me serve isso se não tenho onde gastar, a não ser no vinho do italiano?”
A confraternização com a população local incluía o contato com as “lavadeiras”, mulheres italianas que, na ausênciasite de apostas e sportshomenssite de apostas e sportscasa esite de apostas e sportsmeiossite de apostas e sportssobrevivência, lavavam e costuravam as fardas dos soldadossite de apostas e sportstrocasite de apostas e sportsalgumas moedas.
Uma delas, segundo Waldemar, se afeiçoou tanto a eles que até chorou ao saber que iriam para o front.
O brasileiro também cita uma jovem chamada Dora, com quem aparentemente engatou um namoro.
“Nunca vi uma pequena tão bonita e amável, atésite de apostas e sportscasamento falamos”, escreveu.
A miséria da população chocou muitos pracinhas, que costumavam dar comida ou doces para as crianças famintas que se aproximavam.
Uma delas, Giovanna,site de apostas e sportscinco anos, se afeiçoou a Waldemar, que fez uma fotografia dela e a trouxe para o Brasil.
“Dia 5site de apostas e sportsagosto.
Estive conversando com os velhos italianos e fiquei impressionadosite de apostas e sportsouvi-los contar as barbaridades que os alemães fizeram ao passar por aqui. Levei-lhes duas latassite de apostas e sportsconserva e eles ficaram um tanto satisfeitos, dando-mesite de apostas e sportstroca um cantilsite de apostas e sportsvinho.
À tarde, me troquei e fui passear na cidadesite de apostas e sportsTarquínia. Voltei cedo porque a cidade não vale nada, está tudo destruído. Há somente vinho e frutas.”
Cadáveres
Segundo dados do Exército, 443 combatentes da FEB morreram e 2.722 ficaram feridos na Europa.
Uma parte deles foi vitimada antes mesmosite de apostas e sportsir para o front,site de apostas e sportsacidentes durante os treinos.
“Hoje, morreram mais dois colegas: um afogado e outro com a explosãosite de apostas e sportsuma mina. Ainda não entramossite de apostas e sportscombate e já morreram vários colegas”, escreveu Waldemar,site de apostas e sports4site de apostas e sportssetembro.
À medida que o tempo passava, o inimigo ficava mais próximo. Em 11site de apostas e sportssetembro, o cabo brasileiro viu soldados alemães pela primeira vez — eram nove e estavam mortos.
“11site de apostas e sportssetembro.
Durante a instrução, entreisite de apostas e sportsuma trincheira velha e encontrei nove cadáveressite de apostas e sportsalemães. Tivemos a curiosidadesite de apostas e sportsrevistá-los, e encontramos várias fotografiassite de apostas e sportsmoças,site de apostas e sportscrianças e deles mesmos. Fiquei com duas fotografias para lembrança desse diasite de apostas e sportssacrifício. Tirei do cintosite de apostas e sportsoutro um porta-cantil.
Tive a impressãosite de apostas e sportsque é bem triste morrersite de apostas e sportscombate. Hoje encontrei esses corpos, talvez amanhã encontrem o meu.”
Uma das maiores angústiassite de apostas e sportsWaldemar era a faltasite de apostas e sportsnotícias da família. Ele escrevia para a mãe e para a namorada, mas, diferentementesite de apostas e sportsseus companheiros, não recebia retorno.
“Já escrevi 18 cartas e não sei o que é uma resposta, talvez pensem que eu já morri”, desabafou,site de apostas e sports13site de apostas e sportsagosto.
No mês seguinte, quando seu regimento já estavasite de apostas e sportsmeio ao fogo cruzado, chegaram as primeiras cartas para ele.
“Dia 23site de apostas e sportssetembro.
Esta noite inteira a artilharia inimiga atirou sobre nós. Tomei café às 8h e estava costurando quando o tenente me chamou e me entregou duas cartassite de apostas e sportsminha mãe e umasite de apostas e sportsCida. Ninguém avalia como estou contente! Recebi uma fotografia da garota e as notíciassite de apostas e sportscasa que são boas.
Amanhã atacaremos, e agora morrerei contente porque tive notícias da minha família pela primeira vez.”
No front com a ‘gata’
Waldemar foi para a frentesite de apostas e sportsbatalha dois meses depoissite de apostas e sportssua chegada à Itália. Com ele, levousite de apostas e sportsmetralhadora — que ele chamavasite de apostas e sports“minha gata”.
“15site de apostas e sportssetembro.
Estamossite de apostas e sportsprimeira linha, entreisite de apostas e sportsposição com minha metralhadora. Agora já não é mais instrução, e sim realidade. Estava na metralhadora quando ouvi ruídos poucos metros à frente, mas, como estava escuro, não pude ver nada. Recebi ordenssite de apostas e sportsabrir fogo e, pela primeira vez, atirei para matar.”
O relato foi se tornando mais dramático, com enfrentamentos diretos e mortessite de apostas e sportscompatriotas.
“24site de apostas e sportssetembro.
Nunca vi a morte tão perto. Morreu um cabo pertosite de apostas e sportsmim e se feriram quatro. Avançamos novamente e meu capitão ordenou que abríssemos trincheiras porque iríamos passar a noite na defensiva.
Cavei um buraco e coloquei minha gatasite de apostas e sportsposiçãosite de apostas e sportsatirar. Estavasite de apostas e sportsposição e começou a chover. Ficamos embaixo da chuva atésite de apostas e sportsmadrugada. Às 6h, começou a cobra a fumar novamente: abri fogo e atirei até o cano da gata ficar vermelho. Às 7h, parou o fogo e o inimigo recuou.”
Nesse mesmo dia, o regimentosite de apostas e sportsWaldemar trouxe três prisioneiros alemães, que chegaram quase nus.
“Estavam loucossite de apostas e sportsfome e sede. Nosso capitão deu a eles umas latinhassite de apostas e sportsconserva e eu dei um poucosite de apostas e sportságua que tinha no cantil”, contou.
Segundo o diário, a situação dos rivais era tão desesperadora que alguns se rendiam para conseguir comer.
“Ontem à noite, quatro alemães vieram se entregar porque estavam passando fome”, escreveu o cabo.
A situação dos brasileiros também era precária. “Estou sujo como um porco, faz cinco dias que nem tiro a botina. Banho há 15 dias que não vejo, mas, infelizmente, a guerra é assim”, contou Waldemar.
“Às 7h, preparei minha cama dentrosite de apostas e sportsum galinheiro, mas não pude dormir porque os piolhos me atacaram. Pior que os alemães!”, disse,site de apostas e sportsoutro trecho.
Com o passar dos dias, o caos ficou tão familiar que ele nem se abalou com o barulhosite de apostas e sportsduas granadas que caíram a dez metrossite de apostas e sportsonde dormia.
“As vidraças ficaramsite de apostas e sportscacos, mas eu nem acordei. À tarde, fritamos batatinhas e compramos dois cantissite de apostas e sportsvinho”, escreveu,site de apostas e sports20site de apostas e sportsoutubro.
Batalha final
O relatosite de apostas e sportsWaldemar chegou ao ápicesite de apostas e sports30site de apostas e sportsoutubro, datasite de apostas e sportssua última batalha antessite de apostas e sportsser capturado, no Vale do Serchio, região da Toscana.
Sob forte chuva, eles tentavam subir o morrosite de apostas e sportsSão Quiricosite de apostas e sportsdireção a uma base defensiva alemã.
Surpreendidas com um contra-ataque, as tropas da FEB tiveram que batersite de apostas e sportsretirada, mas o gruposite de apostas e sportsWaldemar ficou cercado pelo inimigo.
Eram 17 pracinhas abrigadossite de apostas e sportsuma casa, contra 300 soldados alemães, no que seria considerado o primeiro revés sofrido pelo Brasil na Itália.
“30site de apostas e sportsoutubro.
Só me restava uma granadasite de apostas e sportsmão que estava pendurada no meu cinto do lado esquerdo. O soldado Eliseu a arrancou do cinto, porque eu não podia me mover para tirá-la. Eu já tinha onze furossite de apostas e sportsbala no capacete e estava desabrigado. Enquanto eu atirava, Eliseu rastejou até perto da trincheira inimiga e atirou a granada. Aqueles dois já não matariam mais brasileiros.”
Waldemar e Eliseusite de apostas e sportsOliveira foram buscar ajuda no postosite de apostas e sportscomando próximo, sob fogo cruzado.
Quando voltaram à casa onde os colegas resistiam, uma granada atravessou a janela e feriu Waldemar e um sargento.
Com metralhadoras apontadas contra suas cabeças, eles se renderam.
“Era aproximadamente 11h, e eu já estava com fome e sede insuportáveis. Subi para o andar superior e vi pela janela que o inimigo já tinha cercado a casa. (...) Enquanto tinha balas, atirei para matar. Quando terminaram meus 3 mil tirossite de apostas e sportsmetralhadora, peguei meu fuzil e continuei atirando. Atirávamos a dois ou três metrossite de apostas e sportsdistância, dava para ver o ódio estampado no rosto do inimigo. (...) Vi perfeitamente uma granada entrar pela janela e cobri o rosto com o braço esperando a explosão. Senti uma pancada na cabeça e desacordei por alguns segundos. Depois, vi meu braço ferido e senti sangue escorrer pela perna esquerda. Quis andar, mas não pude.
Olhei para o sargento e vi sangue no braço dele, que se contorciasite de apostas e sportsdor e estava com o braço direito quebrado. Ao meu lado estava o Hamilton deitadosite de apostas e sportsuma poçasite de apostas e sportssangue. Um estilhaço havia-lhe cortado a veia.”
Camposite de apostas e sportsprisioneiros
A partir dali, o relato passou a ser retrospectivo, provavelmente escrito após a libertaçãosite de apostas e sportsWaldemar.
Ele contou que foi levado a um hospital, onde sofreu nas mãossite de apostas e sportsenfermeiros italianos.
“Tiraram-me o estilhaço da perna e outro da cabeça, mas tudo sem anestesia; punham-me gaze na boca para sufocar os gritos”, escreveu.
Em 5site de apostas e sportsdezembro, os cativos embarcaramsite de apostas e sportsum tremsite de apostas e sportscargasite de apostas e sportsdireção à Alemanha,site de apostas e sportsvagõessite de apostas e sportsaço lacrados, e passaram “três dias e três noites fechados como ratos”.
“À meia-noite,site de apostas e sports8site de apostas e sportsdezembro, tive a honrasite de apostas e sportsdesembarcar na Alemanha. Estávamos loucossite de apostas e sportssede e, assim que descemos, começamos a comer neve. Entramossite de apostas e sportsforma e seguimos para o camposite de apostas e sportsconcentração. Foi a pior impressãosite de apostas e sportsminha vida ver aquele cercadosite de apostas e sportsarame onde eu ia entrar, mas não sabia se sairia.”
Àsite de apostas e sportsfrente, estava o Stalag VII-A, o maior camposite de apostas e sportsprisioneirossite de apostas e sportsguerra da Alemanha nazista, na cidadesite de apostas e sportsMoosburg, na Baviera.
Planejado para 10 mil prisioneiros, tinha maissite de apostas e sports76 mil no momentosite de apostas e sportssua libertação pelo Exército americano,site de apostas e sports29site de apostas e sportsabrilsite de apostas e sports1945 — outros 40 mil cativos eram mantidos nos arredores, realizando trabalhos forçados.
Não se sabe se Waldemar levou o caderno para o campo nazista. Cristina Feres acredita que não.
“Acho difícil, até porque a caneta poderia ser considerada uma arma. Provavelmente o diário ficou naquela casa no Vale do Serchio e depois foi recuperado por alguém junto com os outros bens deixados pelos prisioneiros”, diz.
No diáriosite de apostas e sportsWaldemar, os cinco mesessite de apostas e sportsprisão foram resumidossite de apostas e sportspoucos parágrafos, com conteúdo perturbador.
“No outro dia, às 9h, vieram uns pães pretos, mas alguns avançaram como loucos nos pães e quem foi educado não comeu nada. À tarde fomos identificados e recebi uma chapa com o número 142292, a qual era obrigado a levar pendurada no pescoço. (...) A comida constituía somentesite de apostas e sportsbatata. Dormia-se no pedregulho. A primeira refeição vinha às 3h ou 4h da tarde, e muitos dias não vinha; então, comíamos neve para enganar o estômago. Já andava eu barbudo, sujo, cheiosite de apostas e sportsmuquirana e bichossite de apostas e sportstoda espécie.”
O registro terminou com a libertação do grupo, que passou três meses viajando pela França, sendo tratado com regalias.
“Ninguém avalia nossa alegria. Jamais tive um dia tão feliz! Os tanques comandados pelo general Patton invadiram o campo e já não éramos mais prisioneiros, trocamossite de apostas e sportslugar com os alemães. No mesmo dia, chegou cigarro e comida à vontade. Comi tanto que amanheci doente. Montaram chuveiros e tomamos um banho quente, trocamossite de apostas e sportsroupa, cortei a barba e já me sentia outro.”
‘Neurose’site de apostas e sportsguerra
A economiasite de apostas e sportspalavras para rememorar o cativeiro se manteve após o retornosite de apostas e sportsWaldemar para o Brasil.
Familiares disseram à pesquisadora que ele era uma pessoa nervosa, calada e que se recusava a falar sobre o assunto — possivelmente, uma estratégiasite de apostas e sportsdefesa para não ter que lidar com memórias traumáticas.
A desmobilização da FEB ocorreu assim que acabou a guerra, na própria Itália, ou seja, os pracinhas que haviam embarcado como soldados voltaram como civis.
Waldemar entrou para a reserva e passou a exercer um trabalho braçalsite de apostas e sportsuma pedreirasite de apostas e sportsRibeirão Pires.
Dezessete anos depois, foi reformado por incapacidade. Um exame psíquico da Junta Militarsite de apostas e sportsSaúde o diagnosticou com “reação depressivo neurótica”.
Segundo o parecer médico, “desde 1945, (quando voltou da Itália incorporado a FEB) ficou nervoso e não podia trabalhar”, tinha “crisessite de apostas e sportschoro frequentes e tremores nas mãos” e às vezes “perdia os sentidos”. Waldemar morreusite de apostas e sportsleucemiasite de apostas e sports1975, aos 55 anos.
Existem diversos relatossite de apostas e sportspracinhas que enfrentaram dificuldades para se reintegrar à sociedade, com reportagens da época noticiando casossite de apostas e sports“neurosesite de apostas e sportsguerra”, alcoolismo, mendicância e suicídio entre esses veteranos.
Segundo Feres, esse impacto emocional foi ignorado pelo Estado brasileiro.
“Existem dados sobre os mortos, prisioneiros e feridossite de apostas e sportscombate, mas esses que voltaram com sequelas psicológicas não entraram nas estatísticas”, afirma.
Waldemar não recebeu nenhuma assistência psicológica após a libertação.
Ainda que não gostassesite de apostas e sportsfalar sobre o assunto, recorreu ao diário para desabafar nos meses seguintes ao seu retorno, relatando ter pesadelos com o sangue, os gemidos e os gritossite de apostas e sportsangústia dos colegas que tombaram ao seu lado.
“Vocês não avaliam o estado moralsite de apostas e sportsum combatente que, após um árduo combate, é ferido e aprisionado; que passou fome, frio, sede, enfim, tudo que é possível um soldado sofrer, vendo sempre emsite de apostas e sportsfrente uma cercasite de apostas e sportsarame, que foi humilhado pelos seus semelhantes, que viveu vários meses pensando nasite de apostas e sportsdesgraça e sem notíciassite de apostas e sportsseus entes queridos. Mas sofreu tudo com resignação porque ele também matou, talvez um pai, um filho ou noivo que alguém esperava, e cuja espera foisite de apostas e sportsvão.”
No texto, intitulado “Procurem compreender-me”, ele faz um apelo para não ser julgado e passa a impressãosite de apostas e sportsque, depois daquela experiência, ele nunca mais foi o mesmo.
“Não me condenem como ruim, procurem compreender-me. Nunca esqueçam que me separei temporariamente deste mundo e fui para a guerra, da qual muitos não voltaram.”