Os diárioscomo apostar na luta do ufcpracinha brasileiro capturado por nazistas na 2ª Guerra: 'Comíamos neve para enganar o estômago' :como apostar na luta do ufc
As linhas acima foram escritascomo apostar na luta do ufc1944 pelo cabo Waldemar Reinaldo Cerezoli, um dos 25 mil brasileiros enviados à Europa para combater os nazistas na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). ]
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Elas foram redigidas dentro do navio americano General Mann, que transportou o primeiro grupo da Força Expedicionária Brasileira (FEB) a deixar o Brasil para lutar contra as forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão).
Estavam a bordo 5,8 mil homens, a maioria deles pracinhas, como ficaram conhecidos os brasileiros destacados para lutar ao lado dos Aliados (Reino Unido, França, União Soviética e Estados Unidos) e que não eram militarescomo apostar na luta do ufccarreira.
Uma toneladacomo apostar na luta do ufccocaína, três brasileiros inocentes e a busca por um suspeito inglês
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Eles deixaram o porto do Riocomo apostar na luta do ufcJaneirocomo apostar na luta do ufc29como apostar na luta do ufcjunho, sem saber quando ou onde desembarcariam. No pescoço, levavam uma placacomo apostar na luta do ufcreconhecimento militar para identificaçãocomo apostar na luta do ufccasocomo apostar na luta do ufcmorte.
Waldemar Cerezoli sobreviveu e, com ele, seu diário, no qual registrou detalhescomo apostar na luta do ufcsua rotina nos 381 dias que ficou fora do país — 142 deles como prisioneirocomo apostar na luta do ufcguerracomo apostar na luta do ufcum campocomo apostar na luta do ufcconcentração alemão.
O caderno, com 98 páginas preenchidas a caneta azul, voltou na bagagem do ex-combatentecomo apostar na luta do ufc1945 e foi conservado porcomo apostar na luta do ufcfamília apóscomo apostar na luta do ufcmorte,como apostar na luta do ufc1975.
Mas só agora, oito décadas depois do desembarque do primeiro contingente brasileiro na Itália, o manuscrito veio à tona, resgatado pela historiadora Cristina Pellegrino Feres.
Pesquisadora do Laboratóriocomo apostar na luta do ufcEstudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação (LEER), da Universidadecomo apostar na luta do ufcSão Paulo (USP), Feres vem se debruçando sobre a história da FEB, com foco nas pessoas comuns que tiveram a vida transformada pelos acontecimentos históricos.
“Não me interessam os dados sobre batalhas, sobre estratégia militar, me interessa o homemcomo apostar na luta do ufccombate, a valorização do indivíduo na história”, afirma.
Feres recebeu um caderno com fotocópias das páginas do diário no fim da décadacomo apostar na luta do ufc1990, das mãoscomo apostar na luta do ufcum amigo da famíliacomo apostar na luta do ufcWaldemar.
Como ainda não pesquisava o tema, deixou o caderno guardado, até que,como apostar na luta do ufc2020, decidiu analisar seu conteúdo.
Em novembrocomo apostar na luta do ufc2023, ela lançou o livro A dupla face da guerra: A FEB pelo olharcomo apostar na luta do ufcum prisioneiro (ed. Intermeios), no qual, alémcomo apostar na luta do ufcreproduzir integralmente o texto do diário, interpreta e dá contexto ao relato, com basecomo apostar na luta do ufcfontes acadêmicas ecomo apostar na luta do ufcdocumentos históricos.
Diárioscomo apostar na luta do ufcguerra
Muitos pracinhas registraram por escritocomo apostar na luta do ufcexperiência durante o conflito, contrariando a orientação do Ministério da Defesa da época, que proibiu os soldadoscomo apostar na luta do ufcmanterem diários.
“No começo, todo mundo anotava tudo”, relatou o cronista Rubem Braga, então correspondentecomo apostar na luta do ufcguerra, no jornal Diário Carioca.
Segundo Maria Luiza Tucci Carneiro, professora do Departamentocomo apostar na luta do ufcHistória da USP, o diáriocomo apostar na luta do ufcguerra, alémcomo apostar na luta do ufcservir como fonte histórica, cumpre diversas funções para seus autores.
Um exemplo: o hábitocomo apostar na luta do ufcescrever ajuda o soldado a manter as referências temporais na falta dos marcos convencionais da vidacomo apostar na luta do ufcsociedade — como festas, casamentos e feriados. Mas não só.
“Muitas vezes, cumpre com o seu papelcomo apostar na luta do ufcautoajuda nos momentoscomo apostar na luta do ufcangústias e frustrações;como apostar na luta do ufcoutros, serve para o narrador retomar o equilíbrio e a respiração após um bombardeio”, afirma Carneiro, no prefácio do livro sobre o diáriocomo apostar na luta do ufcWaldemar — que ela considera uma “preciosidade histórica” por ter sido produzido in loco,como apostar na luta do ufcmeio a situaçõescomo apostar na luta do ufcestresse individual e coletivo.
Alguns diárioscomo apostar na luta do ufcpracinhas sobreviveram e foram publicados, mas Cristina Feres viu no relatocomo apostar na luta do ufcWaldemar algumas contribuições inéditas.
Primeiro, porque se tratacomo apostar na luta do ufcum dos poucos testemunhoscomo apostar na luta do ufcum brasileiro capturado pelos alemães. Dos 25,3 mil pracinhas, só 35 foram feitos prisioneiros.
“O Brasil fecha os olhos para essas histórias”, afirma Feres, acrescentando que os combatentes que caem nas mãos do inimigo são vistos como a antítese do herói.
“Eles carregam o estigmacomo apostar na luta do ufcterem falhado na missão.”
Dois desses ex-prisioneiros da Segunda Guerra tiveram seus depoimentos incluídos na coleçãocomo apostar na luta do ufchistória oral do Exército.
Um terceiro, Eliseucomo apostar na luta do ufcOliveira, contoucomo apostar na luta do ufchistória ao jornalista Altino Bondesan, que compilou as entrevistas no livro Um pracinha paulista no infernocomo apostar na luta do ufcHitler (ed. Guaíra, 1947).
O diáriocomo apostar na luta do ufcWaldemar, porcomo apostar na luta do ufcvez, é um testemunho escrito no calor dos acontecimentos, sem ter sido lapidado ou ressignificado pelo filtro do tempo, como acontece com outras memórias.
Talvez por isso o registro passe longe da grandiosidade dos relatos tradicionaiscomo apostar na luta do ufcguerra, revelando uma dimensão cotidiana da rotinacomo apostar na luta do ufcsoldado, que sente medo, tédio, saudade e incômodo — nas palavrascomo apostar na luta do ufcFeres, “as fragilidades humanas que o discurso oficial tende a ocultar”.
Para a historiadora, faltam no Brasil ações institucionais para conservar e compilar os relatoscomo apostar na luta do ufcsobreviventes da Segunda Guerra, como fizeram outros países.
“Essa memória sobrevivecomo apostar na luta do ufcpequenos nichos: entre os familiares, associaçõescomo apostar na luta do ufcveteranos ou simpatizantes da temática da guerra. Mas não está na memória coletiva brasileira”, afirma.
Ratos, comida enlatada e camacomo apostar na luta do ufccapim
Morador da cidade paulistacomo apostar na luta do ufcRibeirão Pires, que na época era um distritocomo apostar na luta do ufcSanto André, Waldemar foi sorteado para o Exércitocomo apostar na luta do ufc1941.
Segundocomo apostar na luta do ufccertidão funcional, ele era um soldado que se destacava porcomo apostar na luta do ufcdisciplina, forçacomo apostar na luta do ufcvontade e resistência física durante os treinamentos.
O diário revela outro lado do pracinha: ocomo apostar na luta do ufcum jovemcomo apostar na luta do ufc24 anos consumido pelas saudades da família, que abandonoucomo apostar na luta do ufcpacata vidacomo apostar na luta do ufcfuncionário dos Correios para empunhar uma metralhadora no frontcomo apostar na luta do ufcguerra e que não teve coragemcomo apostar na luta do ufccontar para a mãe que havia sido convocado para lutar na Europa — preferiu dizer que estava no Norte do Brasil.
Seu relato se inicia com o embarque no Riocomo apostar na luta do ufcJaneiro,como apostar na luta do ufc29como apostar na luta do ufcjunhocomo apostar na luta do ufc1944, e tem periodicidade diária até 30como apostar na luta do ufcoutubro, logo antescomo apostar na luta do ufcseu aprisionamento.
As agruras do cativeiro também foram registradas, mascomo apostar na luta do ufcforma resumida, provavelmente apóscomo apostar na luta do ufclibertação.
A última anotação do caderno é um poema datadocomo apostar na luta do ufcjaneirocomo apostar na luta do ufc1946, seis meses após seu retorno ao Brasil.
De acordo com o diário, o calvário do grupo começou já na viagemcomo apostar na luta do ufcnavio, dormindocomo apostar na luta do ufcum porão cheiocomo apostar na luta do ufcratos, sob um calor infernal e com comida insuficiente.
“Dia 4como apostar na luta do ufcjulho.
A maior parte dos meus colegas está doente. Eu, felizmente, estou me acostumando com a viagem, mas cada dia mais triste porque afasto-me cada vez mais da minha terra e com poucas esperançascomo apostar na luta do ufctornar a vê-la. Temos passado fome aqui no navio, onde só temos duas refeições durante o dia todo, e eu não me acostumo com essa comida americana, tudo é doce.
À noite, é uma tristeza, apagam-se todas as luzes cedo e temos que ficar no escuro com os ratos, e o porão faz um calor insuportável! Todos os dias temos instruçõescomo apostar na luta do ufcabandono do navio, é a maior chateação!”
As privações continuaram após o desembarque no portocomo apostar na luta do ufcNápoles. Os pracinhas dormiam sobre capim, acordavam antes do sol nascer para cumprir treinos exaustivos e comiam refeições enlatadas.
Eventualmente, alguém conseguia tomates e preparava uma salada dentro do capacete.
“Dia 16como apostar na luta do ufcjulho.
Estou loucocomo apostar na luta do ufcfome e cansado. Às 8h, recebemos duas latinhascomo apostar na luta do ufccomidacomo apostar na luta do ufcconserva.
Esta noite vamos dormir tendo por teto as estrelas. Começou o sofrimento. Acabou a boa cama e a mamãe para fazer tudo. Enfim, estamos na guerra e nãocomo apostar na luta do ufccasa. Arrumei um poucocomo apostar na luta do ufccapim embaixocomo apostar na luta do ufcuma árvore e deitei-me para dormir.”
Ainda assim, Waldemar comemora um luxo raro, providenciado pelo Exército dos Estados Unidos.
“Estamos no mato, e temos chuveiro com água quente. Nos quartéis do Brasil nem água fria tínhamos!”, escreveu.
Vinho e mulheres
As primeiras semanas do diário são marcadas pela ansiedade da espera para entrarcomo apostar na luta do ufccombate.
Diversas vezes, Waldemar escreve que quer ver logo “a cobra fumar” — expressão surgida como uma provocação (de que seria mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra), que acabou sendo incorporada à iconografia e ao uniforme da FEB.
Para passar o tempo, os pracinhas jogavam vôlei ou baralho, lavavam roupa, limpavam as armas, dormiam ou conversavam “sobre o Brasil e as garotas”.
O cigarro e o álcool eram válvulascomo apostar na luta do ufcescape para o estresse e o tédio. Waldemar faz referências constantes a se embriagar com o vinho comprado dos empobrecidos italianos. “Vinho e miséria aqui não faltam”, escreveu.
“Dia 28como apostar na luta do ufcjulho.
A cada dois dias recebemos um maçocomo apostar na luta do ufccigarros, já estamos sem cigarros e não temos onde comprar. Hoje, recebi o primeiro pagamento aqui na Itália, 2.500 liras que correspondem a 500 cruzeiroscomo apostar na luta do ufcnosso dinheiro; mas para que me serve isso se não tenho onde gastar, a não ser no vinho do italiano?”
A confraternização com a população local incluía o contato com as “lavadeiras”, mulheres italianas que, na ausênciacomo apostar na luta do ufchomenscomo apostar na luta do ufccasa ecomo apostar na luta do ufcmeioscomo apostar na luta do ufcsobrevivência, lavavam e costuravam as fardas dos soldadoscomo apostar na luta do ufctrocacomo apostar na luta do ufcalgumas moedas.
Uma delas, segundo Waldemar, se afeiçoou tanto a eles que até chorou ao saber que iriam para o front.
O brasileiro também cita uma jovem chamada Dora, com quem aparentemente engatou um namoro.
“Nunca vi uma pequena tão bonita e amável, atécomo apostar na luta do ufccasamento falamos”, escreveu.
A miséria da população chocou muitos pracinhas, que costumavam dar comida ou doces para as crianças famintas que se aproximavam.
Uma delas, Giovanna,como apostar na luta do ufccinco anos, se afeiçoou a Waldemar, que fez uma fotografia dela e a trouxe para o Brasil.
“Dia 5como apostar na luta do ufcagosto.
Estive conversando com os velhos italianos e fiquei impressionadocomo apostar na luta do ufcouvi-los contar as barbaridades que os alemães fizeram ao passar por aqui. Levei-lhes duas latascomo apostar na luta do ufcconserva e eles ficaram um tanto satisfeitos, dando-mecomo apostar na luta do ufctroca um cantilcomo apostar na luta do ufcvinho.
À tarde, me troquei e fui passear na cidadecomo apostar na luta do ufcTarquínia. Voltei cedo porque a cidade não vale nada, está tudo destruído. Há somente vinho e frutas.”
Cadáveres
Segundo dados do Exército, 443 combatentes da FEB morreram e 2.722 ficaram feridos na Europa.
Uma parte deles foi vitimada antes mesmocomo apostar na luta do ufcir para o front,como apostar na luta do ufcacidentes durante os treinos.
“Hoje, morreram mais dois colegas: um afogado e outro com a explosãocomo apostar na luta do ufcuma mina. Ainda não entramoscomo apostar na luta do ufccombate e já morreram vários colegas”, escreveu Waldemar,como apostar na luta do ufc4como apostar na luta do ufcsetembro.
À medida que o tempo passava, o inimigo ficava mais próximo. Em 11como apostar na luta do ufcsetembro, o cabo brasileiro viu soldados alemães pela primeira vez — eram nove e estavam mortos.
“11como apostar na luta do ufcsetembro.
Durante a instrução, entreicomo apostar na luta do ufcuma trincheira velha e encontrei nove cadáverescomo apostar na luta do ufcalemães. Tivemos a curiosidadecomo apostar na luta do ufcrevistá-los, e encontramos várias fotografiascomo apostar na luta do ufcmoças,como apostar na luta do ufccrianças e deles mesmos. Fiquei com duas fotografias para lembrança desse diacomo apostar na luta do ufcsacrifício. Tirei do cintocomo apostar na luta do ufcoutro um porta-cantil.
Tive a impressãocomo apostar na luta do ufcque é bem triste morrercomo apostar na luta do ufccombate. Hoje encontrei esses corpos, talvez amanhã encontrem o meu.”
Uma das maiores angústiascomo apostar na luta do ufcWaldemar era a faltacomo apostar na luta do ufcnotícias da família. Ele escrevia para a mãe e para a namorada, mas, diferentementecomo apostar na luta do ufcseus companheiros, não recebia retorno.
“Já escrevi 18 cartas e não sei o que é uma resposta, talvez pensem que eu já morri”, desabafou,como apostar na luta do ufc13como apostar na luta do ufcagosto.
No mês seguinte, quando seu regimento já estavacomo apostar na luta do ufcmeio ao fogo cruzado, chegaram as primeiras cartas para ele.
“Dia 23como apostar na luta do ufcsetembro.
Esta noite inteira a artilharia inimiga atirou sobre nós. Tomei café às 8h e estava costurando quando o tenente me chamou e me entregou duas cartascomo apostar na luta do ufcminha mãe e umacomo apostar na luta do ufcCida. Ninguém avalia como estou contente! Recebi uma fotografia da garota e as notíciascomo apostar na luta do ufccasa que são boas.
Amanhã atacaremos, e agora morrerei contente porque tive notícias da minha família pela primeira vez.”
No front com a ‘gata’
Waldemar foi para a frentecomo apostar na luta do ufcbatalha dois meses depoiscomo apostar na luta do ufcsua chegada à Itália. Com ele, levoucomo apostar na luta do ufcmetralhadora — que ele chamavacomo apostar na luta do ufc“minha gata”.
“15como apostar na luta do ufcsetembro.
Estamoscomo apostar na luta do ufcprimeira linha, entreicomo apostar na luta do ufcposição com minha metralhadora. Agora já não é mais instrução, e sim realidade. Estava na metralhadora quando ouvi ruídos poucos metros à frente, mas, como estava escuro, não pude ver nada. Recebi ordenscomo apostar na luta do ufcabrir fogo e, pela primeira vez, atirei para matar.”
O relato foi se tornando mais dramático, com enfrentamentos diretos e mortescomo apostar na luta do ufccompatriotas.
“24como apostar na luta do ufcsetembro.
Nunca vi a morte tão perto. Morreu um cabo pertocomo apostar na luta do ufcmim e se feriram quatro. Avançamos novamente e meu capitão ordenou que abríssemos trincheiras porque iríamos passar a noite na defensiva.
Cavei um buraco e coloquei minha gatacomo apostar na luta do ufcposiçãocomo apostar na luta do ufcatirar. Estavacomo apostar na luta do ufcposição e começou a chover. Ficamos embaixo da chuva atécomo apostar na luta do ufcmadrugada. Às 6h, começou a cobra a fumar novamente: abri fogo e atirei até o cano da gata ficar vermelho. Às 7h, parou o fogo e o inimigo recuou.”
Nesse mesmo dia, o regimentocomo apostar na luta do ufcWaldemar trouxe três prisioneiros alemães, que chegaram quase nus.
“Estavam loucoscomo apostar na luta do ufcfome e sede. Nosso capitão deu a eles umas latinhascomo apostar na luta do ufcconserva e eu dei um poucocomo apostar na luta do ufcágua que tinha no cantil”, contou.
Segundo o diário, a situação dos rivais era tão desesperadora que alguns se rendiam para conseguir comer.
“Ontem à noite, quatro alemães vieram se entregar porque estavam passando fome”, escreveu o cabo.
A situação dos brasileiros também era precária. “Estou sujo como um porco, faz cinco dias que nem tiro a botina. Banho há 15 dias que não vejo, mas, infelizmente, a guerra é assim”, contou Waldemar.
“Às 7h, preparei minha cama dentrocomo apostar na luta do ufcum galinheiro, mas não pude dormir porque os piolhos me atacaram. Pior que os alemães!”, disse,como apostar na luta do ufcoutro trecho.
Com o passar dos dias, o caos ficou tão familiar que ele nem se abalou com o barulhocomo apostar na luta do ufcduas granadas que caíram a dez metroscomo apostar na luta do ufconde dormia.
“As vidraças ficaramcomo apostar na luta do ufccacos, mas eu nem acordei. À tarde, fritamos batatinhas e compramos dois cantiscomo apostar na luta do ufcvinho”, escreveu,como apostar na luta do ufc20como apostar na luta do ufcoutubro.
Batalha final
O relatocomo apostar na luta do ufcWaldemar chegou ao ápicecomo apostar na luta do ufc30como apostar na luta do ufcoutubro, datacomo apostar na luta do ufcsua última batalha antescomo apostar na luta do ufcser capturado, no Vale do Serchio, região da Toscana.
Sob forte chuva, eles tentavam subir o morrocomo apostar na luta do ufcSão Quiricocomo apostar na luta do ufcdireção a uma base defensiva alemã.
Surpreendidas com um contra-ataque, as tropas da FEB tiveram que batercomo apostar na luta do ufcretirada, mas o grupocomo apostar na luta do ufcWaldemar ficou cercado pelo inimigo.
Eram 17 pracinhas abrigadoscomo apostar na luta do ufcuma casa, contra 300 soldados alemães, no que seria considerado o primeiro revés sofrido pelo Brasil na Itália.
“30como apostar na luta do ufcoutubro.
Só me restava uma granadacomo apostar na luta do ufcmão que estava pendurada no meu cinto do lado esquerdo. O soldado Eliseu a arrancou do cinto, porque eu não podia me mover para tirá-la. Eu já tinha onze furoscomo apostar na luta do ufcbala no capacete e estava desabrigado. Enquanto eu atirava, Eliseu rastejou até perto da trincheira inimiga e atirou a granada. Aqueles dois já não matariam mais brasileiros.”
Waldemar e Eliseucomo apostar na luta do ufcOliveira foram buscar ajuda no postocomo apostar na luta do ufccomando próximo, sob fogo cruzado.
Quando voltaram à casa onde os colegas resistiam, uma granada atravessou a janela e feriu Waldemar e um sargento.
Com metralhadoras apontadas contra suas cabeças, eles se renderam.
“Era aproximadamente 11h, e eu já estava com fome e sede insuportáveis. Subi para o andar superior e vi pela janela que o inimigo já tinha cercado a casa. (...) Enquanto tinha balas, atirei para matar. Quando terminaram meus 3 mil tiroscomo apostar na luta do ufcmetralhadora, peguei meu fuzil e continuei atirando. Atirávamos a dois ou três metroscomo apostar na luta do ufcdistância, dava para ver o ódio estampado no rosto do inimigo. (...) Vi perfeitamente uma granada entrar pela janela e cobri o rosto com o braço esperando a explosão. Senti uma pancada na cabeça e desacordei por alguns segundos. Depois, vi meu braço ferido e senti sangue escorrer pela perna esquerda. Quis andar, mas não pude.
Olhei para o sargento e vi sangue no braço dele, que se contorciacomo apostar na luta do ufcdor e estava com o braço direito quebrado. Ao meu lado estava o Hamilton deitadocomo apostar na luta do ufcuma poçacomo apostar na luta do ufcsangue. Um estilhaço havia-lhe cortado a veia.”
Campocomo apostar na luta do ufcprisioneiros
A partir dali, o relato passou a ser retrospectivo, provavelmente escrito após a libertaçãocomo apostar na luta do ufcWaldemar.
Ele contou que foi levado a um hospital, onde sofreu nas mãoscomo apostar na luta do ufcenfermeiros italianos.
“Tiraram-me o estilhaço da perna e outro da cabeça, mas tudo sem anestesia; punham-me gaze na boca para sufocar os gritos”, escreveu.
Em 5como apostar na luta do ufcdezembro, os cativos embarcaramcomo apostar na luta do ufcum tremcomo apostar na luta do ufccargacomo apostar na luta do ufcdireção à Alemanha,como apostar na luta do ufcvagõescomo apostar na luta do ufcaço lacrados, e passaram “três dias e três noites fechados como ratos”.
“À meia-noite,como apostar na luta do ufc8como apostar na luta do ufcdezembro, tive a honracomo apostar na luta do ufcdesembarcar na Alemanha. Estávamos loucoscomo apostar na luta do ufcsede e, assim que descemos, começamos a comer neve. Entramoscomo apostar na luta do ufcforma e seguimos para o campocomo apostar na luta do ufcconcentração. Foi a pior impressãocomo apostar na luta do ufcminha vida ver aquele cercadocomo apostar na luta do ufcarame onde eu ia entrar, mas não sabia se sairia.”
Àcomo apostar na luta do ufcfrente, estava o Stalag VII-A, o maior campocomo apostar na luta do ufcprisioneiroscomo apostar na luta do ufcguerra da Alemanha nazista, na cidadecomo apostar na luta do ufcMoosburg, na Baviera.
Planejado para 10 mil prisioneiros, tinha maiscomo apostar na luta do ufc76 mil no momentocomo apostar na luta do ufcsua libertação pelo Exército americano,como apostar na luta do ufc29como apostar na luta do ufcabrilcomo apostar na luta do ufc1945 — outros 40 mil cativos eram mantidos nos arredores, realizando trabalhos forçados.
Não se sabe se Waldemar levou o caderno para o campo nazista. Cristina Feres acredita que não.
“Acho difícil, até porque a caneta poderia ser considerada uma arma. Provavelmente o diário ficou naquela casa no Vale do Serchio e depois foi recuperado por alguém junto com os outros bens deixados pelos prisioneiros”, diz.
No diáriocomo apostar na luta do ufcWaldemar, os cinco mesescomo apostar na luta do ufcprisão foram resumidoscomo apostar na luta do ufcpoucos parágrafos, com conteúdo perturbador.
“No outro dia, às 9h, vieram uns pães pretos, mas alguns avançaram como loucos nos pães e quem foi educado não comeu nada. À tarde fomos identificados e recebi uma chapa com o número 142292, a qual era obrigado a levar pendurada no pescoço. (...) A comida constituía somentecomo apostar na luta do ufcbatata. Dormia-se no pedregulho. A primeira refeição vinha às 3h ou 4h da tarde, e muitos dias não vinha; então, comíamos neve para enganar o estômago. Já andava eu barbudo, sujo, cheiocomo apostar na luta do ufcmuquirana e bichoscomo apostar na luta do ufctoda espécie.”
O registro terminou com a libertação do grupo, que passou três meses viajando pela França, sendo tratado com regalias.
“Ninguém avalia nossa alegria. Jamais tive um dia tão feliz! Os tanques comandados pelo general Patton invadiram o campo e já não éramos mais prisioneiros, trocamoscomo apostar na luta do ufclugar com os alemães. No mesmo dia, chegou cigarro e comida à vontade. Comi tanto que amanheci doente. Montaram chuveiros e tomamos um banho quente, trocamoscomo apostar na luta do ufcroupa, cortei a barba e já me sentia outro.”
‘Neurose’como apostar na luta do ufcguerra
A economiacomo apostar na luta do ufcpalavras para rememorar o cativeiro se manteve após o retornocomo apostar na luta do ufcWaldemar para o Brasil.
Familiares disseram à pesquisadora que ele era uma pessoa nervosa, calada e que se recusava a falar sobre o assunto — possivelmente, uma estratégiacomo apostar na luta do ufcdefesa para não ter que lidar com memórias traumáticas.
A desmobilização da FEB ocorreu assim que acabou a guerra, na própria Itália, ou seja, os pracinhas que haviam embarcado como soldados voltaram como civis.
Waldemar entrou para a reserva e passou a exercer um trabalho braçalcomo apostar na luta do ufcuma pedreiracomo apostar na luta do ufcRibeirão Pires.
Dezessete anos depois, foi reformado por incapacidade. Um exame psíquico da Junta Militarcomo apostar na luta do ufcSaúde o diagnosticou com “reação depressivo neurótica”.
Segundo o parecer médico, “desde 1945, (quando voltou da Itália incorporado a FEB) ficou nervoso e não podia trabalhar”, tinha “crisescomo apostar na luta do ufcchoro frequentes e tremores nas mãos” e às vezes “perdia os sentidos”. Waldemar morreucomo apostar na luta do ufcleucemiacomo apostar na luta do ufc1975, aos 55 anos.
Existem diversos relatoscomo apostar na luta do ufcpracinhas que enfrentaram dificuldades para se reintegrar à sociedade, com reportagens da época noticiando casoscomo apostar na luta do ufc“neurosecomo apostar na luta do ufcguerra”, alcoolismo, mendicância e suicídio entre esses veteranos.
Segundo Feres, esse impacto emocional foi ignorado pelo Estado brasileiro.
“Existem dados sobre os mortos, prisioneiros e feridoscomo apostar na luta do ufccombate, mas esses que voltaram com sequelas psicológicas não entraram nas estatísticas”, afirma.
Waldemar não recebeu nenhuma assistência psicológica após a libertação.
Ainda que não gostassecomo apostar na luta do ufcfalar sobre o assunto, recorreu ao diário para desabafar nos meses seguintes ao seu retorno, relatando ter pesadelos com o sangue, os gemidos e os gritoscomo apostar na luta do ufcangústia dos colegas que tombaram ao seu lado.
“Vocês não avaliam o estado moralcomo apostar na luta do ufcum combatente que, após um árduo combate, é ferido e aprisionado; que passou fome, frio, sede, enfim, tudo que é possível um soldado sofrer, vendo sempre emcomo apostar na luta do ufcfrente uma cercacomo apostar na luta do ufcarame, que foi humilhado pelos seus semelhantes, que viveu vários meses pensando nacomo apostar na luta do ufcdesgraça e sem notíciascomo apostar na luta do ufcseus entes queridos. Mas sofreu tudo com resignação porque ele também matou, talvez um pai, um filho ou noivo que alguém esperava, e cuja espera foicomo apostar na luta do ufcvão.”
No texto, intitulado “Procurem compreender-me”, ele faz um apelo para não ser julgado e passa a impressãocomo apostar na luta do ufcque, depois daquela experiência, ele nunca mais foi o mesmo.
“Não me condenem como ruim, procurem compreender-me. Nunca esqueçam que me separei temporariamente deste mundo e fui para a guerra, da qual muitos não voltaram.”