Sexo por ouro: a perigosa vida das mulheres nos garimpos da Amazônia:bet nacional deposito minimo

Legenda do vídeo, Sexo, ouro e violência: a perigosa vida das mulheres nos garimpos da Amazônia

"Sempre a gente via essa questão,bet nacional deposito minimomulher ser mortabet nacional deposito minimogarimpo. Sempre teve isso", diz Railane da Silva Santos,bet nacional deposito minimo34 anos e irmã mais velhabet nacional deposito minimoRaiele.

"Só que, para mim, nunca ia acontecer com a minha família. Eu nasci no garimpo, me criei no garimpo, e hoje tenho medobet nacional deposito minimoviver no garimpo", completa Railane,bet nacional deposito minimoentrevista à BBC News Brasil para esta reportagem e para o documentário bet nacional deposito minimo Sexo, ouro, violência: A vida das mulheres nos garimpos da Amazônia.

O documentário também pode ser visto no canal da BBC News Brasil no YouTube.

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A mortebet nacional deposito minimoRaielebet nacional deposito minimo2023 não foi o único caso recentebet nacional deposito minimomulher encontrada morta e com sinais brutaisbet nacional deposito minimoviolência no garimpo Cuiú-Cuiú.

Um ano antes, Luciana do Nascimento, amigabet nacional deposito minimoinfânciabet nacional deposito minimoRaiele, foi assassinada por um homem a pauladas enquanto trabalhava no local como prostituta, segundo documentos oficiais.

Os casos são exemplos extremosbet nacional deposito minimouma rotinabet nacional deposito minimoviolências a que mulheresbet nacional deposito minimogarimpos são submetidas.

Um problema difícilbet nacional deposito minimoquantificar e que ganhou escala ao longo da última década com a forte expansão da extraçãobet nacional deposito minimominério na Amazônia. Segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, na siglabet nacional deposito minimoinglês), na maioria das vezes, as violaçõesbet nacional deposito minimodireitos das mulheres nos garimpos ficam fora do radar das autoridades.

"No garimpo, as mulheres estão expostas a todo tipobet nacional deposito minimoviolência: física, emocional, patrimonial e também sexual, obviamente", alerta Marcela Ulhoa, coordenadora no UNODC.

Na última década, o Brasil viveu uma explosão da mineração ilegalbet nacional deposito minimoouro embet nacional deposito minimoregião amazônica,bet nacional deposito minimomeio à altabet nacional deposito minimopreços do metal no mercado internacional, à crise econômica agravada pela pandemiabet nacional deposito minimocovid-19 e ao afrouxamentobet nacional deposito minimomedidasbet nacional deposito minimofiscalização durante o governobet nacional deposito minimoJair Bolsonaro (2019-2022).

O território ocupado pelo garimpobet nacional deposito minimoouro na Amazônia brasileira mais do que dobrou entre 2014 e 2023, passandobet nacional deposito minimo92 mil hectares para 220 mil hectares — uma área maior do que a cidadebet nacional deposito minimoSão Paulo e equivalente a 229 mil camposbet nacional deposito minimofutebol —bet nacional deposito minimoacordo com números do MapBiomas, iniciativa do Observatório do Climabet nacional deposito minimomapeamento da cobertura e uso da terra no Brasil.

Legenda da foto, A BBC News Brasil foi a Itaituba, principal região garimpeira do Brasil, para ouvir as históriasbet nacional deposito minimomulheres que buscam no garimpo um vida melhor, apesar dos riscos

Segundo um estudo da Universidade Federalbet nacional deposito minimoMinas Gerais (UFMG), cercabet nacional deposito minimo20% da produção brasileirabet nacional deposito minimoouro tem evidênciasbet nacional deposito minimoilegalidade, como a exploraçãobet nacional deposito minimoáreasbet nacional deposito minimoconservação ou indígenas, faltabet nacional deposito minimodocumentação e o usobet nacional deposito minimoquímicos contaminantes, como o mercúrio.

Em Itaituba, garimpos como o Cuiú-Cuiú misturam áreasbet nacional deposito minimoexploração legal e ilegal.

Embora ações recentes do governobet nacional deposito minimoLuiz Inácio Lula da Silva (PT) tenham ajudado a controlar a expansão do garimpo, segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, os preços altos do metal no mercado internacional servembet nacional deposito minimoincentivo para que milharesbet nacional deposito minimobrasileiros continuem tentando a sortebet nacional deposito minimoáreasbet nacional deposito minimoextração ilegalbet nacional deposito minimoourobet nacional deposito minimomeio à floresta.

Enquanto a atividadebet nacional deposito minimogarimpo continua, também segue viva a atividadebet nacional deposito minimoprostituição e exploração sexual nestas áreas.

Atraídas pela promessabet nacional deposito minimoriquezabet nacional deposito minimoregiões carentesbet nacional deposito minimooutras oportunidadesbet nacional deposito minimotrabalho bem remuneradas, milharesbet nacional deposito minimomulheres arriscam suas vidas.

Após mesesbet nacional deposito minimoinvestigação e dezenasbet nacional deposito minimoentrevistas, a BBC News Brasil viajou ao epicentro do garimpo no Brasil para conhecer o cotidiano dessas mulheres. Aqui elas contam suas histórias.

Desculpe, mas não é possível exibir esta parte da história nesta páginabet nacional deposito minimoacesso resumidobet nacional deposito minimocelular.

'Quando homem paga, ele quer ser dono da mulher'

Leide Dayane Leite dos Santos,bet nacional deposito minimo34 anos, recebeu esse nomebet nacional deposito minimohomenagem à princesa Diana (1961-1997), da Família Real Britânica.

"Meu pai queria me dar um nomebet nacional deposito minimoprincesa", conta a mãebet nacional deposito minimosete filhos, com idades entre dois e 16 anos.

A primeira vez que Dayane foi ao garimpo, ela conta que tinha 12 anos. Foi levada por uma mulher que conheceu na orlabet nacional deposito minimoItaituba num grupobet nacional deposito minimoquatro meninas — as outras, ela calcula, tinham idades entre 13 e 15 anos.

Às margens do Rio Tapajós, Itaituba é o município com maior área minerada do Brasil, representando sozinho 16%bet nacional deposito minimotoda a área garimpada do paísbet nacional deposito minimo2022, segundo o MapBiomas.

É da cidadebet nacional deposito minimo123 mil habitantes e ruas cobertas da poeira vermelha da rodovia Transamazônica que saem muitas das máquinas usadas nos garimpos da região — entre 2020 e 2021, Itaituba respondeu por 75%bet nacional deposito minimotodo o ouro ilegal produzido no Brasil,bet nacional deposito minimoacordo com outro estudo da UFMG.

Legenda da foto, 'A mulher é muito humilhada por ser mulherbet nacional deposito minimobar', diz Dayane

Embet nacional deposito minimoprimeira incursão ao garimpo, Dayane conta que apenas ajudou na cozinha. Mas a experiência foi interrompidabet nacional deposito minimoforma trágica: uma das meninasbet nacional deposito minimoseu grupo, trabalhando na prostituição e usuáriabet nacional deposito minimodrogas, foi assassinada a tiros nabet nacional deposito minimofrente pela cafetina, relata.

"Nós voltamos para a cidade no carro da polícia, porque éramos todas menoresbet nacional deposito minimoidade. A menina, depois do crime, a gente descobriu que tinha 13 anos."

Traumatizada pela experiência, Dayane levaria alguns anos para retornar ao garimpo. Aos 17, tevebet nacional deposito minimoprimeira experiência na prostituição.

Seu marido morreu e ela ficou com uma dívidabet nacional deposito minimoR$ 8 mil do enterro, uma soma impagável parabet nacional deposito minimofamília. "Passados 15 dias que ele tinha falecido, uma amiga me convidou para ir ao garimpo."

"Eu fui trabalhar lá, completei meus 18 anos lá dentro. Paguei a dívidabet nacional deposito minimo15 dias, o que na época dava 12 gramasbet nacional deposito minimoouro. Passei quatro meses trabalhando lá, para ter dinheiro para vir embora."

Desde então, Dayane já voltou diversas vezes ao garimpo, trabalhando como cozinheira, lavadeira, nas máquinasbet nacional deposito minimoextraçãobet nacional deposito minimoouro ebet nacional deposito minimobares, como garçonete e fazendo programa.

Como a maioria das mulheres que trabalhambet nacional deposito minimogarimpo, ela alterna períodos na cidade e outrosbet nacional deposito minimomeio à floresta, onde tenta garantir o sustentobet nacional deposito minimoseus filhos.

No garimpo, o dinheiro do ouro vem mais rápido do quebet nacional deposito minimooutros trabalhos "mais sossegados e seguros", diz Dayane. Mas também cobra seu preço.

"Já aconteceubet nacional deposito minimoeu estar dormindo no quarto e um rapaz pular para dentro e botar a arma na minha cabeça", lembra, explicando que havia dito um "não" para este homem mais cedo no salão.

"A mulher é muito humilhada por ser mulherbet nacional deposito minimobar. Quando os homens pagam, eles querem ser donos das mulheres."

'Eu quero ganharbet nacional deposito minimoouro'

Legenda da foto, Natalia viralizou nas redes sociais ao mostrarbet nacional deposito minimovídeos seu cotidiano como donabet nacional deposito minimocabarébet nacional deposito minimoum garimpo

Natalia Souza Cavalcante,bet nacional deposito minimo28 anos, viralizou nas redes sociais como um exemplobet nacional deposito minimo"empreendedorismo feminino", ao mostrarbet nacional deposito minimovídeos no Instagram e TikTok seu cotidiano como donabet nacional deposito minimocabaré na região garimpeirabet nacional deposito minimoItaituba.

Antes do garimpo, ela trabalhoubet nacional deposito minimoloja, fez faxina, foi garçonete e vendeu marmitas. Como Dayane, Natalia diz que foi trabalhar como prostituta na região garimpeira por contabet nacional deposito minimouma dívida.

"Já tinha maisbet nacional deposito minimoano que meu nome estava sujo, eu tentava pagar e não dava certo. Então decidi ir para o garimpo", afirma. "Eu não queria ir, mas foi o jeito."

Nabet nacional deposito minimoprimeira ida ao garimpo, ela conta que conseguiu R$ 5 milbet nacional deposito minimoum mês.

"Se eu estivesse trabalhando na cidade, ia levar cinco ou seis meses para ganhar esse dinheiro."

Na segunda vezbet nacional deposito minimoque foi, Natalia conheceu seu atual marido, proprietáriobet nacional deposito minimoum bar no local. Ela passou a ajudá-lo na administração do bar, tornando-se então "dona do cabaré".

Bares, cabarés e comércios são os centros da vida social nas vilas garimpeiras, chamadasbet nacional deposito minimocurrutelas. Ao redor, distantes alguns quilômetros, ficam os baixões ou barrancos onde o ouro é extraído.

São nessas clareiras na mata quebet nacional deposito minimogeral trabalham o dono das máquinas, os garimpeiros e uma cozinheira, vivendobet nacional deposito minimobarracasbet nacional deposito minimolona precárias.

Legenda da foto, Em clareiras na mata,bet nacional deposito minimogeral trabalham o dono das máquinas, os garimpeiros e uma cozinheira, vivendobet nacional deposito minimobarracasbet nacional deposito minimolona precárias

Depoisbet nacional deposito minimodiasbet nacional deposito minimoextraçãobet nacional deposito minimoouro nos baixões, é horabet nacional deposito minimo"despescar".

"'Despescar' é quando os garimpeiro trabalham a semana, queimam o ouro e dividem quanto que cada um vai ficar e aí vão para o bar", conta Natalia.

"Sobre o pagamento, são as meninas que decidem com o cliente: 'Eu quero ganharbet nacional deposito minimoouro'. A gente pega uma balança, pesa o ouro e entrega para a moça", acrescenta.

Segundo ela, as garotas ficam com o dinheiro do programa, mas o cliente paga aos donos do cabaré uma "chave". "Funciona como um hotel, paga pelo uso do quarto, que dependendo do garimpo é R$ 50, R$ 80, até R$ 150."

Natalia afirma que muitas das meninas que vão trabalhar no cabaré a procuram, mas às vezes ela também busca ativamente meninas novas, perguntando para as que já foram se elas têm amigas interessadasbet nacional deposito minimotentar a sorte.

"Se a pessoa forbet nacional deposito minimoconfiança, a gente manda o dinheiro da passagem ou combina com algum motorista para buscar. Se ela quiser arrumar cabelo, unha ou fazer uma marquinha [de biquíni] antesbet nacional deposito minimoir, a gente manda o dinheiro. E ela paga a gente depoisbet nacional deposito minimofazer os 'corres'", explica.

Tendo ela mesma passado pela experiência da prostituição, Natalia vê algum conflitobet nacional deposito minimoatrair outras mulheres para a atividade?

"Às vezes a gente pensa: 'Poxa, eu estou fazendo a menina vir para o bar, para fazer programa'. Eu já passei por aquilo e a gente sabe que não é tão legal", reflete.

"Mas eu penso: a menina tem uma família, às vezes tem filho para criar, e muitas delas vão para ajudar a criar a criança. Então a gente aceita."

'Instituições têm dificuldadebet nacional deposito minimoenxergar essas mulheres'

Marcela Ulhoa, do Escritório da ONU sobre Drogas e Crime, explica que a naturalização é um dos fatores que dificultam a ação das autoridades locais no combate à violência contra as mulheres nos garimpos.

"As instituições têm dificuldadebet nacional deposito minimoenxergar a situação dessas mulheres pelo viés do tráficobet nacional deposito minimopessoas e da exploração sexual", afirma.

Entre os elementos que caracterizam esses crimes, explica ela, estão o agenciamento, transporte e alojamento dessas mulheres, a situaçãobet nacional deposito minimovulnerabilidade e o endividamento. Ela observa que esse trânsitobet nacional deposito minimomulheres não ocorre só no Brasil, mas tambémbet nacional deposito minimopaíses vizinhos como Guiana, Suriname e Guiana Francesa, com muitas venezuelanas também envolvidas na prostituição.

"As pessoas e as instituições consideram o fatobet nacional deposito minimoque a mulher está ali porque quer e isso é uma barreira para o entendimentobet nacional deposito minimoque ela quer, mas há uma situaçãobet nacional deposito minimovulnerabilidade muito grande por trás desse querer."

"Hoje há um grande gargalo que é a identificação [dos crimesbet nacional deposito minimotráficobet nacional deposito minimopessoas e exploração sexual nos garimpos]", afirma a especialista.

"Você não identifica o problema, não consegue mensurar, não tem registro dele. É como se não existisse."

Segundo a porta-voz do escritório da ONU, isso fica evidente na ausênciabet nacional deposito minimoestatísticas sobre o trabalho das mulheres nas regiões garimpeiras.

O governo não sabe sequer quantos garimpeiros atuam no país — documento oficial recente afirma que as estimativas variambet nacional deposito minimo80 mil a 800 mil.

Legenda da foto, Brasil é o 14º maior produtorbet nacional deposito minimoouro do mundo, com as exportações brasileiras do metal movimentando US$ 3,5 bilhões (R$ 21,2 bilhões ao câmbio atual)bet nacional deposito minimo2023

Questionado pela BBC, o Ministério da Justiça e Segurança Pública reconhece a faltabet nacional deposito minimodados. A pasta, porém, enfatiza os esforços para enfrentamento ao tráficobet nacional deposito minimopessoas e à exploração sexualbet nacional deposito minimogarimpos, incluindo operações conjuntas, parcerias com organizações internacionais como o UNODC e campanhasbet nacional deposito minimoconscientização.

Já o governo do Pará afirma que a Polícia Civil do Estado apura denúnciasbet nacional deposito minimoexploração sexual na região e realizou neste ano uma operação para investigar possíveis crimesbet nacional deposito minimogarimpos e promover a conscientização da comunidade.

Uma característica do trabalho atual das mulheres no garimpo é que muitas delas são atraídas por anúncios nas redes sociais, como Facebook e WhatsApp.

No Brasil, prostituir-se não é crime, mas atrair alguém para a prostituição, facilitá-la ou manter casabet nacional deposito minimoprostituição são crimes previstos pelo Código Penal.

Questionada, a Meta, controladora do Facebook, afirmou que as políticas da rede social não permitem oferta ou solicitaçãobet nacional deposito minimoatividade sexual, e que coopera com as autoridades locais. O WhatsApp afirmou que, devido à criptografia, não tem acesso ao conteúdo das mensagens e não realiza moderaçãobet nacional deposito minimoconteúdo.

Marcela Ulhoa observa que há um ciclobet nacional deposito minimopobreza que se perpetua entre as gerações na Amazônia, que cria as condiçõesbet nacional deposito minimovulnerabilidade que levam as mulheres ao trabalho nos garimpos.

"Estamos falandobet nacional deposito minimocomunidades às vezes com 5 mil, 6 mil pessoas, onde só há o Ensino Fundamental. Não têm nem o Ensino Médio, não têm uma atividadebet nacional deposito minimolazer para as crianças, não têm nada. Então a criança vai crescer e qual a única coisa que vai sobrar para ela? Trabalhar com garimpo."

'Eu não sei mais o que é sonho'

Crédito, Reprodução/Facebook

Legenda da foto, Filha e netabet nacional deposito minimogarimpeiros, Raiele nasceu e morreu nos garimposbet nacional deposito minimoItaituba

Raiele da Silva Santos foi uma dessas crianças nascidas e criadas no garimpo. Filha caçulabet nacional deposito minimouma famíliabet nacional deposito minimocinco irmãos, todos nascidos na comunidade do Penedo, nas margens do Tapajós.

Rosilda da Silva Carvalho, a mãebet nacional deposito minimoRaiele, veio do Maranhão aos 20 e poucos anos, atraída pela irmã com promessasbet nacional deposito minimoriqueza nos garimpos do Pará.

No Penedo, conheceu o paibet nacional deposito minimoseus filhos e um cotidianobet nacional deposito minimoviolência doméstica.

Após se separar, e passando dificuldades para sustentar a família, decidiu tentar a sorte nos garimpos da Guiana Francesa.

"Nós passamos quase 16 anos longe da nossa mãe", lembra Railane, a irmã mais velhabet nacional deposito minimoRaiele.

"Ela foi viver a vida nesses garimpos longe, fora do Brasil, e nós ficamos com um e outro da família."

A irmã mais velha conta que, aos 13 anos, Raiele começou a ir para os garimpos.

Antes dos 26 anos, casou-se três vezes e teve dois filhos, que também foram criados por conhecidos e parentes. Pouco antesbet nacional deposito minimosua morte, estava novamente apaixonada e grávida, mas perdeu a criança ainda na barriga.

O corpobet nacional deposito minimoRaiele foi encontrado no dia 31bet nacional deposito minimomaiobet nacional deposito minimo2023. Três dias antes, ela bebia com amigas num bar no garimpo Cuiú-Cuiú, quando um homem teria oferecido dinheiro para dormir com ela.

Ela teria dito que não, sendo levada pelas amigas já bastante alcoolizada para o quarto onde estava hospedada.

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Foi neste quarto que seu corpo foi encontrado dias depois,bet nacional deposito minimoavançado estadobet nacional deposito minimodecomposição e com sinaisbet nacional deposito minimoviolência. O local mostrava evidênciasbet nacional deposito minimoluta corporal e havia presençabet nacional deposito minimosangue humanobet nacional deposito minimodiversos objetos, conforme a perícia realizada pela polícia civil.

Um homem foi preso como suspeito pelo assassinatobet nacional deposito minimoRaiele. Ao serem contatados pela BBC News Brasil, seus advogados preferiram não se manifestar. Nos autos do processo, ele nega todas as acusações.

A mortebet nacional deposito minimoRaiele gerou uma incomum ondabet nacional deposito minimoprotestosbet nacional deposito minimoItaituba, pedindo por justiça e chamando atenção para a violência contra as mulheres na região.

O caso, porém, não ganhou a atenção da imprensa nacional ou teve qualquer repercussão para além do noticiário policial local.

A última vezbet nacional deposito minimoque o garimpo Cuiú-Cuiú chegou às manchetes foi no início dos anos 1990, quando o jornalista Gilberto Dimenstein (1956-2020), então da Folhabet nacional deposito minimoS. Paulo, revelou a realidade da prostituiçãobet nacional deposito minimomeninas nos garimpos à época.

Hoje, a prostituição infantil é menos comum na região, devido à ação das autoridades locais, mas a violência contra as mulheres segue acontecendo.

De volta ao Brasil após 15 anos nos garimpos da Guiana Francesa, a mãebet nacional deposito minimoRaiele agora cuida dos dois netos órfãos.

A casabet nacional deposito minimomadeira onde ela vivebet nacional deposito minimoaluguelbet nacional deposito minimouma vila na região garimpeirabet nacional deposito minimoItaituba não tem móveis na sala, apenas um tapete e uma televisão. No quarto, ela divide a cama que lhe foi doada com a neta mais velha.

Legenda da foto, 'A Justiça no Brasil é muito lenta', diz Rosilda, que sonha com uma casa própria para viver e cuidar dos netos, agora órfãos

"Logo que eu cheguei aqui, nós dormíamos no chão. Aí eu ganhei essa cama, agora a menina dorme comigo nela e o menino dorme na rede", diz Rosilda.

Ela conta que tem dificuldade para dormir à noite, pensandobet nacional deposito minimojustiça para a filha caçula. "Vejo anoitecer, vejo amanhecer… Eu não sei mais o que é sonho."

No celular, ela guarda as fotos brutais do corpobet nacional deposito minimoRaiele, que circularam nas redes sociais após a morte da filha.

"As pessoas me perguntam: 'Por que a senhora não apaga isso?' Não vou apagar porque, um dia, se quiserem libertar ele [o suspeito do crime], eu tenho como mostrar o que ele fez com a minha filha", diz Rosilda.

"A Justiça no Brasil é muito lenta."

Maisbet nacional deposito minimoum ano e meio após a mortebet nacional deposito minimoRaiele, o caso ainda não foi a julgamento.

'Essa vida eu não quero para os meus filhos'

Segundo Marcela Ulhoa, do UNODC, para mudar o cotidianobet nacional deposito minimoviolência enfrentado pelas mulheres nos garimpos da Amazônia é preciso uma combinaçãobet nacional deposito minimoconscientização das comunidades e das autoridades locais, com mais oportunidadesbet nacional deposito minimoeducação ebet nacional deposito minimotrabalho para as mulheres.

Ela destaca, porém, que uma política para ampliar as oportunidades para as mulheresbet nacional deposito minimobaixa renda na Amazônia precisa levarbet nacional deposito minimoconta a questão do cuidado.

"Não é só emprego, é entender que às vezes essa mulher é uma mãe solteirabet nacional deposito minimocinco filhos. Mesmo que ela tenha emprego, com quem ela vai deixar os filhos? É uma questãobet nacional deposito minimoemprego e renda, mas é também algo muito mais complexo."

Pensando nos filhos, Dayane quer voltar uma última vez ao garimpo. Ela planeja juntar dinheiro para um dia ter um negócio próprio, uma lanchonete na cidade.

"Eu ainda não tenho condiçõesbet nacional deposito minimorealizar esse sonho. Ainda vou ter que voltar mais uns dois, três meses para o garimpo, mas eu não tenho mais saúde para trabalhar assim. Quero parar e investir nos meus filhos agora."

Apósbet nacional deposito minimoexperiência como "dona do cabaré", Natalia voltou a viver na cidade, para ajudar a cuidar das duas filhasbet nacional deposito minimoseu irmão, morto num acidentebet nacional deposito minimocarro.

Com o dinheiro que ganhou no garimpo, ela construiubet nacional deposito minimocasa e comprou uma moto. Agora sonha com um dia fazer uma faculdade.

Legenda da foto, 'Eu não quero que meus filhos aprendam o que o garimpo ensina', diz Railane

Railane, a irmã mais velhabet nacional deposito minimoRaiele, é mãebet nacional deposito minimotrês filhos e também sonha para eles uma vida longe dos garimpos.

"Eu estou aqui porque minha mãe não me passou essa visão, ela me ofereceu aquilo que ela vivia e eu aprendi a viver da mesma forma. Essa vida eu não quero para os meus filhos."

Para os filhosbet nacional deposito minimoRaiele, agora sob os cuidados da avó, ela também deseja uma vida longe dali.

"Eu não quero que eles aprendam o que esse local [o garimpo] ensina. Se você vai aqui no centro, vê cabaré, homem bêbado, prostituta. Não tem como uma criança crescer com outras vontades."

"Então talvez tudo isso tenha acontecido para a gente tentar fazer dos filhos dela algo diferente."

Com a colaboraçãobet nacional deposito minimoCarla Rosch e Caroline Souza, da equipebet nacional deposito minimojornalismo visual da BBC.

Esta reportagem é parte do projeto BBC 100 Mulheres, que neste ano tem como tema central a resiliência. Clique aqui para ver a listabet nacional deposito minimo100 mulheres mais influentes do ano preparada pela BBC como parte do projeto.