Sexo por ouro: a perigosa vida das mulheres nos garimpos da Amazônia:betnacional app atualizado
"Sempre a gente via essa questão,betnacional app atualizadomulher ser mortabetnacional app atualizadogarimpo. Sempre teve isso", diz Railane da Silva Santos,betnacional app atualizado34 anos e irmã mais velhabetnacional app atualizadoRaiele.
anda”. AmericaS): Argentina), Aruba ( Belize) Bermudas o Canadá - Ilhas Cayman”, Chile-
Curaçao; Falkland Islandes(Ilhas Malvinam ), Granada da Guiana
Grade | 5-point | 4-point (SMU) |
NUS / NTU / SIT / SUSS | Mark Range | |
B+ | 4.0 | 77 to 79 |
B | 3.5 | 74 to 76 |
B- | 3.0 | 70 to 73 |
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"Só que, para mim, nunca ia acontecer com a minha família. Eu nasci no garimpo, me criei no garimpo, e hoje tenho medobetnacional app atualizadoviver no garimpo", completa Railane,betnacional app atualizadoentrevista à BBC News Brasil para esta reportagem e para o documentário betnacional app atualizado Sexo, ouro, violência: A vida das mulheres nos garimpos da Amazônia.
O documentário também pode ser visto no canal da BBC News Brasil no YouTube.
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A mortebetnacional app atualizadoRaielebetnacional app atualizado2023 não foi o único caso recentebetnacional app atualizadomulher encontrada morta e com sinais brutaisbetnacional app atualizadoviolência no garimpo Cuiú-Cuiú.
Um ano antes, Luciana do Nascimento, amigabetnacional app atualizadoinfânciabetnacional app atualizadoRaiele, foi assassinada por um homem a pauladas enquanto trabalhava no local como prostituta, segundo documentos oficiais.
Os casos são exemplos extremosbetnacional app atualizadouma rotinabetnacional app atualizadoviolências a que mulheresbetnacional app atualizadogarimpos são submetidas.
Um problema difícilbetnacional app atualizadoquantificar e que ganhou escala ao longo da última década com a forte expansão da extraçãobetnacional app atualizadominério na Amazônia. Segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, na siglabetnacional app atualizadoinglês), na maioria das vezes, as violaçõesbetnacional app atualizadodireitos das mulheres nos garimpos ficam fora do radar das autoridades.
"No garimpo, as mulheres estão expostas a todo tipobetnacional app atualizadoviolência: física, emocional, patrimonial e também sexual, obviamente", alerta Marcela Ulhoa, coordenadora no UNODC.
Na última década, o Brasil viveu uma explosão da mineração ilegalbetnacional app atualizadoouro embetnacional app atualizadoregião amazônica,betnacional app atualizadomeio à altabetnacional app atualizadopreços do metal no mercado internacional, à crise econômica agravada pela pandemiabetnacional app atualizadocovid-19 e ao afrouxamentobetnacional app atualizadomedidasbetnacional app atualizadofiscalização durante o governobetnacional app atualizadoJair Bolsonaro (2019-2022).
O território ocupado pelo garimpobetnacional app atualizadoouro na Amazônia brasileira mais do que dobrou entre 2014 e 2023, passandobetnacional app atualizado92 mil hectares para 220 mil hectares — uma área maior do que a cidadebetnacional app atualizadoSão Paulo e equivalente a 229 mil camposbetnacional app atualizadofutebol —betnacional app atualizadoacordo com números do MapBiomas, iniciativa do Observatório do Climabetnacional app atualizadomapeamento da cobertura e uso da terra no Brasil.
Segundo um estudo da Universidade Federalbetnacional app atualizadoMinas Gerais (UFMG), cercabetnacional app atualizado20% da produção brasileirabetnacional app atualizadoouro tem evidênciasbetnacional app atualizadoilegalidade, como a exploraçãobetnacional app atualizadoáreasbetnacional app atualizadoconservação ou indígenas, faltabetnacional app atualizadodocumentação e o usobetnacional app atualizadoquímicos contaminantes, como o mercúrio.
Em Itaituba, garimpos como o Cuiú-Cuiú misturam áreasbetnacional app atualizadoexploração legal e ilegal.
Embora ações recentes do governobetnacional app atualizadoLuiz Inácio Lula da Silva (PT) tenham ajudado a controlar a expansão do garimpo, segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, os preços altos do metal no mercado internacional servembetnacional app atualizadoincentivo para que milharesbetnacional app atualizadobrasileiros continuem tentando a sortebetnacional app atualizadoáreasbetnacional app atualizadoextração ilegalbetnacional app atualizadoourobetnacional app atualizadomeio à floresta.
Enquanto a atividadebetnacional app atualizadogarimpo continua, também segue viva a atividadebetnacional app atualizadoprostituição e exploração sexual nestas áreas.
Atraídas pela promessabetnacional app atualizadoriquezabetnacional app atualizadoregiões carentesbetnacional app atualizadooutras oportunidadesbetnacional app atualizadotrabalho bem remuneradas, milharesbetnacional app atualizadomulheres arriscam suas vidas.
Após mesesbetnacional app atualizadoinvestigação e dezenasbetnacional app atualizadoentrevistas, a BBC News Brasil viajou ao epicentro do garimpo no Brasil para conhecer o cotidiano dessas mulheres. Aqui elas contam suas histórias.
'Quando homem paga, ele quer ser dono da mulher'
Leide Dayane Leite dos Santos,betnacional app atualizado34 anos, recebeu esse nomebetnacional app atualizadohomenagem à princesa Diana (1961-1997), da Família Real Britânica.
"Meu pai queria me dar um nomebetnacional app atualizadoprincesa", conta a mãebetnacional app atualizadosete filhos, com idades entre dois e 16 anos.
A primeira vez que Dayane foi ao garimpo, ela conta que tinha 12 anos. Foi levada por uma mulher que conheceu na orlabetnacional app atualizadoItaituba num grupobetnacional app atualizadoquatro meninas — as outras, ela calcula, tinham idades entre 13 e 15 anos.
Às margens do Rio Tapajós, Itaituba é o município com maior área minerada do Brasil, representando sozinho 16%betnacional app atualizadotoda a área garimpada do paísbetnacional app atualizado2022, segundo o MapBiomas.
É da cidadebetnacional app atualizado123 mil habitantes e ruas cobertas da poeira vermelha da rodovia Transamazônica que saem muitas das máquinas usadas nos garimpos da região — entre 2020 e 2021, Itaituba respondeu por 75%betnacional app atualizadotodo o ouro ilegal produzido no Brasil,betnacional app atualizadoacordo com outro estudo da UFMG.
Embetnacional app atualizadoprimeira incursão ao garimpo, Dayane conta que apenas ajudou na cozinha. Mas a experiência foi interrompidabetnacional app atualizadoforma trágica: uma das meninasbetnacional app atualizadoseu grupo, trabalhando na prostituição e usuáriabetnacional app atualizadodrogas, foi assassinada a tiros nabetnacional app atualizadofrente pela cafetina, relata.
"Nós voltamos para a cidade no carro da polícia, porque éramos todas menoresbetnacional app atualizadoidade. A menina, depois do crime, a gente descobriu que tinha 13 anos."
Traumatizada pela experiência, Dayane levaria alguns anos para retornar ao garimpo. Aos 17, tevebetnacional app atualizadoprimeira experiência na prostituição.
Seu marido morreu e ela ficou com uma dívidabetnacional app atualizadoR$ 8 mil do enterro, uma soma impagável parabetnacional app atualizadofamília. "Passados 15 dias que ele tinha falecido, uma amiga me convidou para ir ao garimpo."
"Eu fui trabalhar lá, completei meus 18 anos lá dentro. Paguei a dívidabetnacional app atualizado15 dias, o que na época dava 12 gramasbetnacional app atualizadoouro. Passei quatro meses trabalhando lá, para ter dinheiro para vir embora."
Desde então, Dayane já voltou diversas vezes ao garimpo, trabalhando como cozinheira, lavadeira, nas máquinasbetnacional app atualizadoextraçãobetnacional app atualizadoouro ebetnacional app atualizadobares, como garçonete e fazendo programa.
Como a maioria das mulheres que trabalhambetnacional app atualizadogarimpo, ela alterna períodos na cidade e outrosbetnacional app atualizadomeio à floresta, onde tenta garantir o sustentobetnacional app atualizadoseus filhos.
No garimpo, o dinheiro do ouro vem mais rápido do quebetnacional app atualizadooutros trabalhos "mais sossegados e seguros", diz Dayane. Mas também cobra seu preço.
"Já aconteceubetnacional app atualizadoeu estar dormindo no quarto e um rapaz pular para dentro e botar a arma na minha cabeça", lembra, explicando que havia dito um "não" para este homem mais cedo no salão.
"A mulher é muito humilhada por ser mulherbetnacional app atualizadobar. Quando os homens pagam, eles querem ser donos das mulheres."
'Eu quero ganharbetnacional app atualizadoouro'
Natalia Souza Cavalcante,betnacional app atualizado28 anos, viralizou nas redes sociais como um exemplobetnacional app atualizado"empreendedorismo feminino", ao mostrarbetnacional app atualizadovídeos no Instagram e TikTok seu cotidiano como donabetnacional app atualizadocabaré na região garimpeirabetnacional app atualizadoItaituba.
Antes do garimpo, ela trabalhoubetnacional app atualizadoloja, fez faxina, foi garçonete e vendeu marmitas. Como Dayane, Natalia diz que foi trabalhar como prostituta na região garimpeira por contabetnacional app atualizadouma dívida.
"Já tinha maisbetnacional app atualizadoano que meu nome estava sujo, eu tentava pagar e não dava certo. Então decidi ir para o garimpo", afirma. "Eu não queria ir, mas foi o jeito."
Nabetnacional app atualizadoprimeira ida ao garimpo, ela conta que conseguiu R$ 5 milbetnacional app atualizadoum mês.
"Se eu estivesse trabalhando na cidade, ia levar cinco ou seis meses para ganhar esse dinheiro."
Na segunda vezbetnacional app atualizadoque foi, Natalia conheceu seu atual marido, proprietáriobetnacional app atualizadoum bar no local. Ela passou a ajudá-lo na administração do bar, tornando-se então "dona do cabaré".
Bares, cabarés e comércios são os centros da vida social nas vilas garimpeiras, chamadasbetnacional app atualizadocurrutelas. Ao redor, distantes alguns quilômetros, ficam os baixões ou barrancos onde o ouro é extraído.
São nessas clareiras na mata quebetnacional app atualizadogeral trabalham o dono das máquinas, os garimpeiros e uma cozinheira, vivendobetnacional app atualizadobarracasbetnacional app atualizadolona precárias.
Depoisbetnacional app atualizadodiasbetnacional app atualizadoextraçãobetnacional app atualizadoouro nos baixões, é horabetnacional app atualizado"despescar".
"'Despescar' é quando os garimpeiro trabalham a semana, queimam o ouro e dividem quanto que cada um vai ficar e aí vão para o bar", conta Natalia.
"Sobre o pagamento, são as meninas que decidem com o cliente: 'Eu quero ganharbetnacional app atualizadoouro'. A gente pega uma balança, pesa o ouro e entrega para a moça", acrescenta.
Segundo ela, as garotas ficam com o dinheiro do programa, mas o cliente paga aos donos do cabaré uma "chave". "Funciona como um hotel, paga pelo uso do quarto, que dependendo do garimpo é R$ 50, R$ 80, até R$ 150."
Natalia afirma que muitas das meninas que vão trabalhar no cabaré a procuram, mas às vezes ela também busca ativamente meninas novas, perguntando para as que já foram se elas têm amigas interessadasbetnacional app atualizadotentar a sorte.
"Se a pessoa forbetnacional app atualizadoconfiança, a gente manda o dinheiro da passagem ou combina com algum motorista para buscar. Se ela quiser arrumar cabelo, unha ou fazer uma marquinha [de biquíni] antesbetnacional app atualizadoir, a gente manda o dinheiro. E ela paga a gente depoisbetnacional app atualizadofazer os 'corres'", explica.
Tendo ela mesma passado pela experiência da prostituição, Natalia vê algum conflitobetnacional app atualizadoatrair outras mulheres para a atividade?
"Às vezes a gente pensa: 'Poxa, eu estou fazendo a menina vir para o bar, para fazer programa'. Eu já passei por aquilo e a gente sabe que não é tão legal", reflete.
"Mas eu penso: a menina tem uma família, às vezes tem filho para criar, e muitas delas vão para ajudar a criar a criança. Então a gente aceita."
'Instituições têm dificuldadebetnacional app atualizadoenxergar essas mulheres'
Marcela Ulhoa, do Escritório da ONU sobre Drogas e Crime, explica que a naturalização é um dos fatores que dificultam a ação das autoridades locais no combate à violência contra as mulheres nos garimpos.
"As instituições têm dificuldadebetnacional app atualizadoenxergar a situação dessas mulheres pelo viés do tráficobetnacional app atualizadopessoas e da exploração sexual", afirma.
Entre os elementos que caracterizam esses crimes, explica ela, estão o agenciamento, transporte e alojamento dessas mulheres, a situaçãobetnacional app atualizadovulnerabilidade e o endividamento. Ela observa que esse trânsitobetnacional app atualizadomulheres não ocorre só no Brasil, mas tambémbetnacional app atualizadopaíses vizinhos como Guiana, Suriname e Guiana Francesa, com muitas venezuelanas também envolvidas na prostituição.
"As pessoas e as instituições consideram o fatobetnacional app atualizadoque a mulher está ali porque quer e isso é uma barreira para o entendimentobetnacional app atualizadoque ela quer, mas há uma situaçãobetnacional app atualizadovulnerabilidade muito grande por trás desse querer."
"Hoje há um grande gargalo que é a identificação [dos crimesbetnacional app atualizadotráficobetnacional app atualizadopessoas e exploração sexual nos garimpos]", afirma a especialista.
"Você não identifica o problema, não consegue mensurar, não tem registro dele. É como se não existisse."
Segundo a porta-voz do escritório da ONU, isso fica evidente na ausênciabetnacional app atualizadoestatísticas sobre o trabalho das mulheres nas regiões garimpeiras.
O governo não sabe sequer quantos garimpeiros atuam no país — documento oficial recente afirma que as estimativas variambetnacional app atualizado80 mil a 800 mil.
Questionado pela BBC, o Ministério da Justiça e Segurança Pública reconhece a faltabetnacional app atualizadodados. A pasta, porém, enfatiza os esforços para enfrentamento ao tráficobetnacional app atualizadopessoas e à exploração sexualbetnacional app atualizadogarimpos, incluindo operações conjuntas, parcerias com organizações internacionais como o UNODC e campanhasbetnacional app atualizadoconscientização.
Já o governo do Pará afirma que a Polícia Civil do Estado apura denúnciasbetnacional app atualizadoexploração sexual na região e realizou neste ano uma operação para investigar possíveis crimesbetnacional app atualizadogarimpos e promover a conscientização da comunidade.
Uma característica do trabalho atual das mulheres no garimpo é que muitas delas são atraídas por anúncios nas redes sociais, como Facebook e WhatsApp.
No Brasil, prostituir-se não é crime, mas atrair alguém para a prostituição, facilitá-la ou manter casabetnacional app atualizadoprostituição são crimes previstos pelo Código Penal.
Questionada, a Meta, controladora do Facebook, afirmou que as políticas da rede social não permitem oferta ou solicitaçãobetnacional app atualizadoatividade sexual, e que coopera com as autoridades locais. O WhatsApp afirmou que, devido à criptografia, não tem acesso ao conteúdo das mensagens e não realiza moderaçãobetnacional app atualizadoconteúdo.
Marcela Ulhoa observa que há um ciclobetnacional app atualizadopobreza que se perpetua entre as gerações na Amazônia, que cria as condiçõesbetnacional app atualizadovulnerabilidade que levam as mulheres ao trabalho nos garimpos.
"Estamos falandobetnacional app atualizadocomunidades às vezes com 5 mil, 6 mil pessoas, onde só há o Ensino Fundamental. Não têm nem o Ensino Médio, não têm uma atividadebetnacional app atualizadolazer para as crianças, não têm nada. Então a criança vai crescer e qual a única coisa que vai sobrar para ela? Trabalhar com garimpo."
'Eu não sei mais o que é sonho'
Raiele da Silva Santos foi uma dessas crianças nascidas e criadas no garimpo. Filha caçulabetnacional app atualizadouma famíliabetnacional app atualizadocinco irmãos, todos nascidos na comunidade do Penedo, nas margens do Tapajós.
Rosilda da Silva Carvalho, a mãebetnacional app atualizadoRaiele, veio do Maranhão aos 20 e poucos anos, atraída pela irmã com promessasbetnacional app atualizadoriqueza nos garimpos do Pará.
No Penedo, conheceu o paibetnacional app atualizadoseus filhos e um cotidianobetnacional app atualizadoviolência doméstica.
Após se separar, e passando dificuldades para sustentar a família, decidiu tentar a sorte nos garimpos da Guiana Francesa.
"Nós passamos quase 16 anos longe da nossa mãe", lembra Railane, a irmã mais velhabetnacional app atualizadoRaiele.
"Ela foi viver a vida nesses garimpos longe, fora do Brasil, e nós ficamos com um e outro da família."
A irmã mais velha conta que, aos 13 anos, Raiele começou a ir para os garimpos.
Antes dos 26 anos, casou-se três vezes e teve dois filhos, que também foram criados por conhecidos e parentes. Pouco antesbetnacional app atualizadosua morte, estava novamente apaixonada e grávida, mas perdeu a criança ainda na barriga.
O corpobetnacional app atualizadoRaiele foi encontrado no dia 31betnacional app atualizadomaiobetnacional app atualizado2023. Três dias antes, ela bebia com amigas num bar no garimpo Cuiú-Cuiú, quando um homem teria oferecido dinheiro para dormir com ela.
Ela teria dito que não, sendo levada pelas amigas já bastante alcoolizada para o quarto onde estava hospedada.
Foi neste quarto que seu corpo foi encontrado dias depois,betnacional app atualizadoavançado estadobetnacional app atualizadodecomposição e com sinaisbetnacional app atualizadoviolência. O local mostrava evidênciasbetnacional app atualizadoluta corporal e havia presençabetnacional app atualizadosangue humanobetnacional app atualizadodiversos objetos, conforme a perícia realizada pela polícia civil.
Um homem foi preso como suspeito pelo assassinatobetnacional app atualizadoRaiele. Ao serem contatados pela BBC News Brasil, seus advogados preferiram não se manifestar. Nos autos do processo, ele nega todas as acusações.
A mortebetnacional app atualizadoRaiele gerou uma incomum ondabetnacional app atualizadoprotestosbetnacional app atualizadoItaituba, pedindo por justiça e chamando atenção para a violência contra as mulheres na região.
O caso, porém, não ganhou a atenção da imprensa nacional ou teve qualquer repercussão para além do noticiário policial local.
A última vezbetnacional app atualizadoque o garimpo Cuiú-Cuiú chegou às manchetes foi no início dos anos 1990, quando o jornalista Gilberto Dimenstein (1956-2020), então da Folhabetnacional app atualizadoS. Paulo, revelou a realidade da prostituiçãobetnacional app atualizadomeninas nos garimpos à época.
Hoje, a prostituição infantil é menos comum na região, devido à ação das autoridades locais, mas a violência contra as mulheres segue acontecendo.
De volta ao Brasil após 15 anos nos garimpos da Guiana Francesa, a mãebetnacional app atualizadoRaiele agora cuida dos dois netos órfãos.
A casabetnacional app atualizadomadeira onde ela vivebetnacional app atualizadoaluguelbetnacional app atualizadouma vila na região garimpeirabetnacional app atualizadoItaituba não tem móveis na sala, apenas um tapete e uma televisão. No quarto, ela divide a cama que lhe foi doada com a neta mais velha.
"Logo que eu cheguei aqui, nós dormíamos no chão. Aí eu ganhei essa cama, agora a menina dorme comigo nela e o menino dorme na rede", diz Rosilda.
Ela conta que tem dificuldade para dormir à noite, pensandobetnacional app atualizadojustiça para a filha caçula. "Vejo anoitecer, vejo amanhecer… Eu não sei mais o que é sonho."
No celular, ela guarda as fotos brutais do corpobetnacional app atualizadoRaiele, que circularam nas redes sociais após a morte da filha.
"As pessoas me perguntam: 'Por que a senhora não apaga isso?' Não vou apagar porque, um dia, se quiserem libertar ele [o suspeito do crime], eu tenho como mostrar o que ele fez com a minha filha", diz Rosilda.
"A Justiça no Brasil é muito lenta."
Maisbetnacional app atualizadoum ano e meio após a mortebetnacional app atualizadoRaiele, o caso ainda não foi a julgamento.
'Essa vida eu não quero para os meus filhos'
Segundo Marcela Ulhoa, do UNODC, para mudar o cotidianobetnacional app atualizadoviolência enfrentado pelas mulheres nos garimpos da Amazônia é preciso uma combinaçãobetnacional app atualizadoconscientização das comunidades e das autoridades locais, com mais oportunidadesbetnacional app atualizadoeducação ebetnacional app atualizadotrabalho para as mulheres.
Ela destaca, porém, que uma política para ampliar as oportunidades para as mulheresbetnacional app atualizadobaixa renda na Amazônia precisa levarbetnacional app atualizadoconta a questão do cuidado.
"Não é só emprego, é entender que às vezes essa mulher é uma mãe solteirabetnacional app atualizadocinco filhos. Mesmo que ela tenha emprego, com quem ela vai deixar os filhos? É uma questãobetnacional app atualizadoemprego e renda, mas é também algo muito mais complexo."
Pensando nos filhos, Dayane quer voltar uma última vez ao garimpo. Ela planeja juntar dinheiro para um dia ter um negócio próprio, uma lanchonete na cidade.
"Eu ainda não tenho condiçõesbetnacional app atualizadorealizar esse sonho. Ainda vou ter que voltar mais uns dois, três meses para o garimpo, mas eu não tenho mais saúde para trabalhar assim. Quero parar e investir nos meus filhos agora."
Apósbetnacional app atualizadoexperiência como "dona do cabaré", Natalia voltou a viver na cidade, para ajudar a cuidar das duas filhasbetnacional app atualizadoseu irmão, morto num acidentebetnacional app atualizadocarro.
Com o dinheiro que ganhou no garimpo, ela construiubetnacional app atualizadocasa e comprou uma moto. Agora sonha com um dia fazer uma faculdade.
Railane, a irmã mais velhabetnacional app atualizadoRaiele, é mãebetnacional app atualizadotrês filhos e também sonha para eles uma vida longe dos garimpos.
"Eu estou aqui porque minha mãe não me passou essa visão, ela me ofereceu aquilo que ela vivia e eu aprendi a viver da mesma forma. Essa vida eu não quero para os meus filhos."
Para os filhosbetnacional app atualizadoRaiele, agora sob os cuidados da avó, ela também deseja uma vida longe dali.
"Eu não quero que eles aprendam o que esse local [o garimpo] ensina. Se você vai aqui no centro, vê cabaré, homem bêbado, prostituta. Não tem como uma criança crescer com outras vontades."
"Então talvez tudo isso tenha acontecido para a gente tentar fazer dos filhos dela algo diferente."
Com a colaboraçãobetnacional app atualizadoCarla Rosch e Caroline Souza, da equipebetnacional app atualizadojornalismo visual da BBC.
Esta reportagem é parte do projeto BBC 100 Mulheres, que neste ano tem como tema central a resiliência. Clique aqui para ver a listabetnacional app atualizado100 mulheres mais influentes do ano preparada pela BBC como parte do projeto.