Os funcionários que relutamabrir mão do home office:
A equipe da revista Washingtonian, com sede nos Estados Unidos, suspendeu as publicações online quandoexecutiva-chefe, Cathy Merrill, escreveu um artigoopinião que parecia ameaçar a segurança do emprego dos funcionários se eles se recusassem a voltar ao escritório cinco dias por semana.
Outros empregadores ainda seguem adotando uma postura rígida, no entanto.
Na semana passada, o presidente do Morgan Stanley, James Gorman, disse que ficaria "muito desapontado se as pessoas não conseguissem voltar ao escritório" no iníciosetembro. "Teremos então um tipo diferenteconversa."
À medida que os empregadores começam a revelar suas visõestrabalho pós-pandemia, surge (ainda incipiente) um movimentoresistência por partefuncionários que desejam manter seus privilégiostrabalharcasa.
Mas os protestos localizados podem ser indicativosuma resistência mais ampla.
Os funcionários podem achar que provaram que são capazesser produtivoscasa — e que os motivos pelos quais as empresas dizem que querem que eles voltem ao escritório não se sustentam.
Estabelecer padrõestrabalho futuros que satisfaçam todas as partes será um processo complexo.
Mas fazer isso renderá dividendos para as empresas; e se não fizerem, e os funcionários tiverem opções melhores, podem muito bem pedir as contas.
'Democratização do localtrabalho'
O trabalho remoto tem sido uma experiência positiva para muitos (embora não para todos) os funcionários.
Uma pesquisa recente, realizadajaneiro2021 nos Estados Unidos, mostrou que 44% das pessoas que atualmente trabalhamcasa desejam continuar com este esquema porque é conveniente para elas; 39% responderam que preferiam retornar ao escritório; e 17% disseram que queriam continuar trabalhando remotamente por causa do novo coronavírus.
Em geral, os trabalhadores remotos destacam não ter que se deslocar até o escritório como uma grande vantagem, assim como ter mais margem para conciliar trabalho, família e lazer.
Muitos profissionais presumiram que, uma vez introduzido, o trabalho remoto prevaleceria, e alguns podem até mesmo ter se mudado por esta razão.
Isso se deveparte à rapidez com que as empresas ao redor do mundo tiveram que fazer a transição — e alguns empregadores enviaram sinais que sugeriam que a mudança poderia ser uma opçãolongo prazo.
Em setembro passado, por exemplo, Tim Cook disse que não acreditava que a Apple "voltaria a ser como antes, porque descobrimos que há algumas coisas que funcionam muito bem virtualmente", embora ele também tenha feito uma ressalva sobre seus comentários .
"Quando as decisões estavam sendo tomadas, todos estavam tentando descobrir como seria, e foram ditas coisas que não foram pensadas com profundidade", observa Kimberly Merriman, professoraadministração da EscolaNegócios Manning da UniversidadeMassachusetts Lowell, nos EUA.
Agora, com o retorno ao trabalho presencial mais iminente, muitas empresas estão falando sobre um futuro 'híbrido', que combine trabalho remoto e expediente no escritório.
Mas algumas companhias querem seus empregados presencialmentevoltatempo integral ou por períodos maiorestempo — e com mais frequência — do que os funcionários esperavam ou previam.
Já está claro que nem todos os trabalhadores estão felizesserem convocadosvolta às suas antigas estaçõestrabalho.
Após terem feito uma mudança repentina e,muitos casos, estressante para o trabalho remoto no início da pandemia, os trabalhadores sentem que provaram que são capazesser bem-sucedidos — inclusivefunções para as quais os chefes haviam anteriormente rejeitado qualquer tipoflexibilidade.
E desconfiam das razões apresentadas pelas empresas para chamá-losvolta.
Muitas companhias citaram, por exemplo, os valores ou a cultura da empresa como motivo para insistir na presença dos funcionários no escritório.
No artigoopinião que escreveu no Washington Post, Merrill sugeriu que o trabalho remoto foi fácil no início porque a equipe "podia se apoiar nas culturas do escritório — práticas estabelecidas, regras tácitas e valores compartilhados, estabelecidos ao longo dos anosgrande parte por pessoas interagindo pessoalmente".
Outra crença comum é que o trabalho remoto dificulta a colaboração e a inovação, porque esta última,particular, muitas vezes surgeconversas espontâneas no escritório.
Também existe a preocupaçãoque o modelotrabalho remoto não funcione para funcionários mais júnior, que querem aprender com seus colegas.
Mas, trabalhadores juniores à parte, os profissionais que sentem que têm sido produtivos e inovadorescasa estão questionando o mantraque se envolver com a "cultura corporativa" oubate-papos no café fará deles funcionários melhores.
"Esta [ênfase na cultura corporativa] continuava surgindouma forma que não parecia verdadeira. Era quase como um eufemismo para 'quero você volte, não quero vocêcasa. Não confiovocê'. É assim que os trabalhadores estão interpretando", diz Merriman.
De maneira geral, os funcionários que desfrutammais autonomia do que nuncasuas vidas profissionais relutamtrocá-la pelo presenteísmo e pela vigilância da era pré-pandemia.
"O que vimos é uma democratização da forçatrabalho, no sentidoque as pessoas podem decidir como e quando trabalhar", diz Stefanie Gustafsson, professora da EscolaAdministração da UniversidadeBath, no Reino Unido.
Merriman também sente que houve uma "mudança na dinâmicapoder" no localtrabalho que não vai desaparecer.
"Hojedia, todos querem um tipolocaltrabalhoque sintam que são importantes, e líderes que peçam suas opiniões", diz ela.
Envolva os funcionários ou arrisque perdê-los
A boa notícia é queum mercadotrabalho competitivo, como nos EUA, aqueles que estão insatisfeitos com a postura da empresarelação à flexibilidade têm opções — e margemmanobra.
"Para voltar a crescer, os líderesnegócios precisarão entender o que os funcionários realmente desejam e criar políticas e planos que permitam mais flexibilidade e personalização",acordo com um informe recente da PwC.
As empresas que não trabalharem para acomodar os padrõestrabalho desejados pelos funcionários o farão porprópria conta e risco.
"Enquanto a forçatrabalho tiver opções, essas organizações perderão", adverte Gustafsson.
"Antes da pandemia, ir ao escritório três dias por semana seria algo incrível. Mas agora, as pessoas têm opções: outras organizações no mesmo espaço podem oferecer locaistrabalho bastante flexíveis e totalmente remotos."
As pesquisas sugerem que, por uma sérierazões, uma proporção maior do que o normalfuncionários está cogitando a ideiaabandonar seu trabalho, no que está sendo chamado"A Grande Renúncia".
O nívelflexibilidade das companhias pode estar contribuindo para isso. Uma pesquisa indica que 54% dos funcionários entrevistados em todo o mundo considerariam deixar o emprego se não tiverem alguma formaflexibilidadetermosonde e quando vão trabalhar.
Pouco mais75% desse mesmo grupo disseram estar satisfeitos com seus empregos, indicando que até mesmo funcionários satisfeitos estão dispostos a pedir demissão se seus empregadores não aceitarem um certo grautrabalho remoto.
No entanto, nem todos serão capazesgozar deste privilégio.
Há uma alta demanda por profissionais do setortecnologia, o que proporciona a eles mais opçõesempregos flexíveisuma variedade mais amplaempresas — mas trabalhadoresoutros setores podem ter menos margemmanobra.
Aqueles que são especializadosvendas, recursos humanos e administração, por exemplo, são muito menos propensos a trabalhar remotamente desde o início e, portanto, têm menos probabilidadeter mais oportunidadesfazer isso no futuro.
Resta saber se os funcionários saindomassa — ou manifestandooposição às práticastrabalho pós-pandemia — vão influenciar as políticas da empresa
A Apple ainda não respondeu publicamente à cartaseus funcionários.
A BBC Worklife entroucontato com a Apple, mas a empresa não havia respondido até a datapublicação do artigo.
A resistência pública dos funcionários da Apple pode influenciar, no entanto, trabalhadoresoutras empresas. Da mesma forma que os executivos olham uns para os outrosbuscaexemploscomo atrair os funcionáriosvolta, os trabalhadores podem usar estes movimentosresistência como inspiração.
Também está claro que as empresas continuam ajustando suas políticas. A Amazon e o Google introduziram recentemente mais flexibilidadesuas posições anterioresretorno ao escritório (embora não haja nenhuma evidênciaque isso seja uma resposta à resistência dos funcionários).
Mas,geral, funcionários insatisfeitos não é algo que pegue bem para as empresas.
"As empresas devem se preocupar quando qualquer númerofuncionários reclamar dessa forma [o caso da Apple]. Pode aumentar e dar a impressão, mesmo que seja um pequeno númerofuncionários, que esse é o tom da organização", diz Merriman.
Em veztomar decisões a partir do topo, investir na transparência e no diálogo pode ser mais útil aos empregadores, enquanto eles estabelecem como será o trabalho pós-pandemia.
Nos últimos 15 meses, muitos trabalhadores abraçaram a flexibilidade e a autonomia — e vão ser relutantesabrir mão disso.
"[A resistência é] mais um alerta do que uma sentençamorte para a relação com empregadores", diz Merriman.
"Não sei por que a pandemia fez [os líderes] esquecerem que você não pode ser um líder que impõecima para baixo quando os trabalhadores têm opções."
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Work Life .
Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube ? Inscreva-se no nosso canal!
Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimosautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticausocookies e os termosprivacidade do Google YouTube antesconcordar. Para acessar o conteúdo clique"aceitar e continuar".
FinalYouTube post, 1
Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimosautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticausocookies e os termosprivacidade do Google YouTube antesconcordar. Para acessar o conteúdo clique"aceitar e continuar".
FinalYouTube post, 2
Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimosautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticausocookies e os termosprivacidade do Google YouTube antesconcordar. Para acessar o conteúdo clique"aceitar e continuar".
FinalYouTube post, 3