Aborto: menina11 anos estuprada interrompe gravidez após embate sobre o caso:

ManifestanteLa Paz

Crédito, Reuters

Legenda da foto, A ingerência da Igreja Católica na decisãointerromper a gravidezmenina11 anos gerou protestos na Bolívia

A Defensoria Pública da Bolívia confirmou na segunda-feira (8/11) que a menina11 anos que engravidou devido aos contínuos abusos sexuais cometidos pelo paiseu padrasto interrompeu a gestação.

"A menor assumiu uma definição, junto com amãe, no âmbito do resguardoseu direito à vida e seu direito à integridade", declarou a defensora pública Nadia Cruzentrevista coletiva sobre o caso, que aconteceuYapacaní, departamentoSanta Cruz, no leste da Bolívia.

O episódio gerou uma polêmica nacional nas últimas semanas, tendo a Igreja Católica no centro da discussão.

"A menor tem direito à confidencialidade, tem direitocontinuar comvida, depoistoda invasão da Igreja e da permissividade das instituições públicas", completou.

Por maisnove meses, a menina foi vítimaabuso sexual cometido pelo pai do atual companheirosua mãe.

A gravidez foi descoberta quando a menina disse à família que sentia "movimentos estranhos" na barriga. Exames médicos determinaram que, na ocasião, ela estava com 21 semanasgestação.

Protestooposição ao aborto na Bolívia

Crédito, EPA

Legenda da foto, Grupos opositores ao aborto se manifestaramcidades como Santa Cruz e La Paz

Uma tia da menor apresentou queixa contra o suposto agressor, detidoprisãosegurança máxima.

Ao mesmo tempo, foi apresentado um pedidointerrupção legal da gravidez (ILE, na siglaespanhol) para a menina.

Quando o caso se tornou público, começou um acalorado debate entre a Igreja Católica e grupos pró-vida e as entidadesproteçãomenores que defendiam o direito constitucional da meninaabortar.

Na Bolívia, uma decisão constitucional2014 determinou que a mulher pode ter acesso ao aborto legal e seguro nos casosque a gravidez é frutoestupro, incesto, estupromenoridade, ou se a gravidez colocarisco a vida ou saúde da mãe.

É necessário fazer a denúnciaestupro e ter o consentimento da vítima, eliminando a exigênciaautorização judicial que consta no Código Penal Boliviano para a realizaçãoum aborto sem que haja punição.

No entanto, quando a polêmica sobre o caso veio à tona algumas semanas atrás, a cobertura da imprensa e a pressãogrupos antiaborto fizeram a menina emãe desistiremcontinuar com a interrupção da gravidez, conforme contou a defensora Nadia Cruz à BBC News Mundo, serviçonotíciasespanhol da BBC.

Mulher protestahospital boliviano

Crédito, EPA

Legenda da foto, Mulher protestahospital boliviano a favor do direito das mulheresdecidirem sobre aborto

Foi assim que a menina recebeu alta do hospital onde se encontrava e foi transferida para um centroacolhimento da Igreja Católica, instituição que se comprometeu a cuidar da menor e do seu filho ainda não nascido.

No entanto, Cruz explicou à imprensa que o TribunalGarantias ordenou a formaçãouma equipe técnica para assegurarsaúde física e mental.

"Podemos apontar que a equipe técnico-científica multidisciplinar assumiu a proteção do menor. Na tardesábado, a menina estava bemsaúde. Psicologicamente ela ainda deve ser acompanhada", afirmou.

"A decisão que tomaram não deveria ser pública porque afeta o futuro da menor e todos os julgamentos que existiramtorno da menina", enfatizou Cruz.

Processo penal contra a Igreja Católica

Em 27outubro, a Defensoria Pública anunciou que seu escritório havia entrado com vários processos penais contra aqueles que exerceram pressão indevida contra a decisão da menina.

"Estamos entrando com uma ação penal contra as defensoriascrianças e adolescentesYapacaní e Santa Cruz, a equipe médica eenfermagem do Hospital Percy Boland, a ONG e o ArcebispadoSanta Cruz que intervieram, e também contra a mãe, pelos delitos, no que corresponda,violaçãodeveres, desobediência às resoluções constitucionais e tráficopessoas", afirmou Cruz na ocasião.

E acrescentou que com a ação o objetivo é que os responsáveis ​​sejam punidos com penas15 a 20 anosprisão, "pois a vítima é menoridade".

Na segunda-feira, Cruz disse que o TribunalGarantias pediu à promotoria que informe a cada 5 dias "sobre o andamento e investigação dos atos ilícitosingerência da Igreja Católica".

Segundo ela, "depois da primeira decisão que a menor tomou para interromper a gravidez houve uma junta médica", que não foi solicitada por ninguém e da qual a Igreja participou inexplicavelmente.

Mulher protestafavor do direitodecidir sobre gravidez na Bolívia

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Mulher protestafavor do direitodecidir sobre gravidez na Bolívia

"Sim, tem havido pressão por parte da Igreja e pressão desse tipogrupo."

"Esta comissão teria definido, sem consultar a mãe nem a menor, a suspensão dessa intervenção, inclusive tendo usado um medicamento para tal suspensão que colocavarisco iminente a vida da menor", ​​disse Cruz na coletivaimprensa.

Ela afirmou ainda que a promotoria já possui as provas apresentadas pela defensoria da ingerência ilegal neste caso.

Segundo dados da Casa da Mulher divulgados pela agêncianotícias EFE,2020 ocorreram 39.999 gestaçõesmenores18 anos na Bolívia, o que significa que 104 meninas engravidaram por dia no país, das quais seis são menores13 anos.

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