Por que o H1N1 não parou economias como a pandemiacassino saque pixcoronavírus?:cassino saque pix
Mas o H1N1 não colocou cidades ou nações inteirascassino saque pixquarentena. Em alguns países, viajantes passaram por triagens, casos suspeitos foram isolados, e aulas chegaram a ser suspensas, mas a disseminação daquele vírus não chegou a praticamente paralisar algumas das maiores economias do mundo como vemos agora.
China, França, Espanha, Itália, Índia e Reino Unido tomaram medidas drásticas para frear o avanço do Sars-Cov-2, nome oficial do novo coronavírus. O governo brasileiro se recusou até agora aseguir pelo mesmo caminho — na verdade, vem atuando na contramão.
O presidente Jair Bolsonaro pediucassino saque pixum pronunciamento o fim da quarentena que Estados brasileiros implemetaram e afirmou que o impacto econômico delas será pior que o da própria pandemia.
Também criticou as medidas adotadas ao redor do mundo e, referindo-se à pandemiacassino saque pixH1N1, disse: "Tivemos uma crise semelhante no passado. A reação não foi nem sequer perto dessa do que está acontecendo hojecassino saque pixdia".
Afinal, essas respostas drásticas ao novo coronavírus se justificam? Ou há um exagero?
Médicos, virologistas e economistas ouvidos pela BBC News Brasil dizem que elas são necessárias no momento, porque o Sars-Cov-2 tem características diferentes do H1N1 — e causou uma pandemia mais grave, contra a qual não temos outras armas até agora além do isolamento social. Entenda a seguir por quê.
O novo coronavírus é mais transmissível do que o H1N1...
Em abrilcassino saque pix2009, o H1N1, um subtipo inéditocassino saque pixvírus influenza, que causam a gripe, foi identificado no México e nos Estados Unidos. Quatro meses depois, ele havia se disseminado para maiscassino saque pix120 países e deixado dezenascassino saque pixmilharescassino saque pixpessoas doentes.
Assim como o Sars-Cov-2, o novo H1N1 era transmitido por meiocassino saque pixtosse e espirros ou pelo contato direto com uma pessoa infectada e com secreções respiratórias.
Mas o H1N1 era duas vezes menos transmissível do que o novo coronavírus. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que uma pessoa com H1N1 era capazcassino saque pixinfectarcassino saque pix1,2 a 1,6 pessoas.
O índice para o Sars-Cov-2 varia bastantecassino saque pixlocal para local. Mas um estudo recente, usado como referência pelo Centrocassino saque pixControle e Prevençãocassino saque pixDoenças da Europa, revisou 12 pesquisas sobre o tema e apontou uma taxa intermediáriacassino saque pix2,79.
No entanto,cassino saque pixrápida disseminação tem levado epidemiologistas a revisar o índice e a sugerir que ele é maior do que 3, disse o cientista Neil Ferguson, do Imperial College London, no Reino Unido.
"Isso fornece ainda mais evidências que apoiam medidascassino saque pixdistanciamento social mais intensas", afirmou Ferguson à revista New Scientist.
... e mais letal também
A OMS estima a taxacassino saque pixletalidade do Sars-Cov-2cassino saque pix3,4% (do totalcassino saque pixdoentes). Fernando Spilki, presidente da Sociedade Brasileiracassino saque pixVirologia (SBV), diz que ela é ainda maiorcassino saque pixalgumas regiões do mundo.
"Em Bergamo, na Itália, fica na faixacassino saque pix12%. Se pensarmos que, com a gripe comum, temoscassino saque pix1% a 2% entre pacientes com idade mais avançada, o que já é alto, isso que estamos vendo agora é assustador", diz ele.
No entanto, cientistas alertam que esse valor pode ser menor, porque só uma minoria da população tem sido testada. Muitas pessoas assintomáticas ou com sintomas leves não estariam entrando para as estatísticas oficiaiscassino saque pixcasos confirmados, o que produziria uma taxacassino saque pixletalidade maior do que a real.
Consultores científicos do governo britânico apontam, por exemplo, que essa taxa está provavelmente entre 0,5% e 1%.
Porém, Spilki afirma que só será possível saber qual é o índice exato se a testagem for ampliada, o que, no momento, não pode ser feito, porque faltam materiais para exames.
"O sistemacassino saque pixdiagnósticos está saturado. Todos os países estão tentando testar ao máximo, e isso elevou demais a demanda", afirma o presidente da SBV.
Ainda assim, mesmo que a taxa do novo coronavírus sejacassino saque pix0,5% a 1%, seria muito maior do que a da pandemiacassino saque pixH1N1, que é estimadacassino saque pix0,02%, segundo um estudo liderado pela cientista Maria Van Kerkhove, da OMS.
Um dos motivos possíveis disso, diz Spilki, é que o Sars-Cov-2 parece matarcassino saque pixforma mais direta do que vírus como o H1N1.
"Normalmente, uma infecção viral está associada a outros elementos, como bactérias, que complicam o quadro clínico. Mas evidências apontam que o novo coronavírus consegue gerar por conta própria uma doença grave e levar o paciente a óbito sozinho", diz ele.
Isso torna essa pandemia mais grave do que a anterior
Esses dois aspectos — as maiores transmissibilidade e letalidade do Sars-Cov-2 — se refletem nos números oficiais da OMS sobre as duas pandemias.
A agência contabilizoucassino saque pixquase 16 meses da pandemiacassino saque pixH1N1 maiscassino saque pix493 mil casos confirmados ecassino saque pix18,6 mil mortes.
A pandemia atual ainda não completou três meses e já superou o númerocassino saque pixinfecções e vítimas fatais da anterior. Até 29cassino saque pixde março, a OMS contabilizou 571,6 mil casos confirmados e 26,4 mil mortes.
Um terceiro fator é importante para explicar os números desta pandemiacassino saque pixrelação àcassino saque pix2009: nenhuma pessoa tem imunidade contra o Sars-Cov-2, ao contrário do H1N1, que afetava menos idosos do que uma gripe comum.
O virologista Anderson Brito, do departamentocassino saque pixepidemiologia da Escolacassino saque pixSaúde Pública da Universidadecassino saque pixYale, nos Estados Unidos, diz que isso provavelmente está relacionado a outras duas pandemias anteriores, da gripe asiática,cassino saque pix1957, e da gripecassino saque pixHong Kong,cassino saque pix1968, também causadas por outros vírus influenza.
"As pessoas com maiscassino saque pix60 anos já estavamcassino saque pixcerta forma imunizadas por aqueles vírus e não eram infectadas ou conseguiam reagir melhor", afirma Brito.
Não há um medicamento contra o vírus comocassino saque pix2009...
Até o momento, não existe um antiviral para combater o novo coronavírus. Mas, quando a pandemiacassino saque pixH1N1 ocorreu, já havia medicamentos deste tipo para vírus da gripe comum.
Por isso,cassino saque pix2009, dois antivirais — oseltamivir, mais conhecido no mercado como Tamiflu, e,cassino saque pixmenor escala, zanamivir — foram usados para combater o H1N1.
O oseltamivir havia sido aprovadocassino saque pix1999 pela Food and Drugs Administration (FDA), agência do governo americano equivalente à Agência Nacionalcassino saque pixVigilância Sanitária (Anvisa). O mesmo aconteceu na Europa três anos depois. O zanamivir também passou a ser recomendado nos Estados Unidos e na Europa contra a gripecassino saque pix2006.
Mas, quando a pandemiacassino saque pix2009 começou, não havia evidências científicascassino saque pixque esses medicamentos funcionariam contra o H1N1, explica o pneumologista Paulo Teixeira, professor da Universidade Federalcassino saque pixCiências da Saúdecassino saque pixPorto Alegre.
"Estávamos na mesma situação que agora, sem provascassino saque pixque um medicamento funcionasse, mas o oseltamivir começou a ser aplicado para os (casos mais) graves, porque não havia outra opção. Só depois estudos comprovaram que ele ajudou no combate à doença e reduziu a mortalidade", diz Teixeira.
Ele explica que, após as epidemiascassino saque pixoutros coronavírus — da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars, na siglacassino saque pixinglês),cassino saque pix2003, e da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers, na siglacassino saque pixinglês),cassino saque pix2012 —, houve tentativascassino saque pixcriar antivirais contra esse tipocassino saque pixvírus, mas o que foi testado não se mostrou eficaz, e novas pesquisas não foram para frente desde então.
"Talvez tenha faltado interesse da indústria farmacêutica, que prioriza medicamentos para doenças crônicas", afirma Teixeira.
Diante da nova pandemia, estão sendo testados medicamentos contra o Sars-Cov-2 que são hoje usados para outros vírus.
"Há apenas um medicamento no momento que acreditamos ter eficácia real, o remdesivir", disse o epidemiologista Bruce Aylward, consultor da OMS.
Essa droga, desenvolvida para o combate ao ebola, parece ser capazcassino saque pixmatar uma grande variedadecassino saque pixvírus. Mas os estudos ainda estãocassino saque pixandamento.
Ainda assim, é uma alternativa mais viável do que começar a produzir um medicamento do zero, diz Brito. "Um antiviral específico leva um ano e meio, dois ou até mais para ser criado. Não é algo que dá para fazercassino saque pixuma hora para outra", afirma o virologista.
Outras duas substâncias, a hidroxocloroquina e a cloroquina, usadascassino saque pixmedicamentos contra doenças como lúpus e malária, têm sido administradas a pacientescassino saque pixestado crítico.
Há um esforço internacional para testar se elas sãocassino saque pixfato eficientes e seguras contra o novo coronavírus.
Estudos feitos com célulascassino saque pixlaboratório apontam que elas têm o potencialcassino saque piximpedir a replicação do Sars-Cov-2, disse o Ministério da Saúde, que autorizou seu uso no Brasil para os casos mais gravescassino saque pixcovid-19, a doença causada pelo novo coronavírus.
Mas, fora do ambiente laboratorial, não existe um estudo clínico que aponte que funcionemcassino saque pixfato ou que sejam seguras para quem foi infectado pelo novo coronavírus.
E, mesmo quando são usadas nestes casos, só devem ser administradas por médicos e nunca tomadas por conta própria. "Não são drogas fáceis, porque geram efeitos colaterais, e têmcassino saque pixser usadas com parcimônia, porque podem ter efeitos tóxicos", diz Spilki.
... e não será possível produzir uma vacina tão rápido quanto antes
A pesquisacassino saque pixuma vacina contra o Sars-Cov-2 vem avançando rapidamente, e há maiscassino saque pix20 versõescassino saque pixdesenvolvimento. Mas ainda é preciso garantir que funcionam e são seguras. E, mesmo que alguma se prove eficaz, será preciso ter formascassino saque pixproduzi-lacassino saque pixmassa.
Com isso, as previsões mais realistas dizem que uma vacina contra o novo coronavírus não estará disponível ao menos até meados do próximo ano.
Na pandemiacassino saque pix2009, as perspectivas eram mais otimistas, porque já havia uma vacina contra outros vírus influenza. Foi uma questãocassino saque pixadaptar o que existia para criar uma versão capazcassino saque pixconferir imunidade contra o H1N1, e foi possível aplicá-la na população partircassino saque pixnovembro daquele ano.
O númerocassino saque pixnovos casos já havia caídocassino saque pixtodo o mundo àquela altura, mas isso foi importante no controle da pandemia a partircassino saque pix2010 e permitiu à OMS declarar seu fimcassino saque pixagosto daquele ano.
"Ela teve um papel na redução da magnitude das segunda e terceira ondacassino saque pixinfecçõescassino saque pix2010 e um impacto maior aindacassino saque pix2011", diz Spilki.
E também para proteger a população daquele subtipocassino saque pixH1N1 desde então — a vacina oferecida no Brasil neste ano, por exemplo, confere imunidade contra ele.
Tudo isso junto faz a pandemia atual ter um impacto maior sobre os sistemascassino saque pixsaúde
Os dados científicos atuais apontam que,cassino saque pixmédia, 80% das pessoas infectadas pelo novo coronavírus são assintomáticas ou têm sintomas leves, mas 15% desenvolvem formas gravescassino saque pixcovid-19 e 5% ficamcassino saque pixestado crítico.
Apesar destes casos mais sérios serem minoria, o volumecassino saque pixpessoas que precisamcassino saque pixhospitalização é alto, porque o Sars-Cov-2 infecta qualquer pessoa e é muito transmissível.
Isso pode sobrecarregar o sistemacassino saque pixsaúdecassino saque pixum país, como ficou claro naqueles mais afetados, como Itália e Espanha, e também China, onde hospitais foram construídoscassino saque pixpoucos dias para dar conta do grande volumecassino saque pixpacientes.
Além disso, como não temos medicamentos contra o Sars-Cov-2, o impacto desta pandemia sobre hospitais ao redor do mundo é maior do quecassino saque pix2009.
"Se você tem um medicamento, o paciente saicassino saque pixum quadro grave e se cura mais rápido, o que reduz o tempocassino saque pixhospitalização e libera a vaga para outra pessoa. Isso aumenta o fluxocassino saque pixatendimento", afirma Brito.
Sem esse recurso, a formacassino saque pixreduzir o volumecassino saque pixpacientes que chegam ao mesmo tempo aos hospitais é conter a disseminação do vírus por meio do distanciamento social, como a China demonstrou ao colocar milhõescassino saque pixpessoas sob quarentena.
O Ministério da Saúde aponta que,cassino saque pixmédia, o númerocassino saque pixcasos nesta pandemia aumenta 33% por dia e que, sem ações que reduzam a circulação e o contato social, o total pode dobrar a cada dois ou três dias.
Spilki diz que, na pandemiacassino saque pixH1N1, isso aconteciacassino saque pixum períodocassino saque pixuma semana a dez dias. "Agora, está muito mais rápido, o que pode saturar o sistemacassino saque pixsaúde e impedir tratar quem poderia ser salvo. É o que estamos vendocassino saque pixalguns países", diz ele.
Para Brito, "as UTIs já estão operando quase emcassino saque pixcapacidade máxima, tanto na rede pública quanto na privada. Se o sistemacassino saque pixsaúde entrarcassino saque pixcolapso, não vai adiantar ter o melhor planocassino saque pixsaúde, porque não vai ter maca, leito ou respirador suficiente."
O isolamento permite diluir ao longo do tempo o fluxocassino saque pixpacientes, analisar como o novo coronavírus se comporta localmente e preparar os sistemascassino saque pixsaúde para a demanda maior.
"Neste momento, o isolamento não é um exagero, porque o que estamos vivendo tem as característicascassino saque pixuma epidemiacassino saque pixnível globalcassino saque pixgrande gravidade como aquelas que imaginávamos que poderiam ocorrer há algum tempo", diz Spilki.
Brito diz que se tratacassino saque pixum momento sem precedentes na história e que, diante disso, "é melhor pecar pelo excesso", mesmo que o isolamento gere prejuízos à economia. "Pessoas mortas não movem economias."
Mas e o que dizem os economistas?
Maiscassino saque pixuma década separa as pandemiascassino saque pixH1N1 e do novo coronavírus.
Em 2009, o mundo saíacassino saque pixuma recessão global causada pela crise financeiracassino saque pix2008, comparada somente à Grande Depressãocassino saque pix1929cassino saque pixtermoscassino saque pixgravidade.
Grandes instituições financeiras foram à falênciacassino saque pixsequência, derrubando bolsas ao redor do mundo e gerando uma escassezcassino saque pixcrédito que obrigou diversos países a injetar dinheirocassino saque pixsuas economias.
O mundo ainda vivia a ressaca desse colapso da economia global quando o H1N1 começou a se alastrar. Esse momento delicado poderia ter influenciado as medidas tomadas para conter esse vírus, por haver menos espaço para ações que reduziriam a atividade econômica e abalariam a recuperação que ensaiava seus primeiros passos?
José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator e professor da Faculdadecassino saque pixEconomia e Administração da Universidadecassino saque pixSão Paulo, avalia que não. Ele diz que o mundo tinhacassino saque pix2009 uma perspectivacassino saque pixcrescimento da economia, situação inversa a do finalcassino saque pix2019, quando o novo coronavírus deu seus primeiros sinais na China.
"A perspectiva agora eracassino saque pixuma piora da atividade econômica mundial. A China estava desacelerando. Já havia uma desaceleração na Europa e nos Estados Unidos. Então, o ambiente é mais desfavorável hoje e há menos espaço para esse tipocassino saque pixmedida do quecassino saque pix2009", afirma Gonçalves.
O economista afirma que as medidascassino saque pixisolamento adotadas ao redor do mundo se baseiamcassino saque pixconhecimentos médicos e epidemiológicos e que a preocupação com seu impacto econômico perde cada vez mais espaço diante da gravidade da pandemia.
"Essa discussão é travada só por alguns empresários e por alguns poucos economistas, que, a cada dia que passa, são menos numerosos, porque fica claro que não fazer o isolamento ou adotar um isolamento parcial é mais prejudicial para a economia", diz Gonçalves.
Marcel Balassiano, professor do Instituto Brasileirocassino saque pixEconomia da Fundação Getúlio Vargas, afirma que, se o mundo tivesse enfrentado uma pandemia desta proporçãocassino saque pix2009, "as mesmas medidas teriam sido tomadas, mesmo saindocassino saque pixuma recessão".
"Diante dos níveiscassino saque pixcontágio que estamos vendo, a quarentena é necessária. Ela não pode ser muito prolongada para não ter um impacto econômico pior do que o da própria pandemia, mas quem vai determinar isso não é o ministro da Economia, mas os médicos e infectologistas", diz o economista.
"Essa é uma crisecassino saque pixsaúde, não uma crise econômica. Quanto mais tempo demorar para resolver o problema que a causa, maior vai ser a crise econômica."
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