Copa América: o anoflamengo e bangu palpiteque outra epidemia impediu que Brasil sediasse evento esportivo:flamengo e bangu palpite

Ditadura militar

Crédito, Arquivo Nacional

Legenda da foto, Brasil durante ditadura militar, quando houve a mais grave epidemiaflamengo e bangu palpitemeningiteflamengo e bangu palpitesua história

Isso porque o Brasil foi vítima nãoflamengo e bangu palpiteum, masflamengo e bangu palpitedois subtiposflamengo e bangu palpitemeningite meningocócica: do tipo C, que teve inícioflamengo e bangu palpiteabrilflamengo e bangu palpite1971, e do tipo A,flamengo e bangu palpitemaioflamengo e bangu palpite1974.

Para evitar o contágio, o governo tomou medidas drásticas: decretou a suspensão das aulas e suspendeu eventos esportivos. Os Jogos Pan-Americanosflamengo e bangu palpite1975, que estavam marcados para acontecerflamengo e bangu palpiteSão Paulo, tiveram que ser transferidos para a Cidade do México. Hospitais, como o Institutoflamengo e bangu palpiteInfectologia Emílio Ribas, ficaram superlotados.

A que viria a ser a maior epidemiaflamengo e bangu palpitemeningite da história do Brasil teve inícioflamengo e bangu palpite1971, no distritoflamengo e bangu palpiteSanto Amaro, na Zona Sulflamengo e bangu palpiteSão Paulo. Logo, a população mais carente começou a se queixarflamengo e bangu palpitesintomas clássicos, como dorflamengo e bangu palpitecabeça, febre alta e rigidez na nuca. Nos bairros mais pobres, muitos morreram sem diagnóstico ou tratamento.

Em novembro daquele ano, o que parecia ser um surto restrito a uma determinada localidade logo se alastrou e, aos poucos, ganhou proporções epidêmicas. Dali, não parou mais.

Placa com culturaflamengo e bangu palpitebactérias

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Meningites causadas por bactérias, como a meningocócica, estão entre as formas mais grave da doeça

Em setembroflamengo e bangu palpite1974, a epidemia atingiu seu ápice. A proporção eraflamengo e bangu palpite200 casos por 100 mil habitantes. Algo semelhante só se via no "Cinturão Africano da Meningite", área que hoje compreende 26 países e se estende do Senegal até a Etiópia.

Das regiões mais carentes, a epidemia migrou para os bairros mais nobres. Até julho daquele ano, um único hospitalflamengo e bangu palpiteSão Paulo atendia pacientes com meningite. O Institutoflamengo e bangu palpiteInfectologia Emílio Ribas tinha 300 leitos disponíveis, mas chegou a internar 1,2 mil pacientes.

"Não houve quarentena porque o períodoflamengo e bangu palpiteincubação da meningite é muito curto", explica a epidemiologista Rita Barradas Barata, doutoraflamengo e bangu palpiteMedicina Preventiva pela Universidadeflamengo e bangu palpiteSão Paulo (USP) e professora da Faculdadeflamengo e bangu palpiteCiências Médicas da Santa Casa. Na época, Rita trabalhava como aluna do internatoflamengo e bangu palpitemedicina no Emílio Ribas. "O atendimento foi alémflamengo e bangu palpitesua capacidade máxima. Trabalhávamos muitas horas por dia", recorda.

De agostoflamengo e bangu palpitediante, outras 26 unidades passaram a fazer parteflamengo e bangu palpiteuma redeflamengo e bangu palpiteatendimento a pacientes com sintomasflamengo e bangu palpitemeningite. "Depoisflamengo e bangu palpiteum ou dois dias recebendo tratamento injetável, os casos mais leves eram transferidos para outras unidades, onde recebiam a medicação oral. Já os pacientes mais graves permaneciam no Emílio Ribas", complementa a médica.

Atentados, passeatas e epidemias eram assuntos vetados na imprensa

Até então, uma pequena parcela da população, quase nula, sabia da existência da epidemia. O governo procurou escondê-la ao máximo, segundo explica quem acompanhou o casoflamengo e bangu palpiteperto.

Policial na ditadura

Crédito, Arquivo Nacional

Legenda da foto, A ditadura procurou esconder ao máximo epidemiaflamengo e bangu palpitemeningite

"Assim que surgiu, foi tratada como uma questãoflamengo e bangu palpitesegurança nacional, e os meiosflamengo e bangu palpitecomunicação proibidosflamengo e bangu palpitefalar sobre a doença", afirma a jornalista Catarina Schneider, mestreflamengo e bangu palpiteComunicação Social pela Universidade Federalflamengo e bangu palpiteJuizflamengo e bangu palpiteFora (UFJF) e autora da tese A Construção Discursiva dos jornais O Globo e Folhaflamengo e bangu palpiteS. Paulo sobre a Epidemiaflamengo e bangu palpiteMeningite na Ditadura Militar Brasileira (1971-1975). "Essa tentativaflamengo e bangu palpitesilenciamento impediu que ações rápidas e adequadas fossem tomadas".

Durante os anos da ditadura, alguns temas foram proibidosflamengo e bangu palpiteserem divulgados - atravésflamengo e bangu palpitenotícias, entrevistas ou comentários -flamengo e bangu palpitejornais e revistas, rádios e TVs. A epidemiaflamengo e bangu palpitemeningite que castigou o Brasil na primeira metade da décadaflamengo e bangu palpite1970 foi um deles.

Sob o pretextoflamengo e bangu palpitenão causar pânico na população, a censura proibiu toda e qualquer reportagem que julgasse "alarmista" ou "tendenciosa", sobre a moléstia.

Em 1971, quando foram registrados os primeiros casos, o epidemiologista José Cássioflamengo e bangu palpiteMoraes, doutorflamengo e bangu palpiteSaúde Pública pela USP e professor da Faculdadeflamengo e bangu palpiteCiências Médicas da Santa Casa, integrava uma comissãoflamengo e bangu palpitemédicosflamengo e bangu palpitediferentes áreas, como epidemiologistas, infectologistas e sanitaristas.

Juntos, detectaram um surto da doença e procuraram alertar as autoridades. Não conseguiram. Em temposflamengo e bangu palpite'milagre econômico', o governo se recusou a admitir a existênciaflamengo e bangu palpiteuma epidemia.

"Os militares proibiram a divulgaçãoflamengo e bangu palpitedados. Pensavam que conseguiriam deter a epidemia por decreto. Se eu não divulgo, é como se não existisse. Não sabiam que o vírus era analfabeto e não sabia ler Diário Oficial", ironiza o médico.

Dali por diante, médicosflamengo e bangu palpiteinstituições públicas foram proibidosflamengo e bangu palpiteconceder entrevistas à imprensa. O jeito era dar declaraçõesflamengo e bangu palpite"off" para jornalistasflamengo e bangu palpiteconfiança, como Demócrito Moura, do Jornal da Tarde. Mesmo assim, as poucas matérias publicadas, alertando a população dos riscos da meningite, eram desmentidas pelas autoridades.

"Ao governo não interessava a divulgaçãoflamengo e bangu palpitenotícias negativas. Negar a existência da epidemia foi um erro porque facilitouflamengo e bangu palpitepropagação e atrasou a adoçãoflamengo e bangu palpitemedidas necessárias ao seu combate. Numa situação dessas, quanto mais rapidamente essas medidas forem adotadas, menores serão as perdasflamengo e bangu palpitevidas e os danos à economia", afirma o historiador Carlos Fidelis Ponte, mestreflamengo e bangu palpiteSaúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Vacina

Crédito, Fundação Oswaldo Cruz

Legenda da foto, Em 1975, o Brasil deu início à Campanha Nacionalflamengo e bangu palpiteVacinação Contra a Meningite Meningocócica

Medo

Em 1974, quando a verdade veio à tona, pelo menos sete Estados totalizavam 67 mil casos - 40 mil deles sóflamengo e bangu palpiteSão Paulo. A população, quando soube da epidemia, entrouflamengo e bangu palpitepânico. Com medo da propagação da doença, as pessoas evitavam passar na frente do Emílio Ribas. De dentroflamengo e bangu palpitecarros e ônibus, fechavam suas janelas. Na faltaflamengo e bangu palpiteremédios eflamengo e bangu palpitevacinas, recorriam a panaceias milagrosas, como a cânfora.

"Naquela época, não havia rede social, mas já existiam 'fake news'. A boataria atrapalhou bastante", recorda José Cássio.

O governo suspendeu as aulas e mandou os estudantesflamengo e bangu palpitevolta para casa. Quando era registrado algum caso nas dependências das escolas, as autoridades sanitárias passavam formol nas mesas e carteiras. Em algumas cidades, as escolas públicas foram transformadasflamengo e bangu palpitehospitaisflamengo e bangu palpitecampanha para atender os doentes.

Nos hospitais, a epidemia sobrecarregou especialistasflamengo e bangu palpitedoenças infecciosas. Médicosflamengo e bangu palpiteoutras áreas, para evitar a contaminação, usavam capacetes, óculos e botas. Outros, ao contrário, atendiam pacientes sem qualquer tipoflamengo e bangu palpiteproteção. Um terceiro grupo preferiu mudar para o interior, com suas famílias.

Uma das primeiras medidas foi prescrever sulfa. Na esperançaflamengo e bangu palpitedeter o avanço da epidemia, a população passou a tomar o antibiótico por conta própria. "O estoque acabou rapidamente e a bactéria ficou resistente", recorda José Cássio.

Todos os dias, a comissão médica da qual o médico fazia parte procurava atualizar os números e divulgá-los no quadroflamengo e bangu palpiteavisos do Palácio da Saúde, onde funcionava a Secretariaflamengo e bangu palpiteSaúde do Estadoflamengo e bangu palpiteSão Paulo. Os setoristas da área até tinham acesso às informações, mas não podiam divulgá-las.

Os númerosflamengo e bangu palpitecasos eflamengo e bangu palpiteóbitos são contraditórios. O estudo A Doença Meningocócicaflamengo e bangu palpiteSão Paulo no Século XX: Características Epidemiológicas,flamengo e bangu palpiteautoriaflamengo e bangu palpiteJosé Cássioflamengo e bangu palpiteMoraes e Rita Barradas Barata, calcula que, no período epidêmico, que durouflamengo e bangu palpite1971 a 1976, foram registrados 19,9 mil casos da doença e 1,6 mil óbitos. Já a ediçãoflamengo e bangu palpite30flamengo e bangu palpitedezembroflamengo e bangu palpite1974 do jornal O Globo divulgou que, só naquele ano, a epidemia deixou um saldoflamengo e bangu palpite111 mortos no Rio Grande do Sul, 304 no Rioflamengo e bangu palpiteJaneiro e 2,5 milflamengo e bangu palpiteSão Paulo.

Ministério censurado

Em marçoflamengo e bangu palpite1974, o general Ernesto Geisel assumiu a Presidência no lugar do general Médici. Para ministro da Saúde, ele nomeou o médico sanitarista Pauloflamengo e bangu palpiteAlmeida Machado.

Ernesto Geisel

Crédito, Presidencia da Republica

Legenda da foto, Em marçoflamengo e bangu palpite1974, o general Ernesto Geisel assumiu a Presidência no lugar do general Médici; textos da imprensa eram censurados

Naquele ano, a jornalista Eliane Cantanhêde, então na revista Veja, conseguiu uma exclusiva com o ministro,flamengo e bangu palpiteBrasília. Pela primeira vez, uma autoridade admitia publicamente que o Brasil vivia uma epidemia. Mais que isso. Ele alertou sobre os riscos da meningite e ensinou medidasflamengo e bangu palpitehigiene à população.

De volta à redação, Cantanhêde começou a bater a matéria e a enviá-la, via telex, para a sede da Veja,flamengo e bangu palpiteSão Paulo. Dali a pouco, ficou sabendo que a entrevista tinha sido censurada. Motivo? "Não havia vacina para todo mundo", explica Eliane. "As pessoas não sabiam o que era meningite. Muitas delas morriam e, por faltaflamengo e bangu palpiteinformação, não sabiam do quê".

No dia 26flamengo e bangu palpitejulhoflamengo e bangu palpite1974, o jornalista Clóvis Rossi também teve umflamengo e bangu palpiteseus textos censurados. No espaço reservado ao artigo A Epidemia do Silêncio, a direção da Folhaflamengo e bangu palpiteS. Paulo se viu obrigada a publicar um trecho do poema Os Lusíadas,flamengo e bangu palpiteLuísflamengo e bangu palpiteCamões. "Desde que, há dois anos, começaram a aumentarflamengo e bangu palpiteritmo alarmante os casosflamengo e bangu palpitemeningiteflamengo e bangu palpiteSão Paulo, as autoridades cuidaramflamengo e bangu palpiteocultar fatos, negar informações e reduzir os números a proporções incompatíveis com a realidade", alertou Rossi no artigo censurado.

Naquele mesmo ano, o governo brasileiro assinou um acordo com o Instituto Pasteur Mérieux e importouflamengo e bangu palpitetornoflamengo e bangu palpite80 milhõesflamengo e bangu palpitedoses da vacina contra meningite. "O laboratório francês precisou construir uma nova fábrica porque a que existia não comportava uma produção tão grande", relata o historiador Carlos Fidelis. "Foi a partir dessa emergência que se criou, na Fiocruz, a fábricaflamengo e bangu palpitefármacos, a Farmanguinhos, e aflamengo e bangu palpitevacinas, a Bio-Manguinhos".

Vacinação

Em 1975, o Brasil deu início à Campanha Nacionalflamengo e bangu palpiteVacinação Contra a Meningite Meningocócica (Camem). Foi quando, para estimular a idaflamengo e bangu palpitemassa da população aos postosflamengo e bangu palpitesaúde, o governo passou a divulgar os números da doença.

"A letalidade da meningite éflamengo e bangu palpite10%, mas, no auge da epidemia, caiu para 2%", afirma Rita Barradas Barata. "O diagnóstico era feitoflamengo e bangu palpitemaneira precoce e o tratamento com antibiótico reduzia o riscoflamengo e bangu palpitemorte".

Em apenas quatro dias, foram aplicadas 9 milhõesflamengo e bangu palpitedoses na região metropolitanaflamengo e bangu palpiteSão Paulo. Logo, estenderam a campanha para outros municípios e estados. A imunização não era feita com seringa e agulha e, sim, com uma "pistola" injetoraflamengo e bangu palpitevacina. "Conseguimos uma cobertura vacinalflamengo e bangu palpitequase 90% da população", orgulha-se José Cássio.

Alémflamengo e bangu palpitesuperlotar hospitais eflamengo e bangu palpitefechar escolas, a epidemiaflamengo e bangu palpitemeningite teria causado outros "estragos". Um deles é a transferência dos Jogos Pan-Americanosflamengo e bangu palpite1975, da cidadeflamengo e bangu palpiteSão Paulo para a do México. Bem, pelo menos essa é a versão oficial. A extraoficial é contada pelo advogado Alberto Murray Neto. "Em 1975, o númeroflamengo e bangu palpitecasos já tinha reduzido e o que se dizia é que a epidemia estava controlada. Em tese, a meningite não seria um impeditivo para os Jogos", revela Alberto.

Seu avô, Sylvioflamengo e bangu palpiteMagalhães Padilha, era o então presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e vice do Comitê Olímpico Internacional (COI). Durante reuniãoflamengo e bangu palpiteBrasília, foi avisado pelo ministro da Educação, Ney Braga, que não teria recursos do governo federal para os Jogos. Em suma: o Pan deveria ser cancelado, a três mesesflamengo e bangu palpitesua realização.

"Meu avô cancelou os Jogos, sem esconder que a questão crucial era o corteflamengo e bangu palpiteverbas", relata Alberto. Os Jogos Pan-Americanosflamengo e bangu palpite1975 deixaram para a cidade o velódromo, a raia olímpica e o Centroflamengo e bangu palpitePráticas Esportivas da USP (CEPEUSP)".

Línea

flamengo e bangu palpite Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube flamengo e bangu palpite ? Inscreva-se no nosso canal!

Pule YouTube post, 1
Aceita conteúdo do Google YouTube?

Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimosflamengo e bangu palpiteautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticaflamengo e bangu palpiteusoflamengo e bangu palpitecookies e os termosflamengo e bangu palpiteprivacidade do Google YouTube antesflamengo e bangu palpiteconcordar. Para acessar o conteúdo cliqueflamengo e bangu palpite"aceitar e continuar".

Alerta: Conteúdoflamengo e bangu palpiteterceiros pode conter publicidade

Finalflamengo e bangu palpiteYouTube post, 1

Pule YouTube post, 2
Aceita conteúdo do Google YouTube?

Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimosflamengo e bangu palpiteautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticaflamengo e bangu palpiteusoflamengo e bangu palpitecookies e os termosflamengo e bangu palpiteprivacidade do Google YouTube antesflamengo e bangu palpiteconcordar. Para acessar o conteúdo cliqueflamengo e bangu palpite"aceitar e continuar".

Alerta: Conteúdoflamengo e bangu palpiteterceiros pode conter publicidade

Finalflamengo e bangu palpiteYouTube post, 2

Pule YouTube post, 3
Aceita conteúdo do Google YouTube?

Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimosflamengo e bangu palpiteautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticaflamengo e bangu palpiteusoflamengo e bangu palpitecookies e os termosflamengo e bangu palpiteprivacidade do Google YouTube antesflamengo e bangu palpiteconcordar. Para acessar o conteúdo cliqueflamengo e bangu palpite"aceitar e continuar".

Alerta: Conteúdoflamengo e bangu palpiteterceiros pode conter publicidade

Finalflamengo e bangu palpiteYouTube post, 3