Livrobet bola apostaJó: como texto bíblico escrito há 2,5 mil anos combate ideiabet bola apostateologia da prosperidade:bet bola aposta
Rossi lembra que a experiênciabet bola apostaJó serve "como uma referência para mostrar como um tipobet bola apostateologia pode ser relacionada facilmente a esta prática da recompensa".
"Essa teologia é costumeiramente denominadabet bola apostateologia da retribuição. Para a teologia da retribuição, Deus concede a riqueza para alguns e a pobreza para todos os outros", explica ele.
"A partir dessa premissa, os ricos são ricos e continuarão ricos porque eles são justos, enquanto que os pobres são pobres e possivelmente continuarão sendo pobres porque eles não confiam na justiçabet bola apostaDeus, ou, ainda pior, porque eles são pecadores", prossegue o teólogo.
Para Rossi, Jó, "por meiobet bola apostaseus discursos", busca "dar uma resposta às questões fundamentais presentes no texto bíblico considerando este tipobet bola apostateologia".
"A experiênciabet bola apostaJó proclama desde o seu início que não há relação alguma entre pecado e sofrimento e entre virtude e recompensa", sintetiza.
Para o historiador, filósofo e teólogo Gerson Leitebet bola apostaMoraes, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a leiturabet bola apostaJó "é algo complexa" que ressoa sociológica e religiosamente até os dias atuais.
"Temos uma corrente muito presente no movimento pentecostal que a é a teologia da prosperidade, a ideia do 'seja fiel a Deus e seja rico'", comenta ele. "É como se fosse automático: se você for fiel a Deus, ele é obrigado a abençoá-lo", diz o teólogo.
"O Livrobet bola apostaJó vai por uma direção contrária: Jó foi fiel a Deus a vida toda, Deus o abençoava. Mas quando Deus foi desafiado por Satanás, ele tirou tudobet bola apostaJó", resume Moraes.
"Talvez essa seja a grande lição da história: você continuar fiel a Deus mesmo passando por dificuldades. Porque ter fé enquanto tudo vai bem é lindo e maravilhoso. Mostrar fé e fidelidade a Deus, mostrar que ainda continua crendo na justiça e na soberaniabet bola apostaDeus mesmobet bola apostameio a dificuldades, talvez essa seja a questão", acrescenta.
A históriabet bola apostaJó
Segundo o relato, Jó teria sido um homem que vivia na terrabet bola apostaUz, um local nunca identificado ao certo. Ele seria casado com uma mulher árabe — cujo nome não é mencionado. Era um homem rico, donobet bola aposta7 mil ovelhas, 3 mil camelos, 500 juntasbet bola apostabois, 500 jumentas.
Ele teria sido paibet bola apostasete filhos e três filhas. E senhorbet bola apostamuitos servos. No texto bíblico, é dito que "este homem era maior do que todos os do oriente". E um "homem íntegro, reto e temente a Deus", que "se desviava do mal".
Literariamente, o entendimento mais comum ébet bola apostaque o livro seja a história tradicional original com um grande enxerto poético.
"As diferençasbet bola apostavocabulário,bet bola apostaestilo,bet bola apostatradição cultural e até mesmobet bola apostaideias religiosas,bet bola apostateologias distintas, mostram que essa obra, na verdade, foi composta por muito tempo", aponta Moraes.
"Não é uma obra produzidabet bola apostaum único momento histórico. É uma colchabet bola apostaretalhos. E isso já traz evidênciabet bola apostaque o texto foi ressignificado ao longo do tempo, pois não é produtobet bola apostaum único tempo", acrescenta.
"A históriabet bola apostaJó ébet bola apostaum drama universal. Uma história conhecida no Oriente Médio por voltabet bola aposta2 mil anos antesbet bola apostaCristo, muito provavelmente contada nos mais variados lugares, uma história que encampava problemas universais como o problema do mal, do sofrimento, da dor, do relacionamento do homem com Deus, da riqueza e da pobreza", enumera o professor.
Moraes explica que, provavelmente por volta dos séculos 11 ou 10 antesbet bola apostaCristo, essa história foi incorporada pelos hebreus e passou a ser recontada pelos israelitas, aindabet bola apostamaneira oral.
"O cerne da história está nos capítulos 1, 2 e 42 do que a gente tem hoje como Livrobet bola apostaJó", diz.
Ou seja: essa história mais fundamental, digamos assim, é o que está nos dois primeiros e no último capítulo do relato bíblico depois canonizado. "Esta versão bastante resumida é o núcleo do que a gente tem hoje", acrescenta.
Foram maisbet bola aposta500 anos, dalibet bola apostadiante, para que o texto se tornasse escrito da maneira como o conhecemos.
"O que pode ser considerado histórico é, sim, o períodobet bola apostaque o livro provavelmente foi escrito. E, nesse sentido, estamos ao redor do pós-exílio, isto é, 450 a.C., período no qual o poderosíssimo Império Persa dominava o mundo conhecido da época e, inclusive, a região onde se encontrava o povo da Bíblia", contextualiza Rossi.
Foi um períodobet bola apostaintensa dificuldade para o povo hebreu, que se viu obrigado a buscar o exílio diante da dominação babilônica.
"Trata-sebet bola apostaum períodobet bola apostamaior miserabilização do povobet bola apostaDeus", salienta o especialista. "Assim, o livrobet bola apostaJó é um produto que reflete justamente essa épocabet bola apostacrise econômica, política, social e religiosa que alcança os camponeses da Yehud, nome da província do império persa."
Moraes lembra que foi um períodobet bola apostaque "muitos judeus tinham perdido praticamente tudo".
"A perspectiva deles fazia com que se levantassem questões, pois muitos estavam perdendobet bola apostacrençabet bola apostaDeus, a crença no Deus que faz uma justiça plena e que executa plenamentebet bola apostaverdade ebet bola apostajustiça", afirma.
A históriabet bola apostaJó, nesse momento, vem como uma luva. "Eles se servem dessa narrativa como uma espéciebet bola apostareflexão sapiencial sobre a própria existência", explica Moraes. "Muito provavelmente é nesse momento que algum poeta exilado amplia o texto, inserindo na composição o que hoje são os capítulosbet bola aposta3 a 41", conclui.
A forma antiga então da história,bet bola apostaprosa, se convertebet bola apostaum prólogo e um epílogo e ganha uma sériebet bola apostadiálogos e monólogosbet bola apostaverso. Tornou-se um livro épico, uma obra-prima da literatura ancestral.
Havia um propósito. "Isso servia para que aquelas pessoas que estavam sofrendo, tinham perdido absolutamente tudo, tinham se empobrecido radicalmente, estavam enfermas física e espiritualmente, que elas pudessem refletir e ter esperançabet bola apostaque seriam novamente restituídas, teriam uma restituição da partebet bola apostaDeus, assim como Jó teve", comenta Moraes.
Na narrativa, Jó, o homem abençoado com riqueza, prole e servos, torna-se epicentrobet bola apostaum desafio feito no céu por Satanás a Deus. Deus começa perguntando ao seu oponente a opinião deste sobre a piedadebet bola apostaJó. Satã rebate que Jó só seria um bom homem porque Deus o havia abençoado com tudo do bom e do melhor — bastava que lhe retirasse tudo e Jó seria um homem que daria as costas a Deus, apostava o demônio.
Eles fazem então um acordo e Deus permite que Satanás se encarreguebet bola apostadesgraçar a vida do homem, tirando-lhe a riqueza a matando seus filhos e seus escravos. Jó também é privado da boa saúde e perde o apoio até mesmo da esposa.
Jó permanece firme na fébet bola apostaDeus, sem blasfemar nenhuma vez. Diantebet bola apostatudo isso, Deus decidiu recompensá-lo restituindo-lhe as possesbet bola apostadobro, dando-lhe outros sete filhos e três filhas e fazendo com que vivesse, com saúde, mais 140 anos, vendobet bola apostafamília chegar até a quarta geração. "Então morreu Jó, velho e fartobet bola apostadias", finaliza o texto.
Paciênciabet bola apostaJó
"Jó se dirige a Deus e descreve a condição humana por meiobet bola apostaseu exemplo. Por causa disso, não deveríamos ver Jó como um indivíduo ou uma pessoa isolada, não deveríamos olhá-lo como uma exceção", argumenta Rossi. "Ao contrário, ele é o porta-vozbet bola apostauma história ebet bola apostauma sociedade que estão repletasbet bola apostacontradições. Seu clamor não é um gritobet bola apostauma só pessoa, mas o primeiro clamorbet bola apostauma série, incluindo nossos próprios clamores, que, ao longo da história, têm se juntado como um modobet bola apostaexpressar que a dor, mesmo que intensa, pode ser vencida com a solidariedade."
"O clamor sofredor e doloridobet bola apostaJó é uma clara advertência para que voltemos nossos olhos para a experiência dele se quisermos verdadeiramente encontrar a Deus, como também um discurso teológico que seja relevante para os nossos dias", prossegue Rossi.
"A história revelada a partir da experiênciabet bola apostaJó é presumivelmente endereçada às pessoas proprietáriasbet bola apostaterras ebet bola apostarebanhos, mas que haviam perdido suas posses. A perda das posses foi ocasionada tanto por razões internas quanto externas. É importante observar que as razões internas e externas são instrumentos eficazesbet bola apostadesumanização. Podemos até mesmo afirmar que elas foram os instrumentos mais penetrantes na pele do povo. É diante desse cenário alienante que nasce a teologia oficial dos amigosbet bola apostaJó. Ela nasce do desejobet bola apostaensinar os camponeses, por meio da catequese, a ter paciência, a paciênciabet bola apostaJó, para aceitar tudo e, principalmente, permanecerem calados."
O teólogo lembra que o cenário apresentado na narrativa "é profundamente acinzentado".
"As pessoas pararambet bola apostaplantar somente parabet bola apostasubsistência e passaram a plantar para o comércio internacional. Os camponeses judeus estavam, portanto, diantebet bola apostauma dupla tributação: um tributo cobrado pelo Império Persa e um segundo tributo cobrado pelo Templobet bola apostaJerusalém", contextualiza.
"Jó falabet bola apostanome daqueles que são vítimas da sociedade, ou seja, daqueles que são sofredores, e, portanto, não são vagabundos e preguiçosos como muitos pensam precipitadamente", explica.
"Ao contrário, são pobres porque trabalham, são pessoas que trabalham e se esforçam para garantir abet bola apostasubsistência. Trabalhambet bola apostameio à abundânciabet bola apostaseus patrões, mas, mesmo assim, sofrem porque não têm o que comer, o que vestir e nem onde morar. Na épocabet bola apostaque o livrobet bola apostaJó foi escrito, a pobreza e a miséria eram frutobet bola apostadupla tributação interna e externa."
Rossi enfatiza que muitos eram "as vítimas da injustiça". "Há, no livrobet bola apostaJó, comobet bola apostatodo o Antigo Testamento, uma consciência social que muitos leitores modernos não têm, ou seja, Deus é o salvador dos pobres, porque os ricos e poderosos não necessitambet bola apostasalvação, pois já possuem tudo o que precisam para viver", pontua.
"Deus deseja deixar muito claro que,bet bola apostaum sentido especial, ele é o protetor destas pessoas fracas", prossegue o teólogo.
"Na verdade, enquanto são expulsos das ruas, os pobres, simultaneamente, também são banidos da comunidade reconhecidamente humana. E, a partir do momentobet bola apostaque são enviados a viver na periferia da vida, passam a ser retratados como desleixados, pecaminosos e destituídosbet bola apostapadrões morais. E, dessa forma, legitima-se a exclusão e a necessidadebet bola apostase manter afastados todos aqueles que,bet bola apostaalguma maneira, poderiam contaminar a pureza do ambiente", conclui.
Lições
Para o historiador, filósofo e teólogo Gerson Leitebet bola apostaMoraes, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, "Jó é instigante" justamente porque "há múltiplas lições" que podem ser depreendidas da história.
"A questão da dor, do sofrimento, do por quê as pessoas sofrem ou acabam sendo levadas às vezes a uma situaçãobet bola apostaexaustão", comenta. "O desafiobet bola apostaSatanás a Deus, metafísico, transcendental, faz com que Jó tenhabet bola apostavida completamente alterada."
Essa aposta entre as entidades acaba funcionando como uma resposta que rebate a ideia "dessa teologia retributiva". "Ou seja, do 'seja bom porque automaticamente você será cercadobet bola apostabondade'", ilustra Moraes.
"Jó mostra que é possível manter a fébet bola apostaDeus, a crençabet bola apostaDeus e nabet bola apostajustiça mesmobet bola apostameio às dificuldades", acrescenta ele.
Uma outra camadabet bola apostainterpretação trazida pelo teólogo diz respeito ao fatobet bola apostaque, a partir do relatobet bola apostaJó, "os dramas humanos às vezes são desenhados pelos deuses sem que haja nenhuma possibilidadebet bola apostaalteração disso por parte dos homens, sendo eles bons ou maus, porque supostamente as coisas estão sendo decididas num outro plano".
"Isso é complexo demais", acredita. "Não é uma lição simples, é uma lição que faz com que as pessoas fiquem remoendo, afinal quer dizer que a riqueza e a pobreza não dependem do esforço humano: os deuses podem mudar suas vontades e suas intenções conformem seus interesses específicos", diz Moraes.
A narrativa mostra que "não há a possibilidadebet bola apostatermos domínio pleno da existência". "E isso nos leva a uma reflexãobet bola apostaque tanto a bondade quanto a maldade não dependem necessariamentebet bola apostanossos atos, das coisas que fazemos, porque às vezes as decisões estão nas mãos das divindades", acrescenta. "É como se fôssemos impotentes diantebet bola apostaforças que nós desconhecemos."
Moraes vêbet bola apostaJó "o grande símbolobet bola apostater fé". "Porque ter fé quando tudo vai bem é muito fácil. Ter fé quando as coisas estão completamente forabet bola apostacontrole, essa talvez seja a fé verdadeira", analisa.
Para ele, a grande lição do livro é fazer pensar "na nossa relação com Deus", sejabet bola apostatempos fáceis, sejabet bola apostatempos difíceis.
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