Quem foi Maomé, a figura-chave do islã:playbetsports
Kus diz que os 1,8 bilhãoplaybetsportsadeptos do islã são "a maior evidênciaplaybetsportsque ele existiu e liderou um movimento religioso na primeira metade do século 7 da era comum".
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Fim do Matérias recomendadas
Há documentos antigos, escritos pouco tempo após a morte dele, chamadosplaybetsports"sira" e que são considerados, por muçulmanos e também por alguns estudiosos do islã, como as biografiasplaybetsportsMaomé. Segundo a antropóloga Francirosy Campos Barbosa, professora na UniversidadeplaybetsportsSão Paulo (USP-Ribeirão Preto) e autora do livro 'Hajja, hajja: a experiênciaplaybetsportsperegrinar', "muito do que sabemos sobre a vida" dele é devido a esses registros.
Ela ressalta que pesquisadores não muçulmanos também costumam se apoiar nesses escritos, como é o caso da historiadora da religião Karen Armstrong, ex-freira, graduada na UniversidadeplaybetsportsOxford, que lecionou na UniversidadeplaybetsportsLondres. Entre seus livros, estão títulos como 'Muhammad: a Biography of the Prophet' e 'Muhammad: Prophet For Our Time'.
"Muhammad tornou-se profeta aos 40 anos. E o que se sabia é que ele era um membro do Hachemita, nome que vem da linhagemplaybetsportsseu pai Hashim, e dos Coraichitas, grupo influenteplaybetsportsMeca", relata Barbosa. "Sobre a infância e adolescência, sabemos que ele perdeu seus pais ainda criança, e foi criado por seu tio, Abu Talib. Tornou-se mercador como muitos homensplaybetsportssua época."
Aos 25 anos, ele se casou com Khadija, vivendo com ela até se tornar viúvo, com 50 anos. Khadija era uma comerciante 15 anos mais velha do que Maomé. Tiveram vários filhos. "Mas vários deles também morreram. Uma das suas filhas mais conhecidas é Fátima", comenta Barbosa.
"Na época, Meca já era uma cidade importante, um caminhoplaybetsportstrocas comerciais, por onde passavam grandes caravanasplaybetsportsmercadores", acrescenta a antropóloga. O local já era pontoplaybetsportsperegrinação para quem visitava a Caaba, local considerado sagrado por tribos beduínas da região mesmo antes do islã — e depois ressignificado com o advento da nova religião.
"Essa cidade-estado era controlada pelos Coraichitas. No entanto, muitos moradores da península arábica eram adoradoresplaybetsportsdeuses e faziam seus cultos na Caabra", contextualiza a pesquisadora. "Muhammad era conhecido pelaplaybetsportsbondade desde criança, seu tratamento justo com as pessoas,playbetsportshonestidade que sempre se destacava. Ele tinha o hábitoplaybetsportsse afastar para o Monte Hira para rezar e estar mais pertoplaybetsportsDeus."
Foi numa dessas idas à montanha que Maomé viveu a epifania que daria origem ao seu papel religioso. Ele teria sido surpreendido pelo anjo Gabriel. "Que disse a ele: Iqra, ou seja, leia!", pontua Barbosa.
"Lê,playbetsportsnome do teu Senhor Que criou; Criou o homemplaybetsportsalgo que se agarra. Lê, que o teu Senhor é Generosíssimo, Que ensinou através do cálamo, Ensinou ao homem o que este não sabia", diz o trecho do Alcorão.
"A partir dessa experiência, o profeta passa a conduzir aplaybetsportsvida espiritualmente. Se por um lado trouxe muitos seguidores, também trouxe muitos que os perseguiram, passando a ser considerado um subversivo religioso", comenta a pesquisadora.
"Ele pregava a existênciaplaybetsportsum só Deus e isso provocava imensamente a população da época, que adorava vários. Durante 23 anos o Alcorão foi revelado ao profeta, uma parteplaybetsportsMeca e a outra parteplaybetsportsMedina, para onde teve que imigrar devido a perseguições que sofria do povoplaybetsportsMeca. Aos poucos Muhammad foi se tornandoplaybetsportslíder carismático a um líder político. A própria ConstituiçãoplaybetsportsMedina é um exemplo daplaybetsportsforma equilibradaplaybetsportsdialogar com muçulmanos e não muçulmanos."
Islã e islamismo
Para os muçulmanos, é importante delimitar a diferença dos termos islã e islamismo. "É muito comum e é um vícioplaybetsportslinguagem se referir ao islã como islamismo, porém é um equívoco, pois islamismo é, academicamente, a nomenclatura que se usa para referenciar o movimento político que se sustenta no islã", explica Kus. "O nome da própria religião é islam, ou islã - esta como foi feita a adaptação no português brasileiro."
"O termo mais correto é islam, que significa paz. Este é o nome da religião", complementa Barbosa. "É comum usarmos islamismo quando nos referimos a ações político-religiosasplaybetsportsalguns grupos muçulmanos."
Outra questão recorrente quando se fala sobre a religião muçulmana é a possibilidade da representação, por meioplaybetsportsimagens, do profeta Maomé. Costuma-se dizer que qualquer retrato que aluda a ele seja algo terminantemente proibido. Mas, segundo os pesquisadores, isso não é tão radical como possa parecer.
"A imagem é permitida desde que não seja um objetoplaybetsportsadoração", explica Kus. "No islã, o usoplaybetsportsfiguras humanasplaybetsportsdesenhos e imagens foi proibido por muito tempo porque as pessoas poderiam adotar aquilo como uma divindade. Portanto, [no contexto religioso,] a representação imagéticaplaybetsportsMuhammad também é proibida por esse motivo."
A antropóloga Barbosa ressalta que "a imagemplaybetsportstodo profeta" tem a reprodução proibida dentro do islã. "Não apenasplaybetsportsMuhammad. Há maisplaybetsports144 mil profetas segundo o islam e nenhum deles pode terplaybetsportsimagem reproduzida. Inclusive Jesus, que é um dos profetas da religião."
"Como o islã é uma religião monoteísta,playbetsportscrençaplaybetsportsDeus único, a preocupação éplaybetsportsque imagensplaybetsportspessoas importantes para o islã possam virar cultos, o que passem a ser adorados. Isso faz com que o entendimento sejaplaybetsportsproibir imagensplaybetsportsprofetas e mensageiros", contextualiza ela.
O cientista da religião Kus ressalta que a determinação foi dada pelo próprio profeta, "para que as pessoas posteriormente não adotassem a imagem dele como uma divindade e, assim, caíssem no único pecado imperdoável no islã: oplaybetsportsatribuir parceiros a Deus".
"Por outro lado, depoisplaybetsportsum certo avanço científico e intelectual, na jurisprudência islâmica permitiu-se a pinturaplaybetsportsfiguras humanas", comenta ele. Como exemplo, ele cita a pintura do sultão Mehmed 2º (1432-1481), do Império Otomano, realizada no século 15.
Charlie Hebdo
A representaçãoplaybetsportsMaomé ou Muhammad por meioplaybetsportsimagens é uma situação muito controversa mesmo dentro do islã. Em 30playbetsportssetembroplaybetsports2005, o jornal dinamarquês Jyllands-Posten publicou 12 caricaturas do profeta muçulmanos e, com isso, desencadeou uma sérieplaybetsportsprotestos.
A narrativa da época eraplaybetsportsque o órgãoplaybetsportsimprensa havia violadoplaybetsportsforma proposital o preceito islâmicoplaybetsportsnão representação iconográfica do líder religioso. Seguidores do islã no país passaram a exigir um pedido formalplaybetsportsdesculpas e pelo menos dois dos cartunistas precisaramplaybetsportsresguardo porque passaram a enfrentar ameaçasplaybetsportsmorte. Houve protestosplaybetsportsmuçulmanosplaybetsportsCopenhague e um pedidoplaybetsportsdiplomatas muçulmanos para que o chefeplaybetsportsestado dinamarquês condenasse publicamente o jornal.
Em janeiro do ano seguinte, o Jyllands-Posten publicou um pedidoplaybetsportsdesculpas. Contudo, diversas outras publicações europeias, baseadasplaybetsportsprincípios da liberdadeplaybetsportsimprensa, decidiram republicar as caricaturas. Houve incidentesplaybetsportsembaixadas. Em 4playbetsportsfevereiro, manifestantes muçulamos na Síria incendiaram as sedes locais da Noruega e da Dinamarca. No dia seguinte, seguidores do islã atearam fogo no consulado dinamarquêsplaybetsportsBeirute, no Líbano.
Em 7playbetsportsjaneiroplaybetsports2015, o alvo foi o jornal satírico francês Charlie Hebdo. Um atentado ocorrido na redação da publicação,playbetsportsParis, acabou deixando 12 mortos e cinco feridos. O jornal vinha, reiteradamente e há anos, publicando ilustraçõesplaybetsportsMaomé eplaybetsportstemáticas islâmicas, sempre com fundo humorístico.
Segundo a antropóloga Francirosy Campos Barbosa, "a criaçãoplaybetsportsimagens é uma questão controversa entre os muçulmanos devido às narrações proféticas que proíbem fortemente imagens associadas à idolatria e que rivalizam com a criaçãoplaybetsportsAlá".
"No entanto, o profeta fez uma concessãoplaybetsportsrelação a imagens e os estudiosos modernos permitiram imagens se elas servissem a um propósito útil", explica. "Todos os estudiosos muçulmanos permitem fotos e imagensplaybetsportscoisas que não têm alma, como árvores, pedras, paisagens e assim por diante. Essa concessão foi dada por Ibn Abbas quando lhe foi pedido um julgamento sobre imagens."
ParenteplaybetsportsMuhammad, Ibn Abbas é considerado, pelos muçulmanos, um dos primeiros especialistasplaybetsportsAlcorão.
A proibição das imagens, conforme explica Barbosa, é baseada nos hádices do profeta. São diversos os que versam sobre isso. "Segundo algumas opiniões, é totalmente proibido fazer imagensplaybetsportscoisas com uma alma. Essa é a opinião mais estrita e a mais segura para os muçulmanos que desejam evitar imagens ilegais", contextualiza a especialista. "No entanto, existem fortes evidências que sugerem que não são as imagensplaybetsportssi mesmas que são ilegais, mas é a intenção para a qual elas são usadas."
"Desde o início, o profeta Muhammad havia proibido o desenho da imagem dele, pelo medoplaybetsportsque as pessoas pudessem adotá-la como íconeplaybetsportsadoração,playbetsportsidolatria", diz Kus.
Maomé ou Muhammad?
O líder religioso acabou ficando conhecido,playbetsportsportuguês, como Maomé. Para muçulmanos e estudiosos do islã, contudo, a transliteração não é bem-vinda — pode soar até como ofensiva. Não há um consenso, contudo.
A antropóloga Barbosa cita um estudo realizado pela Universidade Jean Moulin Lyon 3, da França, para argumentar que houve uma "deformação" do nome do profeta do islã que remonta à Idade Média.
Nas primeiras traduções latinas do Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos, Muhammad foi transcrito como Mahumet ou Mahomet. "Alguns muçulmanos na França acreditam que 'Mahomet' tenha sido forjado a partirplaybetsportsum raiz xenófoba denegridora, ou que tenha vindoplaybetsports'ma houmid', expressão que significaria 'o indignoplaybetsportslouvor'", aponta Barbosa.
Ela lembra que esse nome não foi o único a ser distorcido durante a transição do árabe para o látim. "Nomesplaybetsportsgrandes estudiosos muçulmanos sofreram o mesmo destino, sem que isso tenha dado origem à menor disputa. Como o filósofo Ibn Sina [estudioso que viveu entre 980 e 1037], que se tornou Avicena", comenta ela. "A corruptela do nome foi seguidaplaybetsportsPortugal. Muhammad para Mahumet e, daí, Maomé."
"Eu acredito que o uso do nome Maomé é inapropriado e errado, pois por mais que os prenomes sejam traduzíveis, os nomesplaybetsportspessoas que marcam a história geralmente são preservados emplaybetsportsforma original", argumenta Kus.
É uma verdade parcial. Kus usa como exemplo o fatoplaybetsportsque o atual monarca do Reino Unido seja tratado, no Brasil, como Rei Charles 3º, e não Rei Carlos 3º. Entretanto, muitos países "traduzem" o nome do britânico, chamadoplaybetsportsCarlosplaybetsportsPortugal, Carlo na Itália e Karel na Eslovênia, por exemplo.
E mesmo no Brasil há uma tradiçãoplaybetsportstransliterações, considerando outras figuras históricas. Nas escolas, por exemplo, é comum que o príncipe neerlandês Willem Van Oranje (1544-1584) seja referido como GuilhermeplaybetsportsOrange. E, navegando por searas religiosas, Moisés é plenamente aceito como a versãoplaybetsportsportuguêsplaybetsportsMoshé, assim como Jesus é a maneira como se nomeia Yeshu.
Outro ponto levantado por Kus, contudo, merece reflexão: para muitos seguidores do islã, Maomé pode ter sido uma tradução mal-feita. "Acredito que devamos usar Muhammad ao invésplaybetsportsMaomé porque, com se pode ver, um nome não tem nada a ver com outro", argumenta o pesquisador. "Pelo que tenho visto, português e francês são os únicos idiomas que fizeram essa adaptação nada a ver com o nome original."
Segundo Kus, uma possível explicação seria por contaplaybetsports"nomesplaybetsportsescravizados africanos que eram muçulmanos". "Um deles tem uma autobiografia, e se chamava Mahomah Baquaqua. Porém, as adaptações desses nomes não eram para substituir o original Muhammad. Era para derivar novos nomes para que as pessoas não ofendessem o nome do profeta", explica ele.
Nesse sentido, usar Maomé para se referir ao líder religioso seria um contrassenso, à medida que a transliteração torta teriaplaybetsportsorigem justamente quando a ideia fosse não se referir a ele.
"Penso que isso pode ter sido uma transliteração do nome para facilitar a pronúncia", comenta a antropóloga Barbosa. "No entanto, nenhum muçulmano no Brasil vai se referir ao profeta com esse nome. O incorreto para os muçulmanos é dizer que se segue a Maomé, ou se referir a eles como maometanos."
É uma polêmica que já foi discutida na imprensa. Entre 2001 e 2006, por exemplo, naquele contexto pós-atentados do 11playbetsportsSetembro, a FolhaplaybetsportsS. Paulo adotou a grafia MuhammadplaybetsportsvezplaybetsportsMaomé. Conforme explicou o jornalista Marcelo Beraba, então ombudsman do jornal,playbetsportscoluna publicadaplaybetsports19playbetsportsmarçoplaybetsports2006, isso ocorreu porque havia o entendimentoplaybetsports"que Maomé era uma palavra ofensiva para os muçulmanos". E isso passou a constar inclusive do ManualplaybetsportsRedação utilizado pela publicação.
Em seu texto, no entanto, Beraba justificou a volta do usoplaybetsportsMaomé argumentando que "uma transliteração malfeita não significa que o termo transliterado seja uma ofensa". Em linhas gerais, contudo, a volta do termo outrora consolidado se apoiou, depoisplaybetsportstantas reclamaçõesplaybetsportsleitores, na tradição. "O questionamento principal [dos leitores] tinha como base a tradição. Por que deveríamos adotar uma grafia novas se tínhamos uma consagrada, Maomé?", argumentou o jornalista.
Diálogo interreligioso
Interessante notar que o islã, nascido após o judaísmo e o cristianismo, conservaplaybetsportssuas bases um diálogo com essas religiões predecessoras. "Isso vem desde os primórdios", diz Kus. "Segundo a tradição islâmica, quando o profeta Muhammad recebeu as primeiras revelações corânicas aos seus 40 anosplaybetsportsidade e ficou espantado pela realidade sobrenatural que lhe aconteceu, Khadija,playbetsportsesposa, o levou até um primo próximo que era um estudioso cristão das escrituras sagradas."
Esse primo, Waraqa ben Nawfal, teria sido quem lhe deu amparo sobre o ocorrido e o orientado sobre os próximos passos. "Além disso, os primeiros muçulmanos foram bem recebido por reis cristãos como Najashi As-ham, da Abissínia, e Heracleio, do Império Bizantino", pontua Kus. "Já a relação com os judeus é muito mais estrita, conforme vemos na ConstituiçãoplaybetsportsMedina, que é meu objetoplaybetsportsestudo no meu livroplaybetsportsmesmo nome."
Ele ressalta que a maioria das figuras bíblicas, como Adão, Noé, Moisés, Jesus e Maria, faziam parte "de ensinamentos" do Alcorão, sempre "como exemplosplaybetsportsfé e profetasplaybetsportsDeus". "Particularmente, Noé, Abraão, Moisés e Jesus são citados como os maiores profetas e mensageiros enviados na históriaplaybetsportstoda a humanidade", comenta Kus.
"Jesus é conhecido e respeitado pelo islam como a palavraplaybetsportsDeus encarnada e concebida por Virgem Mariaplaybetsportsforma milagrosa. Maria é a única mulher citada por nome como um exemploplaybetsportsfé e devoção e possui um capítulo do Alcorão propriamente dedicado a ela."
Barbosa ressalta que Jesus e Moisés são mais vezes citados no Alcorão do que o próprio Muhammad.
-Este texto foi originalmente publicadoplaybetsportshttp://vesser.net/geral-63635739