Doençaroleta do buzeiraAlzheimer: os pacientes que pedem eutanásia para morrer antes que a doença os domine:roleta do buzeira
Documentário retratou a eutanásiaroleta do buzeiraAnnie Zwijnenberg
A históriaroleta do buzeiraAnnie foi retratada pelo filme Before It Too Late ("Antes Que Seja Tarde Demais"roleta do buzeirainglês), do diretor holandês Gerald van Bronkhorst. O documentário mostra a jornadaroleta do buzeiraAnnie pelos meandros da convivência com a doençaroleta do buzeiraAlzheimer, culminando emroleta do buzeiramorte por eutanásia aos 81 anos.
O filme mostra uma mulher que tinha orgulhoroleta do buzeirater criado três filhos sozinha, gostavaroleta do buzeiraescalar montanhas e era uma pessoa tinha muita fé religiosa - abalada pela demência.
"Costumava escalar, esquiar ou fazer qualquer outra coisa", diz Annie no filme. "Na minha cidade, diziam: 'Annie está sempreroleta do buzeiramovimento'. Colocava minha mochila nas costas e saía para fazer uma caminhada. Andava o dia todo. Agora, não posso fazer nada. Fico confusa o tempo todo."
Eutanásia e a lei
- A eutanásia é o atoroleta do buzeiraacabar com a vidaroleta do buzeirauma pessoa para aliviar seu sofrimento e difere do suicídio assistido (também conhecido como morte assistida), que ocorre quando a própria pessoa tira a vida - com ajudaroleta do buzeiraum profissional.
- Ambos são ilegais no Brasil.
- A eutanásia é legalizada na Bélgica, no Canadá, na Colômbia,roleta do buzeiraLuxemburgo e na Holanda, enquanto o suicídio assistido é permitido na Suíça e alguns Estados americanos.
- Na Inglaterra e no Paísroleta do buzeiraGales, uma pessoa pode decidir antecipadamente se deseja recusar um tipo específicoroleta do buzeiratratamento no futuro, para o casoroleta do buzeiraperder a capacidaderoleta do buzeiratomar decisões por conta própria.
Annie queria que as pessoas entendessemroleta do buzeiradecisão, então, ela permitiu que fosse filmado o diaroleta do buzeirasua morte.
Ela é mostrada sentada no sofá, aparentemente bem e tranquila. Seus três filhos estão com ela e fazem brincadeiras com os dois médicos que chegam para realizar a eutanásia, após a família ter feito uma refeição especial na noite anterior.
"Fomos a um restauranteroleta do buzeiratrês/quatro estrelas", conta Frank.
"Perguntei a ela: 'O que você quer fazer antesroleta do buzeiramorrer?'. Fizemos uma bela refeição, rimos e choramos, não havia amanhã naquela noite especial. Mas, então, fomos para casa, e foi muito difícil dormir."
Anneke descreve a carta queroleta do buzeiramãe escreveu naquela noite. "Ela pediu a Deus para cuidarroleta do buzeiraseus filhos. Ela sabia que, se houvesse um Deus, seria um gentil e benevolente."
Frank acrescenta: "Ela disse: 'É uma pena que eu não possa enviar um email para meus filhos para contar como é'".
O filme mostra o médico se certificandoroleta do buzeiraque Annie está plenamente conscienteroleta do buzeiraque está escolhendo a eutanásia. Ele pergunta várias vezes se ela sabe o que está fazendo.
"Você tem certeza que quer beber a mistura que vou te dar?", diz o médico. "Sabe que isso vai te colocar para dormir e você não vai acordar?"
Annie diz: "Pensei nisso várias vezes na noite passada. É o que quero. É o melhor para mim".
Ela não hesita quando recebe um coporoleta do buzeiralíquido claro, contendo uma dose letalroleta do buzeirasedativo. Bebe e reclama apenas do gosto amargo.
Sua família é mostrada abraçando Annie enquanto ela adormece pela última vez. "Ela bebeu", lembra-se Frank mais tarde. "Mas demorou um pouco."
"O sono foi ficando cada vez mais profundo", acrescenta Anneke. "Foi muito tranquilo."
Mas algumas horas se passaram, e Annie ainda dormia. Isso levou a uma cena surreal, descrita pelo cineasta Gerald van Bronkhorst.
"Ela dormia no sofá e começou a roncar. E a família começou a dizer: 'Estamos com fome, vamos comer um sanduíche?'. Então, ficamos todos mastigandoroleta do buzeiravolta dessa senhora, que estava dormindo e morrendo. Mas isso mostra como a normalidade toma conta, mesmoroleta do buzeirauma situação assim."
Preocupadosroleta do buzeiraque Annie pudesseroleta do buzeirafato acordar, os médicos finalmente lhe deram uma injeção letal. "Após 20 segundos, ela se foi", diz Frank.
Ele e Anneke afirmam que sempre apoiaram a decisãoroleta do buzeirasua mãe, apesarroleta do buzeirasuas reservas sobre a questão. "É difícil verroleta do buzeiramãe morrer, mas não foi uma decisão nossa - foi dela", diz Anneke.
"Não há decisão certa ou errada. É difícil optar por morrer, mas é tão difícil, acho, quanto decidir a continuar a viver. Ela odiava quando alguém dizia: 'Você é tão corajosa por tomar essa decisão'. Ela dizia que escolher viver com demência é tão corajoso quanto (optar por morrer)."
Frank acrescenta: "Um amigo disse: 'Você temroleta do buzeiraimpedirroleta do buzeiramãe - como filho, você temroleta do buzeiraimpedi-la.' Eu disse: 'Não, eu não vou fazer isso, eu a apoio'. A mãe dele me disse: 'Você está matandoroleta do buzeiramãe se continuar com isso...'. É difícil ouvir algo assim."
Casosroleta do buzeiraeutanásia vêm aumentando desde que a lei mudou na Holanda
Desavenças como essas são comuns entre familiares e amigos e refletem o debate mais amplo que começou na Holanda na décadaroleta do buzeira1970, quando médicos passaram a realizar abertamente a chamada "morte por misericórdia". O debate continuou no período que antecedeu a legalização da eutanásia,roleta do buzeira2002, e nunca cessou.
O númeroroleta do buzeirapessoas que optam pela eutanásia tem crescido constantemente, particularmente nos últimos dez anos. Em 2002, 1.882 casos foram notificados às autoridades holandesas; 15 anos depois, foram 6.585.
A lei da eutanásia determina que os pacientes devem convencer o médicoroleta do buzeiraqueroleta do buzeiradecisão é totalmente voluntária eroleta do buzeiraqueroleta do buzeiravida se tornou ou se tornará um "sofrimento insuportável sem perspectivaroleta do buzeiramelhora" e que "não há alternativa razoável". Uma avaliação independente deve então ser feita por outro médico.
O primeiro caso registradoroleta do buzeiraum paciente com demência recebendo eutanásia surgiuroleta do buzeira2004, dois anos após a lei mudar.
Mas os casosroleta do buzeiraeutanásia envolvendo pacientes com demência quase sempre ocorrem nos estágios iniciais da doença, porque é difícil convencer um médicoroleta do buzeiraque o paciente terá a capacidaderoleta do buzeiraconfirmarroleta do buzeiradecisão nos estágios finais.
Em 2017, 166 pacientes com demênciaroleta do buzeiraestágio inicial morreram por eutanásia e apenas 3 com demênciaroleta do buzeiraestágio avançado.
Apesar disso, a especialistaroleta do buzeiraética médica Berna van Baarsen acredita que está ocorrendo uma mudança e que, no futuro, haverá mais casosroleta do buzeiraque a eutanásia é aplicadaroleta do buzeiraestágios mais avançadosroleta do buzeirademência.
Ela fez parteroleta do buzeiraum comitê que revisa casosroleta do buzeiraeutanásiaroleta do buzeirauma região da Holanda, mas pediu demissão, dizendo que casos problemáticos estavam sendo aprovados com muita facilidade.
"Vi esta mudança acontecer, mas o problema é que é algo muito difícilroleta do buzeiradetectar. Mas está acontecendo."
Berna van Baarsen acha que existe uma confiança excessivaroleta do buzeiradeclarações escritas ou testamentosroleta do buzeiravida que pacientes que podem querer a eutanásia muitas vezes dão ao seu médico nos estágios iniciaisroleta do buzeirauma doença.
"A pessoa pode relatar quais são seus medos. Pelo que não quer passar. Mas é só um desejo. E, como sabemos, as pessoas mudamroleta do buzeiraideia", afirma.
"No começo, dizem: 'Não quero viverroleta do buzeiraum asilo'. Ou 'não quero viverroleta do buzeirauma cadeiraroleta do buzeirarodas', e essas coisas então acontecem. As pessoas sempre encontram maneirasroleta do buzeiralidar com a situação. É algo bonito do ser humano."
Ela argumenta que, antesroleta do buzeiraajudar alguém a morrer, os médicos devem sempre garantir que este ainda é o desejo do paciente. E,roleta do buzeiracasosroleta do buzeirademênciaroleta do buzeiraestágio avançado, isto nem sempre é possível.
"Se você não pode falar com um paciente, você não sabe o que ele quer", afirma.
Casoroleta do buzeiraeutanásiaroleta do buzeirapaciente com demência foi parar na Justiça
Se Berna van Baarsen estiver certa e o pêndulo estiver se voltando para a eutanásiaroleta do buzeirapacientes com demênciaroleta do buzeiraestágio avançado, o indiciamentoroleta do buzeiraum médico envolvidoroleta do buzeiraum destes casos pode fazer com que a tendência vá na direção oposta.
O caso envolveu uma mulherroleta do buzeira74 anos que assinou uma declaração por escrito dizendo que queria eutanásia, mas apenas quando afirmasse que estava pronta. E ela também havia ditoroleta do buzeiraoutras ocasiões que não queria morrer por eutanásia.
O médico, que trabalhavaroleta do buzeiraum asilo, colocou um sedativo no café da paciente sem avisar. Ela acordou enquanto o médico tentava lhe aplicar uma injeção letal e teveroleta do buzeiraser contida por parentes enquanto o procedimento era realizado, embora o grauroleta do buzeiraintensidade nessa contenção seja contestado.
Jacob Kohnstamm, presidente dos Comitês Regionaisroleta do buzeiraRevisãoroleta do buzeiraEutanásia Holandeses, que examinam cada caso no país, diz estar claro que o médico ultrapassou um limite.
"A comissão avaliou que a declaração por escrito não era suficiente e que o médico deveria ter interrompido o procedimento no momentoroleta do buzeiraque a paciente se levantou", diz.
O comitê determinou que o médico não agiu com o devido cuidado e encaminhou o caso para o Ministério Público. Isso pode ajudar a esclarecer as circunstânciasroleta do buzeiraque os pacientes com demência podem morrer por eutanásia.
Mas, enquanto isso será bem-vindo para muitos médicos, é algo preocupante para aqueles que estão preparados para realizar eutanásia mesmoroleta do buzeirapessoas com demência avançada - como a médicaroleta do buzeiraAnnie Zwijnenberg, Constanceroleta do buzeiraVries.
Ela diz estar disposta a dar fim à vidaroleta do buzeirapacientes que tenham dificuldadesroleta do buzeiraexpressar seus desejos, contanto que sempre tenham expressado o que queriam claramente quando ainda podiam fazê-lo.
É importante ter um relacionamentoroleta do buzeiralongo prazo com os pacientes e suas famílias, diz ela, para que se possa conversar com eles sobre a declaração escrita e observar durante um longo períodoroleta do buzeiratempo se o desejoroleta do buzeirase submeter à eutanásia permaneceu inabalável.
Ela conta sobre um desses casos. "A senhora estava muito infeliz. Chorava, gritava, não comia ou dormia, era agressiva com outras pessoas. Você via como ela estava infeliz. E dizia emroleta do buzeiradeclaração: 'Quando não reconhecer mais meus netos, quero morrer'."
Quando este momento chegou, Constanceroleta do buzeiraVries prosseguiu com a eutanásia, com o apoio da família. "Eu lhe dei um coporoleta do buzeirasucoroleta do buzeirafrutas e disse: 'Quando você tomar, vai dormir para sempre'. Ela olhou para a filha, e a filha falou: "Tudo bem, mãe". E ela aceitou. Não sei se ela entendeu completamente, mas sei que o que fizemos foi bom, ela estava muito infeliz."
Pergunto se o primeiro indiciamentoroleta do buzeiraum médico por acabar com a vidaroleta do buzeiraum paciente por meio da eutanásia a deixa preocupada por estar envolvidaroleta do buzeiracasos assim. "Fico preocupada, sim", diz. "Tenho um poucoroleta do buzeiramedo do julgamento que será feito depois. Então, tento ter muita, muita, muita certeza do que estou fazendo."
Mas tem alguma intençãoroleta do buzeiraparar? "Não", ela diz, taxativamente.
Constanceroleta do buzeiraVries admite, no entanto, que o caso pode tornar mais difícil que pacientes com demência tardia obtenham eutanásia no futuro. E, se isso acontecer, pode haver um impacto naqueles com demênciaroleta do buzeiraestágio inicial que querem a eutanásiaroleta do buzeiraalgum momento futuro.
Muitos deles já se preocupam com o fatoroleta do buzeiraque, se esperarem por muito tempo, terão seu desejo negado.
O medo tornou-se tão comum que uma frase foi adotada para indicar o momento perfeito para a eutanásia - "cinco para meia-noite". Assim como a personagem Cinderela, todo mundo quer esperar até o último momento possível antesroleta do buzeirasair da festa - até cinco para meia-noite -, mas muitos acham arriscado esperar tanto tempo.
É o único arrependimento que Anneke e Frank expressam sobre a morteroleta do buzeirasua mãe, Annie.
"Ela estava com muito medoroleta do buzeiraque, mesmo que tivesse a lei e os médicos do lado dela, chegaria um pontoroleta do buzeiraque alguém diria: 'OK, mas você não pode mais tomar essa decisão (de voltar atrás). Desculpe, você demorou demais", diz Anneke.
Annie fala sobre isso no filme, que alude a este medoroleta do buzeiraseu título.
"Ontem, falei com uma ex-vizinha ao telefone", diz Annie no documentário. "Ela disse: 'Não entendo. Você ainda pode fazer tudo o que quer, não pode?' Eu disse: 'Bem, a questão é que não posso. E, se esperar, será tarde demais. Não vou mais poder fazer a eutanásia'."
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