Ziraldo, 90 anos: a genialidade da obra do 'velhinho maluquinho':mobile 1xbet
O que não impede que amigos e fãs celebrem seu aniversário com alegria e, principalmente, reconhecimento.
Neste mês O Menino Maluquinho se tornou sériemobile 1xbetanimação do serviçomobile 1xbetstreaming Netflix, há o relançamento,mobile 1xbetedições especial,mobile 1xbetduasmobile 1xbetsuas obras — O Bichinho da Maçã e Menina Nina.
E ainda um livro-homenagem, preparado pelo cartunista Edra, com 45 cartuns e 45 depoimentosmobile 1xbetpessoas que foram influenciados por Ziraldo: 90 Maluquinhos por Ziraldo - Histórias e Causos.
Em um dos seus mais recentes vídeos, gravadomobile 1xbet2019 para divulgaçãomobile 1xbetuma exposição dedicada a ele, Ziraldo comentou que não estava triste, ao se desculpar pela voz um tanto abatido. Era a idade que havia chegado.
"Vocês podem achar que eu estou um pouco triste, falando devagar, porque não é meu estilo. Acontece que eumobile 1xbetrepente fiquei velho. Foi outro dia. Eu acordeimobile 1xbetmanhã e estava velho", disse ele, vestindo ummobile 1xbetseus indefectíveis coletes. "Mas eu estou alegre, estou feliz da vida."
Ziraldo virou "o Velhinho Maluquinho".
Em depoimento por escrito enviado à reportagem, o quadrinista Mauriciomobile 1xbetSousa, criador da Turma da Mônica comentou que "falar do Ziraldo é chover no molhado", já que "todo mundo tem um grande carinho por ele e seus personagens".
Mauricio cita a obramobile 1xbetambos para ressaltar que "nossa história se entrelaça junto com as crianças e nossos personagens".
"Ziraldo sempre diz que o mais importante é ler. Mas para que isso aconteça, cada vez mais, é preciso ter autores como ele para arrebatar milhõesmobile 1xbetcrianças leitoras", comenta ele, desejando "90 anosmobile 1xbetsorrisos e muito mais" ao amigo e colegamobile 1xbetprofissão.
A cartunista Laerte define Ziraldo como "uma referência total, um mestre".
"Por todos os motivos possíveis. Ele é alguém que fez parte da formaçãomobile 1xbettodos nós, cartunistas e quadrinistas da geração seguinte, vamos dizer", comenta.
"E sempre foi uma pessoa muito disponível: sempre nos recebeu, sempre nos ajudou, sempre nos apoiou e deu opinião. É uma pessoa que sempre foi muito aberta."
Ela diz que Ziraldo é alguém "que nunca se atrapalhou com nada, jamais teve qualquer empecilho como autor, como artista gráfico, como pessoa absolutamente genial". "Ele presta atenção aos detalhesmobile 1xbetque é bom prestar atenção. E ensinou a gente a prestar atenção nessas coisas", afirma.
Renomado autormobile 1xbetbest-sellers infantojuvenis, Pedro Bandeira acredita que "o talento, o patriotismo e a coragemmobile 1xbetZiraldo construíram um Brasil bem maior".
Bandeira diz que acompanha o trabalho do cartunista desde amobile 1xbetprópria infância.
"Até tornar-me seu amigo, acompanho os talentos deste artista desde meus 10 anos, curtindo seus trabalhos como quadrinista, escritor, jornalista, caricaturista, ilustrador e, principalmente, como patriota. E olhe que, quando eu tinha 10 anos, Ziraldo tinha apenas 20 e já era um quadrinistamobile 1xbetprimeira!", afirma.
"Logo, quando a ditadura arrasava e dentre seus ataques impunha-nos uma censura que me prejudicava especialmente, porque eu vivia do jornalismo e atuava como atormobile 1xbetteatro, Ziraldo publicou o mais lindo poema gráfico da história do Brasil: Flicts, que veio para dar força aos injustiçados, aos exilados, aos expropriados pelo fascismo brasileiro", acrescenta Bandeira, sobre o livro que conta a históriamobile 1xbetuma cor que não era aceita pelas outras.
Segundo o escritor,mobile 1xbetFlicts Ziraldo enxugou "nossa lágrima, ao dizer que,mobile 1xbetalgum lugar, talvez na Lua, ainda haveria esperança para nosso desespero".
"Quando eu lia o livro para meu filho, parecia ouvir a voz do Ziraldo: 'Calma, a arte um dia vencerá a injustiça'. Eu entendi, Ziraldo. E hámobile 1xbetvencer novamente", diz.
Bandeira avalia que "Ziraldo é mestre, mas não é imitável".
"Ninguém pode ser Ziraldo. Quando ele ilustra, o livro inteiro cresce, explode e se magnifica. Numa Bienal ou numa feiramobile 1xbetlivros, Ziraldo é cercado pelas crianças e adultos que o leem como se fosse um Papai Noel distribuindo brinquedos", analisa.
"E ele aceita ficar por horas autografando para seus leitores, tirando fotos e fazendo caricaturas nos livrinhos."
"Todos nós, escritores para crianças e jovens, somos fãs do auditório do Ziraldo", acrescenta.
"Os textosmobile 1xbetZiraldo não têm vilões. Todos seus pequenos heróis, como o Menino Maluquinho, flutuam pelas histórias como se dançassemmobile 1xbetseus próprios sonhos. Só Ziraldo sabe como as crianças sonham", comenta Bandeira.
O escritor comenta que desde a pandemia está "enfurnado" mas que tem saudadesmobile 1xbetconviver com o amigo.
"Falamos por telefone, trocamos carinhos, mas nada consola minha vontademobile 1xbetouvir novamentemobile 1xbetvoz, ver seu sorriso quando acolhe algum leitorzinhomobile 1xbetolhos arregaladosmobile 1xbetadmiração", diz.
"Nós, que o amamos, jamais poderemos oferecer tanto amor quanto ele já espalhou pelo Brasil."
Presidente da Associação dos Cartunistas do Brasil, José Alberto Lovetro, mais conhecido como JAL, define Ziraldo como alguém que "tem o DNA da cultura brasileira".
"Não só pormobile 1xbetarte no humor gráfico, mas também por criar personagens que invadem a vida das pessoas como se fossem da famíliamobile 1xbetcada um. Agrada criançasmobile 1xbetaté 100 anosmobile 1xbetidade", comenta.
JAL conta que quando era bastante jovem encantou-se pelo jornal 'O Pasquim', semanário alternativo que circulou durante a ditadura militar e que teve Ziraldo no time.
"Quando eu era ainda garoto já era absorvido pelo Pasquim. De ameba fui descobrindo o que era política. E Ziraldo sabe conquistar a inteligência das pessoas", recorda.
"Fiquei inebriado por aquela linguagem engraçada e ao mesmo tempo cheiamobile 1xbetestilo. Virei desenhista."
Trajetóriamobile 1xbetsucesso
Responsável pela publicação da obra dele na Editora Melhoramentos, a editora Leila Bortolazzi avalia que trabalhar com ele "nunca foi muito complicado".
"Mas claro que, como todo artista compulsivo, obsessivomobile 1xbetatingir a perfeição, ele costumava fazer várias revisõesmobile 1xbettextos e ilustrações", lembra ela.
"Tudo era muito bem cuidado, ia e voltava, sempre era assim."
Ela recorda que antesmobile 1xbeto trabalho ser feito por meiomobile 1xbetdigitalização, "era sempre um evento" quando, com a pastinha debaixo do braço, o autor ia pessoalmente até a editora para levar seu trabalho e defender as ilustrações.
"Quando chegava um livro novo dele era sempre uma novidade, porque ele sempre foi muito criativo, muito original, muito único. Acho que isso faz a obra dele ser tão perene: a originalidade, a criatividade dele", comenta.
"Fica até difícil comparar, não tem como falar 'tem influência disso e daquilo'. Ele é muito original mesmo, seu trabalho e seu traço é único e bem marcante."
Bortolazzi começou a trabalhar na Melhoramentosmobile 1xbet1981, ou seja,mobile 1xbettrajetória na empresa é praticamente tão longa quanto o sucessomobile 1xbetZiraldo no mundo dos livros — O Menino Maluquinho, seu maior sucesso, foi lançadomobile 1xbet1980; hoje acumula 18 edições, 135 reimpressões e já vendeu maismobile 1xbet4,1 milhõesmobile 1xbetexemplares.
Com maismobile 1xbet200 livros publicados, Ziraldo tem diversos outros best-sellers. Uma Professora Muito Maluquinha,mobile 1xbet1995, já vendeu maismobile 1xbet500 mil exemplares. Menina Nina,mobile 1xbet2002, 140 mil. O Bichinho da Maçã,mobile 1xbet1982, maismobile 1xbet300 mil. O Planeta Lilás,mobile 1xbet1984, 200 mil. O Menino Quadradinho,mobile 1xbet1989, 120 mil. Flicts,mobile 1xbet1984, maismobile 1xbetmeio milhãomobile 1xbetexemplares.
Ziraldo começoumobile 1xbetcarreiramobile 1xbet1954 no jornal Folha da Manhã — hoje Folhamobile 1xbetS. Paulo. Ele tinha uma colunamobile 1xbethumor. Depois passou pela revista O Cruzeiro e pelo Jornal do Brasil. Em 1960 lançou o primeiro gibi brasileiro feito por um só autor, a Turma do Pererê — a publicação acabou descontinuada a partirmobile 1xbet1964, por conta da ditadura militar.
Durante o regime autoritário, foi um dos idealizadores e parte integrante da equipe do semanáriomobile 1xbetcontracultura O Pasquim, que fez sucesso e acabou marcando uma geração. Ele acabou sendo preso no dia seguinte a promulgação do Ato Institucional Número 5,mobile 1xbetdezembromobile 1xbet1968.
Figura sempre ligada à esquerda, ele foi membro do Partido Comunista Brasileira. Em 2005 ele se filiou ao recém-criado Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e desenhou o logo da agremiação. Nas últimas eleições, declarou apoio a candidatos do Partido dos Trabalhadores (PT), como nas duas vezesmobile 1xbetque Dilma Rousseff ganhou a eleição e, na última, quando Fernando Haddad ficoumobile 1xbetsegundo lugar.
Sucessomobile 1xbetcrítica
Professora na Universidade Federal do Riomobile 1xbetJaneiro (UFRJ) e autora do livro Articulação Textual na Literatura Infantil e Juvenil, Leonor Werneck dos Santos considera "impossível falarmobile 1xbetliteratura infantil brasileira sem falarmobile 1xbetZiraldo".
"Ele deu grande impulso à literatura infantil no Brasil, trouxe a literatura infantil para um lugarmobile 1xbetdestaque, inclusive academicamente", avalia.
Ela acredita que isso se deu por um conjuntomobile 1xbetfatores, como a criatividade, a atualidade dos temas, a "linguagem que toca fundo no leitormobile 1xbettodas as idades, "o traço e o projeto gráfico que parecem tão simples mas são cuidadosamente pensados e dialogam com a propostamobile 1xbetcada livro".
"Tudo faz com que a obra ultrapasse a épocamobile 1xbetque é produzida. Por isso se torna um clássico", afirma Santos.
Criadora do projeto Grandes Livrinhos, no Instagram (@grandeslivrinhos), a jornalista Giovana Franzolin acredita que são muitas as razões que fazem da obramobile 1xbetZiraldo tão importante para as crianças — e resistentes ao tempo, conseguindo ter o mesmo peso hoje que tinha quando os sucessos foram criados, décadas atrás.
"Entendo que isso acontece porque os personagens retratam uma infância atemporal,mobile 1xbetcriança arteira, feliz, com alegrias, dificuldades... não é tão somente a infância dele próprio ou uma infância datada, tem um pouco da infânciamobile 1xbettodo mundo", comenta ela.
"Além disso, ele fala com a criança sem didatismo, sem ser moralizante, mesmo abordando temas mais 'cabeludos'. Ele consegue desenvolver qualquer temática com leveza, sensibilidade e criatividade. Por exemplo, vejo que o Menino Maluquinho, o personagem mais emblemático e mais conhecido, é uma alegoria da infância, a criança sapeca e 'maluquinha', que não era nada mais que uma criança feliz."
Franzolin aponta algumas características do autor como fundamentais para definirmobile 1xbetgenialidade. Primeiro, o pioneirismo, pois ele escreveu "para o universo da literatura infantil numa décadamobile 1xbetque o mercado mal existia". E também pelo cuidado com os aspectos gráficos. Nesse sentido, ela ressalta que Flicts foi uma obra "disruptiva, ousada para a época".
"Além disso, pelo conjunto da obra. São dezenas e dezenasmobile 1xbettítulos representando uma densidade impressionante para qualquer autor", aponta a jornalista.
"Mas mais do que tudo, creio que Ziraldo se consolidou por saber como nenhum outro representar a infância, com seus prazeres e agruras. Ele consegue representá-la com seriedade e leveza, ao mesmo tempomobile 1xbetque não fogemobile 1xbettemas mais difíceis ou tabus, como morte, separação dos pais, rejeição... Ele toca a alma das crianças e dialoga com elas como nenhum outro, no meu pontomobile 1xbetvista. E ao fazer isso, emociona também os adultos, reacende neles as memórias das próprias infâncias."
A jornalista comenta que Ziraldo, mesmo com 90 anos, "parece um eterno menino".
"Escreve com naturalidade, fala da infância sem esforço", diz.
"Interesso-memobile 1xbetespecial pelo texto, me emociona toda vez que leio. Apresenta camadasmobile 1xbetinterpretação,mobile 1xbetsubjetividade, que captamos conforme a maturidade e o momento da vida."
Doutora pela Universidademobile 1xbetSão Paulo (USP) e colaboradora da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, a professoramobile 1xbetliteratura Vânia Maria Resende diz que a "grandezamobile 1xbetZiraldo está na singularidade da linguagem plástica genial, vibrante, forte, exuberante". E, não só. Também "na força da poesia e do humormobile 1xbetequilíbrio", na "dimensão lúdica que fluimobile 1xbetsintonia com a naturalidade infantil".
"Acrescente-se a isso, o diálogo versátilmobile 1xbetseus livros com repertóriomobile 1xbettextos visuais, gráficos, verbais dos mais diferentes autores e fontes, não restritamente infantis, o que abre amplas perspectivas culturais para os leitores", diz ela, que é autora dos livros Ziraldo e o Livro para Crianças e Jovens no Brasil e O Menino na Literatura Brasileira.
"Além da beleza visual que é fatormobile 1xbetsedução estética, importante observar a riqueza simbólica, até mesmomobile 1xbetnarrativas aparentemente mais simples, o que significa dizer quemobile 1xbetliteratura não se reduz a mero entretenimento. Finalmente, destaco a grandeza do podermobile 1xbetcomunicação da obra do artista com leitoresmobile 1xbetdiferentes idades, não apenas os infantis."
Resende acredita que "a concepção peculiarmobile 1xbetlivro infantilmobile 1xbetZiraldo" é o seu maior legado. Esse conceito foi favorecido "por traços específicos damobile 1xbetformaçãomobile 1xbetescritor-desenhista-artista gráfico" e, ao mesmo tempo, compatível "com o pensamento complexo da contemporaneidade". Para ela, Flicts é o marco desse formato, afirmando-se com "a peculiaridade do estilo verbo-visual,mobile 1xbetdirecionamentomobile 1xbetleitura simultaneísta, com apoio semiótico, diferentemente da pura leitura linguística."
Para a pesquisadora Monica Rebecca Ferrari Nunes, professora na Escola Superiormobile 1xbetPropaganda e Marketing (ESPM) e doutoramobile 1xbetsemiótica pela Pontifícia Universidade Católicamobile 1xbetSão Paulo (PUC-SP), "Ziraldo trabalha com personagens que têm universalidade". E isso explica a "forçamobile 1xbetseus personagens",mobile 1xbet"forma que esses textos que ele constrói são longevos na cultura".
"Há uma emoção quase que universal que possibilita a permanência através do tempo", comenta ela.
Nunes ainda ressalta a habilidade do autor na "hibridização da linguagem".
"Ele faz a misturamobile 1xbetsignosmobile 1xbetque o verbal vai se misturando ao imagético, e o imagético ao verbal. E constrói uma linguagemmobile 1xbetalta complexidade que, ao mesmo tempo, tem um efeito muito rápido na compreensão", comenta ela.
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