Como Monteiro Lobato transformou crítica social usando 'Jeca Tatu'awin pokersucesso literário:awin poker
Urupês é focado no personagem principal, o Jeca. O nome da obra é inspirado no urupê - um tipoawin pokercogumelo parasitário que destrói a madeira -, e o Jeca Tatu é descrito como um caipira indolente, desleixado, sempreawin pokercócoras e pés descalços, nenhuma educação, cultura, ambição ou mesmo disposição para melhorarawin pokervida. Vive do que a natureza derrama aos seus pés e flerta o tempo todo com a preguiça, a cachaça e as crendices populares.
Jeca Tatu é o homem do campo real, que leva uma vida miserável nos rincões brasileiros e é praticamente ignorado pelos governantes. É lembrado pelos políticos apenas no momento do voto nas eleições. "O fato mais importante daawin pokervida é votar no governo. (...) Vota. Não sabeawin pokerquem, mas vota. Esfrega a pena no livro eleitoral, arabescando o aranholawin pokergatafunhos e que chama 'sua graça''', diz Lobato,awin pokerum dos trechos do livro.
"Pobre Jeca tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade", completou Lobato, distanciando-se da figura romantizada que havia do interior do país e os seus moradores, muito cultuada nas rodas literárias nas primeiras décadas do século 20. Nessa época, era comum escritores e estudiosos cultuarem uma vida caipira sem problemas, marcada pelo contato com a natureza e distante do cotidiano real vivido na zona rural.
"Lobato lança um olhar crítico e ácido sobre a realidade brasileira, algo incomum entre os escritores daawin pokerépoca. É muito importante celebrar o centenário dessa obra demolidora, que questiona valores e não deixa pedra sobre pedra no panorama da literatura do século 20", afirma a jornalista Marcia Camargos, biógrafaawin pokerLobato e coautoraawin pokerMonteiro Lobato: Furacão na Botocúndia (Edições Senac).
A redenção do personagem pelo seu criador viria pouco depoisawin pokeroutro livro, a coletânea Problema Vital, tambémawin poker1918, onde Lobato reúne uma sérieawin pokerartigos escritos para a imprensa e afirma categórico: "O Jeca não é assim; está assim", deixando claro que o estado lastimávelawin pokerque se encontrava o caipira era culpa do descaso das autoridades públicas.
"Há no Jeca uma mudança contínua, que evoluiawin pokeracordo com a conscientizaçãoawin pokerLobato a respeito das péssimas condiçõesawin pokervida do povo. Jeca é um símbolo, ele encarna o trabalhador brasileiro, sempre no lado mais frágil na lutaawin pokerclasses", explica Marcia Camargos, que possui pós-doutoradoawin pokerHistória pela USP.
Outros personagens criados por Lobato posteriormente, como o Zé Brasil,awin poker1947, reforçam essa tese. "Em toda a obra adulta dele percebemos um crítica muito forte à política brasileira. Estamosawin pokerum momento político que torna muito oportuna a releituraawin pokerUrupês", completa a professora do Mackenzie, referindo-se às eleiçõesawin pokeroutubro.
Ao editar e imprimir Urupês por conta própria na Revista do Brasil, que comprou com o dinheiro da venda da Fazenda Buquira e transformouawin pokeruma grande editora nacional, Lobato também praticamente inaugurou o mercado editorial no Brasil. Até então, grande parte dos livros era impressa na Europa.
Um 'best-seller' internacional
Desde o seu lançamento, Urupês foi um sucesso estrondoso: maisawin poker30 mil exemplares vendidosawin pokersucessivas edições até 1925, sendo também traduzido para o espanhol e inglês. Em 1919, Jeca Tatu foi citadoawin pokerdiscursoawin pokerRui Barbosa duranteawin pokercampanha presidencial. "Por tudo isso, podemos perceber a força e a vitalidade desse livro, que veio remexer as águas mornas do então mercado editorial nacional", diz Marcia Camargos.
"Além da novidadeawin pokercenário eawin pokerpersonagens, os contosawin pokerUrupês são narradosawin pokeruma linguagem coloquial e cheiaawin pokerlancesawin pokeroralidade. É como se o leitor 'ouvisse' alguém contando histórias", explica Marisa Lajolo, sobre o sucesso da obra nos anos seguintes ao seu lançamento.
Até morrer,awin poker1948, Lobato abraçou diversas causas nacionalistas, como a campanha do petróleo, e lançou diversos livros adultos e infantis. Sua obra mais conhecida do público juvenil é Narizinho Arrebitado, lançadoawin poker1921 pela Monteiro Lobato & Cia Editora e que deu início à turma do Sítio do Picapau Amarelo. Lobato tornou-se um dos escritores mais consagrados da história da literatura infantil e juvenil brasileira.
Atualmente, Urupês é editado pela Editora Globo, que prepara uma edição especial para ser lançada até o fim do ano. No ano que vem, toda a obra do escritor caiawin pokerdomínio público e deve ser relançada por outras grandes editoras.
Uma nova biografia juvenilawin pokerLobato também está sendo preparada por Marisa Lajolo junto com a historiadora Lilia Schwarcz. A previsão é que obra seja lançadaawin poker2019 pela Companhia das Letras. "Será um livro bastante divertido, pois será como se ele contasse a vida dele. Apresentaremos Lobato como uma grande figura, e não como um nerd", adianta Marisa.
Ela revela aspectos curiosos e poucos conhecidos do escritorawin pokerTaubaté que estarão no novo livro, como o fato dele nunca ter sido bom aluno e adorar sentar junto com a "turma do fundão" nas aulas do colégio. Isso não o impediuawin pokertornar-se um intelectual respeitado, autor ídolo das crianças, precursor da indústria editorial nacional e autor da célebre frase: "Um país se faz com homens e livros".