A frustrada tentativacomo ser um bom apostador de futebolMonteiro Lobatocomo ser um bom apostador de futebolganhar mercado nos EUA com livro considerado racista:como ser um bom apostador de futebol

Monteiro Lobato

Crédito, DOMÍNIO PÚBLICO / WIKIMEDIA COMMONS

A avaliação do editor ainda alerta a Lobato que "os negros são cidadãos americanos, parte integrante da vida nacional" e promover "seu extermínio por meio da sabedoria e habilidade da raça branca" seria endossar uma "divisão violenta".

O escritor brasileiro não parece ter se convencido a mudar suas ideias. Em carta enviada ao escritor Godofredo Rangel (1884-1951), seu amigo e correspondente ao longocomo ser um bom apostador de futebol40 anos, Lobato reclamou que O Presidente Negro não havia sido aceito porque "acham-no ofensivo à dignidade americana". "Errei vindo cá tão tarde", escreve. "Devia ter vindo no tempocomo ser um bom apostador de futebolque linchavam os negros."

"Tinha lido há muito tempo [esse livro] e reli, mais recentemente. Tenho duas considerações, na verdade duas impressões fortes que me ficaram da obra. Primeiro, do pontocomo ser um bom apostador de futebolvistacomo ser um bom apostador de futeboluma análise externa, fiquei impressionada com a certeza, seguida da decepção,como ser um bom apostador de futebolLobatocomo ser um bom apostador de futebolque a obra seria bem recepcionada, um grande sucesso nos Estados Unidos. Lobato fica perplexo porque seu livro não encontra editor, não entende por que os americanos o acharam ofensivo", comenta à BBC News Brasil a historiadora Lucilene Reginaldo, professoracomo ser um bom apostador de futebolEstudos Africanos na Universidade Estadualcomo ser um bom apostador de futebolCampinas (Unicamp).

"Do pontocomo ser um bom apostador de futebolvista da construção da obra, é surpreendente como Lobato se instrumentaliza das ideias eugenistas, das quais ele era um entusiasta confesso. Mas ele tinha plena clareza que a literatura era uma forma sutil, indireta e eficientecomo ser um bom apostador de futebolpromover a eugenia."

Ilustraçãocomo ser um bom apostador de futebol'A chave do tamanho', um dos livros mais popularescomo ser um bom apostador de futebolLobato

Crédito, GloboLivros/ Divulgação

Legenda da foto, Ilustraçãocomo ser um bom apostador de futebol'A chave do tamanho', um dos livros mais popularescomo ser um bom apostador de futebolLobato

Enredo

O Presidente Negro começa no Brasil dos anos 1920. Ayrton sofre um acidente e acaba resgatado por um cientista excêntrico que lhe apresentacomo ser um bom apostador de futebolgrande invenção: o porviroscópio, uma máquina que mostra o futuro.

Assim, os personagens acompanham a vida nos Estados Unidoscomo ser um bom apostador de futebol2228,como ser um bom apostador de futebolplena campanha eleitoral. A sociedade futurista americana é descrita como uma utopia modelo. Mas, segundo a história criada por Lobato, esse sucesso era devido a algumas medidas que haviam sido tomadas: o fim da imigração, a execuçãocomo ser um bom apostador de futeboltodos os recém-nascidos com malformações e a esterilização dos "doentes mentais" — balaio no qual o autor inclui prostitutas, ladrões, preguiçosos e desocupados. Outra medida implementada por esse governo futurista era a intervenção estatal na reprodução. Para poder ter filhos, o casal precisava se submeter a uma análise oficialcomo ser um bom apostador de futebolsuas características. A ideia era garantir que apenas os melhores passassem seus genes adiante.

É nessa sociedade que Lobato insere uma campanha eleitoral norte-americana. E vence um candidato negro, Jim Roy. Trata-se do gatilho para que Lobato apresente os negros como "o único erro inicial contido naquela feliz composição".

O livro aponta que a sorte dos Estados Unidos era que ali, devido ao ódio racial, ao contrário do Brasil não ocorreu a miscigenação — que para o autor causaria uma "degeneração" racial irreversível —, mantendo os negros segregados.

Por outro lado, segundo o livro, os negros teriam uma propensão maior a se reproduzir. O que fazia com quecomo ser um bom apostador de futebolpopulação aumentassecomo ser um bom apostador de futebolum ritmo superior a dos brancos. Algumas "soluções" são apresentadas para esta questão. Os negros pedem a divisão do paíscomo ser um bom apostador de futeboldois. Os brancos sugerem extraditar todos os negros para o Amazonas.

Mas a Suprema Convenção Branca cria um plano, chamadocomo ser um bom apostador de futebol"solução final" para o "problema negro". Eles desenvolvem uma tecnologia para alisar os cabelos dos negros — mas instalam no aparelho um componente que esteriliza quem usa.

"É um livro claramente racista na ideia, na proposta, no desenlace. É um livro que ficou datado, por demais preconceituoso. Não vejo motivo para ser estudadocomo ser um bom apostador de futeboluniversidades nem escolas, muito diferente do universo infantilcomo ser um bom apostador de futebolMonteiro Lobato", afirma à BBC News Brasil a historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, professora da Universidadecomo ser um bom apostador de futebolSão Paulo (USP) e coautora do livro Reinaçõescomo ser um bom apostador de futebolMonteiro Lobato, uma biografia do escritor. "É um livro que serve apenas para teses e dissertações que analisam o racismo do Brasil. Não é um livro para ser adotado com alunos."

Barack Obama

Crédito, Pete Souza

Legenda da foto, Com a eleiçãocomo ser um bom apostador de futebolBarack Obama, o livro O Presidente Negro voltou a ter uma edição no Brasil

Autora do artigo Você Já Pensou no Impacto da Obracomo ser um bom apostador de futebolLobato na Construção da Estima Negra?, a psicopedagoga Clarissa Brito, especialistacomo ser um bom apostador de futebolEducação Infantil, enfatiza à BBC News Brasil que considera O Presidente Negro a "expressão explícitacomo ser um bom apostador de futebolseu posicionamento político, defensor da eugenia e seu desejocomo ser um bom apostador de futebolextermínio do povo negro".

Quando Barack Obama disputava a Presidência dos Estados Unidos,como ser um bom apostador de futebol2008, a editora Globo Livros relançou o romance. À BBC News Brasil o editor Mauro Palermo enfatiza que Lobato precisa ser lido considerando que ele "escreveu suas obras entre 1920 e o fim da décadacomo ser um bom apostador de futebol1940". "Creio que leitores atuais encontrarão nessas histórias, além do entretenimento, uma oportunidade ricacomo ser um bom apostador de futebolentender e discutir como se comportava a sociedade brasileira há um século e, a partir daí, refletir sobre o quanto já caminhamos na luta contra o racismo e o tanto que ainda precisamos nos desenvolver e aprimorar", diz. "Infelizmente nos entristece perceber que essa longa caminhada está longecomo ser um bom apostador de futebolchegar ao fim."

"Não me julgo competente para opinar,como ser um bom apostador de futebolformar mais circunstanciada, sobre a tipificação do crimecomo ser um bom apostador de futebolracismo na produção artísticacomo ser um bom apostador de futebolgeral e literáriacomo ser um bom apostador de futebolparticular. É evidente que minha posturacomo ser um bom apostador de futebolcidadã diantecomo ser um bom apostador de futebolum texto ou autor contemporâneo que propaga ideias racistas, xenófobas, homofóbicas, machistas écomo ser um bom apostador de futebolfirme repúdio, denúncia e execração", avalia Reginaldo. "Creio que é diferente tratarcomo ser um bom apostador de futeboltextos e autores contemporâneos ecomo ser um bom apostador de futeboltextos e autores do passado, embora para mim o racismo seja execrável, um cancro maligno, no século 19, no século 20 e nos dias atuais."

Ela ressalta, contudo, que como historiadora, lê obras que formularam e propagaram ideias racistas. "São fontescomo ser um bom apostador de futebolpesquisa. Por exemplo, como devercomo ser um bom apostador de futebolofício e também por interesse, li maiscomo ser um bom apostador de futeboluma vez o livro Africanos do Brasil,como ser um bom apostador de futebolRaimundo Nina Rodrigues. Este e outros livros deste autor são fundamentais para a compreensão do ideário racista que está na base do pensamento social brasileiro do século XIX e início do XX. Mas a obracomo ser um bom apostador de futebolRodrigues informa muito mais, por exemplo, para os estudiosos das religiões afro-brasileiras e dos africanos no Brasil. Um olhar crítico sobre estas produções me permite analisar texto e contexto; singularidades, diálogos intelectuais, sub-textos. Poderia dizer o mesmo sobre clássicos da literatura ocidental e brasileira. Aí também se inscreve parte da polêmica e resistência sobre o reconhecimento do racismo na obracomo ser um bom apostador de futebolMonteiro Lobato. Querem lhe preservar uma aura insustentável e, quero crer, desnecessária."

Até janeiro do ano passado, quando Monteiro Lobato entroucomo ser um bom apostador de futeboldomínio público, a Globo detinha a exclusividade da publicaçãocomo ser um bom apostador de futebolsuas obras —como ser um bom apostador de futebolacordo com Palermo, foram 7 milhõescomo ser um bom apostador de futebollivros vendidos, considerando todo o catálogo do escritor, nos últimos 12 anos. As insinuações preconceituosascomo ser um bom apostador de futebolLobato não se restringem ao romance O Presidente Negro. Estão presentecomo ser um bom apostador de futeboltoda acomo ser um bom apostador de futebolobra, inclusive nos clássicos infantis que compõem a coleção Sítio do Picapau Amarelo.

Obras infantis

"Metaforicamente, podemos dizer que Narizinho e Pedrinho tinham duas avós. Acomo ser um bom apostador de futebolsangue, que incessantemente buscava repassar seu conhecimento formal para seus netos. E a tia Nastácia que era a responsável pelos ensinamentos advindoscomo ser um bom apostador de futebolsua experiênciacomo ser um bom apostador de futebolvida. As duas avós eram igualmente importantes na criação e na formaçãocomo ser um bom apostador de futebolseus 'netos'. As referências à tia Nastácia na obra refletem o pensamento da época e isso nos choca tremendamente hoje", analisa Palermo, sobre o universo infantilcomo ser um bom apostador de futebolLobato.

A Companhia das Letras, outra editora que tem publicado obrascomo ser um bom apostador de futebolLobato, afirma à reportagem que opta por notascomo ser um bom apostador de futebolrodapé para que os mediadores da leitura — sejam eles professores, sejam eles pais — contextualizem a questão às crianças. "Ficou estabelecido que todos os livros viriam com notas que pudessem contribuir às discussões das questões problemáticas da obra dele", afirma a assessoriacomo ser um bom apostador de futebolcomunicação da editora.

Sobre O Presidente Negro, a editora afirma que a polêmica obra "não está e não estarácomo ser um bom apostador de futebolcatálogo".

O racismo na obra infantilcomo ser um bom apostador de futebolMonteiro Lobato chegou até o Supremo Tribunal Federal. A história começoucomo ser um bom apostador de futebol2010, quando o Conselho Nacionalcomo ser um bom apostador de futebolEducação (CNE) determinou que o livro Caçadascomo ser um bom apostador de futebolPedrinho não fosse mais disponibilizado às escolas do sistema público, por conta do conteúdo racista. "Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou, que nem uma macacacomo ser um bom apostador de futebolcarvão" e "Não vai escapar ninguém — nem Tia Nastácia, que tem carne preta" foram trechos utilizados para justificar a medida.

Diantecomo ser um bom apostador de futebolrecurso do Ministério da Educação, o caso chegou ao Supremo. Os debates foram encerrados apenas no mês passado.

"Tratava-secomo ser um bom apostador de futebolmandadocomo ser um bom apostador de futebolsegurança do STF com o qual se pretendia obter indiretamente a anulaçãocomo ser um bom apostador de futebolpareceres do Conselho Nacionalcomo ser um bom apostador de futebolEducação. Referidos pareceres trataram da aquisiçãocomo ser um bom apostador de futebolobras literárias pelo Ministério da Educação destinados ao Programa Nacional Biblioteca na Escola. Alegavam os impetrantes que o Ministério da Educação, ao autorizar a aquisiçãocomo ser um bom apostador de futebollivros que contenham expressões reforçadorescomo ser um bom apostador de futebolestereótipos raciais, viola frontalmente as normas gerais da Administração Pública e a legislação internacional sobre o racismo", contextualiza à BBC News Brasil o jurista Carlos Ari Sundfeld, professor da FGV-Direito.

"A tentativacomo ser um bom apostador de futebolproibir os livroscomo ser um bom apostador de futebolLobato parece estar baseada na ideiacomo ser um bom apostador de futebolque a ficção literária não poderia, sob penacomo ser um bom apostador de futebolpraticar crime, tratar do racismo sem fazercomo ser um bom apostador de futebolcrítica explícita. É uma visão que reclama que toda literatura, para ser lícita, seja militante. A visão é compreensívelcomo ser um bom apostador de futebolfunçãocomo ser um bom apostador de futebolnosso grave problema, não superado, com o racismo. Mas não há fundamento jurídico para a proibiçãocomo ser um bom apostador de futebollivroscomo ser um bom apostador de futebolcasos assim, o que seria incompatível com a liberdade, um valor fundamental, cuja prevalência justifica uma orientação muito restritiva quanto ao podercomo ser um bom apostador de futebolo Estado intervir no mundo das palavras", afirma Sundfeld.

"Para que se proíba a circulaçãocomo ser um bom apostador de futebolum livro não basta que ele incorpore, nos personagens, nas situações, nas frases ou nas palavras, algum tipocomo ser um bom apostador de futebolelemento que, sem condená-lo, remeta ao racismo. É preciso que se tratecomo ser um bom apostador de futebolum caso extremo, difícil, aliás,como ser um bom apostador de futebolocorrercomo ser um bom apostador de futebolobras apenas literárias,como ser um bom apostador de futebolapologia e incitação inequívoca e grave ao racismo."

PDFs da capacomo ser um bom apostador de futebolReinaçõescomo ser um bom apostador de futebolNarizinho

Crédito, GloboLivros/ Divulgação

Legenda da foto, "As referências à tia Nastáciacomo ser um bom apostador de futebol'Reinaçõescomo ser um bom apostador de futebolNarizinho' refletem o pensamento da época e isso nos choca tremendamente hoje", analisa o editor Mauro Palermo

O assunto foi encerrado no Supremocomo ser um bom apostador de futebol22como ser um bom apostador de futebolmaio, mas sem julgar o mérito. "O STF entendeu que não lhe cabia analisar o assunto, pois o que se estava impugnando era o atocomo ser um bom apostador de futebolhomologação, pelo Ministro da Educação, desses pareceres. Mas o STF não tem competência originária para julgar mandadoscomo ser um bom apostador de futebolsegurança contra atoscomo ser um bom apostador de futebolministroscomo ser um bom apostador de futebolEstado", explica o jurista.

Especialistas e educadores acreditam que a obra infantilcomo ser um bom apostador de futebolLobato deve ser lida e debatidacomo ser um bom apostador de futebolescolas. "Não se tratacomo ser um bom apostador de futebolretirar suas obras do mercado. Muito melhor do que isso é que a obra venha acompanhada por notas que problematizem a questão do racismo", defende Schwarcz. "Sempre acho quecomo ser um bom apostador de futebolhistória precisamos problematizar esses termos para que eles não passem 'em branco', com muitas aspas. É preciso fazer com que fique evidente o racismo presente nessa obra, isso é fazer muito mais do que censurar o autor."

Ela defende a necessidade de, no ambiente escolar, formar e informar os professores, para que eles saibam como tratar livros assim. "Que o professor alerte o aluno a todo momentocomo ser um bom apostador de futebolque houver personagens ou situações ou contextos racistas. Chamar a atenção, perguntar por que a Tia Nastácia tinha apenas saberes localizados enquanto os personagens brancos conheciam história, ciência, civilização. Por que personagens negros foram descritos a partircomo ser um bom apostador de futebolseus beiços alargados ecomo ser um bom apostador de futebolcor, enquanto os brancos, não, como se brancura fosse uma não cor. Minha atitude como professora nunca écomo ser um bom apostador de futebolcensura, e simcomo ser um bom apostador de futebolinterpelar essas narrativas com outras questões, que são as questões do nosso momento", afirma.

"Os livroscomo ser um bom apostador de futebolLobato devem estarcomo ser um bom apostador de futebolcatálogo, com notascomo ser um bom apostador de futebolrodapé", prossegue. "E essas notas precisam servircomo ser um bom apostador de futebolgatilho para que a classe discuta a questão do racismo no Brasil. Isso é fundamentalcomo ser um bom apostador de futebolum país que vive um racismo estrutural e institucional."

"Sou favorável às edições críticas", complementa Reginaldo. "Parece que há algumas iniciativas nesse sentido neste momento, o que mostra a importância e ressonância do debate iniciadocomo ser um bom apostador de futebol2010. Há tempos, circula uma nota crítica nas Caçadascomo ser um bom apostador de futebolPedrinho sobre a proibição da caça das onças. Num artigo publicadocomo ser um bom apostador de futebol2010, Ana Maria Gonçalves chama a atenção para a a mea culpacomo ser um bom apostador de futebolLobato reconhecendo seu preconceito contra os camponeses representados pelo personagem Jeca Tatu, que foi incorporado na quarta ediçãocomo ser um bom apostador de futebolUrupês. Mas como já confesseicomo ser um bom apostador de futeboloutra ocasião, ao ler Caçadascomo ser um bom apostador de futebolPedrinho e outros para meu filho com então 6 anos, me vi na obrigaçãocomo ser um bom apostador de futebolmãecomo ser um bom apostador de futebolprotegê-lo. Editei e omiti termos que me soavam impronunciáveis. Mas sei que isso também foi praxe nas versões televisivas do Sítio do Picapau Amarelo."

Importânciacomo ser um bom apostador de futebolLobato para crianças

"Não tenho nenhuma ressalva — na verdade acho fundamental — que se publique a obracomo ser um bom apostador de futebolLobato na íntegra. Lobato deve ser lido", comenta Reginaldo.

"Como historiadora, vejo aí uma fonte preciosa para os estudiosos e para reflexão crítica sobre o Brasil. Com outras preocupações e recursos analíticos,como ser um bom apostador de futebolrazão do seu valor literário — que aliás, aqui não se discute, também é fonte para os estudiosos da literatura ecomo ser um bom apostador de futeboloutras áreas. No ambiente escolar, especialmente para jovens e adolescentes, acompanhadocomo ser um bom apostador de futebolboas edições críticas, pode ser lido. Mas nas mãos do público infantil, no qual a literatura é sobretudo expressão do lúdico, mas que ao mesmo tempo introjeta valores, creio que não se pode ignorar o debate que vem sendo feito desde 2010, pelo menos. Ouvi muita gente dizendo que leu Lobato na infância e não se tornou racista. Mas acho que, por meiocomo ser um bom apostador de futebolprocessos indiretos sem ódio, sem truculência, podem ter aprendido a naturalizar as hierarquias raciais, se colocarem como personagens centrais e protagonistas da história, tornado-se, por conseguinte, insensíveis às dores e humilhações alheias. Defender ardorosamente a auracomo ser um bom apostador de futebolLobato é um lugarcomo ser um bom apostador de futebolprivilégio!"

Imagemcomo ser um bom apostador de futeboldivulgação da série do Sítio do Picapau Amarelo, remake dos anos 2001 a 2007

Crédito, Divulgação/ TV Globo

Legenda da foto, Série do Sítio do Picapau Amarelo, remake feito pela TV Globo dos anos 2001 a 2007

Para a especialistacomo ser um bom apostador de futebolEducação Infantil Clarissa Brito, é preciso atentar para o fatocomo ser um bom apostador de futebolque expressões da obracomo ser um bom apostador de futebolLobato — como "negra corcomo ser um bom apostador de futebollodo", "carne preta" ou próprio uso do termo "negra" no vocativo — sejam compreendidas como ferramentacomo ser um bom apostador de futebolreprodução do racismo. Ela defende que as obras do autor sejam utilizadascomo ser um bom apostador de futebolescolas, mas não na Educação Infantil, tampouco nas séries iniciais do Ensino Fundamental. É para alunos mais maduros, opina.

"Monteiro Lobato pode atravessar salascomo ser um bom apostador de futebolaula no momentocomo ser um bom apostador de futebolque são estudadas as marcas da opressão colonial e os recursos políticos, sociais e econômicos para a perpetuação da segregação racial", defende ela.

"Acredito que as crianças não precisam entrarcomo ser um bom apostador de futeboldiálogo com uma obra que por anos vem estigmatizando figuras negras, reproduzindo um imaginário social que agride a estimacomo ser um bom apostador de futeboltantos homens e mulheres negras", completa. "Vejo a iniciativacomo ser um bom apostador de futebolcomentário e notas, como uma questão forte que assola nossa sociedade, que são os recursos que tratamcomo ser um bom apostador de futebolminimizar o racismo e buscar caminhoscomo ser um bom apostador de futebolnão legitimar o crimecomo ser um bom apostador de futebolinjúria racial."

Editor da Globo Livros, Palermo acredita que livroscomo ser um bom apostador de futebolLobato, sejam os infantis, seja o polêmico O Presidente Negro, "podem ser usados como subsídio à discussão do racismocomo ser um bom apostador de futebolescolas". "Proibir me parece a negação da existência", comenta ele. "Entender o passado é o melhor atalho para mudarmos o presente e melhorarmos o futuro."

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