Esquerda trocou causas nacionais por defesa do 'politicamente correto’, diz Aldo Rebelo:playpix afiliados
Na sala, decorada com escudos do Palmeiras esculpidosplaypix afiliadosmadeira, estátuasplaypix afiliadosbarro e quadrosplaypix afiliadosartistas populares com personagens da cultura brasileira, entre os quais os cangaceiros Lampião e Maria Bonita, sentou-seplaypix afiliadosuma cadeiraplaypix afiliadosbalançoplaypix afiliadospalha, vestindo sandáliasplaypix afiliadoscouroplaypix afiliadosselaria.
Próximo à mesaplaypix afiliadosjantar, um aparador exibe o troféu que recebeuplaypix afiliadosuma casaplaypix afiliadosleilõesplaypix afiliadoscavalos do interiorplaypix afiliadosSão Pauloplaypix afiliadosagradecimento "pelas açõesplaypix afiliadosprol do agronegócio" - setor do qual se aproximou ao articular a aprovação do Código Florestal, elogiado por fazendeiros.
Ao encerrar o encontro, ele se divertiu ao comentar as peculiaridades da política do Maranhão, governado por Flávio Dino, do PCdoB, com quem se reuniria horas depois.
"Na ciência política brasileira, a política desafia a ciência. Costumamos dizer que os comunistas governam quatro lugares do mundo: Cuba, China, Coreia do Norte e o Maranhão - sendo que lá se aliaram ao PSDB e derrotaram o PT."
Confira os principais trechos da entrevista:
playpix afiliados BBC Brasil - Depoisplaypix afiliadosmilitar por 40 anos no PCdoB, o senhor passou seis meses no PSB e agora mudou para o Solidariedade. Por quê?
playpix afiliados Aldo Rebelo - Entrei no PCdoBplaypix afiliadosbusca da realizaçãoplaypix afiliadosideias que julgava importantes na minha juventude, quando o nacionalismo era muito forte. Queria lutar por um país mais equilibrado e justo. Mas os tempos e as agendas mudaram. A questão nacional passou a ter peso pequeno na agenda das esquerdas.
As agendas identitárias e o multiculturalismo passaram ter muito mais importância. Isso me levou a um afastamento dessa esquerda moderna, do politicamente correto.
Fui para o PSB porque tinha laços com os governadores Miguel Arraes (1916-2005) e Eduardo Campos (1965-2014), mas quando vi que a direção partidária se encaminhava para a candidatura do ilustre ministro Joaquim Barbosa, me afastei.
Fui convidado pelo Solidariedade para ser pré-candidato à Presidência. Quando relatei o Código Florestal, a Força Sindical foi única central sindical que apoiou meu relatório. E quando lancei o manifesto pela união nacional, os dirigentes da Força e do SDD o assinaramplaypix afiliadospeso.
playpix afiliados BBC Brasil - O senhor entrou num partido fundado pelo deputado Paulinho da Força, que está sendo investigado pela Lava Jato e teve os direitos políticos cassadosplaypix afiliadosoutro processo, por fraudes cometidas com recursos do Fundoplaypix afiliadosAmparo ao Trabalhador. Não havia opções melhores?
playpix afiliados Aldo - Os partidos, por várias razões, estão submetidos a um processo muito vastoplaypix afiliadosdenúncias. O deputado Paulinho está se defendendo. O que qualquer brasileiro pode esperar é que a Justiça seja feita e que as pessoas respondam com o direitoplaypix afiliadosdefesa.
playpix afiliados BBC Brasil - O senhor se sente representado ideologicamente no Solidariedade? Ainda se considera um homemplaypix afiliadosesquerda?
playpix afiliados Aldo - A agenda que defendo inclui a luta pelos direitos sociais, democráticos, das minorias. Mas a agenda central para um país como o Brasil deve ser a defesa da nação, a retomada do crescimento, do desenvolvimento, a redução das desigualdades, a luta pela democracia - não a democracia formal, mas a democracia do dia a dia, a prática da tolerância.
Então, nesse sentido da agenda antiga, eu posso me considerar um homemplaypix afiliadosesquerda. Do pontoplaypix afiliadosvista da esquerda moderna, onde as prioridades são outras, deixo para a ciência política definir.
playpix afiliados BBC Brasil - Quais suas propostas centrais para a economia?
playpix afiliados Aldo - Precisamos ordenar o processoplaypix afiliadosregulação, que é muito complicado no Brasil. Houve casosplaypix afiliadosempresasplaypix afiliadostecnologia que deixaram o Brasil porque eram obrigadas a contratar mais advogados que engenheiros.
No Rio Grande do Sul, um plantadorplaypix afiliadosarroz tem que licenciar a produção todo ano. Nem na usina nuclearplaypix afiliadosAngra dos Reis há licenciamento anual. São imposições que dificultam.
No governo Dilma, recebemos US$ 70 bilhões como possibilidadeplaypix afiliadosinvestimento chinêsplaypix afiliadosinfraestrutura na direção do Pacífico. Disse à presidente que desistisse. Não é possível executar uma obra tendoplaypix afiliadospassar por terra indígena, por áreaplaypix afiliadosproteção ambiental, por floresta nacional.
Uma obra como uma hidrelétrica mobiliza milharesplaypix afiliadospessoas. De repente, um juiz no Rio Grande do Sul com base na açãoplaypix afiliadosum promotorplaypix afiliadosRondônia paralisa a obra. Isso acontece com muita frequência, não sóplaypix afiliadosobras gigantescas, masplaypix afiliadospequenas obras,playpix afiliadospontes, no consertoplaypix afiliadosescolas, rodovias.
playpix afiliados BBC Brasil - Mas e quando essas ações buscam evitar danos ao meio-ambiente e proteger populações que sofrem os impactos das obras?
playpix afiliados Aldo - O Brasil é o país que mais preservou no mundo. Usamos 8% do nosso território pra produzir uma das maiores safras do mundo. Os EUA usam 18%, a Índia, 60%. A Europa, muito mais. Quando você faz uma estrada na Amazônia, o ambientalista diz que por essa estrada vai o desmatador. Eu digo que por essa estrada vai o fiscal que vai impedir o desmatamento.
Obrasplaypix afiliadosdesenvolvimento da Amazônia beneficiam a população do Estado com a expectativaplaypix afiliadosvida mais baixa no Brasil, que tem o padrãoplaypix afiliadosvida mais baixo do mundo. A ideia que vendemplaypix afiliadosque aquilo ali é um paraíso, "os povos da floresta vivem como Adão e Eva", esqueça. Os povos da floresta vivem numa situação muito difícil.
playpix afiliados BBC Brasil - As queixas que o senhor faz ao que considera excessosplaypix afiliadosregulamentação estão muito alinhadas com as feitas pelo empresariado. Sua agenda econômica é liberal?
playpix afiliados Aldo - É uma agenda para o desenvolvimento. Os que se queixam e não são ouvidos são os trabalhadores que perdem ou não ganham um emprego porque o país não se desenvolve.
playpix afiliados BBC Brasil - Casosplaypix afiliadoscorrupçãoplaypix afiliadosgrandes obras e desastres ambientais como oplaypix afiliadosMariana não mostram que falta regulação no Brasil?
playpix afiliados Aldo - Se paralisar obra fosse demonstraçãoplaypix afiliadoseficácia no combate à corrupção, não deveria haver corrupção no Brasil. O saneamento básico deveria ser a preocupação número um dos ambientalistas. Eles deveriam estar preocupados com o rio Tietê, que apodrece a céu aberto e não tem uma ONG que se interesse por seu destino. Estão todas lá na Amazônia, provavelmente porque tem muito minério, muita água.
playpix afiliados BBC Brasil - O senhor era ministro do Esporte na época da Copa e defendeu a construçãoplaypix afiliadosestádios que hoje estão subaproveitados e dão grandes prejuízos aos governos locais. Foi um erro construí-los?
playpix afiliados Aldo - A mídia aqui do Sudeste nunca perdoou a Amazônia ter um estádio e uma sede da Copa do Mundo. A mídia admite que Mato Grosso pague o superávit da balança comercial do Brasil vendendo carne e soja, mas está proibidoplaypix afiliadosfazer quatro jogos da Copa. Era um esforço pra acolher maior evento do mundo.
playpix afiliados BBC Brasil - Com tantas carênciasplaypix afiliadosescolas, hospitais e saneamento básico no país, os bilhões gastosplaypix afiliadosestádios hoje ociosos não poderiam ter sido mais bem aproveitados?
playpix afiliados Aldo - Provavelmente, quando foi construído com dinheiro público o teatro municipalplaypix afiliadosSão Paulo ou o do Rioplaypix afiliadosJaneiro, houvesse outras prioridades. Esse discurso foi o mesmo usado pra não fazer o Maracanã no fim dos anos 1940. Os pobres não têm direito ao lazer, só à saúde e educação.
playpix afiliados BBC Brasil - Muitos dizem que não conseguem ir aos estádios da Copa porque os ingressos são caros. Sem falar nas denúnciasplaypix afiliadosdesvios e superfaturamentoplaypix afiliadosquase todas as arenas. O senhor não faz nenhuma autocrítica?
playpix afiliados Aldo - Se alguém rouba construindo um hospital no interiorplaypix afiliadosSão Paulo, como o ministro da Saúde vai saber que houve roubo naquele hospital, construído sob a responsabilidadeplaypix afiliadosterceiros? O governo não construiu os estádios, ele acompanhou a construção e fiscalizou os prazos. Onde houve irregularidade, os responsáveis têm que responder.
Infelizmente, há uma elitização do futebol no Brasil, mas o futebol aqui não é um esporte, é muito mais do que isso. Ele foi a primeira plataformaplaypix afiliadospromoção social dos pobres, dos negros, dos mestiços, dos mulatos. O futebol tem as suas mazelas, mas háplaypix afiliadossetores médios um grande ressentimento porque ele é uma coisa dos pobres e do povo.
playpix afiliados BBC Brasil - Militaresplaypix afiliadosalta patente têm se pronunciado publicamente sobre temas políticos - caso, por exemplo, do comandante do Exército, que deu uma declaração na véspera da decisão do STF sobre a prisãoplaypix afiliadosLula e que foi interpretada como uma pressão sobre o órgão. Como o senhor, que foi ministro da Defesa, encara esse fenômeno?
playpix afiliados Aldo - Os militares não querem envolvimento com política partidária, nem aspiram a substituir os civis no poder. Eles têm preocupações legítimasplaypix afiliadosbrasileiros patriotas com a situação geral do país. O país hoje vive desorientado. Os valoresplaypix afiliadosamor ao país, à memória, à história, da disciplina, hierarquia, você encontra nas Forças Armadas.
playpix afiliados BBC Brasil - Dado o históricoplaypix afiliadosintervenções militares, que vitimaram inclusive o partidoplaypix afiliadosque o senhor atuou por tantos anos, esse tipoplaypix afiliadosdeclaração não é perigoso?
playpix afiliados Aldo - Não estou defendendo a declaração, estou dizendo que ela não criou instabilidade. O golpeplaypix afiliados1964 foi um golpe civil. Foi um golpe do empresariado, da igreja, da embaixada americana, da mídia. Os militares entraramplaypix afiliadosúltima hora e não saíram até hoje - a Comissão da Verdade está aí atrás deles. Não pegou nenhum bispo, nenhum padre, nenhum empresário, nenhum embaixador, nenhum editorialista.
playpix afiliados BBC Brasil - O senhor diz que o Brasil deve se valorizar como nação miscigenadaplaypix afiliadosvezplaypix afiliadosimportar ideias do multiculturalismo. O que quer dizer?
playpix afiliados Aldo - Estamos cometendo aqui um genocídio contra os mestiços. Eles estão desaparecendo das estatísticas, sendo ocultados da vida social, do imaginário da população. Estamos importando a políticaplaypix afiliadostransformar o Brasil numa nação birracial. E não somos isso.
Nosso combate ao racismo deve ter como base a valorização da miscigenação e da mestiçagem. Foi essa miscigenação que garantiu que ainda sejamos proprietários da nossa herança remotaplaypix afiliadosnegros, índios, africanos. Vejam os negros americanos: todos eles convertidos ao Protetantismo, com suas Bíblias. Você não vê lá um paiplaypix afiliadossanto, o candomblé, a umbanda. Foram todos absorvidos pela cultura e religiosidade dos brancos.
playpix afiliados BBC Brasil - Esses mestiços que o senhor diz que estão sumindo das estatísticas, enquanto a proporção dos que se declaram negros tem crescido no país, não são eles que devem escolher a melhor formaplaypix afiliadosse identificar racialmente e lutar por suas bandeiras? Não são eles as maiores vítimas do racismo?
playpix afiliados Aldo - Infelizmente, não são eles que estão fazendo isso. Isso está sendo feito nas universidades por pesquisadores associados a recursosplaypix afiliadospesquisa da Fundação Ford, dos Estados Unidos, da Open Society,playpix afiliadosGeorge Soros, ou do IBGE (Instituto Brasileiroplaypix afiliadosGeografia e Estatística).
playpix afiliados BBC Brasil - Com que interesse?
playpix afiliados Aldo - Temos uma relação tão boa com a África,playpix afiliadostanta cumplicidade na diplomacia, e talvez isso incomode lá fora. Essas organizações querem provar que o Brasil é um país mais racista que os EUA.
Provar que no Brasil tem racismo é muito fácil, mas o Brasil não é um país racista. O Brasil nunca instituiu o racismo como políticaplaypix afiliadosEstado,playpix afiliadosgoverno, como chegou a haver na América. O racismo aqui existe como instituição social.
playpix afiliados BBC Brasil - O fatoplaypix afiliadosque a maior parte dos mortosplaypix afiliadosações da polícia são negros, por exemplo, não demonstra um racismo institucional, mesmo que não expressoplaypix afiliadosnormas?
playpix afiliados Aldo - A violência se abate sobre a população mestiça porque ela está ao alcance da violência, não apenas do Estado, mas dos grupos criminosos que cometem crimes.
playpix afiliados BBC Brasil - O ex-ministro do Meio Ambiente Sarney Filho disse que o Código Florestal, que o senhor relatou, é uma das causas para a alta no desmatamento na Amazônia desde 2012. Qualplaypix afiliadosposição?
playpix afiliados Aldo - Quando houve uma audiência sobre o Código Florestal no Supremo Tribunal Federal, o Ibama e o Ministério do Meio Ambiente foram lá defendê-lo. Quando houve a Conferência do Clima na ONU, todas as ONGs o elogiaram como sendo o fiador do Brasil pra cumprir as metas do clima. Ele é a lei mais rigorosa do mundo.
playpix afiliados BBC Brasil - Por que, então, o desmatamento aumentou?
playpix afiliados Aldo - O código penal pune o roubo, mas não consegue impedi-lo. Se houve aumento do desmatamento, muito provavelmente foi o ilegal, que templaypix afiliadosser coibido punindo e oferecendo às populações que recorrem a esse meioplaypix afiliadossobrevivência uma alternativaplaypix afiliadosvida.
playpix afiliados BBC Brasil - O senhor foi o autorplaypix afiliadosuma proposta para submeter as demarcaçõesplaypix afiliadosterras indígenas ao Congresso (hoje, o processo só cabe ao Executivo) - ideia que se tornou uma das principais bandeiras da bancada ruralista. Quais os problemas com o modelo atual?
playpix afiliados Aldo - Os índios não compõem uma unidade absoluta. Geralmente, as relações entre eles têm atritos históricos. Às vezes, defendem que as demarcações sejam feitasplaypix afiliadosilhas, para preservar a autonomiaplaypix afiliadoscada comunidade.
No caso da demarcação da Terra Indígena Raposa-Serra do Sol (em 2005,playpix afiliadosRoraima), os ianomâmis estãoplaypix afiliadosdeterminada escala, ainda da caça, coleta. Os macuxis já estãoplaypix afiliadosoutra escalaplaypix afiliadosconhecimento,playpix afiliadosacesso à tecnologia, que os ianomâmis não têm. Já são quase uma população miscigenada, que faz pastoreio, tem manejoplaypix afiliadosgado, que planta.
Defendi que houvesse demarcaçãoplaypix afiliadosilhas, mas os antropólogos que fizeram os laudos não queriam.
playpix afiliados BBC Brasil - Essa noçãoplaypix afiliadosescala,playpix afiliadosgraus evolutivos, não é a mesma que embasou a escravidão e tantos genocídios? O senhor acredita que alguns povos sejam mais evoluídos que outros?
playpix afiliados Aldo - Depende do que você julga superioridade. Se for superioridade biológica ou cultural, é racismo. Se for estabelecida por acesso a tecnologia, por padrãoplaypix afiliadosvida, não é um problema entre índio e não índio.
Tenho amigos antropólogos europeus que vêm aqui estudar determinadas tribos que não conhecem a matemática e não sabem contar. E eles acham isso uma maravilha, acham que isso deve ser preservado. Os meninos deles podem estudar matemática, mas os nossos índios aqui, não.
Não se trataplaypix afiliadosuma questãoplaypix afiliadosescala evolutiva ou civilizatória, masplaypix afiliadosacesso ao conhecimento. Um menino branco está obrigado a ir para a escola. Um índio, não? Você tem que garantir a ele educação.
playpix afiliados BBC Brasil - O senhor diz que o Brasil precisaplaypix afiliadosum Executivo forte. O que quer dizer?
playpix afiliados Aldo - Hoje, você não sabe se quem comanda o país é o juizplaypix afiliadosprimeiro grau, o promotor, o deputado ou o vigário da aldeia. Defendo um Executivo com autoridade, que tenha capacidadeplaypix afiliadosliderar e que não possa ser questionado naquilo que a lei não autoriza o questionamento.