Boulos diz que 'não é possível governar para todos': 'O mercado que tome Rivotril':giros grátis no registro

Guilherme Boulos
Legenda da foto, Pré-candidato à Presidência pelo PSOL não acredita que seja possível governar para toda a população brasileira

Com origemgiros grátis no registroclasse média alta e filhogiros grátis no registroum dos principais infectologistas do país - o médico Marcos Boulos, coordenadorgiros grátis no registroControlegiros grátis no registroDoenças da Secretariagiros grátis no registroSaúde do governogiros grátis no registroSão Paulo -, Boulos disse que não teme que seus inimigos políticos o acusemgiros grátis no registrooportunismo por liderar um movimento sem-teto.

"Eu seria oportunista se eu tivesse enriquecido no movimento. É exatamente o contrário", afirmou o pré-candidato.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

giros grátis no registro BBC Brasil - O senhor estava no Sindicato dos Metalúrgicosgiros grátis no registroSão Bernardo nos dias que antecederam a prisãogiros grátis no registroLula. O sr. defendeu até o fim uma resistência. Por que fez esse tipogiros grátis no registroação?

giros grátis no registro Guilherme Boulos - Quando uma ordem é injusta, a resistência é legítima. O processo que condenou Lula égiros grátis no registrouma ilegalidade do começo ao fim. Não há uma prova concreta. O caso do tríplex é extremamente frágil e não sou eu quem digo. Você pega os principais juristas do Brasil como se posicionamgiros grátis no registrorelação a isso.

Foi importante o Lula ir para lá. Foi importante ele não ter se entregado no prazo estabelecido pelo juiz Sergio Moro e a comoção e a solidariedade que se criougiros grátis no registrogente que veiogiros grátis no registrovários cantos do país para se formar aquele abraço ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que é um lugar muito simbólico. A foto que o Sergio Moro queria era a foto do Lula cabisbaixo, cercadogiros grátis no registropoliciais entrando numa viatura. Não foi exatamente essa foto que rodou o mundo. A resistência ali foi importante. Nós achamos que ela poderia ter prosseguido, ter ido mais adiante. Mas nós respeitamos a decisão tomada pelo Lula.

giros grátis no registro BBC Brasil - Emgiros grátis no registroopinião, Lula errou ao não resistir mais?

giros grátis no registro Boulos - É difícil dizer erro. Essa era uma decisão muito pessoal dele. É muito fácil defender martírio no corpo alheio. Eu não faço esse tipogiros grátis no registrocoisa. Em relação à questão política, nós achamos que o gestogiros grátis no registroresistência como aconteceu poderia ter ocorrido mais prolongadamente, um gesto que também serviriagiros grátis no registroexemplo para que pudesse animar mais pessoas a se dispor a ir para as ruas contra o abuso que foi a prisão do Lula.

giros grátis no registro BBC Brasil - Lula elogiou o sr. no último discurso e comparou agiros grátis no registrohistória à dele. O sr. se vê como plano Bgiros grátis no registroLula?

giros grátis no registro Boulos - Seria um desrespeito da minha parte num momento como esse querer me colocar como alternativa eleitoral ao Lula, que é candidato. O PT manteve a candidaturagiros grátis no registroLula, que está sofrendo uma injustiça brutal,giros grátis no registrorelação à qual eu sou solidário. Eu não vou cometer esse equívoco porque eu acho que, mais que um erro político, seria um desrespeitogiros grátis no registrorelação a todo sofrimento e injustiça que ele está recebendo neste momento.

Líder do MTST durante último discursogiros grátis no registroLula antesgiros grátis no registroser preso

Crédito, EPA

Legenda da foto, Boulos (à dir) diz que seria um desrespeito se colocar como alternativa a Lula

giros grátis no registro BBC Brasil - O sr. tem 1% das intençõesgiros grátis no registrovoto, segundo a última pesquisa Datafolha. Sua candidatura é para marcar posição, como um treineiro, ou o sr. acha que vai ganhar as eleições esse ano?

giros grátis no registro Boulos - Eu sou o candidato mais jovem da história do país a disputar a Presidência da República. Alguns perguntam: "Tão jovem, nunca teve experiência parlamentar". Se experiência político-parlamentar fosse credencial para governar o Brasil, o Temer seria o melhor presidente da nossa história, porque está fazendo isso há 50 anos, e é um desastre.

Experiência não é só estar no Parlamento. Obviamente, eu não desvalorizo aqueles que têm experiência parlamentar. Mas política não se faz só lá dentro,giros grátis no registrotribuna,giros grátis no registroinstituição. Política se faz nas ruas e junto com o povo. É o que eu tenho feito nos últimos 16 anos da minha vida.

A nossa candidatura é para disputar projetogiros grátis no registropaís, para disputargiros grátis no registroverdade, uma candidatura para valer. Não é candidatura para marcar posição. Eu lancei minha candidatura há um mês. O Bolsonaro está fazendo campanha há dois, três anos pelas redes sociais. A campanha está absolutamente aberta. O Datafolha não expressa o que nós vamos vivenciar daqui a quatro meses, cinco meses.

Nós não achamos que o mundo acabagiros grátis no registro2018. Independentementegiros grátis no registroquem ganhar as eleições, precisamos construir um projetogiros grátis no registrofuturo que seja capazgiros grátis no registroresgatar a esperança. Um dos erros que a esquerda cometeu foi pensar numa estratégiagiros grátis no registroacordo apenas com a próxima eleição. Estratégia com prazogiros grátis no registrovalidade no calendário eleitoral. Nós não vamos fazer isso. Nós queremos pensar um projeto para os próximos 10, 15 anos. Para a próxima geração, não pela próxima eleição.

giros grátis no registro BBC Brasil - Caso seja eleito, como enfrentaria um Congresso provavelmente hostil ao seu governo? O sr. não tem medogiros grátis no registroum eventual governo PSOL ser inviabilizado?

giros grátis no registro Boulos - Nós queremos apresentar um projeto que, pela primeira vez, vai botar o PMDB na oposição. Não queremos o PMDB na nossa base parlamentar, não queremos aliança fisiológica. Isso significa apresentar um projeto político, que a participação popular não se reduza a votar e acabou. Isso não é democracia. Isso é um conceito tacanho e limitadogiros grátis no registrodemocracia.

Queremos uma participação popular permanente. Nós queremos plebiscitos e referendos para temas fundamentais, a começar para no dia 1ºgiros grátis no registrojaneirogiros grátis no registro2019 um plebiscito para que o povo decida se quer revogar as medidas tomadas pelo governo ilegítimogiros grátis no registroMichel Temer. Sem isso não se governa o Brasil.

Boulos carrega caixãogiros grátis no registroMarielle

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Boulos (acima, no enterro da vereadora Marielle) diz que se juntou ao MTST para que todos possam ter as mesmas oportunidades que ele teve

giros grátis no registro BBC Brasil - Parece que o sr. está propondo tirar poderes do Parlamento com essa política plebiscitária.

giros grátis no registro Boulos - Isso não é desvalorizar as instituições. Ao contrário, é valorizar as instituições, porque é isso que vai fazer com que as instituições estejamgiros grátis no registrosintonia com a sociedade, aproximando o poder das pessoas.

Mas para representar o sentimento da sociedade tem que estar ouvindo o sentimento da sociedade. Nós precisamos criar esses canaisgiros grátis no registroescuta egiros grátis no registrodefinição que não existem hoje no Brasil. E reitero que eu não estou propondo nenhuma invenção da roda. Isso existegiros grátis no registrovárias partes do mundo. A Suíça faz maisgiros grátis no registrodez plebiscitos por ano. O Uruguai faz plebiscitos. Os Estados Unidos, que não podem ser exatamente acusadosgiros grátis no registrocomunistas, fizeram plebiscito agora na Califórnia, fazem plebiscitos.

Vários países latino-americanos fazem plebiscitos, escutam as pessoas. O nome disso não é autoritarismo para fechar o Congresso. O nome disso é simplesmente democracia.

giros grátis no registro BBC Brasil - Se eleito presidente, como o sr. lidaria com a Lava Jato, com a Polícia Federal e com o Judiciário?

giros grátis no registro Boulos - Corrupção não pode ser tolerada. Toda investigaçãogiros grátis no registrorelação à corrupção deve ser valorizada. Agora, isso precisa ser feito com respeito às garantias constitucionais, à presunçãogiros grátis no registroinocência e ao amplo direitogiros grátis no registrodefesa. Isso porque, para combater corrupção, não pode passar por cima da lei e dos direitos individuais. Se não, nós não estamos mais falando estadogiros grátis no registroDireito. Operaçõesgiros grátis no registrocombate à corrupção, se comprovarem provas contra as pessoas, deve haver punição. Isso independente da coloração partidária. Esse é o papel do Judiciário. É pensar e atuargiros grátis no registromaneira isenta, independente da coloração partidária.

Lamentavelmente, o que tem ocorrido hoje não é exatamente isso. A Operação Lava Jato foi por caminhos muito preocupantes. Eu não estou vendo algum grande tucano preso pela Lava Jato. É verdade que prendeu figuras do PMDB só depoisgiros grátis no registrocumprirem um determinado papel. O pedidogiros grátis no registroprisãogiros grátis no registroEduardo Cunha foi feitogiros grátis no registrodezembrogiros grátis no registro2015. O Eduardo Cunha só foi presogiros grátis no registroverdade após ter coordenado o processogiros grátis no registroretirada da Dilma.

Eu acredito que o combate à corrupção não se dá principalmente com operações policiais. Elas são necessárias e devem continuar. No nosso governo tem o apoio, evidentemente, operaçõesgiros grátis no registrocombate à corrupção. O combate efetivo à corrupção para além das operações se dá com a mudança do sistema político. Como funciona o sistema político atual? Financiamentogiros grátis no registrocampanha eleitoral vai lá e financia. Ganha, está comprometido com quem financiou. Vai favorecer os interessesgiros grátis no registroaprovaçãogiros grátis no registroleis,giros grátis no registronegociaçãogiros grátis no registrocontratos para empresas e empresários que financiaram.

Se a gente quer combater corrupçãogiros grátis no registroverdade, vamos parargiros grátis no registroudenismo egiros grátis no registrofalso moralismo e vamos enfrentar a raiz do problema, que é transformar profundamente o sistema político brasileiro.

giros grátis no registro BBC Brasil - Recentemente, o sr. criticou um economista liberal que propôs privatizaçõesgiros grátis no registrolarga escala. Qual seu plano para economia?

giros grátis no registro Boulos - Estou para encontrar algum economista neoliberal que se preze mundo afora que defenda isso (privatizações). O próprio FMI nos relatórios mais recentes fez uma sériegiros grátis no registroautocríticasgiros grátis no registrorelação à política que pregaram mundo afora. A política que pregaramgiros grátis no registrorelação à crisegiros grátis no registro2008, que não funcionou. Fracassougiros grátis no registrotodos os lugares do mundo. A políticagiros grátis no registroausteridade,giros grátis no registroreduçãogiros grátis no registroinvestimentos públicos durante a crise, só gera novos desajustes fiscais.

Olha, estamosgiros grátis no registrocrise, o Estado segura o investimento. Qual o resultado disso? O resultado é que a economia cai ainda mais com a ausência do investimento público. Gera mais desemprego, desaquece ainda mais a economia e, portanto, arrecada ainda menos. Portanto, a políticagiros grátis no registroajuste fiscal gera um desajuste.

Em todos os países do mundo, o papel do Estado na indução do crescimento econômico e do desenvolvimento do país foi chave. Pega os Estados Unidos, modelo do liberalismo. Quem é que financiou as pesquisas do iPhone no Vale do Silício? Vocês acham que foi a Apple? Quem financiou foi o Departamentogiros grátis no registroEstado, o Departamentogiros grátis no registroDefesa. O Estado tem um papel-chave para qualquer país, inclusive para os grandes países capitalistas, no crescimento e na indução econômica.

Mas o investimento público é chave. Investimentogiros grátis no registrotecnologia, ensino, moradia popular e saneamento básico, infraestrutura urbana. Isso gera emprego, serviços públicos essenciais para a população e, ao mesmo tempo que recupera a economia brasileira, nos permite reduzir o abismo social e fazer com que o Estado cumpra mais com agiros grátis no registroresponsabilidade. Essa é uma primeira linha que nós defendemos.

Boulos com João Stédile (à esq, líder do MST)

Crédito, LULA MARQUES

Legenda da foto, Boulos (conversando com João Stédile, da direção do MST) inicou militância política aos 15 anos no movimento estudantil

Agora como se sustenta isso? Enfrentando a desigualdade no nosso país. No Brasil, não falta dinheiro. O Brasil é uma sétima economia do mundo. O dinheiro está mal distribuído. Nós temos que mexer numa reforma tributária profunda e progressiva. O sistema tributário brasileiro está baseadogiros grátis no registroarrecadação sobre consumo, que é profundamente regressiva, que não tem justiça tributária. O que seria num Estado que opere para a justiça social? Quem tem mais paga mais, quem tem menos paga menos. É assimgiros grátis no registroboa parte do mundo.

giros grátis no registro BBC Brasil - Temos 12 milhõesgiros grátis no registropessoas desempregadas. Eu não entendi como o sr. pretende estimular esse emprego. É o Estado financiando empresas, como no governo Dilma? Por trás do refinanciamento o sr. tem a ideiagiros grátis no registroque elas geram emprego, e que talvez facilitando a vida delas eu consiga fazer com que elas empreguem?

giros grátis no registro Boulos - Eu não acho que esse é o caminho. Eu acho que um dos erros cometidos pelo governo Dilma foi fazer as desoneraçõesgiros grátis no registrograndes setores econômicos. E isso não se reverteugiros grátis no registromelhorias para a sociedade. O que eles deixaramgiros grátis no registropagargiros grátis no registroimpostos não deu arrecadação e não se reverteugiros grátis no registronovos empregos. Ao contrário, fecharam postosgiros grátis no registrotrabalho. Não teve contrapartida social.

O caminho para estimular economia não é desonerar o setor privado. No meu entendimento, o caminho para estimular a economia é investimento público diretogiros grátis no registroáreas fundamentais, dei exemplos,giros grátis no registroinfraestrutura social, que trazem uma sériegiros grátis no registrobenefícios para o conjunto da sociedade, ao mesmo tempo que geram emprego. Você pega a construçãogiros grátis no registromoradias populares. O setor da construção civil é um dos mais intensivosgiros grátis no registromãogiros grátis no registroobra, gera bastante emprego. Se você fortalece o Minha Casa, Minha Vida,giros grátis no registroalgum modo fez isso.

Você tem toda uma linhagiros grátis no registroinvestimento, saneamento básico. Isso gera bastante emprego. Isso é investimento público direto.

giros grátis no registro BBC Brasil - Então seria o Estado empregando? Seria a empresa brasileiragiros grátis no registroconstrução do Minha Casa, Minha Vida...

giros grátis no registro Boulos - Você tem vários modelos. Tem empresas públicas que empregam. A Petrobras agora está demitindo loucamente. Lá no Comperj, no Riogiros grátis no registroJaneiro, foi contratada uma construtora chinesa para fazer. Está tendo um desmonte das empresas públicas. O Estado não controla todos os setores da economia, mas nos setores onde há presença estatal isso é contratação direta pelas empresas públicas. Nos setoresgiros grátis no registroinvestimento público onde não há empresa estatal, você pode discutir a construçãogiros grátis no registroempresas públicas, mas num primeiro momento é evidentemente viabilizaçãogiros grátis no registroinvestimentosgiros grátis no registroobras também por meiogiros grátis no registrolicitações no que a lei determina.

giros grátis no registro BBC Brasil - A gente viu ascensão das classes C e D formando uma nova classe média. Como convencer essas pessoas, a classe média tradicional e a elite econômicagiros grátis no registroque um governo Boulos poderia ser bom para eles?

giros grátis no registro Boulos - Não dá para convencer a todos. Tem alguns, inclusive, que eu até abro mãogiros grátis no registroconvencer. O 1% dessa elite econômica, eu não acredito exatamente que eles considerem as políticas que nós defendemos boas para eles. No momento que nós estamos e, numa sociedade dividida e polarizada, não é possível governar para todos.

Nós queremos enfrentar interesses. Interesses poderosos. Nós queremos governar pelos 99%. Essa é a nossa decisão. Governar para os 99% significa enfrentar os privilégios do 1%, uma elite financeira que só espolia o país, que leva nossas riquezas lá para fora. O Brasil para eles é uma plataformagiros grátis no registroacumulação, e não deixam nada aqui.

Nós queremos enfrentar a lógicagiros grátis no registrouma economia que exclui egiros grátis no registroum Estado que não representa as maiorias. É enfrentar as oligarquias políticas que mandam no Brasil, o grande setor econômico que dá as cartas por aqui. O debate que nós temos que fazer com a sociedade é que hoje esse é o único caminho possível para que os 99% possam ter futuro.

Do jeito que a coisa vai, se não houver uma reversão, perspectivagiros grátis no registrofuturo não vai existir para a maioria do povo brasileiro. Nós temos 30%giros grátis no registrodesemprego entre jovens. O cenário é muito grave. Nós precisamos ter propostas contundentesgiros grátis no registroenfrentamentogiros grátis no registrorupturas nesse sentido. O papel da minha campanha não é acalmar o mercado. O mercado que busque tomar Rivotril. O papel da nossa campanha é defender o que a gente acha que tem que se defender para a maioria do povo brasileiro. É transformar maiorias sociaisgiros grátis no registromaiorias políticas. Isso significa confrontar interesses e significa enfrentar privilégios porque não tem outro caminho.

giros grátis no registro Boulos - Eu acho que não dá para generalizar isso. Efetivamente, você teve um crescimentogiros grátis no registroideiasgiros grátis no registrodireita na sociedade, mas não podemos maximizar e temos que buscar compreender o contextogiros grátis no registroque isso acontece. Na medidagiros grátis no registroque há uma falência do sistema político, que se expressa também numa crisegiros grátis no registrorepresentação, as ideias se polarizam. As alternativasgiros grátis no registrocentro, as alternativas do establishment, são cada vez mais menos críveis para as pessoas. As pessoas não querem isso. Isso abre demanda pelo novo.

Isso não está acontecendo só no Brasil. Isso tem criado mundo afora novas experiênciasgiros grátis no registrodireita e novas experiênciasgiros grátis no registroesquerda. No Brasil, o problema é que o sentimentogiros grátis no registroantipolítica foi canalizado principalmente pela direita até aqui. A esquerda não conseguiu ainda construir uma alternativa ousada que se apresente também como antiestablishment, como antissistema - por ter tido 13 anos do PT, e as pessoas associam o PT à esquerda. Na cabeçagiros grátis no registroboa parte da população é assim, embora isso não seja exato, preciso. O fato é que na cabeça das pessoas isso acaba sendo parte da crisegiros grátis no registrorepresentação e não uma alternativa a ela.

Nosso desafio estágiros grátis no registroapontar e construir um trajeto da esquerda no próximo período que não tenha medo exatamentegiros grátis no registrolevantar essas bandeiras. Onde a esquerda manteve firme suas bandeiras e ousou, ela cresceu mundo afora. Nós temos que ir consolidando também a construçãogiros grátis no registrouma alternativa à esquerda, que dispute esse sentimentogiros grátis no registroantipolítica. Boa parte do eleitorado que diz que vai votar no Bolsonaro não diz isso porque égiros grátis no registroextrema direita, porque é homofóbico, machista. Nós não temos 20%giros grátis no registroextrema direita no Brasil, mas sim (gente que) vê no Bolsonaro exatamente alguém que possa acabar com essa bandalheira toda que está aí, uma coisa difusagiros grátis no registrocrise da política.

Este espaço nós temos que disputar com ideias firmes, arejadas, conectadas com a dinâmica dos movimentos sociais mais novos, mais importantes, mais expressivos e, ao mesmo tempo, dialogando muito com a juventude. Ter a Mídia Ninja junto com a gente na campanha é uma expressão muito importante. Dialogar com novas linguagens, com novas gramáticas, sem abrir mão das bandeiras fundamentais.

giros grátis no registro BBC Brasil - O sr. se considera um radical?

giros grátis no registro Boulos - No Brasil, é muito fácil ser radical. Defender a igualdade racial é coisagiros grátis no registroradical. Qualquer um é taxadogiros grátis no registroradical. O debate político foi levadogiros grátis no registrouma maneira que tão irresponsável à direita que basta você ficar parado que você virou extrema esquerda no dia seguinte. Se defender a igualdade social, eu sou. Se defender a democratização do Estado é ser radical, eu sou. Se defender liberdades individuais sem concessões, direitos civis e democráticos é ser radical, eu sou. Há 50 anos, o nome disso não era ser radical, mas chamem como quiser. O que estágiros grátis no registrojogo, para a candidatura que estamos construindo, é apresentar um projeto ousadogiros grátis no registromudanças. É tocargiros grátis no registroferidas fundamentais. Eu não acredito que isso seja extremismo. Extrema é a realidade brasileira hoje.

giros grátis no registro BBC Brasil - E o papel do Brasil no mundo. Como negociar com o governo Trump e como o sr. ver a questão da Venezuela?

giros grátis no registro Boulos - Política externa para nós tem que estar baseada na Aliança Sul-Sul. Esse é o nosso foco. Precisamos ter uma integração com países latino-americanos, com a África. Isso é um conceitogiros grátis no registrogeopolítica que nos aproximagiros grátis no registropaíses que construíram agiros grátis no registrotrajetória tal como a nossa. Isso não quer dizer não ter relações com o Norte. Essas relações precisam existir tanto do pontogiros grátis no registrovista comercial, como diplomático e político.

Guilherme Boulos

Crédito, Palácio do Planalto

Legenda da foto, 'Política externa para nós tem que estar baseada na Aliança Sul-Sul. Esse é o nosso foco. Precisamos ter uma integração com países latino-americanos, com a África'

Países como o nosso, com a dimensão do Brasil, a sétima maior economia do mundo, maisgiros grátis no registro200 milhõesgiros grátis no registrohabitantes, precisam dialogar com o mundo todo. Mas também precisam saber aonde querem chegar e não podem tolerar ser humilhados no cenário internacional, ser subordinados no cenário internacional.

Não podem tolerar nívelgiros grátis no registrointervenção estrangeira que nós temos hoje. Voltamos a ser aquele país que fala fino com os Estados Unidos e grosso com a Bolívia, isso precisa ser enfrentado. Isso significa fortalecer mais o Mercosul,giros grátis no registrotermos concretos, a Unasul, fortalecer as alianças latino-americanas. Isso tem o significadogiros grátis no registrofazer parcerias com os nossos e não subordinar apenas as relações internacionais a relações econômicas. Nós não podemos fazer com os nossos vizinhos a mesma política neocolonial que nós reclamamos que os Estados Unidos faz conosco. O Brasil precisa se reinserir também no cenário internacional e não apenas como produtorgiros grátis no registrocommodities.

giros grátis no registro BBC Brasil - Como o sr. vê a situação na Venezuela hoje e como agiria caso fosse eleito?

giros grátis no registro Boulos - Antesgiros grátis no registroqualquer coisa, é preciso respeitar a soberania dos países e autodeterminação dos povos. É inadmissível uma declaração como a do secretáriogiros grátis no registroEstado dos Estados Unidos estimulando o golpe militar na Venezuela e sugerindo a intervenção estrangeira na Venezuela. O problema na Venezuela partegiros grátis no registrouma crise econômica profunda, que também foi resultadogiros grátis no registroerros cometidos pelo governo. De não ter diversificado a matriz produtiva. A Venezuela permaneceu absolutamente refém do petróleo e no momento que teve renda petrolífera altíssima, quando o petróleo estava US$ 110 o barril, tinha a oportunidadegiros grátis no registroter investidogiros grátis no registrodiversificação produtiva para se tornar autossustentável, inclusivegiros grátis no registroalimentos.

Mas atuou como se a alta dos preços do petróleo fosse durar para sempre. Quando o petróleo caiu para US$ 30, 40 o barril, o país quebrou economicamente. Um país que depende absolutamente do petróleo, quando estava 110, tinha condições fazer políticas sociais, e foram feitas. A desigualdade foi combatida brutalmente na Venezuela, o que não se mostra. Teve políticas sociais, as Missiones, praticamente se erradicou o analfabetismo na Venezuelagiros grátis no registropoucos anos. Teve políticasgiros grátis no registroinvestimento público fortíssimogiros grátis no registromoradias, o Grand Mission Vivenda. Fez essas políticas, mas não se preocupou com o futuro mais no médio e longo prazo, que seria a diversificação produtiva. Quando o petróleo cai e não permite mais isso, entra numa crise econômica profunda. Agora, eu sou candidato a presidente do Brasil, não da Venezuela. Não me cabe me imiscuirgiros grátis no registroassuntos da Venezuela.

Oposição perseguida? Não é meu papel chancelar o governo Maduro. Se erros foram cometidos, precisa responder por esses erros. Agora, o mesmo vale para a oposição venezuelana. Tratar a oposição venezuelana como coitadinha é não conhecer o que se passa na Venezuela. A oposição venezuelana apostou na violência política, existem provas, imagens. A oposição venezuelana guardando e armazenando alimentos para aprofundaram a crise social com desabastecimento. A oposição venezuelana formou milícias.

giros grátis no registro BBC Brasil - O governo também...

giros grátis no registro Boulos - Houve enfrentamento ali, é evidente que as mortes pelas quais gente do governo foi responsável tem que responder por elas. Nós não vamos passar a mão na cabeçagiros grátis no registroninguém, mas nós também temos que falar das mortes causadas pela oposição. O cenário é complexo. É muito fácil apresentar o Maduro como o vilão e oposição como mocinha. A vida não é desse jeito. É muito mais complexo na Venezuela.

Quando vem a imprensa brasileira chamando a Venezuelagiros grátis no registroditadura: o Maduro foi eleito. Eleições com observadores internacionais, legitimadas. Foi eleito pela maioria do povo venezuelano. O mesmo não acontece com Temer, aliás. Não vi ninguém chamá-logiros grátis no registroditador. (Sobre) as eleições do Trump nos Estados Unidos pairam talvez mais suspeitasgiros grátis no registrorelação àgiros grátis no registromanipulaçãogiros grátis no registroredes, à Cambridge Analytica, do que a todo o processo que foi feito às eleições do Maduro na Venezuela. O cenáriogiros grátis no registroluta na Venezuela é muito mais complexo.

Nós temos uma oposição extremamente violenta e nós temos uma tentativa dos Estados Unidosgiros grátis no registrotentar desestabilizar a Venezuela. Os Estados Unidos têm um péssimo costumegiros grátis no registrotratar qualquer governo com que ele não concorda como ditadura. Ameaçar intervenção, ameaçar invasão, e isso nós não podemos permitir.

Guilherme Boulos

Crédito, Paulo Pinto/Agência PT

Legenda da foto, Boulos defende consultas à população sobre temas fundamentais: 'Isso não é desvalorizar as instituições (como o Congresso). Ao contrário, é valorizar as instituições, porque é isso que vai fazer com que as instituições estejamgiros grátis no registrosintonia com a sociedade'

giros grátis no registro BBC Brasil - O sr. nasceugiros grátis no registroum contextogiros grátis no registroclasse média, classe média alta. O sr. não tem medogiros grátis no registroser classificado como oportunista,giros grátis no registroter usado um movimento social para entrar na política e fazer campanha?

giros grátis no registro Boulos - Eu seria oportunista se eu tivesse enriquecido no movimento. É exatamente o contrário. Eu comecei minha militância com 15 anosgiros grátis no registroidade num movimento estudantil secundarista. Militei num movimentogiros grátis no registrojuventude e fui percebendo que não era ali que eu queria estar porque me incomodava muitogiros grátis no registrover muita gente apresentando soluções para o povo, falandogiros grátis no registronome do povo, mas com muito pouca disposiçãogiros grátis no registroouvir o povo,giros grátis no registroestar junto com as pessoas.

Em 2001, o MTST entra na região metropolitanagiros grátis no registroSão Paulo, período que eu também estava iniciando minha formaçãogiros grátis no registroFilosofia. Depois, completei ela, me formei, dei aula por alguns anosgiros grátis no registroescolas públicas nas periferias. Depois, me formeigiros grátis no registroPsicanálise, fiz mestradogiros grátis no registroPsiquiatria, dou aula hoje também na Escolagiros grátis no registroEducação Permanente (ligada ao Hospital das Clínicas), alémgiros grátis no registroescrever artigos. Escrevo hoje para a revista Carta Capital, escrevo para sites.

Solidariedade é um princípio fundamental. Solidariedade é ter a capacidadegiros grátis no registrose colocar no lugar do outro,giros grátis no registrosentir uma dor que não é sua. Sentir agiros grátis no registrodor todo mundo sente. Solidariedade é algo essencialmente humano, que é a capacidadegiros grátis no registrosentir e se sensibilizar com a dor dos outros. Solidariedade não deveria ser vista como um problema, ainda mais no mundo que a gente vive. Deveria ser vista como algo a se propagar. O que me levou ao MTST é lutar para que todos possam ter as oportunidades que eu tive.

giros grátis no registro BBC Brasil - Recebeu críticas por isso?

giros grátis no registro Boulos - A pergunta tem que ser invertida. A pergunta não é por que alguém se juntou à luta por moradia num país que tem maisgiros grátis no registro6 milhõesgiros grátis no registropessoas sem casagiros grátis no registropleno século 21. A pergunta deveria ser por que mais gente não se junta, por que mais gente não se sensibiliza.

Essa é a pergunta que nós temos que fazer e que diz muito sobre o que é a sociedade brasileira. É estranho que a gente tenha que se explicar, se justificar por que se juntou a uma causa e foi solidário com as pessoas. A explicação deveria mudar o lado do balcão.