Em decisão 'pessoal', Joaquim Barbosa desiste da disputa presidencial:novibet heraklion

Joaquim Barbosa

Crédito, Gláucio Dettmar/Agência CNJ

Legenda da foto, O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa desistiunovibet heraklionser candidato à Presidência

Nascidonovibet heraklionfamília pobre da pequena Paracatu (MG),novibet heraklionpai pedreiro e mãe faxineira, Barbosa é primogênitonovibet heraklionoito irmãos, foi também faxineiro, antesnovibet heraklionse tornar digitadornovibet herakliongráfica enovibet heraklionestudar Direitonovibet heraklionuniversidade pública. Depois vieram o mestrado e o doutorado no exterior, o cargonovibet heraklionprocurador da República, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) se tornando posteriormente, o primeiro negro a presidir a Corte.

Joaquim Barbosa despontou no cenário eleitoral no momentonovibet heraklionque políticos e partidos tradicionais são alvonovibet herakliondenúncias, processos e prisões. Analistas avaliavam que ele poderia conseguir votos à direita, por conta da imagem anticorrupção construída durante o julgamento do mensalão, mas também à esquerda, pornovibet heraklionorigem e preocupação com temas sociais.

Na época do julgamento,novibet heraklionpostura "rígida", condenando vários réus a sentenças que resultaramnovibet heraklionvários anosnovibet heraklionprisão, garantiu popularidade e capasnovibet heraklionrevistas semanais como um "homem que estava mudando" o país.

Por outro lado, o conturbado julgamento dos réus do mensalão também criou entre críticos uma imagemnovibet heraklionjuiz arrogante e intransigente. Um juiz que, ao defender suas teses, não aceitava opiniões contrárias. Foram muitas as discussões acaloradas com Ricardo Lewandowski, que era o revisor do processo.

Em um dos episódios, o relator, Joaquim Barbosa, afirmou que o coleganovibet heraklionCorte fazia "vistas grossas" contra fatos que apontavam que os réus recebiam propina. Para ele, não era possível divergirnovibet heraklionfatos.

Lewandowski se disse "estupefato" com a declaração, acrescentando que Barbosa não aceitava quem o contrariasse. O presidente do STF na época, Ayres Britto, concordou com Lewandowski e disse que fatos podem ser interpretadosnovibet heraklionformas diferentes por diversas pessoas.

Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski

Crédito, STF

Legenda da foto, Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski protagonizaram discussões durante julgamento do mensalão

Faxineiro, digitador, estudante

Joaquim Barbosa, ou Joca, seu apelido, saiunovibet heraklionParacatu no começo dos anos 1970. Tinha 16 anos. Queria fugir da pobreza e estudar. Acabou fazendo um biconovibet heraklionfaxineironovibet heraklionum tribunalnovibet heraklionJustiçanovibet heraklionBrasília antesnovibet heraklionentrar na profissãonovibet herakliondigitador na gráfica do Senado.

Trabalhava à noite, digitando textos para o Jornal do Senado, enquanto terminava o antigo 2º graunovibet heraklionuma escola pública.

Logo depois, passou no vestibularnovibet heraklionDireito na Universidadenovibet heraklionBrasília (UnB), tida como um dos polosnovibet heraklionresistência estudantil à ditadura militar que regia o país.

Era um época conturbada na UnB. Em 6novibet heraklionjulhonovibet heraklion1977, a universidade foi invadida por tropas militares comandadas pela ditadura.

Estudantes foram presos; e professores e funcionários, intimados. O estopim foi uma greve que estudantes e professores declararam para dar um fim às agressões que sofriam. Por coincidência, a intervenção na universidade veio depoisnovibet heraklionestudantesnovibet heraklionDireito pedirem um habeas corpus, reinvindicando o direitonovibet heraklionassistir às aulas durante a greve - Barbosa não fazia parte desse grupo.

Em entrevista recente, ele lembrou dessa época. "Assisti a muitas aulas com policiais na porta, vi colegas sendo presos na saída da faculdade."

No ano seguinte, Barbosa fez partenovibet heraklionum coletivonovibet heraklionalunosnovibet heraklionDireito que assumiu o Diretório Acadêmico da universidade, rompendo uma direção anterior que era mais identificada com a direita.

O então aluno não atuavanovibet heraklionforma extensiva no movimento estudantil que combatia o regime. Sua militância era mais na área jurídica, segundo José Geraldonovibet heraklionSousa Junior, contemporâneonovibet heraklionBarbosa na universidade.

Ex-ministro Joaquim Barbosa

Crédito, Nelson Jr./STF

Legenda da foto, Barbosa surgiu como possível candidato carregando uma imagemnovibet heraklionluta contra a corrupção, perfil criado durante o julgamento do mensalão

"Ele foi uma das pessoas que criaram um núcleo na UnB que dava apoio jurídico para pessoas pobres sem acesso a advogados", lembra Sousa Junior, hoje professornovibet heraklionDireito na UnB. "Foi um núcleo inovador, porque na época não existia Defensoria Pública."

Sousa Junior acabou por reencontrar o colega anos depois - ele como reitor da UnB e Barbosa como ministro do STF.

Nessa ocasião,novibet heraklion2011, o STF julgava uma açãonovibet heraklioninconstucionalidade proposta pelo Democratas contra a políticanovibet heraklioncotas raciais da UnB. A universidade foi pioneira no Brasil ao implantar,novibet heraklion2003, um sistema que reserva parte das vagas do vestibular para negros.

"O Joaquim Barbosa teve um papel importante nesse processo (julgamento da ação), participandonovibet heraklionvárias audiências públicas e votando a favor das cotas", lembra Sousa Junior. "E o voto dele foi simbólico. Primeiro porque ele é ex-aluno da universidade. Depois, por ser negro e ter analisado ações raciais afirmativas na pós-graduação. Ele era referência e sujeito nesse processo", diz o professor.

Em seu voto, o magistrado defendeu as cotas como políticas públicas voltadas para concretizar princípios constitucionaisnovibet heraklionigualdade e neutralizar "efeitos perversos da discriminação racial,novibet herakliongênero,novibet heraklionidade enovibet heraklionorigem".

"Essas medidas visam a combater não somente manifestações flagrantesnovibet herakliondiscriminação, mas a discriminaçãonovibet heraklionfato, que é a absolutamente enraizada na sociedade e,novibet herakliontão enraizada, as pessoas não a percebem", declarou, na ocasião.

Policiais na Universidadenovibet heraklionBrasília

Crédito, Arquivo/UnB

Legenda da foto, A Universidadenovibet heraklionBrasília foi invadida por militares durante grevenovibet heraklionestudantes e professores

Procurador, ministro

Nos anos 1980, depoisnovibet heraklionconcluir a graduação, Joaquim saiu do país para melhorarnovibet heraklionformação. Fez mestrado e doutoradonovibet heraklionDireito Público na Sorbonne, tradicional universidade francesa - uma época que ele classifica como "enriquecedora" e que ajudou a diminuirnovibet herakliontimidez crônica. Fala inglês, francês e alemão.

Na volta, trabalhou no setor jurídico do Ministério da Saúde e, depois, passounovibet heraklionum concurso para o importante cargonovibet heraklionprocurador da República, no Rio.

Em 2003, o então presidente Lula procurava uma pessoa para assumir uma cadeira no STF. O petista queria um negro. A costura para indicação envolveu os ministros Márcio Thomaz Bastos, da Justiça, e José Dirceu, da Casa Civil - nove anos depois, o petista acabou condenado por Barbosa no processo do mensalão.

Em 11 anos como ministro, Barbosa votou a favornovibet herakliontemas considerados progressistas, como a união homoafetiva, o abortonovibet heraklionanencéfalos e pesquisas com células-tronco.

Sua passagem pela principal Corte do país, no entanto, ficou marcada pornovibet heraklionrígida postura diantenovibet heraklioncasosnovibet heraklioncorrupção e pelas famosas discussões com os colegas - ele decidiu sair do STF, mesmo podendo ficar.

Em uma das brigas, depoisnovibet herakliono então ministro César Peluzo chamá-lonovibet heraklioninseguro, Barbosa retrucou, afirmando que o colega era "desleal, caipira e tirano". Em outra, disse que Gilmar Mendes não estava falando com "umnovibet heraklionseus capangas do Mato Grosso".

Ele também já teve rusgas com jornalistas. Em marçonovibet heraklion2013, chamou o repórter Felipe Recondo, à época no jornal O Estadonovibet heraklionS. Paulo,novibet heraklion"palhaço" e o mandou "chafurdar no lixo". O repórter havia pedido os gastosnovibet herakliongabinete enovibet heraklionviagens do ministro por meio da Leinovibet heraklionAcesso à Informação.

Meses depois, Barbosa pediu para o então presidente da Corte, Ricardo Lewandowski, afastar a mulhernovibet heraklionRecondo, Adriana Leineker Costa, do cargo que ela ocupava no STF. O ministro afirmou ser "antiético" o fatonovibet heraklionCosta trabalhar no tribunal tendo como marido um jornalista. Ela acabou sendo deslocada para outro tribunal.

Outro caso polêmico ocorreu quando o magistrado processou o jornalista Ricardo Noblat, acusando-onovibet heraklionracismo, difamação e injúria.

Emnovibet heraklioncoluna no jornal O Globo, Noblat criticou Barbosa por se envolvernovibet herakliondiscussões durante o julgamento do mensalão. Ele escreveu: "Para entender melhor Joaquim acrescenta-se a cor -novibet heraklioncor. Há negros que padecem do complexonovibet heraklioninferioridade. Outros assumem uma postura radicalmente oposta para enfrentar a discriminação".

Na denúncia, o Ministério Público Federal concordou com Barbosa. "Ao afirmar que o ofendido pertence à categoria dos negros autoritários, o denunciado extrapola a injúria racial (...) pois as ofensas passaram a visar não apenas uma pessoa (...) mas sim menosprezar, induzindo à discriminaçãonovibet herakliontodas as pessoasnovibet heraklioncor negra", escreveu o órgão.

Barbosa perdeu o processo.

'Inseperável da verdade'

Emnovibet heraklionpassagem pelo STF, Barbosa também deixou famanovibet heraklionintransigente enovibet heraklionter pouco traquejo no convívio com advogados e colegas da magistratura.

"Ele não é uma pessoanovibet herakliondiálogo, ele é irascível", diz Nino Toldo, desembargador federalnovibet heraklionSão Paulo e ex-presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe).

Toldo conta que a Ajufe pediu uma reunião com o ex-ministronovibet heraklionnovembronovibet heraklion2012, quando Barbosa assumiu a presidência do STF. O ex-ministro só se reuniu com a associação seis meses depois - e ainda chamou os colegasnovibet heraklionsindicalistas, o que foi malvisto na categoria.

Em 2013, Barbosa participounovibet heraklionoutra briga com os juízes ao suspender uma emenda constitucional que criava quatro novos tribunais federais, uma demanda da categoria e que está parada desde então. O ministro afirmou que o governo terianovibet herakliongastar muitos recursos para criar os tribunais. "Ele tomou uma decisão monocrática, como presidente do STF, durante o plantão", diz Toldo.

Na opinião do desembargador, "como presidente do STF, ele provou que não tem condiçõesnovibet heraklionser presidente da República".

Um advogado que atuou no STF durante o julgamento do mensalão também critica a postura do ex-ministronovibet heraklionrelação aos defensores - Barbosa chegou a dizer que advogados "dormem até tarde" e já expulsou um deles do plenário.

Joaquim Barbosa

Crédito, STF

Legenda da foto, Joaquim Barbosa foi o primeiro negro a assumir a cadeiranovibet heraklionpresidente do Supremo Tribunal Federal

"O ex-ministro se mostrava uma pessoa totalmente resistente e intolerante à atuação dos advogados. Raramente recebia os advogados, o que é uma praxe na Corte", disse o defensor, que preferiu não se identificar. Segundo a assessorianovibet heraklionBarbosa, o magistrado só recebia advogados caso a outra parte envolvida no processo também estivesse presente.

Em uma entrevistanovibet heraklion2014, Barbosa explicounovibet heraklionpostura rígida diante dos colegas. "Sou um sujeito inseparável da verdade. Não suporto esse negócionovibet heraklionescolher palavrinhas gentis para fazer algo inaceitável. Isso é da nossa cultura. O sujeito faz algo inadmissível com belas palavras, com gentilezas mil. Isso é fontenovibet heraklionboa parte dos momentosnovibet heraklionirritação que tenho aqui (no Supremo)", afirmou.

O repórter questionou se essa declaração não poderia "causar mal-estar com os colegas". Barbosa retrucou: "Tenho minha liberdadenovibet heraklionexpressão".

Outra polêmica envolvendo o ex-ministro ocorreunovibet heraklion2010, quando ele foi vistonovibet heraklionum bar, tendo cerveja à mesa, mesmo estandonovibet heraklionlicença médica do STFnovibet heraklionvirtudenovibet heraklionsuas dores crônicas nas costas. Após a publicação da reportagem, a assessorianovibet heraklionimprensa do ex-ministro afirmou que uma fotografia dele no estabelecimento foi interpretadanovibet heraklionmaneira equivocada: o coponovibet heraklioncerveja que estava na mesa não era dele, masnovibet heraklionuma pessoa que o acompanhava na ocasião.

Em 2016, o projeto jornalístico Panamá Papers divulgou que Barbosa não havia pago um imposto durante a compranovibet heraklionum apartamentonovibet heraklionMiami. O ex-ministro afirma que não cabia a ele pagar a taxa, mas ao vendedor - e que toda a situação foi regularizada.

'Sem palavrinhas'

Neste ano, Barbosa entrounovibet heraklionum partido historicamente ligado à esquerda, mas que nos últimos anos teve posições próximas do espectro político oposto. O PSB votou a favor do impeachmentnovibet heraklionDilma e apoiou o presidente Michel Temer no inícionovibet heraklionseu governo.

O jurista teve opinião diferente: criticou o impedimentonovibet heraklionDilma, chamando-onovibet heraklion"tabajara", e faz constantes críticas a Temer, apoiando inclusive anovibet heraklionsaída da Presidência.

Os dados da última pesquisa Datafolha mostravam o ex-ministro atrás apenasnovibet heraklionLula, Bolsonaro e Marina. Mas o PSB tinha esperança que ele fosse crescer até outubro.

Para Danilo Cersosimo, diretor do institutonovibet heraklionpesquisas Ipsos, Barbosa seria um candidato com potencial. "Acho que ele tem grandes chances, porque reúne atributos que são pertinentes e relevantes para a população, que são a imagemnovibet heraklionuma pessoa ética e que combate a corrupção", diz.

No mês passado, a consultorianovibet heraklionrisco político Eurasia Group colocou Barbosa como um candidato com o "melhor mixnovibet heraklionatributos" entre os políticos dispostos a concorrer.

Cersosimo acredita que seu históriconovibet heraklionascensão social poderia tê-lo ajudado, porque a população tende a se identificar com pessoas que saíram da pobreza para uma carreiranovibet heraklionsucesso.

Em entrevistanovibet heraklion2014 à GloboNews, Barbosa refutou glorificarnovibet herakliontrajetória: "O que penso é o seguinte: raríssimas pessoas no Brasil, incluindo aí os pobres e pessoas vindas da elite brasileira, tiveram e souberam aproveitar as oportunidades que eu tive. Mas não sinto como uma superação, as coisas foram acontecendo naturalmente comigo", disse.

Ele citou a sorte como o ponto mais importantenovibet heraklionsua carreira. "Me sinto uma pessoa bastante afortunada. Ao contrário do que dizem a meu respeito, menino pobre, filhonovibet heraklionpedreiro que ascendeu na vida, acho tudo isso uma bobagem."

*Matéria publicada originalmente no dia 7novibet heraklionabril