Mamadeiras888 casinorefrigerante: 'vício'888 casinobebida agrava desnutrição888 casinoindígenas:888 casino
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), as crianças enfrentam grave estado888 casinodesnutrição devido à alimentação escassa ou, por vezes, à má qualidade da comida. O órgão afirma que houve casos888 casinomorte por problemas888 casinosaúde888 casinoManaus e Belém.
Por outro lado, funcionários da prefeitura que acompanham os grupos têm enfrentado outra complicação: os indígenas consomem altas quantidades888 casinorefrigerante. Os servidores suspeitam que o excesso do produto está causando diarreia nas crianças.
A BBC Brasil acompanhou um grupo888 casino44 índios no centro888 casinoBelém, 23 deles crianças. A comunicação com eles é bastante difícil, porque os warao falam apenas seu próprio idioma e não dominam a língua espanhola ou portuguesa.
De fato, as crianças beberam altas quantidades888 casinorefrigerante888 casinopoucas horas. Bebês carregavam mamadeiras cheias da bebida. Quando conseguiam algum dinheiro, os índios compravam a bebida888 casinobarracas do Ver-o-Peso, tradicional mercado popular no centro888 casinoBelém.
Segundo Rita Rodrigues, psicóloga que acompanha a tribo na cidade, esse grupo888 casino44 warao chega a beber 20 litros888 casinorefrigerante por dia. "A gente tenta falar para os pais não darem refrigerante para as crianças, que poder ser ruim, mas é um hábito que eles aparentemente têm há tempos. Eles bebem o dia inteiro", diz Rodrigues.
Há duas semanas, devido à situação precária dos índios na capital do Pará, o MPF e a Defensoria Pública entraram na Justiça solicitando um abrigo emergencial para a etnia. Eles foram encaminhados a um albergue dentro do estádio Jornalista Edgar Augusto Proença, conhecido como Mangueirão.
Poucos dias depois, os índios decidiram deixar o local e voltar às ruas e à mendicância - parte está vivendo888 casinocortiços. Segundo os funcionários da prefeitura, os motivos alegados por eles foram a dificuldade888 casinoconseguir doações e até o acesso difícil ao refrigerante.
Diabetes entre os índios
A alimentação ruim e o aumento do consumo888 casinoprodutos com alto teor888 casinoaçúcar tornou-se uma preocupação entre médicos que acompanham indígenas no Brasil.
Uma pesquisa da Universidade Federal888 casinoSão Paulo (Unifesp), por exemplo, mostrou que 21% dos índios xavantes do Mato Grosso apresentavam diabetes - o índice na população brasileira é888 casino8%.
O estudo apontoou ainda que 31% dos membros da tribo têm risco888 casinodesenvolver a doença caso continuem com hábitos alimentares levados pelo homem branco.
Segundo o endocrinologista João Paulo Botelho Vieira Filho, autor da pesquisa, a diabetes tornou-se comum entre a tribo depois que a dieta tradicional indígena, formada principalmente por mandioca, milho e batata, passou a ser acompanhada por produtos industrializados distribuídos888 casinomerendas escolares e cestas básicas888 casinoprogramas888 casinocombate à fome.
"A genética dos índios é propensa a diabetes quando a alimentação tradicional é trocada pelo açúcar. O homem branco, através dos séculos, passou por uma seleção natural: sobreviveram pessoas resistentes a diabetes. Os índios não passaram por isso, eles não foram acostumados a ingerir açúcar cristalizado", explica Vieira Filho.
Segundo ele, além da diabetes, a mudança da dieta causou outras doenças entre os membros, como obesidade, problemas renais, vasculares e cardíacos.
"A dieta tradicional indígena é uma das melhores do mundo. Não houve preocupação por parte dos governos888 casinoretirar alimentos com açúcares das cestas básicas e da merenda. A proposta dos programas era acabar com a fome888 casinoqualquer forma, sem pensar nas consequências nutricionais dos alimentos que estavam sendo distribuídos", diz.
Para Érika Blandino, nutricionista e mestre888 casinosaúde pública pela USP, há risco para saúde quando crianças substituem alimentação rica888 casinonutriente por produtos com alto teor888 casinoaçúcar, como o refrigerante.
"O ideal é retardar esse contato da criança com refrigerante o maior tempo possível, não tem uma idade certa. Quando ele introduzido precocemente,888 casinoforma alguma é um alimento para substituir o leite materno", explica.
Os alimentos distribuídos nos abrigos públicos que receberam os warao venezuelanos também tem sido alvo888 casinocríticas.
"De forma emergencial, para matar a fome, os índios receberam alimentos que não fazem parte888 casinosua dieta. Ocorre que essa alimentação continua sendo distribuída. A longo prazo, ela é inadequada. O ideal seria oferecer uma dieta888 casinoque eles pudessem preparar seus próprios alimentos, com base na888 casinocultura tradicional", afirma João Akira, procurador da República que vem acompanhando os grupos venezuelanos.
Para Vieira Filho, a tomada888 casinoterritórios indígenas pelo agronegócio ou madeireiros também influencia na saúde das tribos. "Os índios precisam888 casinoterras e888 casinoespaço para produzir seus alimentos. No momento888 casinoque eles perdem essas áreas,888 casinoalimentação piora, pois passam a depender da dieta do homem branco", diz.
Akira também critica a estrutura dos abrigos oferecidos por prefeituras e governos estaduais. "Os abrigos são inadequados do ponto888 casinovista sanitário,888 casinosegurança,888 casinoalimentação. O Estado brasileiro está confinando centenas888 casinopessoas888 casinoginásios888 casinoesporte insalubres. É uma situação dramática que não está ganhando a devida atenção do Estado brasileiro", diz Akira.
Migração e retorno
Segundo um relatório antropológico do MPF, que passou a acompanhar os warao desde o ano passado, as famílias que chegaram ao país viviam anteriormente888 casinoregiões próximas do Orinoco, o principal rio da Venezuela. Eles são o principal grupo indígena do país, com aproximadamente 49 mil integrantes.
Durante o governo888 casinoHugo Chávez, a etnia dependia888 casinodoações e ajuda888 casinoprogramas sociais. Muitos viviam nas ruas,888 casinocidades como Tucupita e Barrancas. Depois, diante da crise econômica no governo Nicolás Maduro, tanto os benefícios sociais quanto as doações nas cidades rarearam a ponto888 casinoobrigar os índios a se mudar.
"Nas cidades venezuelanas, o comércio é o principal meio888 casinoacesso dos warao aos bens alimentícios, o qual ficou comprometido com o aumento substancial dos preços888 casinoitens básicos da alimentação local, como arroz, farinha888 casinotrigo, banana e mandioca", diz o relatório. "A escassez888 casinocomida e seu alto custo na Venezuela eram constantemente ressaltadas como as principais causas para saírem888 casinoseu país888 casinoorigem."
A migração para fugir da fome e encontrar melhores condições888 casinovida é uma das características dos warao, segundo o MPF. Tem sido comum, por exemplo, algumas pessoas retornarem à Venezuela depois888 casinouma temporada no Brasil.