Como a lei da ‘pílula do câncer’ uniu Congresso dividido e foi aprovadabaixar esporte bet365tempo recorde:baixar esporte bet365

Pílula com fosfoetanolamina sintética

Crédito, USP

Legenda da foto, 'Pílula do câncer' foi desenvolvida por pesquisador da USP e alvobaixar esporte bet365diversas ações na Justiça

Ela gerabaixar esporte bet365fato bastante controvérsia. Especialistas ouvidos pela BBC disseram que, ao aprová-la, o Congresso pode estar colocandobaixar esporte bet365risco a saúde da população e abrindo precedentes para a liberaçãobaixar esporte bet365outras substâncias não testadas. Para outros, no entanto, o Congresso deu voz a pacientes e reagiu à suposta morosidade dos órgãos que aprovam remédios.

Já na Câmara dos Deputados e no Senado, parlamentares defenderam se tratarbaixar esporte bet365uma lei "pela vida" e que confere esperança e dignidade a pacientesbaixar esporte bet365estágio terminal. Em discursos carregadosbaixar esporte bet365emoção, pediram sensibilidade a seus pares por já terem enfrentado casosbaixar esporte bet365câncerbaixar esporte bet365suas famílias.

Sob estes argumentos, o projeto tramitou com uma velocidade excepcional no Congresso. Segundo levantamento do Departamento Intersindicalbaixar esporte bet365Assessoria Parlamentar, órgão que auxilia sindicatos sobre questões legislativas, leis aprovadasbaixar esporte bet3652013 levarambaixar esporte bet365média cinco anos da proposição à sanção presidencial e,baixar esporte bet3652014, nove anos.

Porbaixar esporte bet365vez, o PL 4639/16 passou pela Câmara e pelo Senadobaixar esporte bet365questãobaixar esporte bet365dias, e foi aprovada por unanimidade.

Com urgência e emoção

O projetobaixar esporte bet365lei foi elaborado por um grupobaixar esporte bet365deputados federais no qual estão, lado a lado, parlamentares que normalmente se encontrambaixar esporte bet365polos opostos das disputas políticas, como os petistas Adelmo Carneiro Leão (MG) e Arlindo Chinaglia (SP) e os deputados Eduardo Bolsonaro (PSC-SP) e Jair Bolsonaro (PP-RJ).

Apresentado no plenário da Câmarabaixar esporte bet3658baixar esporte bet365março, o projeto foi apreciado no mesmo dia, graças a dois acordos entre líderes partidários. Primeiro, para que tramitassebaixar esporte bet365regimebaixar esporte bet365urgência. Depois, para que a oposição abrisse mão da obstrução da pauta, imposta na época até que o STF se manifestasse sobre os ritos do impeachment.

No fim daquele dia,baixar esporte bet365uma sessão extraordinária com 2h15baixar esporte bet365duração, o projeto passou por todas as etapas na Câmara: foi discutido, avaliado por um relator e três comissões - Constituição e Justiça ebaixar esporte bet365Cidadania,baixar esporte bet365Finanças e Tributação e Seguridade Social e Família - e, finalmente, votado.

Em meio ao breve debate naquela sessão, deputados pediram a palavra para se manifestarem a favor da lei, muitas vezes com discursos apoiadosbaixar esporte bet365experiências pessoais.

"Se você ou algum familiar estivesse com câncer e alguém dissesse que águabaixar esporte bet365bateria na veia cura, todo mundo tomaria", disse Eduardo Bolsonaro. "A fosfoetanolamina é muito melhor que isso. Há o relatobaixar esporte bet365pessoas que tomaram apenas a pílula e melhoram. Meu avô morreubaixar esporte bet365virtudebaixar esporte bet365um câncerbaixar esporte bet365pulmão e, hoje, não pode, infelizmente ter acesso a fosfoetanolamina."

Caio Narcio (PSDB-MG) disse ter perdidobaixar esporte bet365mãe para o câncer, que chamoubaixar esporte bet365"doença do milênio". "Só quem tem alguém com uma doença dessasbaixar esporte bet365casa sabe o que é o sofrimento. Mesmo que fosse 1%baixar esporte bet365possibilidade, já valeria a pena."

"Voto 'sim'baixar esporte bet365homenagem à minha mãezinha, que morreubaixar esporte bet365câncer", disse Moroni Torgan (DEM-CE) ao anunciar o posicionamento do seu partido.

Celso Russomano (PRB-SP) deu um depoimento sobre seu pai, que tinha câncer. "Ele respirava por aparelhos, começou a tomar a fosfoestanolamina e saiu da cama. Mas o pouco medicamento que tínhamos acabou, ebaixar esporte bet365fabricação parou. Em alguns dias, ele começou a piorar e foi a óbito."

Benedita da Silva (PT-RJ) contou na sessão já ter perdido seis irmãos e um sobrinho por conta da doença: "Gostaria muito que eles tivessem tido a oportunidadebaixar esporte bet365ter esperançabaixar esporte bet365algo que pudesse amenizar as suas partidas".

Pressão social

Outros parlamentares defenderam que a lei dá "esperança" a quem sofrebaixar esporte bet365câncer e é uma resposta a uma demanda da sociedade.

"Não vamos discutir a questão técnica. Isso não é para nós", disse Ronaldo Fonseca (PROS-DF). "A Câmara não pode ficarbaixar esporte bet365costas para a opinião pública. Assim mostraremos à sociedade que a Câmara pensa, sim, no cidadão. Queremos plantar uma sementebaixar esporte bet365esperança."

Laura Carneiro (PMDB-RJ) fez um pronunciamento parecido: "Não vamos salvar as pessoas do câncer, mas vamos lhes dar alguma esperança, alguma possibilidadebaixar esporte bet365resolver o problema".

Houve uma voz dissonante no debate. Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) defendeubaixar esporte bet365plenário que "a maneira como se encaminha o tema é extremamente perigosabaixar esporte bet365fazer ciência".

"Nós estamos reduzindo este debate a quem é a favor e contra a cura do câncer. A ciência é feitabaixar esporte bet365pesquisa,baixar esporte bet365resultados. Não se pode liberar uma substância sem saber seu efeito colateral, qual é a dosagem para uma criança, para um idoso, para uma mulher", disse Mandetta.

'Quem tem câncer tem pressa'

Senador Ivo Cassol (PP-RO) discursa no Senado

Crédito, Agência Senado

Legenda da foto, Senador Ivo Cassol (PP-RO) foi um dos principais defensores do projetobaixar esporte bet365lei no Senado

Seu posicionamento não foi suficiente para barrar o avanço do projeto: todos os blocos e partidos se manifestaram a favor da aprovação. Não houve uma votação nominal -baixar esporte bet365que cada deputado se posiciona individualmente -, mas simbólica,baixar esporte bet365que o presidente da Casa pede que os contrários ao projeto se pronunciem. Sem qualquer gesto significativo neste sentido, a lei seguiu para o Senado.

"Foi uma matéria bastante estudadabaixar esporte bet365audiências públicas e por um grupobaixar esporte bet365trabalho, está sendo debatida desde outubro do ano passado. A substância é alvobaixar esporte bet36520 anosbaixar esporte bet365pesquisas, e os estudos mostram que não é tóxica. A população clamava por isso", diz à BBC Brasil a relatora do projeto, a deputada Leandre Dal Ponte (PV-PR), sobre a celeridade da tramitação na Câmara.

Para ela, a aprovação da lei vai pressionar para que os estudos clínicos da fosfoetanolamina sejam realizados. "O câncer mata milharesbaixar esporte bet365pessoas todos os anos, e quem tem câncer pode tudo, menos esperar. É justo negar o acesso a fosfoetanolamina, diantebaixar esporte bet365relatos que mostram que ela no mínimo prolonga a vida das pessoas?"

Um dos principais autores do projeto e médico fisiologista, Leão (PT-MG) defende à BBC Brasil a aprovação da lei mesmo sem a comprovação da eficácia da fosfoetanolamina. "Não estamos pulando etapas, porque não é algo descoberto hoje. Se ninguém estivesse usando, aí sim. Mas a substância estábaixar esporte bet365nosso cotidiano há 15 anos, sem haver um relatobaixar esporte bet365prejuízos por seu uso", diz o deputado.

"Como médico, não posso receitar, porque não é considerado medicamento, mas não teria dúvidabaixar esporte bet365indicar para amigos ou familiares com câncer. Eu mesmo usaria diantebaixar esporte bet365uma situação tão dramática."

'Ceifadorbaixar esporte bet365esperanças'

Ao chegar ao Senado, como projetobaixar esporte bet365lei da Câmara nº 3baixar esporte bet3652016, a proposta também tramitou rapidamente, ainda que menos do que na Câmara.

Entre os dias 9 e 17baixar esporte bet365março, foi analisado e aprovado pelas comissõesbaixar esporte bet365Assuntos Sociais ebaixar esporte bet365Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática. Chegou ao plenário no dia 22, onde novamente foi colocadobaixar esporte bet365regimebaixar esporte bet365urgência e se abriu uma exceção para ser votado no mesmo dia.

O regimento do Senado determina que, uma vez aprovada a urgência, a votação deve ocorrer só após duas sessõesbaixar esporte bet365debates, o chamado "interstício", como argumentou o senador Cássio Cunha Linha (PSDB-PB), mas outros líderes defenderam que o tema era delicado e deveria ser apreciado naquele dia.

"Minha experiência é abaixar esporte bet365milhõesbaixar esporte bet365brasileiros. Minha mãe morreu com câncer no cérebro. Sei exatamente o que é isso", disse o senador Magno Malta (PR-ES).

Waldemir Moka (PMDB-MS) argumentou ser uma situaçãobaixar esporte bet365emergência: "É muito difícil você falar para um paciente terminalbaixar esporte bet365câncer que ele não vai ter mais acesso àquilo que estava esperando. Porque várias pessoas deram testemunho que, ao tomarem o medicamento, que não é um medicamento ainda, apresentaram melhoras".

Os apelos fizeram Lima ceder. "Não sou um ceifadorbaixar esporte bet365esperanças, nunca fui. Se há um entendimento, todos os líderesbaixar esporte bet365que o interstício deve ser suprimido eu não vou me opor à votaçãobaixar esporte bet365uma matéria tão importante". Novamente, houve uma votação simbólica, e o projeto acabou sendo aprovado apenas 16 dias após ter sido apresentado na Câmara - e levou outros 23 dias até ser sancionado por Dilma.

'A próxima vítima'

Ao fim da sessão, Ivo Cassol (PP-RO), um dos principais defensores da lei na Casa, fez um longo discurso para agradecer o empenho dos colegas para "dar alento e esperança" aos pacientes. Ele chamou a pílula do câncerbaixar esporte bet365"descoberta do século" e disse que ainda não havia passado por testes clínicos porque laboratórios e oncologistas não teriam interessebaixar esporte bet365comercializá-la.

Também criticou a Anvisa ebaixar esporte bet365políticabaixar esporte bet365aprovaçãobaixar esporte bet365medicamentos contra câncer. "Do jeito que está, é uma vergonha nacional. Aprovou dois medicamentos que têm um efeito mínimo no tratamentobaixar esporte bet365câncer, mas a um preço astronômico. Aí, sim, a Anvisa aprova."

Argumentoubaixar esporte bet365prol das mulheres, que são "mais passíveisbaixar esporte bet365câncer", segundo o senador: "Tenho amigos que, por causa do câncer, se escondem, especialmente as mulheres, porque elas têm cabelo comprido. Os homens são carecas. Está aqui o Júnior, meu assessor, que é careca. Se amanhã tivesse um câncer, não teria problema, mas as mulheres não são carecas. Perdem cabelo, perdem a autoestima".

Disse ter recebido muitos pedidos pela aprovação da lei e testemunhado casosbaixar esporte bet365que a substância deu bons resultados. "Recebo por diabaixar esporte bet365200 a 300 e-mails. Conheço maisbaixar esporte bet36530 pessoas. Tenho o depoimentobaixar esporte bet365maisbaixar esporte bet365100 pessoas que usaram. O resultado é fenomenal. Quem garante que amanhã não será alguém da nossa família? Que não seremos nós a próxima vítima?"

E anunciou: "Estou aqui defendendo a liberação desse medicamento do câncer. Mas é só esse? Não, gente! Se amanhã aparecer outro lá pelas matas amazônicas, vamos utilizar! Se vier da Mata Atlântica, vamos utilizar. Se vier outro composto, vamos utilizar! Por que não, gente?"

Procurado pela BBC Brasil, o senador Cassol preferiu não conceder entrevista sobre o tema. Disse por meiobaixar esporte bet365sua assessoria que está "muito chateado" com a declaração feita pelo Ministério da Saúdebaixar esporte bet365que a pílula só será distribuída no SUS com aprovação da Anvisa e que trabalhará para reverter a decisão.