Duas visões: a 'pílula do câncer' deve ser liberada no Brasil?:casino bwin

Pílula do câncer promete maior sobrevida para pacientes

Crédito, CECILIA BASTOS /USP Imagem

Legenda da foto, Pílula do câncer promete maior sobrevida para pacientes

A sanção foi criticada pela comunidade científica por liberar um composto que não tem registro na Anvisa nem eficácia comprovada.

Produzida há maiscasino bwin20 anos, a fosfoetanolamina sintética foi estudada pelo professor aposentado Gilberto Orivaldo Chierice, no Institutocasino bwinQuímica da USPcasino bwinSão Carlos, e distribuída gratuitamente durante décadas para pacientes.

Em abril, o presidente do STF , Ricardo Lewandowski, autorizou a USP a interromper o fornecimento das pílulas, o que levou a uma enxurradacasino bwinação judiciais e pôs a "fosfo" nos holofotes.

Para entender os argumentos contrários e favoráveis à liberação da pílula, a BBC Brasil conversou com dois dos nomes mais importantes nesta disputa: o presidente da AMB, Florentino Cardoso, e um dos principais pesquisadores da área, o imunologista Durvanei Augusto Maria.

casino bwin Eficácia e efeitos colaterais

Entre as razões para barrar o acesso, Cardoso cita o desconhecimento sobre a ação e os efeitos colaterais da fosfoetanolaminacasino bwinseres humanos. Na ação proposta ao STF, a AMB diz que essas incertezas seriam incompatíveis com direitos constitucionais fundamentais, como o direito à saúde, à segurança e à vida.

"Está sendo autorizado o usocasino bwinuma substância que as comunidades brasileira e internacional não conhecemcasino bwinrelação ao câncer. O medicamento serve para quê? Em que dose? Deve ser usado como? Qual doente pode usar? Não temos absolutamente nada disso."

Para Cardoso, os estudos feitos até agora sobre a ação da substânciacasino bwintumores não comprovamcasino bwineficácia e nem expoõem seus riscos.

No país, não são muitos os trabalhos publicados sobre o assunto. O "pai" da pílula do câncer, Gilberto Chierice, temcasino bwinseu currículo só seis pesquisas publicadas sobre a moléculacasino bwinrevistas internacionais. Elas saíram entre 2011 e 2013 e falam da ação da substânciacasino bwincélulascasino bwinlaboratório e animais. Nenhuma envolvendo pacientes humanos foi publicada ainda.

O imunologista Durvanei Augusto Maria, que analisa no Instituto Butantan a ação da "fosfo"casino bwincélulas cancerígenas, tem doze trabalhos publicados sobre o tema. Para ele, que foi apresentado à substância por um alunocasino bwinChierice, a literatura existente indica a eficácia da molécula.

Segundo Maria, desde 2000 ele observa que a substância impede o crescimentocasino bwintumores e evita a formaçãocasino bwinmetástases, ao induzir a liberaçãocasino bwinenzimas que matariam a célula doente. Além disso, teria um "afinidade química" para penetrar nas células tumorais, poupando as saudáveis.

"A fosfo tem um mecanismocasino bwinação distinto dos quimioterápicos. Estes não conseguem distinguir a célula normal da tumoral."

Maria também cita estudoscasino bwinuniversidades alemãs, financiados por indústrias farmacêuticas, que estariam avançados na fasecasino bwintestes com humanos.

"Já está sendo feita a avaliaçãocasino bwinrisco. É expressivo o aumento da sobrevida, o controle do crescimento e da invasão."

Cardoso diz desconhecer esses estudos e afirma que, dentro do Brasil, há muitas lacunas nas informações.

"Câncer não é uma doença só, são várias. Uma droga serve para uma e para outra não. Quando testamcasino bwincamundongos, não mostram que vai ser efetivo (em pessoas)."

Supremo Tribunal Federal julga uma ação da Associação Médica Brasileira (AMB) que questiona a lei que libera o porte, o uso, a distribuição e a fabricação da substância

Crédito, Foto: Alessandro Dantas/ Agência PT

Legenda da foto, Após aprovação por Câmara e Senado (acima) e sançãocasino bwinlei por Dilma Rousseff, Supremo Tribunal Federal julga uma ação da Associação Médica Brasileira (AMB) que questiona a lei que libera o porte, o uso, a distribuição e a fabricação da substância

casino bwin Estudos do Ministério da Ciência

O presidente da Associação Médica Brasileira menciona também os resultados dos primeiros testes feitos pelo Ministério da Ciência e Tecnologia neste ano. Relatórios divulgadoscasino bwinmarço falavam que a "pílula do câncer" produzida na USPcasino bwinSão Carlos não era tóxica, mas também não combatia os tumores. Novas análises já estão programadas.

Logo depois da divulgação, o professor Gilberto Chierice questionou,casino bwinum ofício da Defensoria Pública da União no Riocasino bwinJaneiro, os resultados obtidos pelo ministério. Durvanei também participou da elaboração do documento. Segundo ele, um dos problemas das análises foi a ordemcasino bwingrandeza testada, menor que aquela já usadacasino bwinoutros testes.

Apesarcasino bwinrebater as críticas sobre o que já foi estudado até então, Duvarnei Maria afirma que mais análises são necessárias. Só que é preciso agilizar o caminho até o registro da Anvisa.

"Sou favorável que todos os testes sejam executados. Mas pretendo que não haja tanta morosidade, porque existem estudos há maiscasino bwin25 anos, quando o composto começou a ser estudado. Se for cumprir todas as etapas isso não sai por menoscasino bwin15 anos. E estou sendo muito otimista."

Cardoso admite que existem burocracias no processo, mas enfatiza a importânciacasino bwincumprir todo o rito, para evitar complicações no futuro.

"Todo país sério, quando se descobre determinada substância e se testa, tem um rito a seguir. (É preciso) fazer a pesquisa clínica para chegar às conclusões, ver como funciona in vitro,casino bwinanimais e depoiscasino bwinum grupo controladocasino bwinpessoas."

Ele culpa os pesquisadores por não terem aproveitado as décadascasino bwindistribuição gratuita das pílulas para fazerem análises mais profundas.

"Quando uma pessoa está utilizando uma substância há 20 anos e não fez nenhuma estudo sério... o problema é que ainda impacta muito na vida das pessoas e das famílias. E elas se apegam a qualquer coisa."

casino bwin Pressão popular

Para Cardoso, foi essa pressão popular que levou a lei a ser aprovadacasino bwintempo recorde no Senado, dando aos parlamentares poderes que eles não têm: porcasino bwinrisco a saúde da população. Alémcasino bwinabrir precedentes para a liberaçãocasino bwinoutras substâncias não testadas.

"A Anvisa é que tem que regular, não é um deputado, um senador. Estamos sendo motivocasino bwinchacota no mundo inteiro."

A mesma aprovação é vista como uma conquista popular pelo imunologista Durvanei Augusto Maria. Para ele, é como se os direitos dos doentes fossem finalmente reconhecidos.

"Como cidadão, acho que é o primeiro momento que a população portadoracasino bwinuma doença grave se mobilizou para ter um acesso a um composto que pode propiciar uma maior condiçãocasino bwinvida, sem sequelas. É um marco importante."

Sobre o julgamento desta quinta-feira, no STF, os dois também têm opiniões bem diferentes Para Cardoso, a revogação da lei sancionada por Dilma seria uma provacasino bwin"seriedade" do país. Para Maria, um "retrocesso".