Tim Vickery: Somos refénsblaze vipum passado mais feliz, mas ele é uma ilusão:blaze vip

Tim Vickery

Crédito, Eduardo Martino

Sou culpado, meritíssimo. Estou cienteblaze vipser um prisioneiroblaze vipuma certa perspectiva: sou refém das décadas pós-Segunda Guerra Mundial no Ocidente, anosblaze vipinclusão social e prosperidade geral inéditas. Sou produto deles, junto com os meus amigos mais próximos.

Rodablaze vipcantoria no Museu da República do Rio
Legenda da foto, Rodablaze vipcantoria no Museu da República do Rio nos remete a uma época mais inocente e menos violenta

Foi uma revolução feita pela metade, longeblaze vipser perfeita. Mas melhorou e ampliou as oportunidades e as condiçõesblaze vipvidablaze vipmilhõesblaze vippessoasblaze vipuma maneira quase incrível.

E que explica a minha relação complicada com o meu paísblaze vipnascimento.

Enquanto fico preso a uma estéticablaze vip1957-67, o mundo vai girando, e nem sempre no sentido melhor. Tantas coisas que me ajudaram já não existem mais. Como pode? Não sai da minha mente uma pergunta simples: como uma economia mais produtiva do que 40 anos atrás pode ter serviços sociais piores? Não faz sentido.

Também explica a minha relação o com Brasil, que depois desses anos todos ficou congeladoblaze vipamor e ódio. Adoro escutar, lá no museu, os idosos cantando juntos. É um dos muitos momentos maravilhosos que o país me proporciona.

Mas a minha referência, a minha medida, é sempre a seguinte: "imagine se eu tivesse nascido aqui,blaze vipcondições proporcionais àquelas na minha vida britânica - garotoblaze vipfamília modestablaze vipum conjunto habitacional. Será que eu teria desfrutado das mesmas oportunidades - na saúde, na educação, na habitação?"

Tim Vickery com pôster antigo
Legenda da foto, 'Enquanto fico preso a uma estéticablaze vip1957-67, o mundo vai girando, e nem sempre no sentido melhor'

A resposta, claro, é negativa. E fico triste pensando na quantidadeblaze vippotencial humano que foi impedidoblaze vipflorescer.

Gostariablaze vipacreditar no refúgio do passado brasileiro sobre o qual os idosos estão cantando. Estou quase convencido pela beleza da música e pelo amor com que ela é cantada e tocada. E sim, acredito numa época mais inocente e menos violenta. Também gostariablaze vipter desfrutado por essas bandasblaze vip1958, o ano que não deveria nunca ter terminado.

Mas também penso que os problemasblaze viphoje estavam sendo preparados ontem - época que também padeciablaze vipescassezblaze vipágua encanada ou a luz elétrica.

Cheguei à conclusãoblaze vipque a paz social relativablaze vipontem era baseada numa falsidade - o "cada um conhece o seu lugar" -, que alémblaze vipser humilhante é também insustentável a longo prazo. Gerações futuras não aceitam isso, e numa sociedade que valoriza tanto o consumo, uma grande doseblaze viptensão social é inevitável.

Portanto, neste momentoblaze vipfaltablaze vipesperança geral, não me cobre soluções. A tarefa é grande demais. Prefiro curtir a próxima música dos idosos.

*Tim Vickery é colunista da BBC Brasil e formadoblaze vipHistória e Política pela Universidadeblaze vipWarwick.

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